Se eu ouvisse mais uma gracinha vinda de Jason, o apartamento seria privado de algum móvel.

O problema não era que as piadas eram mal boladas. Oh, não. Na verdade eu poderia até rir, se estivesse em outro momento com outra pessoa.

O problema eu havia descoberto enquanto ajudava Nathan a por a mesa para o jantar: Jason e eu erámos do mesmo polo magnético.

Quando tentamos unir dois imãs, para que a experiência de certo, é necessário coloca-los com o polo magnético diferente. Polos com o mesmo nome tendem a se repelir. E eu e Jason erámos do mesmo polo. Outra explicação válida é se olharmos pelo ponto de vista “espiritual”; Há aqueles que acreditam que, em algum lugar por ai, nossa alma gêmea está a nossa espera (no meu caso minha alma gêmea ou morreu ou não existe) e dizem também que há aquela pessoa que é o seu completo antônimo (no meu caso, ela se chama Jason).

– Lucy, docinho, desse jeito você vai entrar em coma – Jason comentou, se referindo à minha quinta cerveja da noite.

– Jason, querido, o diabo chorou de alegria quando você saiu de lá? – Perguntei com um sorriso cínico enquanto Nathan deu uma risadinha baixa ao meu lado.

– Não sei, acho que ele ainda estava emocionado pelo sua saída – Juro, se Nathan não estivesse entre minha e Jason, eu ia precisar de outra garrafa de cerveja.

– Olha aqui...

– Então gente, como estava o jantar? – Nathan perguntou enquanto eu e Jason pensávamos em algo para tacar no outro.

– Estava ótimo Nathan – Ele me deu um sorrisinho de lado tão lindo que eu quase o beijei ali.

O quê?!

– Estava bom mano. Bem, vou indo lá casalzinho feliz. – Ele disse se levantando do sofá e eu pude ouvir o coro de “Aleluia” ao fundo – Nathan, se precisar de ajuda para carregar Lucy ao hospital... Eu fico com a cerveja dela – E assim Jason foi até o corredor e eu pude ouvir um porta se fechando.

– Desculpe por ele

– Não tem problema Nathan, ele é seu amigo afinal de contas – Eu respondi e Nathan foi chegando mais perto.

– Sim, ele é. E devo admitir, suas respostas me surpreenderam.

– Nathan, dá para você agilizar com isso? – Perguntei e ele deu outra risadinha, e, finalmente, chegou perto o suficiente.

E então a cerveja não era mais interessante.

Os lábios de Nathan não se moldavam aos meus, pelo contrário, nossas línguas estavam completamente descompassadas e pareciam brigar entre si. Seus lábios estavam com gosto de cerveja igual aos meus e eles se chocavam deliciosamente.

– Sério gente, que nojo. – Paramos o beijo a contragosto ao ouvir a voz de Jason atrás de nós.

– Você não tinha ido dormir? – Nathan perguntou com os lábios vermelhos e eu mordi os meus.

– Deixa Nathan, a internet deve estar fora do ar e ele veio ver se aqui tinha algo parecido – Pude ver Jason revirar os olhos e Nathan se encolher um pouco.

– Na verdade docinho – O sorriso cínico havia se alargado em seu rosto – Eu vim beber água, mas desculpe-me se atrapalhei vocês – Dito isso ele saiu da sala e levou consigo o clima.

– Nathan, já está tarde, eu tenho que ir – Falei enquanto levantava do sofá.

Agora sim eu poderia afirmar com toda a certeza que odeio Jason.

– Lucy, de novo, desculpa por ele. –Ele disse passando a mão no cabelo, ainda com os lábios vermelhos.

Fui até ele e mordi seu lábio inferior.

– Nathaniel, já disse, não tem problema- Disse isso e ele me segurou pela cintura e começamos do ponto em que Jason nos interrompeu.

Depois disso nos encaramos um pouco, eu achava aquilo errado, eu era errada para ele; Eu era complicada demais para qualquer pessoa na verdade. Porém estou pouco me lixando, a única coisa é que não quero magoar Nathan, isso sim seria errado, até para mim.

Esperamos o elevador chegar e ele me acompanhou até o carro – claro que ele acompanharia, estamos falando do Nathan – e devo admitir que quase me perdi no estacionamento escuro.

– Então Nathan, adorei o jantar, na verdade, não sabia que você cozinhava tão bem assim – puxei um assunto qualquer, não queria me despedir de Nathan, não quando isso significava mais uma noite sentindo as feridas mais forte do que antes.

– Eu poderia investir na carreira de chefe se fotografia não fosse minha paixão – Ele falou com uma cara pensativa que parecia mais uma careta.

– Bobo – Rimos juntos e eu não podia mais enrolar – Ok Nathan, até depois.

– Até, tchau Lucy – Ele exibia um sorriso de canto enquanto eu dava a partida no carro.

Não pude deixar de comparar: o sorriso de Nathan era completamente diferente do cínico que Jason sempre estampava. Como antes, ainda achava que aquele sorriso era permanente no rosto de Jason.

Dei de ombros e segui meu caminho, cheguei em casa e tomei um banho rápido e fui para cama. Havia sido uma noite longa, em diversos sentidos.

Ah mas é claro, eu não posso me dar o luxo de ser feliz por alguns instantes, até porque, deitada na cama agora, eu e minha cicatrizes estamos novamente isoladas na bolha.