Fiquei vários minutos sentada no meu trono encarando o centro do salão. Era incrível como aquela inspiração da Barbie foi embora e a sua energia ainda estivesse ali, aquecendo, mexendo com meus miolos. Não pode ser verdade. Eu? Com sentimentos por Zeus e Apolo? Ela está maluca! Passei a minha mão direita alisando meu bastão e a sensação que ele me passava era eletrizante.

Posso ter algum sentimento por Apolo, ele sempre foi meu amigo, sempre esteve do meu lado me ajudando com meus problemas. Até quando eu estava perdida fora ele que me encontrou e me protegeu. Quando ele me beijou confesso que gostei, me senti bem e era quente, acolhedor e tentador. Mas com Zeus... Não sei. Ele traz sentimentos desagradáveis para mim. Só consigo ver o seu lado superior, mandão e, claro, mulherengo. Sei que fiquei surpresa quando soube que ele tinha dançado comigo e me dado as flores, aquilo mexeu um pouco dentro de mim, mas tudo mudou depois que pesei as consequências dele ter me beijado. Afrodite é maluca. Balancei a cabeça. Tenho coisas mais importantes para resolver no momento.

— Kira!

Minutos depois ela já estava em minha frente.

— Estou aqui, senhora.

— Então continue. Quero que fique comigo quando Atena chegar. Ela nos ajudará com nosso pequeno problema e precisarei de sua ajuda.

— Como quiser, senhora.

Kira veio até ao meu lado direito e ficou em pé, esperando Atena junto comigo. Enquanto esperávamos, meus pensamentos foram invadidos por uma mensagem:

“Estou a caminho”.

Infelizmente, aquela não era a voz de Atena. Olhei para fora e um raio reverberou com seu som estridente dentro e fora do meu palácio, Zeus estava parado em minha frente, no meio do salão. Kira fez uma reverência exagerada e o cumprimentou. Aquele dia não poderia piorar.

— Saudações, Alexis. – Disse Zeus curvando-se

— Zeus. O que o traz aqui? – Falei rispidamente

— Vim aqui por causa da minha filha Atena. Ela pediu desculpas e disse que assim que se desocupar virá ao seu encontro.

Balancei a cabeça. Atena deve estar com muitos problemas para resolver.

— Se já trouxe o recado, então pode ir.

Zeus ficou me analisando e depois cruzou os braços.

— Na realidade estou aqui para substituir temporariamente Atena. Ela me disse sobre sua mensagem urgente.

Ai, não. Estreitei os olhos.

— A mensagem fora para Atena. Se a mesma não pode comparecer no momento, então esperarei.

Zeus deu risada.

— Estou aqui apenas para ajudar. É difícil negar para aqueles olhos cinza de Atena.

Revirei os olhos.

— Sei que o grande poderoso Zeus tem muitas tarefas importantes para cumprir no Monte Olimpo, não precisa deixá-las de lado e vir me ajudar. – Sorri para não falar explicitamente que não o queria aqui.

Ele descruzou os braços e balançou a mão levantada por cima do ombro.

— O Monte Olimpo está sendo bem cuidado agora. Até o grande e poderoso Zeus pode dar uma pausa em suas atividades diárias para ajudar aqueles que necessitam.

Eu sei que Zeus não era tão burro assim em notar que não queria sua presença ali, mas alguma coisa me dizia que ele sabe disso perfeitamente e que não sairá sem fazer o que tanto quer: ajudar-me. Suspirei e fechei os olhos. Levantei de supetão do meu trono e agarrei meu bastão.

— Então vamos acabar logo com isso.

***

Já era noite e Zeus ainda estava aqui. Passamos o resto do dia tentando resolver o meu problema. Contei o que estava prestes a acontecer e Zeus não gostou da notícia, apesar de que ele soube de rumores. Fomos em direção a minha sala de reuniões e começamos a planejar a estratégia. Zeus tem mais experiências do que eu em guerras, então ele é ótimo em estratégias, mas sei que no fim quem irá aprovar tudo será Atena, ela que é a dona da sabedoria. Convocamos aliados, chamei os meus generais e passamos várias horas trancados na sala de reuniões pensando no melhor jeito de nos defendermos e atacarmos sem muitas perdas.

— Creio que com isso podemos encerrar essa reunião por hoje. Amanhã retomamos o assunto. – Falei.

Zeus concordou.

— Amanhã estaremos com Atena para nos ajudar nos pontos cegos.

Os generais concordaram, fizeram suas reverências e foram embora. Quando só tinha eu, Kira e Zeus na sala dei um suspiro bem alto. Aquele assunto estava começando a me esgotar.

— Vejo que está começando a sentir os sintomas da guerra que está por vir.

Concordei com Zeus.

— Sim. Estou sentindo os anos começarem a atingir os meus ombros.

— Quando o seu domínio percebe perigo ele começa a reagir. Em breve você será o reflexo que esta guerra irá trazer.

— Com tanto que minha força não vá embora.

Zeus sorriu.

— Isso com certeza não irá acontecer.

— Ainda bem.

Levantei e estiquei o meu corpo. Caramba! Tudo estava dolorido.

— Kira, preciso de uma boa massagem antes de me deitar hoje.

— Irei providenciar.

Kira saiu apressada. Fiz um sinal para Zeus me acompanhar e fomos em direção a sala de refeições. Estava faminta e esperava que o meu manjar dos deuses estivesse naquela mesa me esperando. Logo quando sentamos senti aquele cheiro doce e fui comê-lo. Fechei os olhos de tanta satisfação. Era o que eu estava precisando nesse momento tão tenso.

— Você está mesmo precisando relaxar.

Abri os olhos e vi que Zeus estava me observando.

— Sim. Sinto a tensão em todo o meu corpo.

Zeus levantou de seu lugar do outro lado da mesa e ficou parado atrás de mim. Fiquei ainda mais tensa com essa aproximação. Ele passou a minha enorme trança por cima do meu ombro direito e depois posicionou as mãos em meus ombros.

— Sempre que estava nesse estado, Hera fazia massagem em meus ombros e parecia que tudo ficava bem melhor depois disso. Posso?

O que sua mulher estaria pensando de você agora, fazendo a massagem que ela faz em você em mim? Pelas minhas tempestades! Que Hera não esteja vendo isto. Concordei e ele começou a massagear os meus ombros. Ele apertava suavemente os pontos tensionados e parecia que algo eletrizante passava em cada pressão que ele fazia em meus ombros. A cada movimento paciente dele, meu corpo conseguia ficar cada vez mais relaxado. Comecei a fechar os olhos e abaixar a cabeça, me entregando aquele momento. Era tão relaxante e eletrizante, parecia que Zeus estava utilizando seus poderes com cuidado para somente me trazer prazer e relaxamento em todo o corpo. Podia sentir o corpo relaxar dos pés a cabeça. Com passar do tempo os movimentos foram diminuindo até Zeus parar e ficar com suas mãos posicionadas em meus ombros, intensificando aquela sensação eletrizante. Fiquei parada sem falar nada, apenas sentindo tudo em paz e tentando prolongar aquela sensação.

— Sente-se melhor? – Zeus sussurrou em meu ouvido.

Apenas balancei a cabeça e continuei naquela posição. Zeus tirou suas mãos dos meus ombros, assim cortando aquela sensação elétrica. Levantei a minha cabeça e abri meus olhos. Quase pulei de susto quando deparei com Zeus sentado ao meu lado só que perto demais. Ele ficou analisando o meu rosto e depois sorriu.

— Sua expressão parece bem melhor.

Concordei.

— E você não aparenta estar cansada. Está mais calma.

— Sinto-me bastante bem. Agradeço por me tranquilizar.

Zeus abriu um largo sorriso e depois segurou a minha mão.

— Não iria sair daqui te deixando péssima. Você merece tranquilidade depois de todas as coisas que aconteceram e estão acontecendo.

— Tem razão.

Ficamos alguns segundos em silêncio e depois Zeus se mexeu um pouco.

— Devo ir. Tenho que resolver algumas questões no Olimpo ainda hoje. Nos vemos amanhã, Alexis. – Zeus levantou a minha mão até seus lábios e depositou um beijo nas costas da minha mão.

Sorri com aquele gesto.

— Até amanhã.

Zeus levantou-se e saiu da sala de refeições. Pela primeira vez consigo enxergar exatamente o que Afrodite me disse mais cedo.