A deusa perdida escrita por Nina C Sartori


Capítulo 2
Sonhos




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Eu estava em um campo muito ensolarado com a grama bem verde, o local era bem cuidado e fresco. Quando olhei o que vestia, sabia que era um sonho. Estava com um vestido longo e branco, parecido com aqueles dos filmes antigos da Grécia; tinha um cinto dourado com duas espadas reluzentes em cada lado. Percebi que o meu cabelo estava com uma trança para trás e enorme, afinal ele era grande e castanho claro.

Olhei a minha volta, não vi ninguém e fui pisando com os meus pés descalços aquela grama verde e um pouco molhada.

— Alexis.

Virei em direção à voz. Não vi ninguém.

— Alexis.

Olhei ao me redor e não vi ninguém. Era a voz de um homem sim, mas a voz era melódica e bonita, qualquer um gostaria de ouvir aquela voz novamente.

— Alexis.

"Mas que diabos! Quem é Alexis?", pensei, estava impaciente. Comecei a andar em direção para uma árvore. A pessoa devia estar ali atrás, mas não estava.

— Alexis.

— Quem é você? E quem é Alexis? Apareça.

Ouvi a voz rir.

— Você sabe muito bem de quem pertence este nome.

Abri os olhos. O som daquela voz ficou soando nos meus ouvidos, parecia que ainda estava aqui, dentro do meu quarto. Sentei na cama e passei a mão pelos meus cabelos. Sabia que aquilo não era um sonho, aquilo com certeza foi real.

— Quem é Alexis?

Isso eu quero descobrir. Fui até o meu netbook e abri uma página com o site Google para saber de quem era aquele nome. Vi sobre uma atriz americana, um visconde de Tocqueville e até um hospital, mas nada de interessante. Eu queria saber, tinha que saber o porquê de estar sonhando com aquilo e a voz daquele homem dizendo que eu sei de quem é aquele nome. De repente tive uma ideia idiota, voltei para cama e tentei dormir de novo para ver se conseguia voltar a sonhar. Fechei os olhos, e como ainda estava cansada, consegui dormir.

Acordei e vi pela janela que estava escuro. Noite. Sentei na cama e fiz um esforço para lembrar de algum sonho, mas não tinha sonhado novamente. Isso é muito irritante. O que aquele sonho significava? O que queria me dizer? Argh! Que coisa chata. Foi estranho, sim, mas a minha vida inteira vi coisas estranhas acontecerem comigo: canos estourando em um momento de raiva, começando uma tempestade repentina e ainda quando eu chorava começava a chover. Por isso me chamo de anormal, só comigo isso acontecia. Sem falar na sensação de estar sendo observada o tempo inteiro quando ia ao colégio.

Toc, Toc.

— Entre.

— Como está, querida?

Sorri para minha mãe, ela estava cautelosa quando entrou no quarto.

— Estou bem. E aí, quando vamos voltar para Nova York?

Ela deu de ombros.

— Agora?

— Tudo bem. De carro?

Ela riu.

— Não quero dirigir o tempo inteiro. Avião.

Dei um suspiro de alívio. Iria demorar dias para chegar em casa, do jeito que ela dirige.

— Arrume suas coisas. Quero partir logo, antes que sua tia comece a intervir.

— E a picape?

— Seu tio vai para Nova York semana que vem. Ele vai levar a picape para a gente.

Concordei com a cabeça. Quando ela saiu, fui até a janela observar a picape e dar um tchau. Aquela Mitsubishi L200 Triton... Irei sentir saudades daquela picape. Fui arrumar a minha mochila, depois coloquei o meu All Star surrado, uma calça jeans e uma camiseta preta escrita Following my way com um casaco de capuz. Deixei o cabelo solto, peguei minha mochila, coloquei o meu celular novo dentro e desci. Vi minha mãe conversando com minha tia e percebi que ela estava tentando dizer que precisamos ir. Eu sempre salvo nós duas desse meio.

— Tia, precisamos ir mesmo. Tenho um trabalho de Física para terminar, se eu não fizer esse trabalho irei repetir a minha série.

Ela olhou para mim e analisou a questão.

— Tudo bem. Mas da próxima vez fiquem mais tempo, combinado?

Sorri e disse que sim. Dei um beijo nela, abracei minha prima, meu tio e, enfim, eu e minha mãe seguíamos até o aeroporto para ir pra casa.

Quando estava no avião, fiquei feliz que eu e minha mãe sentamos juntas e ainda fiquei do lado da janela. Olhei o céu escuro da noite, tive uma visão incrível da lua e das nuvens. Peguei o meu MP4 para ouvir um pouco de música, ele era ultrapassado, mas prefiro ele do que não ter nada. Vi minha mãe cochilando um pouco. Eu poderia até cochilar também, mas uma coisa estranha me chamou a atenção. Um homem de terno e óculos estava na outra fileira e olhando pra mim. Encarei ele e pensei “Alguma coisa errada?”. Ele sorriu e mexeu os lábios formando algumas palavras “Talvez” e não olhou mais. Fiquei chocada. Ele ouviu o que eu pensei... Mas como é possível? Certo, hoje com certeza foi o dia mais estranho. Repassei o dia na minha cabeça, o assalto, aquele homem no casebre falando coisas sobre mitologia grega e romana e que ele acreditava, o meu sonho e, agora, aquele homem ouvindo os meus pensamentos. Tinha que tirar aquela história a limpo. Tive a minha chance quando ele se levantou e foi até o banheiro. Olhei para a cadeira dele e vi que ao lado tinha uma cadeira vazia. Quando levantei o olhar ele estava voltando com duas barras de cereais na mão e me olhando. Ele se sentou e com a mão me convidou para sentar ao seu lado. Eu sei que ele é estranho, mas fui assim mesmo. Sentei ao seu lado e fiquei o observando por um tempo. Ele abriu a barra de cereal e me ofereceu. Não aceitei.

— Vai ficar me olhando ou vai querer tirar suas dúvidas? – Ele me olhou.

Fiquei surpresa. Claro que ele sabia, ele podia ler minha mente. Desejei que ele não pudesse ler mais. Fingi ser burra.

— Como você sabia que eu estava pensando em uma pergunta?

Ele me olhou.

— Você não é burra, sei que está fingindo.

— Mas não é possível.

— Você sabe que é.

Argh! Por que todo mundo diz isso? Até o homem do sonho disse... Espera, a voz dele é igual ao do homem do meu sonho.

— Você. Você está invadindo os meus sonhos.

— Bingo! Eu sabia que você estava fingindo.

— Mas... Por que você chama alguém no meu sonho? Não sabe o meu nome?

— Sei sim e é ele que chamo.

Eu ri.

— Meu nome não é Alexis e sim Bella.

Ele balançou negativamente a cabeça.

— Esse é o nome que disseram que é seu, mas o seu verdadeiro, desde que você nasceu, é Alexis.

Ele olhou para a janela e a lua aparecia, ele fechou a cortina da janela. Ele só podia estar brincando.

— Você está de brincadeira comigo. Como pode saber disso?

— Porque eu estava lá quando você nasceu.

Ele olhou pra mim por cima dos óculos e vi como penetrantes eles estavam, senti um calor percorrer o meu corpo. Observei-o, com certeza é muito bonito. Dei risada.

— Não sei se te conheço, quer dizer, nunca o vi na minha vida.

Ele riu.

— Com certeza você me conhece, até demais, só que não lembra. Não sei exatamente o que aconteceu para você não lembrar, passei anos tentando descobrir e ainda não sei a resposta.

— Não lembro? Quer dizer que bati a cabeça e perdi a memória?

Ele começou a gargalhar.

— Não. Só que aconteceu algo “anormal” com você. É assim que você chama, não é?

Concordei com a cabeça. Ele estava começando a me assustar. De repente ele suspirou.

— Sempre é assim. Fique tranquila não irei causar nenhum mal a você, só estou, digamos, te protegendo. Não fale isso para ninguém. Agora me deixe analisa-la melhor.

Ele tirou os óculos, colocou as duas mãos em cada lado da minha cabeça e ficou me olhando. Senti como que esse olhar estivesse penetrando o meu corpo, comecei a me sentir quente, então ele me soltou e colocou os óculos. Pelo visto não estava satisfeito com o que descobriu.

— Então, o que descobriu?

— Roubaram suas lembranças. A sua lembrança mais antiga é de estar vivendo com a sua família mortal. Não sei como você acreditou nisso.

Parei um pouco tentando juntar as peças.

— Quer dizer que não sou Bella e sim Alexis. Roubaram as minhas lembranças e forjaram uma em minha mente, ou seja, inventaram uma nova vida pra mim. De algum jeito eu te conheço, você é o homem dos meus sonhos. – Pensei alto e comecei a rir – Você é louco.

Ele suspirou sério.

— Queria estar. Colocaram um feitiço poderoso em você, para não acreditar em mim. Você sempre acreditou em mim.

Já estava ouvindo tudo aquilo e achando tudo muito ridículo, soava como piegas.

— Como eu sempre acreditei em você se nem menos o seu nome eu sei?

— Foi o que eu disse, roubaram suas lembranças, feitiço poderoso e outras coisas.

— Me diga o seu nome então, talvez eu possa lembrar. – perguntei brincando, mas queria saber quem era esse homem que tanto diz que me conhece.

— Tenho muitos nomes, mas você costumava me chamar de Apolo.

Apolo. Deus do Sol. Mitologia Grega. Pisquei os olhos e tive um flash back na minha cabeça. Vi um salão enorme e o tal de Apolo vindo em minha direção com os braços abertos, vestindo uma roupa estranha, sorrindo, o ouvi dizer “Alexis, que bom que está de volta”. Pisquei de novo e olhei para ele sem acreditar. Ele me analisou estranhamente.

— Como você colocou isso na minha cabeça?

— Isso o quê?

— Essa imagem. Um salão enorme e antigo, você vindo me abraçar e me chamando de Alexis. Como fez isso?

Ele me olhou surpreso e ficou calado.

— Pare de colocar coisas impossíveis na minha cabeça, essa coisa de mitologia grega não existe. – Comecei a ficar irritada.

— Você lembrou! Então o feitiço não foi forte suficiente. Ainda temos esperança. – Ele começou a me ignorar e a pensar alto.

— Ei, estou falando com você.

O avião tremeu. Ele olhou pra mim e abriu a cortina da janela. Estava cheio de nuvens lá fora, parecia uma tempestade.

— Seria melhor que você ficasse mais calma, senão todos irão morrer dentro deste avião. Quer dizer, menos eu e você.

Morrer? Olhei para a minha mãe e ela dormia tranquilamente. Lá fora a tempestade continuava a se formar. Só agora percebi o que ele disse.

— Por que eu e você não vamos morrer?

— Somos imortais. O mundo precisa de nós no nosso devido lugar, se morrermos seria o caos. Agora fique calma. – Ele segurou a minha mão.

Vamos ver se ele está certo. Fechei os olhos e tentei ficar calma, respirei fundo várias vezes. Abri os olhos e vi que ele olhava para a janela e sorria. Olhei na mesma direção e vi que a noite lá fora estava tranquila.

— Acredita agora?

— Não.

Ele suspirou.

— Irá acreditar quando voltar para o Monte Olimpo. Agora me escute com atenção. Não poderei mais te proteger, estou aqui escondido. Se descobrirem estarei frito, mas irão atrás de você. Por favor, resista. Tente não ser capturada. Irei procurar saber quem fez isso com você, por enquanto só irá me ver em sonho. Entendeu?

Concordei com a cabeça. Ele sorriu.

— Agora, descanse.

De repente os meus olhos começaram a fechar e tudo ficou preto.


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