Era o mês do meu aniversario de 17 anos, faltava apenas duas semanas, Nina e Emma estavam animadas para fazer a reunião na praia a noite como combinamos que seria no dia do meu aniversário. Mas eu não estava com ânimo, não depois do que aconteceu no mês passado. Ainda estava brigada com Jackson. E Jeniffer também estava chateada comigo, mas eu não ligava muito pra ela, nunca liguei. Ela estava mais ocupada que nunca agora, seu namorado John havia voltado da Flórida junto com sua insuportável filha. Ele havia ficado o dia todo lá em casa quando chegou de viaja, Jeniffer contou tudo o que aconteceu pra ele. De inicio ele ficou chocado pelo o que aconteceu com Fredd e depois ficou chateado porque Jeniffer não havia ligado para ele enquanto ele estava na florida, mas ela disse que não queria estragar a diversão dele e de Kim.

Agora que ele voltou de viajem, passa a maior parte da manha e da noite lá em casa. Sua filha, Kim, ia pra lá de vez enquanto e sempre que ia eu e ela brigávamos. Como sempre. Sentia falta de John, e estou feliz por ter voltado.

__ Como estão às coisas? __ Perguntou Emma pra mim.

Estávamos no intervalo na escola sentadas na nossa mesa de piquenique de sempre.

Dei de ombros e abaixei a cabeça. As lágrimas já estavam escorrendo pelo meu rosto.

Emma se levantou do outro lado da mesa de madeira e veio se sentar ao meu lado. Ela me abraçou.

__ Eu sinto muito. __ Disse ela acariciando encostando minha cabeça em seu ombro. Eu solucei em seu ombro deixando as lágrimas saírem.

__ Ah Emma. Eu sinto tanta falta dele. __ Sussurrei em seu ombro. __ Eu estava com raiva, com dor de cabeça, e tudo o que disse simplesmente saiu sem querer. Eu não queria magoá-lo, não queria afastá-lo de mim. Eu... Eu preciso dele!

Nina que estava nos observando do outro lado da mesa, abaixou a cabeça.

__ Vai ficar tudo bem. Você vai ver. __ Disse ela. __ Ele te ama e vai voltar a falar com você.

__ Eu nem sei se ele me ama mais... __ Sussurrei. Levantei meu rosto do ombro de Emma e enxuguei as lágrimas. __ Ele nem olha pra mim quando nos esbarramos em casa. Eu parei de levar o almoço dele pra Oficina porque a Rikki passou a levar agora. Uma vez quando passei na Oficina pra tentar novamente falar com ele, eles estavam rindo sentados uns do lado do outro de mãos dadas. __ Disse. __ Quando vi isso percebi que ele não precisava mais de mim, não precisava mais que eu levasse a sua comida, ou qualquer outra coisa. Ele tem a Rikki agora.

Lembrava da Rikki preparando a comida dele no pote e entrando em seu carro indo direto para a Oficina, e ela demorava a voltar pra casa. Também a momentos em que os vejo rindo no corredor do andar de cima, ou quando estão brincando com Bridgit na sala em frente à lareira. Tem noites que eu o vejo indo pro quarto da Rikki, e no dia seguinte quando acordo eu o vejo sair de lá com cara de sono. Ele estava dormindo lá quase todos os dias, assim como dormia comigo. Ele não vem mais me buscar na escola, e também não me da carona quando preciso. E eu nem peso mais nada também, às vezes tudo isso me dava raiva, mas depois eu pensava que isso tudo ta acontecendo por minha causa. É tudo culpa minha. Todos os dias eu pegava o ônibus da escola para ir e pra voltar. E depois da escola em vez de ir direto para casa, eu ia para a clareira ficar com a rosa que a cada dia morria. Ela estava depressiva, e eu tentava ajudá-la, mas nem mesmo eu me sentia bem para fazer isso.

Fechei os olhos com força e balancei a cabeça para espantar todas essas lembranças. Eu sentia falta dele, e agora ele estava me substituindo pela Rikki. Sim, eu estou com ciúmes.

Emma acariciou meu braço totalmente tapado pelo casaco. Ultimamente tem caído um frio horrível em Petersburgo, um frio de congelar a alma. Não tinha neve e nem estávamos no inverno ainda para esse frio todo. Esse tipo de clima fora de época não acontecia desde 1993, quando o primeiro corpo mutilado foi achado na praia de Meygo.

Eu ainda sonhava com o homem dos olhos violetas, mas era só sonho, ele não apareceu para mim novamente. Eu acordava gritando toda noite, mas ninguém vinha ao meu quarto, nem Jeniffer e nem Jackson. E eu sentia falta dele nessas horas, precisava dele comigo, só assim me sentia segura de novo. Meus sonhos começaram a mudar um pouco de foco.

“Eu estava em Meygo, na beira da praia olhando o oceano a minha frente, meus olhos violetas acompanhavam as ondas que se quebravam na beira da praia e chegava aos meus pés descalços como espuma. A água estava fria, o clima estava frio, e o ar gélido tinha cheiro de sangue fresco. Era noite e a praia estava deserta como de costuma, só se ouvia o barulho do vento passando pelas arvores escuras e enormes que cercavam a praia. Eu fique de pé na beira da praia por mais ou menos meia hora, até que senti alguém atrás de mim. Quando me virei sorri para o corpo mutilado e ensanguentado de Fredd. Ele estava de pé com o corpo curvado para frente parecendo cansado. Seu corpo estava detonado. Onde deveria estar seu coração havia apenas um buraco negro indicando que não tinha coração algum ali dentro. Seu rosto estava cheio de sangue que sai dos cortes profundos, estava inchado com vários hematomas roxos. Seus pulsos com as marcas de que alguma coisa antes estava prendendo-os, também sangrava. Seu peito nu estava com marcas horríveis e com sangue espalhado. Sua calça comprida branca estava suja de terra misturado com seu sangue, e estava rasgado em algumas partes também. Ele estendeu sua mão direita suja de sangue para mim. Ele segurava uma rosa. Uma rosa triste. Uma rosa branca.”

Espantei novamente meus pensamentos pra longe. Não queria me lembrar do sonho.

__ Vai ficar tudo bem. __ Repetiu Emma baixinho em meu ouvido. __ Tudo vai voltar ao normal.

Mas eu sentia uma estranha sensação de que não ira voltar ao normal. Que nada será normal.