__ Um Milk-shake de chocolate médio, e um Milk-shake de morango grande. __ Pediu Jackson a garçonete da sorveteria.

A jovem moça com o uniforme da sorveteria Mix Ice, começou a preparar o pedido, depois olhava atentamente para Jackson e lhe dava um sorriso tímido. Jackson e eu procuramos uma mesa para nos sentar. A sorveteria não estava lotada, mas tinham poucas mesas então ficava difícil de achar uma que estivesse vazio.

Acabamos nos sentando do lado de fora em uma mesa que acabara de ficar vazia.

__ Não é estranho, essa mudança de clima? __ Comentou Jackson. __ No cemitério parecia que estávamos entrando no inverno, agora que saímos de lá parece que voltamos para o outono novamente. __ ele deu uma pequena risada baixa.

Olhei para a rua. Estava tudo agitado hoje no centro, mais carros que o de costume passavam para lá e para cá em grandes velocidades, e pessoas nas calçadas andavam rápido ou corriam por todos os lados. Na calçada do outro lado da rua havia somente um carro preto estacionado.

__ É... Muito estranho. __ Respondi distraída.

Novamente me lembrei da clareira, onde o ar lá passava a ser frio assim que pisássemos dentro dela. Comecei a pensar na rosa e em como ela estaria agora? Feliz ou triste novamente? Curvada para o chão ou em pé? Era estranho, mas eu me sentia bem dentro da clareira na companhia da rosa. Era só um simples rosa sem valor algum, mas mesmo assim... Ela me deixava feliz. Era como se ela sugasse toda a minha tristeza. E se ela estava triste eu também estava, e se estava feliz eu também acabava ficando.

__ Aqui está. __ Disse à garçonete que nos atendeu lá dentro. Ela carregava uma bandeja de prata com nosso pedido. __ Um Milk-shake de chocolate pequeno e um Milk-shake de morango grande. __ Ela colocou nosso Milk-shakes um por um na mesa. Depois deixou uma nota na mesa, colocou a bandeja de braço do braço direito, então pegou uma caneta do bolso do avental e se curvou na mesa em uma postura exagerada para escrever algo na notinha. Ela guardou a caneta de volta no bolso e empurrou a nota fiscal para de baixo dos guardanapos para que não voasse. E então ela saiu rebolando e dando uma piscadela para Jackson.

Ele sorriu gentilmente para ela.

Peguei meu Milk-shake de chocolate na mesa de modo arrogante, e mordi o canudo.

__ Ta nervosa? __ Perguntou Jackson.

Olhei pra ele sem humor. Chupei o Milk-shake.

Ele deu um sorriso cafajeste, e meu coração acelerou. Desviei os olhos voltando a olhar para o outro lado da rua.

Tomamos nosso Milk-shake em silêncio. Minha mente se direcionou a clareira novamente, para a rosa cheia de solidão.

__ No que está pensando?__ Perguntou Jackson com uma voz aveludada. Olhei pra ele. Seus olhos estavam querendo dizer alguma coisa, mas Jackson não permitia que fosse visível. Como sempre.

__ Em nada. __ Disse em tom seco.

Ele sorriu mais ainda.

__ No que está pensando? __ Insistiu ele enquanto tomava seu Milk-shake de morango.

Meus olhos não desgrudavam dos dele. Ele levantou uma sobrancelha de modo desafiador ainda com um sorriso cafajeste e ao mesmo tempo sedutor no rosto.

__ No que ta pensando Any? __ Continuou a perguntar ele.

Revirei os olhos e tentei evitar o sorriso que estava se formando em meus lábios.

__ Em como você é chato. __ Disse não podendo conter um sorriso tímido.

Seu sorriso sedutor aumentou. Ele estava fazendo isso de propósito. E estava começando a me deixar sem graça.

__ Any bobinha. __ Ele arrastou sua cadeira para que se sentasse ao meu lado, muito próximo de mim. __ Bobinha. __ Repetiu ele se aproximando mais. Ele ia fazer aquilo de novo, ia me dar esperanças e depois iria se afastar. Será que ele sabe sobre os sentimentos que ele exerce sobre mim? E se sim, será então que ele faz isso de propósito? Só pra implicar comigo? Isso seria maldade.

Ele continuou se aproximando, e depois me abraçou. Como eu esperava que fizesse.

__ No que ta pensando? __ Ele se afastou só um pouco para olhar bem nos meus olhos. Ele estava a alguns centímetros do meu rosto. __ Me diz. Diga-me no que você está pensando. __ Pediu. Ele encostou sua testa na minha. Ele com certeza está fazendo de propósito. Não está?... É claro que sim... Ou será que não?

Eu me sentia confusa, meus sentimentos quando estou perto dele viram uma bola de confusão. Seu perfume fazia-me sentir como se estivesse nas nuvens, o calor de sua pele era agradável e quente. Sua voz era serena e aveludada quando ele falava com tanta calma e carinho, mas ainda não perdia seu jeito Bad Boy, me provocava arrepios. Ele levou sua mão ao meu rosto, seus olhos passeavam por meu rosto como se estivesse tentando gravar cada linha. A outra mão brincava com uma mecha loira do meu cabelo.

__ Porque é tão difícil? __ Murmurou ele baixinho, mas parecia que a pergunta foi direcionada para si mesmo. __ É tão simples... É fácil... __ sua mão se apertou ao meu rosto, e com o polegar ele me fez caricias. __ Mas eu não consigo. __ Seus olhos de repente demonstraram raiva, angustia, fracasso, e infelicidade.

Franzi o cenho.

__ O que você não consegue? __ Sussurrei com a voz fraca. Ele provocava esses tipos de coisa em mim, eu me sentia completamente molhe quando ele estava tão próximo de mim.

Ele deu um sorriso fraco que durou um segundo, sua expressão estava séria.

Ele suspirou e balançou a cabeça, fechou os olhos com força por dois segundos e os abriu se afastando de mim completamente.

__ Nada... __ Disse voltando a encostar-se à cadeira. Olhei pra ele atônica. __ Deixa pra lá, só estava pensando alto. __ Ele olhou para o outro lado da rua evitando me encarar.

__ Não faça isso. __ Sussurrei. Ele olhou pra mim e franziu o cenho cruzando os braços sobre o peito. Ele voltou com a mascara em seu rosto novamente.

__ Fazer o que Any? __ Perguntou com a voz neutra e bem controlada.

__ Isso. __ Disse chegando mais perto dele do mesmo jeito que ele fez comigo. Ele congelou e me encarou com os olhos vazios. __ Porque faz isso?... Quer dizer, porque você... __ suspirei tentando me acalmar, pois minha voz já se elevava. __ Não percebe que me machuca... Jackson. __ Ele tentou se afastar tirando minha mão de seu rosto, mas eu o impedi.

__ Não sei do que está falando. __ Sua voz voltara ao normal, não estava mais serena e aveludada. Dessa vez sua voz pareceu grandes farpas me perfurando.

Me encolhi. Tirei minha mão de seu rosto, mas ele não se afastou e nem eu.

__ Por favor... Não finja que não sabe. __ Disse já com as lágrimas nos olhos. Segurei-as. __ Eu já to cansada de esconder isso de mim mesma por anos, isso cansa e machuca. __ continuei. __ Tentei negar isso a vida inteira praticamente, e agora que estou passando a aceitar, a tentar deixar acontecer... Você simplesmente brinca comigo. Às vezes eu não te entendo... Você não deixa ninguém te entender, na maior parte do tempo se esconde. E quando você abaixa a guarda, você logo depois se esconde de novo, me deixando mais confusa.

Ele continuava a me encarar com seus olhos duros sem desviar em nenhum momento. Depois eles se suavizaram e ele suspirou.

__ Me desculpe. __ Disse se afastando e voltando a se recostar na cadeira de plástico branca da lanchonete. __ Me desculpe Any...

__ Não negue. __ O interrompi fechando meus olhos enquanto falei.

__ Não, não estou negando. __ Disse ele. __ Você ta certa. Eu sei, você sabe... É só que, não dá e você sabe disso.

__ É eu sei. __ Sussurrei.

__ Eu não consigo me controlar sempre, quando percebo já estou em cima de você de novo. __ Ele balança a cabeça e da um riso sem animo algum. __ Eu não consigo. Também tentei negar por muito tempo Any, você não é a única.

Fechei os olhos. Senti uma lágrima escorrer por meu rosto. Já havíamos acabado com nossos Milk-shakes, e estávamos a bastante tempo sentados ali.

Levantei-me pegando a notinha fiscal, e enxuguei a lágrima teimosa.

__ Eu vou pagar. __ Falei pegando a notinha.

Ele rapidamente se levantou e começou a mexer no bolso de sua calça jeans.

__ Não tudo bem. __ Disse pegando a carteira.

Ignorei-o e passei por ele indo para o caixa. Peguei minha carteira da bolsinha. Havia uma mulher rechonchuda na minha frente pagando o seu pedido, então esperei atrás dela. Olhei a notinha e vi o que a garçonete havia escrito, e como bem eu pensava era o número de seu celular. Amassei a notinha em minha mão fazendo uma bola e a apertei bem forte.

__ Próximo! __ Gritou a mulher do caixa.

Entreguei-lhe a bolinha de papel. A mulher ergueu as sobrancelhas pra mim e eu apenas dou um sorriso apressado.

Ela faz uma cara feia e o desdobra. Depois paguei o nosso pedido.

Jackson estava do lado de fora encostado na mesa com os braços cruzados olhando para o chão.

__ Podemos ir? __ Perguntei sem olhar pra ele.

Eu sentia seus olhos me estudando por um tempo antes de pegar as chaves de sua moto no bolso de trás de sua calça. Ele estendeu uma das mãos em direção a sua moto estacionada na calçada ali perto para que eu passasse na sua frente.

Ele subiu na moto colocando o capacete e me passando um também. Coloquei o capacete e subi na moto agarrando sua jaqueta.

Ele ligou a moto e começou há rir um pouco.

__ Any. __ Sua voz estava um pouco abafada por causa do capacete. __ Segure-se em mim direito.

Hesitei por uns segundos antes de o abraça. Detestava esse clima que ficava entre agente, mas era uma coisa impossível de evitar.

__ Bem melhor. __ Disse ele.

E então arrancou com a moto para a rua.