-Droga! – esmurrei uma árvore, fazendo com que esta caísse levando outras duas consigo. Já estava procurando por Bella há exatas trinta e quatro horas.

Ela me surpreendeu com sua fuga, em nenhum momento imaginei que tivesse tal intenção. É claro que percebi que estava estranha. Extremamente quieta e pensativa, em alguns momentos até arredia. Mas não dei muita importância a isso, não poderia imaginar que ela estava apenas esperando o momento mais vantajoso para fugir. Achei que ela estava apenas nervosa, talvez com medo.

Medo seria um sentimento plausível.

Mas Bella dificilmente tem um sentimento ou uma atitude plausível. Ela não age conforme o script. Normalmente sou grato por isso, afinal se não fosse por essa baixa dose de juízo que minha esposa possui, nunca teríamos nos envolvido, pelo contrário, ela se manteria o mais longe possível de mim e de todo este universo que me cerca.

Se ela não estivesse ligada a mim ela não estaria com aquilo dentro dela agora. Se eu fosse mais duro nas minhas decisões e não cedesse aos seus desejos tão facilmente, ela estaria aqui comigo. Sã e salva.

Muitas vezes sou grato por sua falta de autopreservação.

Muitas vezes.

Não agora.

Não quando essa isso está colocando sua vida em risco, outra vez.

Foi para mantê-la longe de tudo isso que a deixei uma vez. Queria que ela tivesse uma vida humana, com experiências humanas, ao lado de um marido humano – por mais que isso me deixasse em pedaços por dentro, seria o melhor para ela -, e engravidasse de um bebê humano, que não lhe sugasse a vida. Mas Isabella Swan não tinha estes mesmos planos para si mesma.

Ela deseja se tornar uma vampira, sem alma, um monstro, vivendo experiências que põem sua vida em risco o tempo todo, ao meu lado, grávida de uma criatura que não se sabe o que é nem o que pode causar. E eu sou muito egoísta para não ceder a seus desejos.

E acaba de virar no relógio a trigésima sexta hora de busca por Isabella Marie Swan Cullen.

Enquanto eu percorro todo o Rio de Janeiro e as cidades vizinhas, vasculhando todas as mentes possíveis, Carlisle fica em casa buscando todas as operações eletrônicas que envolvem o nome de Bella. Compras com cartões de crédito, viagens, idas ao banco, ao correio, até mesmo a entrada em alguns hotéis.

Infelizmente nenhum de nós dois tivemos sucesso na busca. Bella não está em nenhuma mente humana e, até a última vez que meu pai me ligou, em nenhum cadastro eletrônico.

Neste instante meu celular começa a tocar e, por um mísero momento, desejo que seja ela, arrependida por ter fugido e querendo voltar para mim. Infelizmente não tive tanta sorte, o nome que piscava na tela era o de Carlisle.

-Olá Carlisle. Alguma novidade?

-Na verdade sim, meu filho. Isabella acaba de fazer uma compra. – ou talvez, a sorte esteja a meu favor afinal.

-Isso é ótimo, onde ela está? O que comprou?

-Algumas passagens.

-Algumas?

-Quatro, na verdade. Uma para França, outra para o Canadá, a outra para Espanha e uma última para Inglaterra. – Não fazia sentido, talvez ela estivesse em duvida de pra onde ir, onde seria mais fácil se esconder? - Todas exatamente no mesmo horário. – o que acaba com minha teoria, Bella tinha um plano.

-Mas por quê?

-Meu palpite é que ela está tentando nos confundir. – e está dando certo. – Bella deve imaginar que estamos monitorando seus passos e está usando isso para jogar com nossas mentes.

-Ela está sendo esperta. – mais do que eu julgava que um humano poderia ser. Sem querer ofender, mas realmente não me passou pela cabeça que um humano algum dia embaralharia a mente de vampiros. É o mesmo que dizer que o peixe preparou uma armadilha para o pescador. - Mas nós temos Alice.

-Na verdade não. Alice não pode vê-la direito, além disso, ela está jogando com as visões também. A cada momento decide ir para um lugar novo.

Não pude evitar um sorriso. Isabella Swan, uma simples humana, jogando com a mente de sete vampiros centenários. E vencendo o jogo.

Minha humana.

-Edward, ela comprou outra passagem. Para o México. O voo sai quatro horas antes dos outros. Alice também teve uma visão do aeroporto de Guadalajara, a imagem um pouco desfocada, o que indica...

-... Que Bella estará lá. - deixei uma risada leve escapar. Talvez ela não seja tão esperta assim. - Qual é o voo? Comprarei uma passagem. – Esperei até que Carlisle tivesse me passado todas as informações necessárias e desliguei. Não sem antes prometer que iria caçar antes de embarcar, medidas de precaução.

Ao mesmo tempo em que Bella me surpreendia com sua inteligência, ela falhava em pontos simples. Seu plano foi admirável, ela conseguiu confundir a todos, e depois nos deu a resposta de graça. Isso é tão... Bella.

Entrei no primeiro táxi que apareceu e mandei que fosse para o aeroporto. Ir correndo seria mais rápido, mas infelizmente a falta de árvores pelo caminho não me permitia.

Cheguei ao aeroporto em cinquenta minutos e em menos de meia hora já estava com a passagem em minhas mãos e um sorriso no rosto.

...

...

Depois de caçar alguns felinos minhas roupas estavam em um estado deplorável e não precisava de Alice para me dizer que seria necessário trocar de roupa.

E é por culpa dessa troca de roupa e do congestionamento quilométrico que tive que enfrentar no caminho para o aeroporto que eu estava, nesse momento, correndo –em velocidade humana- para não perder o voo.

Maldito congestionamento.

Alcancei o balcão da companhia e apresentei minha passagem, sendo acompanhado para a sala de embarque.

Passei pelo detector de metais e fui andando apressado para o avião.

-O avião não irá decolar sem o senhor. – o que? Oh, claro, ela pensa que estou com medo de perder o voo, quando na verdade meus passos acelerados eram para chegar logo até Bella.

-Sei que não.

Não pude evitar um sorriso que escapou por meus lábios quando entrei na aeronave, logo procurando pela moça dona de um profundo par de olhos castanhos, que havia cometido a loucura de fugir de meus braços.

-Senhor, seu lugar é este. – a comissária apontou para uma das primeiras poltronas. E insistiu quando não fiz menção de me mover – O senhor tem que se sentar, já iremos decolar. – continuei a varrer o lugar com os olhos.

Onde diabos estava Bella?

No banheiro! Humanos necessitam ir ao banheiro.

-Claro. – concordei, me acomodando em minha poltrona, esperando que o avião decolasse.

“Tenham todos uma boa viagem.”