A Life To Remember escrita por mi


Capítulo 1
They tore me apart, like a hurricane.


Notas iniciais do capítulo

O trecho do título do capítulo é de Therapy, All Time Low. Espero que vocês gostem da web!



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A claridade da manhã invadia toda a extensão do quarto que eu estava e me impediu de dormir. Eu sentia como se cada osso do meu corpo pedisse por descanso e eu não entendia o porquê. Por que tanta dor? Por que minha perna estava levantada? Curiosa, abri meus olhos e me assustei. Um rosto totalmente desconhecido estava numa proximidade perigosa. Era um garoto de no máximo dezessete anos, de pele branca. Seus olhos eram verdes e quando me viu abrindo os olhos, sorriu surpreso.

- Sam? – ele perguntou e seu sorriso aumentou – Eu fiquei tão preocupado, achei que alguma coisa realmente grave tinha acontecido com você... – Ele continuou falando, mas eu não entendia mais nada.

- Hm, desculpe a indelicadeza, mas nos conhecemos? – Perguntei receosa e percebi confusão em seu olhar. Pigarreei e ele se afastou de mim.

- Como assim você não lembra de mim, Sam? – Ele perguntou delicadamente e passou a mão no cabelo, parecendo estar nervoso. – Sou eu, o Danny.

- Não faço a mínima ideia de quem você é, Danny. – Desviei o olhar e procurei algum rosto conhecido naquele quarto, mas só tinha aquele garoto. Percebi que estava em um hospital e que minha perna estava quebrada, por isso que eu sentia que ela estava levantada. Alguns tubos e agulhas entravam em mim e isso me incomodava. – Cadê meus pais? Por que eles me deixaram sozinha em um quarto de hospital com um desconhecido? Por que estou num hospital, em cima de uma cama, com braços e pernas arranhados? – Me desesperei e algumas lágrimas se acumularam em meus olhos.

- Eu não sou um desconhecido, Sam. Pode parar de brincar, tá? Não tem graça. Não depois de tudo que aconteceu.

- Você acha que eu estou brincando? – Falei indignada e comecei a chorar. Fechei os olhos e respirei fundo. Quem era aquele garoto? Por que ele achava que eu estava brincando com ele? – Já falei, cadê os meus pais? – Gritei. Danny me olhou e afundou seu rosto nas mãos. Depois de alguns longos segundos, ele suspirou e me respondeu:

- Eles tiveram que ir em casa, mas já estão vindo. Tiveram problemas com seu vizinho, o Button.

- Que vizinho? Não conheço ninguém com esse nome...Nosso vizinho se chama Gus. – Eu respondi.

- O seu antigo vizinho se chamava Gus, Samantha. O seu vizinho de Nashville.

- O que você quer dizer com “o seu vizinho de Nashville”? Não estamos em Nashville? – Perguntei e arregalei meus olhos. Ok, que tipo de brincadeira era aquela?

- Você tem que estar brincando, Samantha. – Ele balançou a cabeça frustrado e se levantou da poltrona que estava sentado. – Vou chamar um médico. – Falou e saiu do quarto, me deixando sozinha e desesperada.

Eu queria meus pais, queria sair dali. Tentei me levantar, mas vários fios e tubos me prendiam àquela cama. Sequei as minhas lágrimas e senti uma pontada na costela. O que eu tinha feito pra estar ali, afinal? A minha última lembrança era de estar na minha casa, descendo as escadas pra ir pra escola e agora eu estava em um hospital com um cara chamado Danny que insinuou que não estávamos mais em Nashville e que me conhecia? Ok, tem alguma coisa errada aqui. Tem que ter. Fechei os olhos e deitei minha cabeça no travesseiro. Contei até dez e comecei a pensar em coisas que me deixassem feliz. Ouvi a porta do quarto se abrindo e me ajeitei na cama. Um homem de cabelos pretos arrumados para trás e de jaleco, olhando para uma prancheta entrou no meu quarto. Ele era alto e parecia ter pouco mais que cinquenta anos. Olhou-me com certeza preocupação e se aproximou da minha cama. Vi Danny entrando no quarto e fechando a porta com aquele olhar incrédulo. Mesmo apavorada, não pude deixar de notar como ele era bonito, alto e musculoso. Seu braço direito era cheio de tatuagens.

- Bom dia, senhorita Mayer. – O médico falou e minha atenção foi virada a ele. – Sou o Doutor Harper e fico feliz de vê-la acordada depois de tanto tempo...Estou acompanhando você desde a sua entrada no hospital.

- Como assim? O que aconteceu? Por que estou aqui? – Perguntei com tom de urgência, porque era assim que eu me sentia naquele momento. Queria saber minhas respostas e as queria logo.

- A senhorita não lembra?

- Não. – Respondi apreensiva e a máquina do meu lado apitou, mostrando que minha pulsação estava acelerada.

- Acalme-se, Samantha. É essencial que a senhorita mantenha a calma agora. – Ele disse e me olhou.

- Para o senhor é fácil, não é? Me responda logo, Doutor.

- Calma, Samantha. – Danny falou e se aproximou de mim. Pegou minha mão esquerda e eu o olhei, soltando minha mão da dele. Ele logo se recolheu e pareceu triste.

- Eu quero saber dos meus pais. Quero saber o que aconteceu. Eu tenho o direito. – Falei séria.

- Você vai saber de tudo isso, mas antes preciso de algumas respostas. – O médico falou e anotou algo em sua prancheta. Perdi a paciência:

- Quem precisa de respostas sou eu, Doutor. – Eu falei.

- Qual é a última coisa que a senhorita lembra? – Ele perguntou, ignorando totalmente o que eu tinha falado antes. Suspirei e sorri. Aquela pergunta era fácil.

- Eu estava me arrumando para ir pro colégio. Devo ter caído da escada ou algo assim, certo? É esse o motivo de eu estar aqui. – Eu falei e ri sem humor. – É por isso que estou aqui. Porque caí da escada e me machuquei e... – Deixei a frase morrer quando o doutor olhou para mim. Anotou algo em sua prancheta novamente.

- Onde estamos, Samantha? – Ele perguntou e seu tom de voz era regulado.

- Nashville. – Respondi de prontidão.

- Em que ano estamos?

- 2010. – Falei e olhei para o médico. Danny bufou e colocou a mão no cabelo. Não entendi sua reação, mas não comentei nada.

O médico agradeceu pelas minhas respostas e chamou Danny para sair do meu quarto, alegando que precisava falar algo com ele, o que eu achei que foi errado, porque eu nem conhecia aquele garoto. O médico tinha que falar comigo, não com ele. Suspirei baixo e peguei o controle da televisão que estava perto da minha cama. Fiquei alguns minutos assistindo algum canal infantil, até que meus pais entraram no quarto.

As duas pessoas que me olhavam eram quase desconhecidas para mim. Quase. A mulher ainda tinha aquele sorriso carinhoso e o homem aquele olhar cheio de bondade. Eram meus pais, com certeza. Mas o que tinha acontecido com eles? Eu tinha certeza que mamãe era morena, o que era estranho, porque aquela mulher era loira. E o homem? Meu pai não era tão gordo assim. Mamãe veio me abraçar e eu a olhei. Ela chorava alto e acariciava o meu braço.

- Eu fiquei tão preocupada com você, filha! – Ela repetia. Eu a olhei sem entender nada. – Mal acredito que você está acordada, que tudo está bem! Rezei tanto, pedi a Deus que você ficasse bem, sem nenhuma sequela e olha só pra você agora, só quebrou a perna e teve alguns arranhões!

- Mãe, o que aconteceu comigo? – Perguntei baixo.

- Você não se lembra, filha? – Ela perguntou. A maquiagem dela estava completamente borrada, fazendo com que ela se parecesse um panda. Em outras situações eu riria muito, mas essa hora não era adequada para qualquer tipo de brincadeira.

- Não, mãe. – Respondi e fechei os olhos. Não estava preparada para a cara de decepção que ela possivelmente faria.

- Você está se sentindo bem, Samantha? – Papai falou pela primeira vez e parecia preocupado. Desespero, confusão e medo me definiam cada vez mais. – O que você acha de eu ir chamar o médico?

- Não precisa, pai...Eu estou me sentindo bem. – Menti e forcei um sorriso. O que eu menos queria agora era preocupar meus pais.

Eles começaram a conversar e eu não entendia nada, apenas observava. Depois de alguns minutos, o médico entrou no meu quarto (dessa vez sem Danny).

- Está mais calma, Samantha? – Ele perguntou e eu concordei com a cabeça. – Ainda bem! Bom, vim aqui para avisar que eu preciso que você faça uma série de exames agora e só depois disso poderei te diagnosticar direito...

- Tudo bem, Doutor Harper. – Eu falei e ele explicou como os exames eram pros meus pais. Eles concordaram e o médico me deu um remédio que me deixaria dormindo até o final dos exames.

Acordei algumas horas depois e a primeira coisa que notei é que alguém segurava minha mão com delicadeza. Seus dedos eram firmes e carinhosos ao mesmo tempo e eu podia apostar que aquela mão era masculina. Olhei para o dono e o reconheci. Era Danny.

- Oi. – Ele falou.

- Oi. – Eu respondi.

- Me diga que você acordou e conseguiu lembrar de mim.

- Me desculpe desapontar suas expectativas. – Falei e dei de ombros. Ou pelo menos tentei, porque meu corpo inteiro doía.

- Tudo bem, vamos consertar isso, ok? – Ele falou e eu assenti. Sorri de leve e ele retribuiu o sorriso. – Meu nome é Daniel.

- Oi Daniel, sou a Samantha. Prazer em conhecê-lo.  – Falei e ele riu. – Por que está tudo tão escuro? – Perguntei.

- O remédio que o Doutor Harper te deu era forte e você dormiu o resto do dia inteiro. Estamos esperando seus pais voltarem da cantina enquanto também esperamos os resultados dos seus exames.

- O que nos resta é esperar então. – Eu disse e ele sorriu. Em outras condições, eu poderia ter me apaixonado por aquele sorriso. Ele se sentou ao meu lado e ficamos assistindo televisão em silêncio. Sua mão ainda estava na minha, o que era estranho, porque eu não o conhecia. Nunca tinha visto seu rosto antes, mas todas as células do meu corpo pareciam conhecer aquele toque, aquela pessoa. Meus olhos pareciam lembrar do seu rosto, mas minha mente não me mostrava nada.

Alguns minutos depois, o Doutor Harper entrou no quarto acompanhado de mamãe (que estava com o rosto vermelho) e papai (que estava com uma expressão vazia). Ambos me olhavam com preocupação e pena. Odiava quando sentiam pena de mim.

- Boa noite, Sam. – Doutor Harper sorriu.

- Boa noite, senhor. – Respondi calmamente, o que era inversamente proporcional à como eu me sentia.

- Estou com os resultados dos seus exames e temo que as notícias não sejam as melhores. – Ele falou e me olhou com preocupação.

- E aí? – Perguntei nervosa e a mão de Danny apertou a minha. Seu polegar fazia carinho na minha mão, o que dificultava todo o meu propósito de dar atenção ao médico.

- Bom, conforme os resultados, você está com amnésia retrógrada. – Ele falou calmamente, como se isso fosse uma notícia fácil de ser absorvida.

- E o que isso significa? – Danny perguntou, mas eu já desconfiava.

- Significa que Samantha esqueceu muitos acontecimentos de sua vida. Pelas minhas perguntas, os últimos dois anos da vida dela foram apagados da memória. – Ele me olhou, mas eu fechei meus olhos. Soltei a mão de Danny e chorei. Chorei até meus pulmões arderem e meus olhos queimarem. Chorei até não ter mais lágrimas. Chorei até adormecer. 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam??



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