O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 82
Parte II: Imortal/ 3x11 - Não mais sozinha


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu demorei por que tive muitas provas e eu passei essa semana inteira lendo os cinco livros do Percy Jackson; é muito bom, rsrs... Então eu gostei desse capitulo por que foi legal explorar essas emoções que eu nunca vivi. Espero que vocês gostem dele tanto quanto eu __*
Ah, e eu fiz um novo vídeo sobre o que Jake e Agatha estão vivendo, deem uma olhada
http://www.youtube.com/watch?v=OYmljuyaG9w



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Quando eu tinha onze anos eu vi meu pai se despedir da gente, dizendo que sentia muito por não ter dado certo com mamãe e que aquilo não era nossa culpa. Eu o vi passar pela porta com uma mala que julguei muito pequena para caber toda uma vida. Mamãe não quis chorar na nossa frente, então subiu para o quarto que seria, a partir de então, só dela.

Felipe fingiu que não se importava. Saiu de casa batendo a porta, dizendo algo sobre ir encontrar alguns amigos. E eu fiquei parada ali no hall, em choque. Incapaz de falar ou me mexer. Encarando a porta. Esperando meu pai voltar por ela. Ele não voltou.

Eu me sentia exatamente como há seis anos atrás. Incapacitada. Sem respostas. E esperando.

Eu só não sabia o que estava esperando.

Jacob não engoliu a explicação tosca que eu dei para as lágrimas que desciam por meu rosto. Eu gaguejei algo sobre estar com medo. Ele perguntou do que eu estava com medo, e eu não consegui responder. Nem eu sabia o que estava sentindo. Por isso fiz algo que provavelmente o deixou mais angustiado ainda: eu o pedi para ir embora.

–Eu preciso de um minuto sozinha, por favor. – implorei, ainda em meio às lágrimas. – Apenas... Apenas vá.

–Eu não posso te deixar nesse estado. – ele me segurou pelos ombros. – Agatha, o que está acontecendo com você?

–Jacob, eu converso com você depois. Por favor.

Ele me encarou, suplicante.

–Vai. – implorei.

Jacob, por fim, foi embora.

Eu não sabia o que fazer. Ainda estava aqui, ajoelhada no banheiro, sem ter ideia de como as coisas foram parar tão longe do meu controle. Aquilo não podia estar acontecendo. Era impossível... Deveria haver algum tipo de limite, um número que delimitasse quantas desgraças poderia acontecer com uma pessoa só. Pois, eu tenho certeza que há atingira o meu.

Então, meio que mecanicamente, levantei-me e fui até a sala de estar. Tossi para limpar minha garganta. Peguei o telefone e disquei o número, esperando que fosse ela a atender. Ouvi o som de sua voz clara:

–Alô?

Hesitei.

–Oi... Bella. É Agatha.

–Oi... O que aconteceu? Sua voz está estranha.

–Eu – inspirei profundamente. – Eu preciso da sua ajuda.

***

Eu não sabia exatamente o que viera fazer ali.

Bella me garantira que aqui em sua casa não poderíamos ser ouvidas. Ela pareceu ligeiramente surpresa com o meu pedido e, talvez, um tanto preocupada. Eu não poderia culpá-la. O que ela deveria pensar com a minha ligação tarde da noite, pedindo sua ajuda e recusando a contar o que havia de errado?

E agora, no entanto, eu não fazia ideia de como começar a falar, supondo-se que eu conseguisse emitir algum som.

Bella me encarou; uma ruga fina marcando sua testa de mármore. Ela parecia exatamente como uma mãe: preocupada, atenciosa... Eu procuraria Sue se amanhã não fosse o casamento dela. Eu não poderia preocupá-la desse jeito logo agora.

–Agatha, o que aconteceu? – ela perguntou com a voz abafada.

Mexi-me desconfortável no sofá. Levantei os olhos para ela. Pigarreei para me certificar de que ainda possuía cordas vocais. Pelo que sei, elas poderiam ter sumido. Eu não conseguira falar nada desde ontem à noite. Nem mesmo quando Jacob se esgueirou pela janela de madrugada. Eu fingi que estava dormindo, mas ele saberia de qualquer maneira pela minha respiração acelerada, que eu estava mentindo.

Respirei fundo e identifiquei vagamente o perfume de lírios.

–Não sei por onde começar. – consegui murmurar.

Ela assentiu.

–Você brigou com Jacob?

Balancei a cabeça negativamente. Bella suspirou.

–Tudo bem. Você disse que eu era a única a poder te ajudar. Por quê?

Voltei a olhar para o chão.

–Agatha? – ela me incitou depois de algum tempo.

–Você é mãe. – sussurrei.

Arrisquei olhar para o seu rosto. Bella estava com a cabeça virada de lado, confusa.

Engoli em seco.

–Eu... eu acho que... acho que estou grávida.

Seus olhos dourados arregalaram-se um pouco.

–Oh...

O nó voltou à minha garganta.

–Eu... eu não sabia mais com quem falar. Sue vai casar amanhã, e... e eu não posso contar a Jacob. Eu não sei o que fazer.

Bella se recuperou do choque, veio até mim e sentou-se ao meu lado no sofá.

–Está tudo bem, Agatha. A primeira coisa que temos que fazer é ter certeza, então você precisa fazer um exame logo. Posso falar com Carlisle para irmos até o consultório dele em Tacoma.

Eu não sei o que ela viu no meu rosto, deve ter sido algo entre o pânico e o desespero, por que sua voz tomou um timbre condescendente.

–Temos que ter certeza, Agatha. Sei que está com medo, mas o começo de uma gravidez é muito delicado. Você precisa se cuidar.

Meu peito começou a subir e descer. Eu tinha uma leve suspeita de que o som rascante que tampava os meus ouvidos vinha da minha garganta.

–Bella, eu não posso fazer isso...

–Vai ficar tudo bem...

–Não. – minha voz ficou mais firme. – Você não está entendendo. Isso vai acabar com Jacob!

Agora ela estava confusa.

–Por quê? Ele ficaria feliz, Agatha. É um bebê!

Passei as mãos pelos cabelos nervosamente. Eu ia começar a chorar de novo...

–Não, não. Ele é imortal, Bella. E eu não. Você sabe o que isso significa.

Os olhos dela saíram de foco por um momento. Eu sabia que Bella estava revivendo suas memórias humanas. Ela mais do que todo mundo sabia o que eu estava passando.

–Jacob não pode sair da matilha. – sussurrei. – Ele é o alfa. Nós estamos tentando lidar com isso desde que eu me tornei humana novamente. Já está sendo difícil o bastante sem... sem isso.

–Mas então...? – ela balançou a cabeça, mortificada.

Ergui os ombros. Lágrimas riscaram o meu rosto novamente. Eu sentia como se estivesse vertendo água que nem uma cachoeira há dias.

–Eu não sei. Ah, meu Deus... Eu não sei.

***

Eu encarei o visor do celular aceso.

Era a décima quinta vez que Jacob me ligava. Eu havia avisado-o que estava indo para Tacoma resolver um assunto do casamento com Bella. Eu torcia para que ele não acabasse perdendo a paciência e viesse até aqui. Conhecendo-o como conhecia, sabia que eu dispunha de apenas mais uma hora ou duas antes de ele realmente fazer isso. E eu não podia me dar ao luxo de deixá-lo ainda mais preocupado. O que ele pensaria quando me visse aqui consultório de Carlisle?

–Agora, me diga: exatamente porque eu não posso fazer um exame comum de farmácia? – perguntei a Carlisle quando ele veio com uma agulha enorme. – De preferência daqueles indolor?

Ele se permitiu dar um meio sorriso quando enfiou a agulha no meu antebraço. Reprimi uma careta de dor. Ele pegou meu sangue.

–Achei melhor fazer um exame completo. Ver se está tudo bem com o seu corpo.

Carlisle ficou realmente preocupado quando Bella e eu aparecemos aqui pedindo um discreto exame de gravidez. Ele devia estar revivendo todo o episódio de gestação arriscada de seis anos atrás.

O resultado sairia em duas horas. Privilégios de se ter um amigo médico. Enquanto esperávamos, Carlisle iria atender outros pacientes. Bella achou melhor irmos a um restaurante, porque, em sua opinião, eu parecia estar prestes a desmaiar de fome.

–Você tem que se alimentar com frequência agora. – ela disse. – Já está tendo enjoos?

Assenti enquanto devorava um prato de sopa. Esperava que meu estômago ficasse quieto hoje. Eu já tinha problemas demais.

Bella me deu um olhar constrangido. Parecia estar querendo falar algo, mas sem ter certeza se deveria.

–Tudo bem? – perguntei.

Ela ficou mais constrangida; se pudesse ficar vermelha, estaria como um tomate agora.

–Eu só... Só estava me perguntando se você ainda pretende não contar isso a Jacob.

Eu hesitei. Não sabia exatamente o que pretendia ou não fazer. Depois de ter me desesperado e chorado todas as lágrimas possíveis, eu me sentia meio fora do ar. Parecia que não era real. Um sonho que eventualmente chegaria ao fim.

–Eu ainda não sei. – admiti.

Ela franziu o cenho, mas não disse mais nada.

Quando estava terminando de comer, meu celular tocou novamente. Atendi-o e ouvi Jacob rugir:

–Onde diabos você está?

–Jacob, eu já falei que estou com Bella. – disse entre dentes. – Está tudo bem.

Você tem ideia do que pode acontecer com você andando por aí?

Ela não está aqui. – disse baixo. – Não se preocupe, já estou indo para casa. Tchau.

Agatha...

Desliguei o telefone. Olhei para Bella.

–Acho melhor a gente se apressar.

De volta ao consultório de Carlisle, eu o encontrei em sua mesa de mogno polido. As paredes verdes claras da pequena sala me deixaram enjoada. Ele fez um gesto para que me sentasse à sua frente.

Quando Carlisle estendeu o papel branco dobrado ao meio, reprimi o desejo de sair correndo da sala e nunca ver o resultado. Eu não podia fazer isso. Simplesmente não podia... É claro que também não é como se eu não quisesse ter uma criança. Eu já quis. Mas isso foi quando eu pensei que Jacob e eu ainda pudéssemos ter um futuro. Que tipo de vida eu poderia dar a uma criança cujo pai teria que estar sempre fora, cuidando para que ficássemos seguros? E por falar em segurança: como eu posso cuidar de um ser indefeso quando parece que nem a mim mesma eu consigo proteger?

–Agatha. – Carlisle me chamou.

Percebi que ele devia estar estendendo o papel por pelo menos uns dois minutos enquanto eu encarava o nada. Com os dedos tremendo, peguei a folha. Abri-o.

Tinha um bando de coisas que eu não entendia. Números e siglas.

–Então? – murmurei encarando a folha.

–Como pode ver, o nível de bHCG está alto. – disse Carlisle seriamente.. – Então, isso quer dizer que deu positivo.

Carlisle esperou enquanto eu processava. Positivo. Dera positivo.

Mas é claro que dera positivo. Eu sabia que era verdade desde o início. E não foram os enjoos nem as emoções exageradas que me fizeram ter certeza. Era algo maior. Eu simplesmente sabia. Mas, então, o que viera fazendo até agora? Mentindo para mim mesma? Tentando mentir para os outros?

Como eu poderia jogar mais essa responsabilidade por cima dos ombros de Jacob? E a Sue! O que diria a ela, que me acolheu em sua casa, foi como uma mãe para mim e insistira tanto para que descobrisse o que fazer de minha vida sozinha? Eu nunca mais estaria sozinha. Tinha alguém, uma pessoinha dentro de mim. Alguém que exigiria cuidado extremo. Alguém que precisaria que eu fosse total e completamente responsável. Coisa que eu nunca fui...

Carlisle me alcançou uma caixa de lenços. Percebi que estava chorando de novo. Sequei as lágrimas com raiva. Não acabava nunca?!

–Sei que é um momento difícil. – Carlisle tinha conjeturado o quanto tudo aquilo era complicado. – Mas tenho que dizer que agora você vai precisar seguir uma rotina de cuidados especiais. O seu organismo estava se recuperando de uma lesão grave; sinto dizer, mas precisamos ficar de olhos abertos para qualquer sintoma que você tiver.

Eu consegui me recuperar. Por alguma razão, minhas mãos voaram para minha barriga.

–Espere aí. Você não quer dizer que algo pode afetar o meu bebê por causa do que eu sofri, não é? Quer dizer, por causa do veneno?

Eu acabei de dizer meu bebê? Isso ainda soa estranho... Para o meu alivio, Carlisle descartou.

–Não, quanto a isso não se preocupe. Há poucas chances dele herdar o seu cromossomo danificado. Fique tranquila.

Enquanto eu remoia sobre o que ia fazer a partir de agora, Carlisle dera uma palestra sobre alimentação saudável. Ele até me deu uma lista com os alimentos necessários. Tentei prestar atenção, por que sabia que agora eu não podia mais ser negligente comigo mesma. Eu não era mais só comigo mesma, se é que dar para entender... Isso era tão estranho. Eu nem sequer sei cuidar de criança. Era a caçula da família.

Bella estava estranhamente entusiasmada. No caminho de volta, ela passou todo o tempo falando que eu não deveria me preocupar; que as coisas se ajeitariam com o tempo e eu tinha que aproveitar essa época, por que acabaria tão logo quanto começou. Eu ainda não conseguia me sentir... alegre. Quer dizer, eu já vi o jeito que as mulheres reagiam com a notícia de uma gravidez. Toda a felicidade, a luz que emanava delas – a luz que vi emanar de Emily e Sam – eu não sentia isso. Só medo.

Fiquei triste por isso. Não queria parecer uma sem coração...

Bella não precisou me levar até minha casa. Jacob estava exatamente no meio da rodovia, quase na entrada para Forks, na forma de lobo, esperando. A tempestade de fúria que emanava dele era quantificável. Bella estacionou na encosta, revirando os olhos para a hostilidade do melhor amigo. Eu não podia me dar ao luxo de estar tão tranquila.

Jacob bufou, deu a volta até as árvores e voltou alguns segundos depois, já vestido e com cara de quem poderia me matar. Olhei para Bella uma vez antes de abrir a porta para encontrá-lo.

–Oi.

–Vamos – ele rosnou. – Agora.

–Jacob – Bella havia saído do carro. – Que exagero. Nós só estávamos dando um passeio, comprando algumas coisas que Alice queria.

Ele dirigiu-lhe uma careta.

–Ah, é? Então por que ela mesma não foi?

–Bem, ela estava muito ocupada. – ela respondeu calmamente. – Afinal, o casamento é amanhã!

Jacob expressou esgar, então me olhou de mau humor.

–Não dava para ter avisado?

–Eu avisei. – murmurei.

–É, avisou quando estava lá. – ele disse sarcasticamente. Então seus olhos me analisaram mais cuidadosamente e sua voz ficou mais calma. – Você está bem?

É claro que ele ainda lembrava do meu pequeno surto de ontem à noite. E é claro, ele iria querer respostas para aquilo...

Assenti sem olhar em seus olhos. Bella pigarreou e sorriu.

–Então, Jacob, agora que já está mais calmo, por que não vamos experimentar as roupas para o casamento? Sue deve estar lá agora fazendo uma última prova, e Esme com certeza preparou algo delicioso. Vamos.

Eu queria mesmo era ir para casa e cair na cama, mas sabia que Bella estava na verdade me ajudando: quanto menos tempo Jacob e eu tivéssemos sozinhos, menos tempo ele teria para me interrogar.

Mas quando estávamos indo para o carro, o celular de Bella tocou. Não entendi por os dois ficaram com aquelas caras preocupadas enquanto Bella ouvia alguém do outro lado da linha. Eu ia abrir a boca para perguntar o que havia de errado quando ela encerrou a ligação com um clique. Sua expressão era tensa.

–Para onde ela foi? – perguntou Jacob.

–Para onde quem foi? – perguntei.

Bella suspirou.

–Ayane desapareceu.


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Notas finais do capítulo

Comentáriooooooos :)