Eu Espero Que Você Se Lembre. escrita por Ludy Didenko


Capítulo 7
Revelações - Parte II




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(...)

Depois de algum tempo eu me retomei, sequei as lágrimas, respirei fundo e me levantei, sentia que meu estomago ia pular minha garganta a fora, mas não foi o que aconteceu, eu precisava ser forte, precisa fazer com que ele lutasse e permanecesse vivo por mais do que dois meses, eu largaria tudo se precisasse, e ficaria com ele até o fim, nem que isso custasse a minha juventude, minha disposição, minha VIDA eu não desistiria de ver o Feh velho, grisalho, sentado numa cadeira de balanço vendo seus netos brincarem e agradecendo pelos seus 101 anos de vida.

Fui interrompida quando minha sogra, dona Patrícia entrou no quarto e veio me abraçar, ela chorava como uma criança, sem pensar encontrei seu abraço e respirei fundo para que as lágrimas não voltassem. Não nego que no começo não gostava muito dela, ela tinha ciúmes do nosso namoro e as vezes me distratava na frente de todo mundo, por muitas vezes eu pedi que não queria que ela fosse minha sogra, todavia ela melhorou com o tempo e hoje posso dizer que a tenho como mãe e ela me tem como filha.

Ela enxugou suas lágrimas e disse:

– O Felipe já está instalado em um quarto Alexia, acho que você deveria ir vê-lo, vocês tem muito o que conversar.

– É verdade, bom qual é o quarto?

– É o 307B, no fim do corredor do andar superior.

– Vou lá então.

Subi de elevador pois sinceramente não sei se após tudo isso minhas pernas conseguiam andar, nem sabia ao certo como eu ainda estava de pé, ao chegar na porta do quarto respirei e prometi que não choraria mais, pelo menos não na frente dele, e entrei.

– Olá Feh!

– Oi meu amor.

–Como você está?

Me sentei ao seu lado na cama, ele respirou fundo, tentando colocar um sorriso no rosto, fingir que estava bem, mas obvio que foi em vão.

– Um pouco melhor ..., Lê tenho muitas explicações a te dar, então peço que você me deixe falar tudo.

– Ok.

– Eu descobri que estava doente com 15 anos, quando essa doença veio à tona eu me desesperei, não quis mais sair de casa, estava pronto pra aceitar meu trágico fim e somente esperar, todos gostariam que eu fosse otimista mas eu simplesmente não sabia como, no fundo sentia que todos estavam tão desesperados como eu, afinal eu podia estar vivo em um dia e no outro não acordar mais, porém meus pais insistiram que eu devia enfrentar isso como qualquer obstáculo e então eu decidi voltar a escola, sair com os amigos e retomar minha vida.

Eu prestava atenção em cada palavra dele, e observava cada contorno pálido e um tanto magro de seu rosto.

– Bom recebi alguns transplantes e vivia a base de remédio, minha rotina se tornou muito controlada Lê, meus pais se lembravam de sempre me dar os remédios, nem que eles tivesse que acordar mais de uma vez de madrugada pra isso, contudo o Dr. Henrique não tinha muitas esperanças em minha recuperação, porque por mais que eu tomasse os remédios e recebesse alguns transplantes essa doença se alastrava rápido demais, fazendo com que todos, inclusive ele tivessem que correr contra o tempo por mim, novamente eu comecei a me desesperar porquê ninguém Alexia quer morrer, ainda mais sabendo que se tem uma vida pela frente, contudo algo dessa vez não me deixou desistir, você pode imaginar o que?

– Não.

– Você. Eu comecei a me apaixonar e decidi dar um UP na minha vida, não deixar a doença me dominar, você era a razão pela qual eu me submeti a diversos exames e aqueles remédios horríveis, mas eu nunca quis que você soubesse, então decidi lhe ocultar tudo. Nunca deixei que você visse a quantidade de remédios que eu tinha de ingerir durante o dia, então pedi que o Dr. Mudasse o horário das medicações pra momentos em que você não estivesse por perto, assim isso evitaria perguntas, o mesmo foi com os transplantes, as cicatrizes. Lembro-me de quando você viu essa em minhas costelas e a da minha barriga.

– Eu me lembro, eu te perguntei o que havia sido, e você disse que quando era mais novo sofreu um acidente de carro, perdeu muito sangue e teve alguns órgãos gravemente feridos, então teve de receber transplantes.

– Sim, infelizmente eu me vi obrigado a mentir pra você.

– Os remédios você disse que era por conta do acidente ... – Eu simplesmente não podia acreditar que ele pensará em cada mentira de maneira detalhada. – Quando você ia me contar a verdade?

– Nunca, depois dos transplantes e dos remédios eu comecei a melhorar um pouco, o Dr. Henrique ficou animado pois acreditava que estávamos conseguindo diminuir a veracidade da doença, no entanto assim como qualquer doença maligna, esse ... câncer ficou calado por um bom tempo dentro de mim, mas de repente se manifestou com mais ferocidade e rapidez que antes, os médicos não previam isso, e foi algo que nem os transplantes ou os remédios podiam evitar, infelizmente Lê o tempo é mais curto do que pensamos, e logo menos eu não estarei aqui.

Nesse momento eu queria quebrar alguma coisa, como ele conseguiu ocultar por 5 anos que ele estava doente, e se ele sabia que essa doença já estava nesse grau porque me pediu em casamento? Não tive reação, não consegui chorar nem me mover direito, eu queria sair do quarto, mas meu coração não deixou, eu me levantei, respirando fundo ainda e pedi a Deus qualquer força que ainda restava dentro de mim, me sentei na poltrona e fiquei olhando a noite ir embora dando lugar ao sol.

Não demorou muito e ele dormiu, a enfermeira lhe encheu de comprimidos e disse que muito provável ele não acordaria tão cedo, aproveitei esse tempo pra meditar fiquei olhando a manhã chegar e me pus a conversar com Deus, não queria questionar suas decisões, pois aprendi que tudo tem um porque nessa vida, um propósito, no entanto eu não conseguia achar o propósito dessa situação, como por exemplo uma lição de vida ou algo do gênero, então olhei pro céu que já tinha aquela cor de fogo para mais uma manhã e pensei:

– Eu sei que o Senhor está me ouvindo, então eu te pergunto porque ele meu Deus, porque meu Felipe? O Senhor é o único que sabe o que se passa em meu coração, o tamanho do meu sentimento por ele, eu te peço por favor não o leve de mim, eu não serei nada sem ele aqui.

Nesse momento eu coloquei ambas minhas mãos na cabeça e comecei a chorar, só que dessa vez mais alto e mais forte, não conseguia e não queria aceitar a situação, demorei tanto pra ser feliz ao lado dele e de repente vem essa bomba, não isso era demais pra minha cabeça, eu não podia aceitar, e não podia cair de vez, mas depois de segurar mais de 12 hrs de choro não deu mais, de repente sinto uma mão se repousar em meu ombro e quando eu olho era o Fêh, seus olhos escorriam tantas lágrimas quando os meus, o castanho-esverdeado havia dado lugar ao vermelho, ele se agachou e me abraçou com força, não disse nada, apenas me apertou me transmitindo o calor de seu corpo, um calor que em breve não existiria mais, de repente ouvi sua doce voz penetrar em meus ouvidos:

– Eu sempre estarei com você, não importa se for aqui na terra ou além das nuvens, eu te aguardarei e vou te amar para sempre Alexia, serei seu anjo da guarda. Eu quero que você viva, se forme, case-se, tenha filhos e seja feliz, nunca deixe que essa luz que você tem apague, por favor.

Eu não disse nada, não concordei, não discordei, apenas chorava em seu ombro, sentia seu perfume, passava a mão em seu cabelo e esfregava meu rosto no dele, o meu menino, minha mente se inundou com pensamentos alegres: Nosso primeiro beijo, primeira viagem, nossos sonhos, quando fizemos amor a primeira vez, e quando deitávamos no chão e olhávamos as estrelas de um céu negro, com as nossas mãos dadas e o sorriso de ambos no rosto, sabíamos que aquele momento era eterno, e seria, para sempre.



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