Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 26
Boom!


Notas iniciais do capítulo

Peço muitíssimas desculpas, mas tive minhas razões. Meu humor está uma loucura. Arrumei briga com o diretor e coordenadoras da minha escola, e só hoje meu humor mudou drasticamente umas 10 vezes, no mínimo. Por isso, me desculpo por eventuais erros no capítulo.

Obrigada a todos que comentaram e recomendaram. Eis o capítulo do final do segundo ano que gostei tanto de escrever.



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CAPÍTULO 26

BOOM!

O corpo sem vida de Sally-Anne Perks descansava no chão frio da Câmara Secreta.

Nemesis olhou para ele, se aproximou e fechou os olhos azuis que haviam perdido o brilho de esperança. Ele se forçou a virar as costas; não era como se ela não soubesse do seu destino. A puff sabia que a hora de encontrar a Morte havia chegado no instante em que acordara em um lugar que não conhecia, na presença de alguém temido por ninguém menos que Nicholas Potter.

Não que Nemesis não tivesse dito a verdade. No decorrer do ano, ele havia desenvolvido pena pela garota, e o mínimo que poderia fazer seria dar a ela uma morte digna... Mas ele não tinha tempo para isso.

Voldemort mergulhou no corpo, absorvendo a força vital que se esvaía no ar. Tom Riddle, o jovem de dezesseis anos, se uniu a ele, e pouco a pouco, o Lorde das Trevas voltou a sentir como era ser humano novamente. A necessidade frequente da respiração, o sangue morno que corria dentro dele, seus batimentos tão reconfortantes contra seu peito...

O bruxo das trevas puxou o ar várias vezes, se certificando que tudo estava bem. Bem devagar, ele caminhou até a água no canto da câmara e olhou seu reflexo: Era um bruxo aristocrático de trinta, quarenta anos, com alguns fios brancos no meio da cabeleira negra e seus olhos, ao contrário do esperado verde escuro de sua infância, permaneciam no carmesim que eram desde a criação da terceira horcrux.

“Meu lorde” sorriu Nemesis, ajoelhando-se na frente do mestre e verdadeiramente beijando suas vestes pela primeira vez. “Bem vindo de volta.”

Voldemort sorriu também, examinando sua mão, sua pele, tudo que estava em seu alcance. Normal, tão normal, normal como não era havia anos, normal como seria se não houvesse partido a alma em tantos pedacinhos espalhados pela Grã Bretanha.

“Harry” ele pronunciou cuidadosamente. “Harry Potter. Revan Black. Nemesis.”

“Os três eternamente leais a você, meu lorde” concordou o pequeno comensal, pegando a varinha de Sally-Anne Perks e colocando-a na mão do mestre.

Voldemort encarou o corpo da menina. “Não há tempo” anunciou. “Você precisa fazer isso agora.” 

Nemesis começou a cantar uma melodia suave em latim, acelerando seu ritmo conforme o tempo passava. Vendo o olhar de aprovação de Voldemort, o pequeno comensal aumentou o tom de sua voz, a ampliando até que a magia pudesse ser sentida no ar, uma magia obscura e tenebrosa:

Ferte in noctem animam meam

Illustre stellae viam meam.

Aspectu illo glorior

Dum capit nox diem.

Ele proferiu o encantamento:

“Scindete ánimam meam!”

Uma dor alucinante tomou conta dele, fazendo com que seus joelhos cedessem. Aquilo era demais para Nemesis. Os berros que saíam de sua garganta eram bestiais, sons que eram proferidos desde os primeiros tempos, um grito que fez com que o recém nascido Lord Voldemort (ou Tom Riddle) desse um passo para trás.

A magia ao redor dele se engrossou, o envolvendo. As unhas de Nemesis se fincaram nas escamas do basilisco para que a imensa cobra não fugisse. Seu estômago se revirava loucamente dentro dele, sua cabeça parecia querer explodir e seu peito, oh, seu peito, dava a impressão de se partir em dois. Talvez, pensou Nemesis apesar da dor, aquilo era exatamente o que estava acontecendo.

“Não desista” disse Voldemort, chegando o mais perto que podia. “Você está quase lá.”

“Anima mea in colubrum, basilisco” entoou Nemesis, usando a varinha para levitar algo quase invisível que gritava e se debatia. Cuidadosamente o pequeno comensal depositou aquilo no basilisco.

Com a última de suas forças, terminou: “Sic... Fiat.”

O pouco que restava de sua lucidez se foi. Uma histérica gargalhada tomou conta do seu corpo até que lágrimas saíam de seus olhos. Era tão... bom! Nemesis nunca havia pensado que dor pudesse se converter em prazer tão rapidamente. Abraços, palavras de conforto ou maldições, nada se comparava à adrenalina que corria em suas veias.

Tão rápido quanto havia começado, acabou. Nemesis descansou a face contra as escamas verdes do basilisco. Ele estava protegido agora, nada poderia atingi-lo; enquanto o basilisco vivesse, sua alma não deixaria aquele mundo. Sua visão se borrou, a visão de Voldemort ficou confusa e antes que se desse conta, Nemesis caiu em um sono sem sonhos.

 Ele acordou quando sentiu algo contra sua testa que fazia com que ela doesse. Abrindo os olhos, Nemesis percebeu que aquilo era a mão do lorde das trevas. Imediatamente ele se retraiu para fora do seu toque.

“Harry” sussurrou o Lorde das Trevas. “Precisamos sair daqui.”

“Mentiroso” cuspiu Nemesis, massageando a testa na esperança que ela parasse de doer. “Mentiu para mim minha vida toda. Tom Riddle, quem é Tom Riddle, nunca ouvi falar, meu nome é Voldemort, apenas Voldemort...”

A face de Voldemort não se alterou, apesar dos seus olhos refletirem a dor do aprendiz. Ele jogou o cabelo negro para trás (como era bom ter cabelo novamente!) e se apoiou contra o basilisco tentando parecer despreocupado. “Eu nunca disse...”

“Disse sim!” acusou o menino. “Todos esses anos, você me usou, fui um mero instrumento para você!” O Lorde das Trevas cerrou a mandíbula. A cabeça de Nemesis pareceu explodir. Sentimentos que não eram dele emergiram na superfície, lotando seus sentidos. Ele mordeu a língua para não gritar.

Para piorar, Voldemort decidiu que aquela seria uma boa hora para mostrar ao garoto seu verdadeiro lugar. “Crucio!” sibilou com a varinha da garota morta, e assistiu com prazer o pequeno comensal arregalar os olhos e se debater, tentando apagar o fogo inexistente em seus ossos e o imenso peso em seu peito. “Tolo! Você sabe, sempre soube, que é meu servo. Não te devo explicação nenhuma, garoto.”

Nemesis tomou várias respirações profundas e jogou água gelada em si mesmo. Sua mão tremia ao segurar a varinha. “Meu lorde” falou educadamente, baixando a cabeça até o chão. “Minhas desculpas. Perdi o controle.” As palavras soavam falsas mesmo para si mesmo. Ele queria uma explicação, e a queria agora!

 Ele se levantou, surpreso ao perceber a velocidade em que os efeitos da maldição Cruciatus haviam sumido do seu corpo. Ele olhou para as escamas verdes do basilisco. É claro. Horcruxes. Parte de si estava preservada.

“Devemos ir” concordou Nemesis. “Nicholas Potter estará aqui a qualquer momento.”

Voldemort franziu a testa. “É isso? Sem choro, bicudos ou palavrões?”

“Não sou um bebê, meu Lorde.”

“Por isso merece saber minhas razões” ele concedeu. “O Menino que Sobreviveu é estúpido o suficiente para ficar procurando a Câmara Secreta no dormitório de Slytherin ou nas masmorras. Venha, sente-se comigo.”

Cuidadosamente, Nemesis se aproximou do mestre e se apoiou nas escamas do basilisco. “Meu lorde.”

Voldemort baixou o capuz do pequeno comensal e, não sendo enganado por todos os charmes que ele mesmo havia colocado ali, viu através do esqueleto que escondia a verdadeira face de Nemesis. Ele verificou se estava tudo bem, fechou os machucados encontrados (principalmente aquele sem origem na testa do menino) e colocou o capuz de volta.

“Não há necessidade para formalidades aqui. Somos apenas nós e o basilisco. Pode me chamar pelo nome.”

“Voldemort?” confirmou Nemesis.

O Lorde das Trevas balançou a cabeça. “Tom. Por mais que eu odeie esse nome, você não pode me chamar de Voldemort por aí. Por onde quer começar, Harry?”

“O diário” pediu o pequeno comensal. Voldemort levantou uma sobrancelha. “Aquele que você escondeu no quarto do Orfanato Wools, cinquenta anos atrás.”

“Cinquenta anos?” repetiu ele. “Parece mais tempo. Pois bem. Comecei aquele diário aos cinco anos de idade, quando aprendi a ler e escrever sozinho. Antes disso eu me sentia um lixo, uma aberração toda vez que fazia algo estranho. As pessoas me faziam sentir uma aberração. Stubbs, Benson, eles todos apontavam o dedo para mim. Um dia, aos três anos eu me cansei.”

Nemesis inclinou a cabeça. “O que aconteceu?”

“Primeiro, eu quebrei janelas. Coisa fácil, você mesmo já fez. Então eu usei os cacos para perseguir Benson. Aos quatro, eu comecei a controlar animais. Os pássaros que tínhamos atacavam aqueles que apontavam o dedo, destruíam livros, enfim, faziam o que eu queria. E aos cinco, eu encontrei a primeira cobra. O destino dela não foi muito bom.”

O menino suspirou. Ele se lembrava daquela nota em particular.

“Comecei a escrever no diário e os hospitais começaram a me recusar. Não sabiam o que estava errado comigo. Tiveram certeza disso quando uma faca entrou na coxa da psiquiatra. O quê?” Voldemort sorriu. “Ela não foi gentil. Derrubei minha coleguinha das escadas. Matei um coelho. Torturei Bishop e Dennis em uma caverna. Um dia vou te levar lá, é um lugar lindo. Dumbledore chegou, e eu fui para Hogwarts. Continuei a escrever, ali” ele apontou para o diário esquecido.

“Eu achei seu diário” confessou Nemesis inutilmente. Voldemort sabia daquilo. Ele havia visto o deslumbramento do jovem toda vez que entrava na mente dele. “Me ajudou muito.”

“Eu sempre pretendi voltar lá e pegá-lo de volta, mas decidi por deixá-lo para trás. Não queria reativar velhas memórias.”

Aquilo não deixou Nemesis satisfeito. Toda aquela conversa parecia apenas um prólogo do que estava por vir. O menino não gostava de prólogos. Ele sempre os pulava para não perder tempo. Direto ao primeiro capítulo, quando as coisas ficavam importantes.

“E quando me uni a você?” perguntou o pequeno comensal. “Você podia ter me contado.”

Voldemort gargalhou. “E ter alguém me servindo porque eu era um herói de infância deles?”

Debaixo do capuz, Nemesis corou profundamente.

“Não, pequeno Harry. Se alguém vai servir o Lorde das Trevas, é para servir o Lorde das Trevas e apenas o Lorde das Trevas. Não Tom Riddle, não qualquer outra pessoa. O Lorde das Trevas. Eu.”

O menino franziu a testa. “Mas você É Tom Riddle.”

“Eu era Tom Riddle” corrigiu o lorde das trevas. “Agora sou Voldemort.” Ele pausou e se analisou. “Apesar de me parecer bastante com Tom Riddle agora. Acho que terei que responder por ambos os nomes.” Voldemort sorriu para Nemesis, que retribuiu o sorriso.

“Eu iria te servir de qualquer maneira, meu lorde” afirmou Nemesis, colocando ênfase nas duas últimas palavras. “Sendo Tom Riddle ou Voldemort ou apenas o Lorde das Trevas, minha lealdade não muda.”

Voldemort não pareceu acreditar completamente naquilo. “Mas fortalece. Se como Voldemort você não me trairá, terá coragem de me trair agora, sabendo que eu fui o responsável por te manter vivo no orfanato?”

Nemesis quis rir da ironia daquilo. Sim, ele havia sido protegido no orfanato, mas em compensação, ele e o irmão quase haviam sido mortos quando tinham apenas um ano de idade. Teoricamente, eles estavam quites, mas Nemesis não tinha coragem de dizer aquilo na frente do mestre.

“Sei que posso contar com você agora, pequeno Harry” Voldemort alisou os cabelos do menino com as unhas afiadas.

Subitamente, os dois olharam para a entrada da Câmara, de onde vinha Fawkes, voando com o Chapéu Seletor no bico. Ela o depositou no chão e voou até Nemesis, pousando em seu ombro e descansando a cabeça contra a dele.

“Você está adiantada, Fawkes” anunciou Nemesis, rígido. Ele não entendia por que a ave de Dumbledore, uma ave que sempre serviu a Luz, estava tão amigável com ele. “Nicholas ainda vai demorar um tempo para chegar aqui.”

O pássaro vermelho soltou uma melodia triste.

“Não gosta dele também?” confirmou o pequeno comensal. Os olhos de Fawkes se encheram de lágrimas. “Eu entendo. Um pássaro tão inteligente como você sabe que lado está ganhando e que lado merece ganhar, certo?”

A fênix apenas olhou para frente.

_

“Como assim você não vai comigo?” exclamou Nicholas, rapidamente ficando vermelho. Ele encarou Ron com ódio e apertou a varinha com força entre seus dedos. “Você PRECISA ir comigo!”

Ron corou. “Cara, eu sou seu amigo, não seu guarda costas” ele enfiou um sapo de chocolate na boca. “Hermione era a cabeça da operação. Sem ela, estamos perdidos.”

“Mas EU sou o menino que sobreviveu!” berrou o salvador do mundo bruxo. “EU sou a cabeça da operação, EU sou o melhor, EU vou conseguir salvar a menina perdida.”

O ruivo olhou para ele, piscou e pegou outro sapo de chocolate do bolso. Não. Ele não iria procurar um lugar secreto com uma pessoa odiada pela escola inteira quando provavelmente, a menina perdida já estava morta. Sem chance. Nem por todos os galeões do mundo, ele sabia melhor. Seu pagamento mensal já estaria garantido com ou sem aventuras malucas.

Nicholas se aproximou do ruivo, o empurrou contra a parede e sibilou: “Vou me lembrar disso, Ron. Nunca vou esquecer e nunca vou perdoar!” Ele saiu correndo do dormitório atrás de Lockhart.

As pessoas no seu caminho se afastaram. Colin Creevey, o menino que merecia o prêmio de pessoa mais irritante de Hogwarts, tirava repetidas fotos dele. Nicholas nem conseguiu sorrir para sair bem na foto, seu nervosismo era grande demais. Dumbledore deveria tê-lo avisado antes, o que o velho estava pensando ao lhe entregar uma nota que dizia “Salve a garota”?

A sala de Defesa Contra as Artes das Trevas parecia vazia quando Nicholas entrou, porém ao ser iluminada, ele percebeu Lockhart, empacotando suas coisas com desespero.

“O que está fazendo?” comandou o ruivo, balançando a varinha e fazendo com que tudo ficasse desorganizado. O professor o ignorou. “Pare!”

Eles trocaram um olhar e Lockhart voltou a diminuir aquários, compactar livros e colocar todas as fotos espalhadas pela classe coubessem em um minúsculo álbum. A respiração do professor estava ofegante e pela primeira vez no ano todo, ele não parecia se importar que Nicholas estava na mesma sala que ele.

“Pare agora” Nicholas ameaçou.  “Ou vou espalhar para todo o mundo bruxo que tamanha fraude você é.”

Isso surtiu efeito. Lockhart pulou, ajeitou as vestes com babados e jogou o cabelo para trás, lançando um brilhante sorriso para Nicholas. “Nicholas Potter! Temos outra entrevista para fazer?”

O ruivo o encarou irritado. “A Câmara Secreta” lembrou. “Uma aluna foi tomada.”

Lockhart empalideceu consideravelmente. “Ah... Sabe como é, eu já estou de saída, não vou poder te ajudar. Por que não chama seu coleguinha?”

“Você é o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas! É seu trabalho achar a garota!” Nicholas perdeu a paciência. Ele apontou a varinha para Lockhart. “Vamos.”

Um sorriso presunçoso tomou conta do rosto do professor. “Meu garoto, por mais que eu concorde que você é incrivelmente talentoso, eu sou mais. Sua varinha não me assusta.”

“E minhas palavras?” questionou o Menino que Sobreviveu. “Palavras têm poder. O que você acha que as editoras e revistas vão dizer quando eu anunciar que o tão famoso Gilderoy Lockhart tem medo de salvar uma estudante? Eu posso te arruinar.”

Aquilo foi o suficiente. Lockhart caminhou com Nicholas até o banheiro feminino, e durante o caminho Nicholas explicou: Eles haviam achado um diário suspeito lá. Dumbledore em suas aulas teóricas havia ensinado Nicholas que cada informação estava lá por algum motivo. Se o diário suspeito estava lá, haveria algo mais esperando para ser descoberto.

Murta que Geme voava entre privadas quando eles chegaram ao banheiro assombrado. “Outro? Meu Deus, vocês parecem se multiplicar.”

Nicholas levantou uma sobrancelha.

“Você quer entrar no lugar secreto também, não é?” o fantasma começou a soluçar. “Ninguém me convida para o lugar secreto, ninguém! Só porque sou um fantasma! Nem visitas, a menina parou de me visitar, o menino também vai parar, o que você vai fazer, cabeça de fogo, jogar um diário em mim?”

“Sim, Murta, eu quero entrar no lugar secreto” sorriu Nicholas. “Pode me mostrar onde é?” Murta fez que não. “Muito bem. Faremos isso de um jeito ou de outro. Revelabit Quoque Gradus!”

Passos invisíveis apareceram magicamente indo na direção da pia. Nicholas franziu a testa e a examinou cuidadosamente. Os desenhos formavam uma intricada cobra esculpida que parecia se mexer. “Lockhart, venha aqui” chamou o ruivo.

O professor o encarou com a boca aberta. “Na-nada de língua das cobras comigo” gaguejou.

Língua das cobras? Nicholas voltou a encarar a cobra e sibilou: “Revele-se”.  A pia deu espaço a um buraco. “Vamos” falou Nicholas para Lockhart. “Você primeiro.”

Engolindo em seco, Lockhart pulou, caindo com um baque em uma pilha de ossos muitos metros abaixo. “Tudo bem!” anunciou. Sua voz formava um eco.

Nicholas prendeu a respiração e pulou.

O lugar, além dos ossos, estava vazio, frio e úmido. O menino que sobreviveu olhou o professor que tinha a varinha apontada para ele.

“Professor?”

“Obrigado pela ajuda, Potter. Agora me dê licença para eu salvar a garota.”

“Não!” bradou Nicholas. “A honra será minha. Saia do meu caminho, você nem precisaria estar aqui.”

“Oblivi...”

Mas o ruivo foi mais rápido: “Obliviate!”

Para a sua surpresa, a luz que deveria ser verde saiu amarela, e Lockhart tombou para trás inconsciente. Aproveitando a oportunidade, Nicholas se virou e correu na única direção possível.

“VOCÊ!”

_

“Ele está vindo” anunciou Nemesis ao ver que Fawkes saíra do seu ombro. “Se esconda, meu lorde.” Ele apontou para uma das colunas. Voldemort, obediente, se afastou. “Você também, amigo” sibilou ele.

Nicholas entrou com o peito estufado em sua direção, e parou no momento em que seus olhos pousaram em Nemesis.

“VOCÊ!”

“Eu.” replicou Nemesis. Sua voz magicamente alterada era a mais educada possível.

Nicholas começou a entrar em pânico. Nemesis não deveria ter sido capaz de entrar na escola, as novas alas de proteção deveriam parar qualquer bruxo das trevas, como ele estava ali, como sabia da Câmara Secreta?

“Você abriu a Câmara Secreta” acusou Nicholas. “Matou aqueles estudantes. Petrificou outros. Qual foi o seu motivo?”

“E por que eu responderia suas perguntas, Potter?” Nemesis rolou a varinha entre os dedos. “As respostas não sairão daqui, de qualquer maneira.”

O menino que sobreviveu localizou Sally-Anne Perks estendida no chão. Preocupado, correu até ela, e checou seu pulso com as mãos tremendo. Ela estava fria, rígida e sem pulso.

“Você a matou!”

“Matei” concordou Nemesis. “Por que não mataria?”

 O sangue de Nicholas fervia. Sua glória, toda a fama que receberia ao encontrar o monstro e derrota-lo e salvar a garota e todos os estudantes, tudo destruído por causa dele, Nemesis!

“Expulso!”

“Protego! Reducto!”

Nicholas desviou e mandou bolas de fogo na direção de Nemesis, bolas que foram prontamente defendidas pela água ao redor dele. O menino encapuzado em resposta pegou todos os ossos do local e os mandou na direção do menino que sobreviveu. Ele pulou e rolou, entrando na água para que os ossos perdessem a velocidade e afundassem.

“Fawkes!” chamou Nicholas, vendo a fênix. “Mate-o, mate Nemesis!”

O pássaro obedeceu a ordem contrariado, voando na direção do pequeno comensal. Ela não chegou ao seu destino. Um borrão preto a interrompeu, bicando a fênix incansavelmente. Os dois começaram uma luta aérea e quando Nemesis começou a ficar preocupado, Eyphah, nunca o abandonando, deu uma bicada certeira em Fawkes, fazendo com que a fênix explodisse em chamas e renascesse como um filhote das brasas no chão.

O duelo recomeçou.

“Você me deu a cicatriz” ofegou Nicholas, desviando de uma maldição da morte. “E os pesadelos. Roubou a pedra filosofal, fez com que Nicholas Flamel morresse, me arruinou.”

“A cicatriz foi um lembrete” corrigiu Nemesis, sua voz tão tranquila quanto estava antes do duelo começar. “Viu? Você se lembrou. Me encontrou, um ano depois, para continuarmos nossa conversa. Os pesadelos foram uma garantia, a pedra foi uma necessidade, Flamel, uma consequência.”

As pedras acima de Nicholas caíram em cima dele. O ruivo mal teve tempo de se desviar. Sabendo que seu limite estava próximo, ele voltou a mandar uma rajada de fogo contínua para o inimigo. Com um abano da mão esquerda, as chamas se apagaram. “Fogo não funcionará” alertou Nemesis. “Nem água, nem nada que você tentar. Você viu meu amigo?”

Nicholas encarou o basilisco com a boca aberta. “Esse é o monstro?” balbuciou.

“Meu monstro” concordou Nemesis. “Quer ver o que ele sabe fazer?”

O ruivo não era bobo, bom, não tão bobo. “Ele mata e petrifica. Como você ainda está vivo?”

“Ele mata quando eu peço, petrifica quando eu peço, e não faz nada quando não quero que ele não faça nada.” Nemesis deu um sorriso arrogante. “Eu poderia matá-lo neste momento, mas não estou afim. Sente-se, vamos conversar.”

As pernas de Nicholas pareceram virar gelatina e ele forçosamente se sentou no chão.

“Como foi seu ano?” O menino que sobreviveu não entendeu, e o pequeno comensal explicou: “Você sabe, carro voador, quadribol, ofidioglossia, pessoas mortas, essas coisas de sempre.”

Nicholas tentou responder, mas sua língua não colaborou.

“E mamãe e papai? Tiveram problemas para dormir com seus gritos? Tio Remus, tio Sirius, a família inteira?” Nemesis se inclinou para a frente. “Você sonhou comigo, não sonhou? Todas as noites o ano inteiro. Depois de todo esse tempo, ainda quer saber o que está debaixo desse capuz?”

Ele fez menção de baixar o capuz e os olhos castanhos de Nicholas se arregalaram. “Não?” sorriu o pequeno comensal. “Então te deixarei se perguntando como eu me pareço.” O ruivo assentiu, aliviado.

Nemesis continuou a falar, sentindo-se com menos senso de preservação do que antes da Horcrux. Ele se perguntou se aquele era um efeito colateral. Não que isso importasse no momento. Nicholas estava na sua frente, pronto para ser abatido.

“Pena que não temos muito o que conversar esse ano, Potter. Eu tenho uma mensagem para seu mestre: Eu sei. Diga isso para ele, o velho vai levar um tempo para entender, mas quando entender, ah, será uma beleza. Como é, Potter? Quer que eu te solte?” 

O menino que sobreviveu assentiu.

“Não” disse simplesmente o pequeno comensal. “Ainda não. A cicatriz sarou? Deixe-me ver.” Ele rasgou as vestes do irmão e observou a cicatriz. Tantas camadas de pele tentavam cobrir o machucado que o raio estava em alto relevo, em uma pele fantasmagoricamente branca. Mesmo de longe, Nemesis conseguia sentir o cheiro de cremes e poções. “Não era para sarar mesmo. Deve abrir toda hora. Como sentimentos, já percebeu? Você os enterra bem fundo dentro de você, mas basta uma palavra ou toque e todos eles voltam para a superfície.”

Nicholas tinha lágrimas nos olhos ao perceber que a ferida seria reaberta. Nemesis, porém, pareceu ter outros planos. Ele tirou os óculos do irmão (o mundo do ruivo se tornou um borrão) os examinou, testando-os e ficando na frente do ruivo, brincando com o zoom. “Óculos legais. Me lembram do seu pai. Me pergunto se o lado de Evans também tem problemas de visão...”

Uma euforia tomou conta de Nemesis.

“EYPHAH!”

Nicholas varreu a Câmara Secreta, à procura de qualquer palavra que o inimigo tenha pronunciado em sua mente, apenas seus lábios se movendo. Eles estavam sozinhos.

Centenas de quilômetros longe de Hogwarts, Eyphah pairava sobre a mansão dos Potter, procurando sua presa. Todas as alas de proteção ao redor da casa tornava difícil para o corvo enxergar, mas uma ordem era uma ordem e Eyphah a iria cumprir. Ela ainda estava machucada da luta contra Fawkes; pelo menos a fênix havia deixado ela ganhar. Bom para a fênix.

Passando pela janela, Eyphah localizou seu alvo. Lily Potter descansava no sofá, lendo um grosso livro sobre direitos dos nascidos trouxas. Seus grandes olhos verdes lutavam contra o sono.

Eyphah desceu em sua maior velocidade, abrindo as asas e gralhando para que todos ouvissem. “Blind!” gralhou, uma, duas, três vezes, mirando a ruiva. Lily olhou para cima, assustada. Tarde demais. Eyphah deixou sua marca definitiva, tingindo de azul um dos olhos conhecidos por serem verdes.

“Consegue ouvir os gritos de mamãe, Potter?” zombou Nemesis, fechando a conexão com o pássaro. “Preciso fazê-la gritar assim mais vezes. Não, olhe para mim! Para mim!” O pequeno comensal forçou o contato ocular entre os dois. “Agora, seu presentinho...”

As memórias de Nicholas pareceram viajar por todo o seu cérebro, indo para a parte mais sombria dele e ficando por lá. Substituindo as memórias recentes, pensamentos de dor e desespero preencheram a cabeça do menino que sobreviveu.

Dor, ele estava sendo torturado por Nemesis, ele estava lá, precisava fugir! A memória mudou, Voldemort vinha em sua direção, ele não conseguia se mover... De algum lugar, sua mãe começou a gritar, implorar para que o corvo a deixasse em paz, suas lágrimas saíam vermelhas com o sangue derramado.

Nicholas colocou as mãos nas orelhas e gritou, tentando parar de ouvir os gritos da mãe ao ouvir seus gritos. Naquele momento, não deu atenção para o fato de que estava livre novamente. Ele estava enlouquecendo!

“Pare de choramingar, Potter. Papai logo vai te achar. Agora, apenas mais uma coisa.” O pequeno comensal olhou para o basilisco. “PETRIFIQUE!”

O ruivo agora encarava o chão frio, e de repente não encarava mais, estava sonhando, não seus sonhos, mas os sonhos falsos criados por Nemesis, ele próprio, Voldemort e a mãe, sua família morta em uma poça de sangue, ele sendo jogado em Azkaban, gritos, por que gritavam tanto?

Nemesis o levitou e subiu as escadas com ele, o depositando no meio do corredor ao lado de Lockhart, também deixado ali. O loiro parecia estar em algum tipo de sono mágico. “Até mais ver, Potter” sussurrou, fechando os olhos do irmão. “Até mais ver.”

De volta na Câmara Secreta, Voldemort acariciava o basilisco, orgulhoso com a escolha do servo como horcrux. Quando Nemesis voltou, todo orgulhoso por causa das memórias do irmão, eles trocaram um rápido abraço de comemoração.

“Está feito” afirmou Nemesis. “Nada pode nos parar agora.”

E utilizando-se de um truque aprendido várias décadas atrás, O Lorde das Trevas se lançou no ar, voando seguido por fumaça preta, rodeando a Câmara Secreta e, pela primeira vez em anos, de sua boca escapou um grito de vitória.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu fiz isso. Eu realmente fiz isso. Pensei, que tal não usar Nicholas? Que tal usar alguém importante para ele? As coisas ficam muito mais divertidas dessa forma. O terceiro ano então... Vocês vão ter que esperar para ver.

E então? O que me dizem da conclusão do segundo ano? Qual foi a sua reação ao ver Eyphah cegando Lily Potter? Não deixe de me contar!

Comente, e eu farei minha parte dessa vez. Juramento perpétuo.

Nox.