A chuva caia torrencialmente em Tokyo, as ruas aparentavam ser mais escuras do que de fato eram e as luzes piscavam como se uma força sobrenatural pairasse sobre elas, e a mulher de longos cabelos róseos e olhos absurdamente verdes mantinha-se ali, parada, em silencio, apenas esperando e procurando qualquer movimentação na rua.

O relógio pulou das 20h para as 22h30min de modo quase imperceptível, a mulher nem sequer se mexerá, não sabia se devia ficar preocupada ou com raiva do mesmo modo que não sabia se deveria odiar o relógio ou o marido.

O cuco - presente de casamento dado pela avó– chamou sua atenção com um leve piar e nesse momento pode ver o Land Rover negro adentrar a garagem da mansão. Soltou o ar dos pulmões aliviada para em seguida voltar a ficar tensa, iria conversar seriamente com o marido.

O barulho da chave destrancando a porta principal e depois os passos pela escadaria avisava que ele se aproximava, manteve-se na mesma posição, cruzando as pernas e esperando a porta se abrir bruscamente como de costume.

Porém, como se soubesse a reação que a mulher esperava o homem abriu a porta de modo lento e cuidadoso e como uma divindade apareceu sob a soleira, as roupas estavam razoavelmente molhadas e o terno colava sob o corpo másculo, os cabelos molhados e mais bagunçados que o normal complementava o ar de sensualidade que os olhos negros davam, deixando-o irresistível e dez vezes mais sedutor - e perigoso– do que já era.

–- Ainda acordada Sakura? -- Perguntou fitando seriamente a mulher enquanto retirava o paletó e afrouxava a gravata branca.

–- Não sei por que o espanto Sasuke -- Disse friamente levantando-se -- Sempre te espero acordada e hoje tenho motivos melhores não?

–- Não estou com vontade de discutir Sakura -- Respondeu indiferentemente --Não há essa hora!

–- Até bom você ter falado da hora -- Apontou o relógio -- Porque seria interessante saber onde o ilustre Uchiha Sasuke estava.

–- Na empresa, onde mais? -- A fitou e completou -- E não me venha com ironias Sakura, sabe que não as suporto!

–- Sei – Suspirou -- Já tolerei muita coisa Sasuke -- Deu uma leve risada sem humor e mexeu nos cabelos nervosamente -- Muitas coisa vindas de você e desse seu maldito jeito Uchiha, tolerei, ignorei e fiz tudo que estava a meu alcance pra estar ao seu lado.

–- Sakura... -- Tentou argumentar, porém foi bruscamente cortado pela mulher.

–- Mas você Sasuke -- Os olhos marejaram e entristeceram-se -- Você nunca fez metade do que fiz, você nunca se importou como eu me importei e ontem na festa foi à gota d'agua -- Uma lagrima fujona escorreu pela bochecha rosada -- Custava responder a pergunta de seu pai? -- Gritou -- Custava falar que me amava e se importava? -- um soluço sôfrego atravessou os lábios junto com mais lagrimas.

–- Não preciso falar disso com ninguém, muito menos com meu pai -- Respondeu duramente -- Não devo satisfação da minha vida pessoal à ninguém!

–- É você tem razão -- Respondeu já secando as lagrimas -- Não deve mesmo e eu não sei por que ainda insisto nisso, até porque não nos casamos por amor nem nada do tipo não é Sasuke? -- Andou até a porta a abrindo, virou-se uma ultima vez encarando o marido e sorriu falsamente enquanto as lagrimas ainda caiam sem controle -- Foram só negócios, apenas bons negócios -- Bateu a porta atrás de si descendo as suntuosas escadarias.

O moreno retirou o restante das roupas e lançou-se sobre a água fria do chuveiro, sempre preferiu essa temperatura, porém sempre que Sakura tomava banho com ele à água tinha que ser morna – Sakura, sua Sakura–- Bateu a cabeça e o punho levemente sobre o azulejo enquanto a água passava de seus cabelos negros para suas costas largas, amaldiçoou-se pela tristeza da esposa e insultou internamente o pai, afinal que merda de pergunta era essa? "Você ama e se preocupa demais com Sakura, não é filho?" E porque infernos ele não respondeu? Era simples, precisava apenas falar a verdade, que Sakura havia sido sua luz em meio à escuridão e que morria de amores pela esposa. Pronto, fácil assim, correto? Não, claro que não era fácil assim, afinal existia o fodido orgulho Uchiha que o impedia de falar sobre sentimentos com a própria esposa.

Voltou a bater a cabeça na parede e decidiu-se, falaria com Sakura assim que saísse do banho, não seria capaz de dormir ao lado da esposa novamente brigado, afinal adorava quando se amavam por horas a fio e depois caiam ofegantes e esgotados sobre os lençóis, apaixonavam-se todas as vezes que ela repousava a cabeça sob seu tórax e fazia leves carinhos em seu peito, enquanto ele mexia delicadamente nos cabelos róseos sentindo seu doce aroma exalar. E acima de tudo amava quando ela o entendia com apenas um olhar e aceitava seu vocabulário limitado e por mais difícil que pudesse parecer, contaria tudo isso a ela hoje.

oOo

Sakura chegou à sala ainda aos prantos, pegou o sobretudo negro que havia separado mais cedo o vestindo sobre a camisola de seda branca, colocou as botas que alcançavam um palmo abaixo dos joelhos e retirou a mala de trás do sofá, olhou mais uma vez para a sala vendo na estante uma foto de seu casamento, ambos sorriam mesmo não estando completamente felizes, caminhou até o porta retratos o pegando em mãos, as lagrimas caiam mais grossas enquanto os soluços demonstravam a dor profunda que não podiam ser controlados, recolocou no lugar, deixando dessa vez a foto virada para baixo, respirou fundo e caminhou até a mala para em seguida abrir a porta e sair sob a chuva.

Seu único carro não estava disponível e em hipótese alguma pegaria um de Sasuke, pois sua pretensão era sumir de vez da vida do marido.
Abriu os portões da mansão os fechando rapidamente em seguida, os seguranças sequer ousaram fazer qualquer pergunta ou até mesmo impedi-la. Voltaria para a casa dos pais em Konoha e se tivesse sorte jamais ficaria sabendo de Sasuke ou Tokyo outra vez na vida.

O moreno saiu do banheiro esperando encontrar a esposa já deitada, todavia quando não há encontrou saiu em sua busca pela casa, nada nos quartos de hospede, nem na biblioteca, nem sinal dela na cozinha e muito menos na sala de jantar, seguiu desesperado para a de estar pedindo mentalmente que a encontrasse e quando não viu sequer sua sombra estancou olhando ao redor.
Notou em cima da estante o porta retrato baixo e seguiu até ele pegando nas mãos e analisando a fotografia, sabia o quanto a esposa amava aquela foto e lhe doeu profundamente quando encontrou um pequeno papel rosa colado atrás do objeto, fazia ideia do que o bilhete diria, respirou nervosamente o lendo em seguida:

“Você preferiu seu orgulho a mim, então posso apenas desejar que seja feliz com ele. Haruno Sakura”

Socou a mesa em seguida, há dois anos Sakura era uma Uchiha e por culpa do maldito orgulho havia perdido o que mais presava.

–- Eu não posso deixar você ir -- Murmurou para si mesmo enquanto calçava o tênis e colocava o casaco que se mantinha sempre na porta de entrada sobre o peito nu, já que não usava camiseta.

Sabia que a esposa estava sem carro e por isso não iria longe, saiu porta a fora nem se importando em fechar os portões, seus seguranças fariam isso e simplesmente saiu correndo sem rumo.

Há dez minutos andava, a chuva fazia com que suas roupas pesassem 20 vezes mais que o normal, as lagrimas misturavam-se com as grossas gotas de chuva, entretanto não cessava a caminhada, mais dez ou quinze minutos e já estaria na rodoviária. Mais alguns passos dificultosos foram dados, até que ouviu passos pesados atrás de si e uma voz grossa e conhecida gritando seu nome.

–- SAKURA -- Gritou ofegante a alcançando em seguida, segurou em seus ombros a virando para si e a encarando -- O que... O que pensa que está fazendo? - Perguntou com dificuldades.

–- Uma coisa que deveria ter feito há dois anos Sasuke -- Disse com a voz embargada -- Te deixando.

–- Por quê? -- A encarava

–- Por quê? -- Perguntou incrédula -- Porque não quero ser um fardo pra ninguém, por que sei que você jamais sentira... -- Mais um soluço sofrido escapou pelos lábios rosados -- Jamais sentira o que sinto por você -- O encarou com dificuldades sob a chuva forte que caia -- Porque você jamais vai me amar do modo como te amo! -- Levou as mãos ao rosto o tampando para chorar, não queria fazer isso em frente à Sasuke, mas o coração sensível estava ferido demais, machucado demais.

–- Quem disse que não amo? -- Sasuke aproximou-se retirando as pequenas mãos da frente do belo rosto -- Eu amo cada pequeno detalhe em você Sakura -- Passou uma mecha do cabelo rosado atrás da orelha da mulher e voltou a falar -- Eu amo seu cabelo que se enrosca na minha cara quando dormimos abraçados, eu amo quando você apenas me encara nervosa quando na verdade queria me enforcar, eu amo o modo que você arruma meu cabelo rebelde de manha e como o puxa quando nos beijamos, eu amo o modo como sua mão conhece cada parte do meu corpo e como seus gemidos me excitam a qualquer momento e em qualquer lugar, eu amo o modo como você confia em mim e principalmente amo quando posso ficar o dia inteiro com você!

–- Sasu... -- Sakura foi cortada pelo marido que aproximou os lábios dos seus.

–- Eu amo sua risada melodiosa, amo como nossos lábios se encaixam perfeitamente e amo mais ainda o gosto doce deles -- Suspirou -- Eu amo como você me entende e me odeio por ser tão negligente, porque mesmo que meu orgulho fale alto 99% das vezes é e sempre será por você que ele será ignorado -- Sentiu os braços da mulher circundando seu pescoço e desceu uma mão para a fina cintura -- Eu te amo tanto Sakura, que chega a doer e por isso me prometa que nunca mais pensará em me abandonar, porque agora sem você minha vida é vazia.

–- Prometo -- A voz embargada soou em meio à chuva e o moreno sentiu-se sendo abraçado e retribuiu o carinho, os cabelos molhados, os corpos molhados e unidos transmitiam as tão conhecidas correntes elétricas que sempre se faziam presentes em seus pequenos gestos -- Eu te amo Sasuke, amo demais! -- Sorriu alisando seu rosto.

–- Volta pra casa comigo? -- Perguntou de modo rouco ao pé do ouvido da esposa.

–- Com uma condição -- Disse sorrindo

–- Qualquer uma meu amor! – Sorriu alisando o rosto frágil da mulher

–- Um beijo -- Disse simplesmente -- Um beijo sob a chuva.

–- Qualquer coisa por você -- Sorriu aproximando os lábios da mulher e tomando-os com desejo, beijavam-se guiados pelo som das gotas batendo sob o asfalto como se existissem apenas os dois no mundo, porque comparado ao amor dos dois, o resto não passava do resto e nessa nova historia o orgulho jamais superaria o amor!

Fim