Sozinha escrita por Beatriz Lee, Bia Lee II


Capítulo 1
Sozinha




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Todos estavam rindo. Rindo da sua piada, rindo da sua pessoa simpática. Rindo de como ela é engraçada, gentil, amiga e companheira. Ela também estava rindo, mas por trás do riso, ela gritava. Gritava por alguém, por alguém que a pudesse salvar. Ela estava gritando para que alguém visse através de sua risada, através do falso humor.

Mas ninguém nunca viu. Talvez vislumbres, pequenas e inúteis gotas de sensibilidade. E ela continuava gritando, no seu grito mudo. Naquele grito que ela não queria que ninguém ouvisse, ao mesmo tempo que implorava para que fosse resgatada de sua escuridão.

E sozinha em seu quarto, ela chorava. Aquelas inúteis gostas que saiam sem parar de seus olhos, gostas que escorriam diariamente, mas não amenizavam em nada. Sua casa vazia não secava suas lágrimas, sua família que deveria estar lá não secava suas lágrimas.

Ela tinha que secá-las sozinha, tinha que se reerguer sozinha, tinha que sorrir sozinha, tentar ser feliz sozinha. Ela tinha que fazer tudo sozinha.

Sozinha...

Sozinha...

Sozinha...

Sempre sozinha.

Não importava o que ela fizesse. Aquelas marcas em seus pulsos não adiantaram nada, o sangue derramado não mudara em nada, xingar, bater ou até mesmo ser exemplar, perfeitinha não havia adiantado nada.

Ela não conseguia se reerguer, afinal de contas. Não tinha ninguém que a ajudaria a se levantar nem que a aguardaria lá em cima.

Mas sempre tem alguém que vai me derrubar, pensou amargurada. Mas acho que até isso eu posso fazer sozinha, afinal, o que eu sou? Do que posso me orgulhar?

A menina desceu as escadas de sua casa silenciosa e viu seu pai atravessar a porta totalmente bêbado, imagem que ela já estava acostumada há anos. Correu escada a cima, se trancando novamente em seu quarto para se livrar da surra que levaria se ele a visse. Não que ligasse para a dor física, afinal, o que ela era perto de seu coração machucado?

Ela se deitou em sua cama, abafando o som de seu pai quebrando a mobília da casa e gritando com sua madastra, que também gritava para ele parar. Ela queria adormecer e nunca mais acordar, ela queria sumir.

Mas, ela sabia que não adiantaria nada. Amanhã ela se levantaria sozinha, encontraria a casa vazia, iria para a escola e lá, rodeada de amigos e de alegria, começaria a rir novamente.

Por que ninguém iria querer conhecer sua solidão, estavam satisfeitos com sua felicidade.


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Notas finais do capítulo

Não tenho o que falar... Será que eu posso dizer pra gostarem de uma one trágica?
Deixem reviews, por favor. Um "legal" ou "que droga!" já é o suficiente.