Prostituta Do Governo escrita por Leticia, Lari Rezende
Notas iniciais do capítulo
Não odeiem a Melina, ela tem seus motivos.
Boa leitura :3
15 anos depois
15 anos se passaram e tudo havia mudado completamente.
Mateus, filho de Lia, estava noivo. Eliana iria se mudar com ele e a noiva para a Argentina, onde o garoto ingressaria como missionário numa tribo indígena. Ana Maria decidira ficar, dizia estar velha de mais para se aventurar pelo mundo.
A loja de roupas crescia bastante. Agora tínhamos três filiais espalhadas por Porto Alegre e diversos funcionários trabalhando a mil nas lojas que milagrosamente vendiam muito bem.
Eu, com os meus 35 anos e uma feia cicatriz no rosto vivia em pé de guerra com Melina.
Agora com 15 anos, ela achava que era dona do próprio nariz e vivia me fazendo perguntas sobre o pai dela e sempre dava um jeito de fazer alguma piada sobre a minha horrível cicatriz.
Cicatriz que ela odiava.
Cicatriz que salvou a vida dela.
Melina era completamente o oposto de mim, tanto na aparência como no comportamento. Alta e com um volumoso cabelo loiro, tinha o rosto pontudo e o nariz fino. Seus olhos verdes eram como esmeraldas e a boca estreita. Tinha a personalidade forte, era extremamente radical em seus atos, pensava de maneira diferente e nada parecia poder domá-la, exceto a música.
Melina tinha um dom extraordinário para a música. Cantava perfeitamente bem qualquer nota e tocava
com muita facilidade qualquer instrumento musical.
Cantar era o sonho dela e eu nunca a impedi de sonhar alto.
Eu na idade dela não tinha muitos sonhos. Na realidade eu nunca tive sonho algum, e ver minha filha sonhar era algo completamente fantástico.
Então aconteceu algo maravilhoso e perfeitamente tenebroso numa noite muito quente.
Estávamos vendo televisão quando um comercial da TV chamou a atenção de Melina. Haveria um grande concurso de calouros em Porto Alegre, o vencedor gravaria um Cd e faria shows pelo Brasil.
A oportunidade de Melina era aquela e nos duas pulamos de alegria quando ela disse que iria cantar e que iria ganhar.
Depois da euforia, ainda naquela noite ela me olhou e fez uma pergunta num tom enojado.
-Mãe – disse ela – será que da para cobrir a cicatriz com maquiagem? – ela não ligou para o meu constrangimento – é que quando eu ganhar, certamente vão te chamar para ir ao palco junto comigo e eu não queria que as câmeras filmassem isso ai.
Naquele momento eu engoli toda a mágoa e toda a dor que eu sentia.
Existem muitos casos no mundo em que filhos sentem vergonhas dos pais. Minha mãe era empregada domestica e meu pai era mecânico e eu nunca tive vergonha das minhas origens simples. Ter vergonha de um pai ou mãe para mim é como um crime, pois olhe, tudo o que eu já vivi, a cicatriz salvara a vida de minha filha que queria que eu a cobrisse com maquiagem para não chamar atenção no dia de sua gloria.
Obviamente Melina não sabia dessa historia. Ela achava que era minha filha e que a cicatriz foi de um acidente de carro que eu sofri uma vez.
Respirei fundo e encarei Melina.
-Sim filha – respondi – eu tenho uma base forte que pode escondê-la.
Ela sorriu e voltou a ver Glee que passava no canal Fox.
Naquela noite, quando minha filha foi dormir sentei na cama e peguei uma agenda grande que eu havia comprado para outras finalidades e voltei ao passado escrevendo linha por linha de tudo o que havia acontecido na minha vida, cada momento marcante, cada momento difícil, cada momento que eu queria
fazer questão de esquecer e lembrei somente para escrever.
Muitos anos haviam se passado, e naquelas paginas da grande agenda, eu estava decidida a escrever os 35 anos da minha vida.
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O que acharam?