Lia não acreditava no que eu falava.
-Mas como? – perguntou ela – Ele te deu cinco mil reais, assim do nada?
Pensei por um momento.
-Não – respondi – Ele pagou pelo programa.
Uma ruga curiosa formou-se na testa de Lia.
Estávamos sentadas numa mesa de uma pequena lanchonete.
O garçom, um homem alto, uniformizado, de cabeça raspada e com cara de drogado trouxe minha água com gás e o suco de manga de Lia.
O lugar estava praticamente vazio. Exceto por nós e por um casal que estava sentado em uma mesa um pouco mais a frente.
O céu estava escuro e uma pequena rajada de vento soprava pelo local.
-O que vai fazer agora? – perguntou Lia.
Respondi como se fosse a coisa mais obvia do mundo.
-Vou para Porto Alegre – respondi – E você vai junto comigo.
-Mas...
-Mas nada – cortei a fala de Lia – Você quer ir para lá tanto quanto eu. E nos partiremos amanhã mesmo.
Os olhos de Lia se encheram de um brilho e sua expressão era de gratidão.
-Não sei como posso te recompensar por isso – disse Lia com a voz embargada.
Sorri.
-Seja feliz ao lado de seu filho – respondi.
Se eu pudesse voltar no tempo eu jamais abandonaria meu pai e nunca faria o sofrer como ele sofreu com a minha partida.
-Porto Alegre, ai vamos nós!

Lia sorriu.
Batemos nossos copos fazendo um brinde a um futuro incerto que estava prestes a vir.