Prostituta Do Governo escrita por Leticia, Lari Rezende


Capítulo 39
O homem da minha vida


Notas iniciais do capítulo

Como o outro capítulo é muito pequeno, aqui está um post extra!
Boa leitura :3



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O enterro foi absurdamente triste e aterrorizante, eu bem que gostaria, mas não consigo encontrar as palavras corretas para descrever tudo o que eu estava sentindo naquele momento.
Depois do enterro, peguei um ônibus local e fui até o antigo sitio onde eu morava.
Silvana havia me dito que não havia mais ninguém morando lá e decidi fazer uma visita ao lugar que eu mais amei em toda a minha vida.
O ônibus parou e eu desci em uma estreita estrada de pedras. A cada passo que eu andava conseguia me ver correndo e brincando feliz com Ricardo.
O lugar cheirava a uma terrível nostalgia.
Dei longos passos e parei em frente aos pés de bergamota. Estavam secos e sem vida alguma. A pedra embaixo das arvores onde eu dei meu primeiro beijo ainda estava lá, segurei as lagrimas ao lembrar todos os momentos que passei ali em baixo daquelas arvores.

Andei em direção a casa. A pintura estava descascada e tudo estava muito sujo. Os pés de manga continuavam firmes e fortes, o gramado estava seco e as roseiras que minha mãe cuidava não existiam mais.
A imagem de minha mãe enforcada tomou conta da minha mente, desviei os pensamentos controlando as lagrimas. Olhei para a casa e senti medo, tudo aquilo estava parecendo cenário de um filme de terror.
Continuei andando.
Passei pelo antigo estábulo, agora caindo aos pedaços. Andei rumo ao pasto onde Unicórnio costumava pastar e me deparei com uma grande quantidade de mato alto e seco. O açude estava com uma cor horrível e eu me perguntava se ainda havia vida dentro daquelas águas.

Subi uma espécie de morro onde podia ter uma visão por completa da fazenda. Papai e eu costumávamos subir ali junto com mamãe, tomávamos mate e devorávamos pipoca. Era engraçado, pois Giovane era pequeno mal engatinhava, mas já aprontava suas pequenas travessuras de crianças. Mas agora, olhando o que restava da minha infância senti uma enorme vontade de chorar. E foi o que fiz quando minhas pernas fraquejaram me fazendo cair de joelhos no chão com os braços cruzados, chorando descontroladamente.
O vento quente que soprava em meu rosto fazia meu cabelo esvoaçar para o alto.
Senti uma mão tocar meu ombro e olhei assustada para trás.
–O que faz aqui? – perguntei levantando rapidamente.
Era impossível esquecer os traços marcantes daquele rosto.
–Oi Jessica. Silvana me contou que estava por aqui.

O homem a minha frente era completamente diferente do garoto que um dia eu deixei para trás. Ricardo estava mais encorpado, seus músculos ficavam a mostra devido à camisa um pouco justa que ele usava, os jeans eram de marca assim como o tênis. Os olhos continuavam os mesmos, já o cabelo tinha um corte moderno e a pele também estava um pouco diferente.
Pelo visto Silvana havia mudado radicalmente o estilo de Ricardo – pensei.
–Você esta diferente – disse eu.
Ele me olhou.
–Eu ia falar o mesmo de você – seu tom era irônico.
Ficamos em silencio um olhando para o outro.
Era incrível ver o quanto Ricardo estava diferente.
–Porque foi embora daquela maneira? – perguntou ele – Pra onde você foi? O que estava fazendo esse tempo todo?
Respirei fundo.
Imaginei se a cabeça dele também estaria confusa como a minha.
–São respostas que eu não posso te dar – disse a ele.
Ele me olhou confuso.
–Por quê? – perguntou.
–Você jamais entenderia.
O silencio voltou a dominar o ambiente.
–Fiquei sabendo que você e Silvana vão ficar noivos?
O rosto dele mudou de cor rapidamente.
–Foi por ela que você me deixou? – perguntei – estava falando dela aquele dia no hospital em que você entrou no meu quarto e disse que estava gostando de outra?
Senti um nó apertar minha garganta.

–Não – respondeu ele – fiamos próximos quando você sumiu. Seu pai me visitava com muita frequência, falávamos sobre você, até onde entendia, eu era o único mais próximo que podia ter alguma ideia de onde você podia estar. As visitas ficaram constantes e eu fui me aproximando a cada dia mais de Silvana e simplesmente aconteceu.
Senti uma súbita vontade de estapear a cara daquele homem.
–Aconteceu – debochei – simplesmente aconteceu. Assim do nada?
–Tente entender Jessica...
–Entender o que? – meu tom de voz havia subido uma nota – Eu não quero saber com quem você esta noivando ou não, eu só não consigo entender como você conseguiu esquecer tudo o que aconteceu com a gente assim, de uma hora para outra.
Ele me olhava serenamente.
–Eu não esqueci Jessica – disse ele – eu nunca esqueci que nós nos beijamos numa tarde quente embaixo de um pé de bergamota. Que você tinha 14 anos quando transou pela primeira vez e que foi comigo. Que você adora unicórnios e foi por isso que colocou esse nome no seu cavalo.
Olhei para ele atônita.
–Eu te amava Jessica – disse ele – eu nunca vou esquecer das vezes em que subíamos escondidos no telhado da minha casa com as bebidas do meu pai, dos banhos no açude, das nossas conversas sobre o futuro e principalmente dos nossos beijos.
Minhas lagrimas escorriam pelo canto do rosto.
Passei a mão enxugando as lagrimas e tentei me controlar.
–Eu nunca esqueci – repetiu ele.
A tarde estava chegando ao fim. Olhei para o céu e o crepúsculo estava prestes a acontecer. Dali do morro onde estávamos era possível ver ao longe duas montanhas, o sol estava se escondendo atrás delas fazendo a vista ser deslumbrante.
–Nós nunca vamos ficar juntos – disse eu – mas eu gostaria que todos esses momentos, os momentos em que nós passamos juntos nunca fossem esquecidos.
Ele me olhava seriamente.
Apontei para o pôr-do-sol.
–Esta vendo aquele pôr-do-sol ali? – perguntei.
Ele fez que sim silenciosamente com a cabeça.

–Me prometa que todo o final da tarde você vai olhar para o pôr-do-sol e lembrar-se de todos os momentos que nós vivemos juntos.
Ele sorriu.
–Eu prometo.
Dei um abraço nele. Um abraço distante e frio.
Nós dois nunca seriamos felizes juntos. E mesmo ele sendo noivo de outra mulher continuava sendo o homem da minha vida.


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Notas finais do capítulo

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