Prostituta Do Governo escrita por Leticia, Lari Rezende


Capítulo 29
Hora de voltar pra casa


Notas iniciais do capítulo

Gente, obrigada pelos comentários. Obrigada de verdade!
Quando eu chego aqui e tem nem que seja só um comentário eu fico tão feliz. Me da até vontade de postar mais, só que ai eu estragaria o suspense u.u
Obrigada de novo.
Boa leitura :3



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Pedro e eu estávamos voltando de um bar altas horas da noite por uma rua estreita e escura.
Eu usava minhas convencionais roupas de prostituta e Pedro suas convencionais roupas de mauricinho. Vivíamos em dois mundos diferentes, e mesmo assim nossos caminhos haviam se cruzados e se tornado apenas um.
Eu estava um pouco tonta devido ao excesso de álcool no sangue e Pedro também não estava muito atrás disso. Em determinado trecho do nosso trajeto senti minhas pernas fraquejarem e cai no chão tonta. Pedro tentou me ajudar, mas como seu estado também não era o dos melhores a ajuda dele foi praticamente em vão.
Não sei ao certo quanto tempo demorou para ambulância chegar ao local. Eu conseguia escutar todas as coisas ao meu redor, eu me encontrava em um estado meio zumbi, nem acordada e nem dormindo. As batidas das sirenes começaram a ficar distantes e lentas aos poucos. As vozes foram virando sussurros ate sumirem por completo e o absoluto silêncio que se formou em minha mente me fez dormir.


Meus olhos arderam quando eu os abri.
O quarto era pequeno porem extremamente branco e bem iluminado.
Havia uma mulher alta e com um corpo bem bonito cuidando do soro que escorria de uma pequena mangueira até meu braço esquerdo. Ela usava um vestido branco não muito curto com alguns detalhes em vermelho e um chapeuzinho na cabeça na cor verde água.
–Bom dia querida – disse ela com uma voz extremamente doce e delicada – como você esta?
Olhei fundo em seus olhos escuros tentando achar uma resposta.
–Não sei... – respondi – o que aconteceu comigo?
Ela me olhou com cautela.
–Bom acho que você não deve se lembrar – disse ela – mas quando você chegou aqui te internamos devido à grande quantidade de álcool que havia em seu sangue. Você entrou em como alcoólico e depois de três dias acordou.
–Três dias? – perguntei com os olhos arregalados.
–Sim querida – respondeu ela.
Ouve um breve silêncio no quarto que logo foi rompida pela enfermeira.

–Tenho que dar uma olhada nos outros pacientes – disse ela – se precisar de alguma coisa é só apertar esse botão branco perto de você.
Olhei para o criado mudo de madeira perto da minha cama e me deparei com uma espécie de botão.
–Certo – respondi.
A enfermeira saiu pela porta graciosamente.
Algumas horas depois a porta do quarto se abriu e Pedro entrou por ele um pouco apavorado. Ele usava uma camisa de gola polo branca e jeans e tênis de marca.
–Meu amor! – disse ele vindo euforicamente até mim e me dando um beijo rápido na boca.
Tentei sorrir.
–Como você esta, meu amor? – perguntou ele.
Respirei fundo.
–Eu estou bem – respondi um pouco seca.

Tentei não encarar seus olhos sedutores.
–O que foi, meu amor? – perguntou ele mudando radicalmente seu tom de voz de euforia para preocupação.
Olhei para ele ciente de todos os meus atos.
–A culpa disso tudo é sua Pedro – respondi – você me deu drogas, você me deu álcool e você quase me deu a morte embrulhada num papel colorido com uma fitinha vermelha em cima.
Pedro ficou com seu rosto em uma expressão irreconhecível.
–A culpa é minha? – perguntou ele – eu te tirei daquela vida de puta que você levava e a culpa é minha?
O sangue começou a bombear fortemente em minhas veias.
–Eu só sai de lá porque você teve a brilhante ideia de me oferecer cocaína.
–Foi você que provou – respondeu ele – eu só estava tentando te ajudar.
–Me ajudar? – minhas lagrimas escorriam pelo rosto – você quase me matou Pedro!
Ele ficou me olhando com uma expressão furiosa.
–Eu te amo Jessye – disse ele.
Abaixei os olhos.

–Eu tomei uma decisão Pedro – disse eu – assim que eu sair daqui eu vou ligar para meu pai e pedir para voltar para casa.
–Como assim? – perguntou ele.
Expliquei resumidamente para ele, que ainda não sabia como eu fiz para fugir de casa. Ele escutava atentamente enquanto eu resumia os fatos contando o relacionamento entre eu meu pai depois da ida de Sabrina para nossa casa, das brigas constantes com ele, da tentativa de suicídio, do encontro com Lia, da carta deixada em cima da mesa, das malas e da minha fuga para a cidade onde as prostitutas do governo ganhavam bem. Ele ficou espantado com a minha história.
–E eu decidi Pedro – disse eu – que se ele me aceitar de novo eu volto para casa.
Ele me olhou com os olhos cheios de água.
–Você não pode me deixar – protestou ele – como eu vou viver sem você Jessye?
–Jessica – respondi – meu nome é Jessica, me chame assim.
Ele esfregou as mãos no rosto sem saber o que fazer.
–E se seu pai não te quiser mais? – perguntou ele esperançoso.
–Minha avó mora em Porto Alegre – respondi – eu vou até ela e peço ajuda.
O desespero na voz de Pedro era constante.
–Por que Jessica? – perguntou ele – porque nós não podemos viver felizes juntos como Romeu e Julieta?
Fiquei encasquetada com aquele papo de Romeu e Julieta de novo.
–Pedro – disse eu mudando meu tom de voz – porque você sempre fala em Romeu e Julieta?
Ele pensou um pouco na minha pergunta.
–Romeu e Julieta era o livro preferido da minha irmã – respondeu ele – ela sempre lia e relia aquele livro e sempre suspirava no final dele. Eu era pequeno de mais e não conseguia ler o livro dela, depois de um tempo tentei comprar um exemplar, mas nunca consegui. Por se tratar de um romance lindo como minha irmã vivia dizendo, eu queria muito que nos dois tivéssemos um romance lindo igual ao deles.
Naquele momento eu não sabia se ria ou se chorava.
–Pedro – disse eu prestes a destruir o sonho de romance perfeito dele – Romeu e Julieta não ficam juntos no final da história.
Ele me olhou espantado.

–Não? – perguntou.
–Não – respondi - ambos morrem no final.
Ele não respondeu nada, apenas absorveu a informação.
Parei para pensar na situação. Romeu e Julieta foi considerado um dos melhores romances já escrito, se você leu Romeu e Julieta sabe que ambos morrem no fim da historia. Mas onde entra o final feliz dos dois? É então que eu te respondo: não existem finais felizes e nem romances perfeitos de príncipes encantados em cavalo branco. Pra que se iludir com algo que não existe. Sonhar faz bem? Sim faz. Mas é preciso ter convicção e sonhar com os pés no chão.
O final nunca é feliz, pois é final. E no final tudo acaba, sendo assim como poderemos encontrar a felicidade em algo acabado?
A única certeza que eu tinha naquele momento era de que eu iria voltar para casa.



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Notas finais do capítulo

O que acharam?