Minha tentativa de suicídio foi um tremendo fracasso.
Quando acordei me senti completamente tonta.
O cheiro de água sanitária era muito forte e a luz que batia na janela era mais forte ainda.
Papai estava ao meu lado aflito, seu rosto estava abatido e suas olheiras eram fundas como se ele tivesse passado a noite inteira em claro.
Demorei um pouco para entender que eu estava em um hospital e essa conclusão só chegou quando tentei mover meu braço direito o qual foi contraído pela agulha que transportava soro para dentro de meu corpo.
-Filha – disse meu pai – o que você fez ontem à noite?
Meu estomago estava estranho e as náuseas eram fortes.
-Você passou mal durante a noite – continuou ele – por sorte Silvana acordou e nos avisou do que estava acontecendo com você.
Ficamos em silencio.
Papai continuava a me olhar atônito e eu reagindo com indiferença a sua suposta preocupação.
-Jéssica – disse ele seriamente – você tentou se matar?
O silencio voltou a dominar todo o ambiente.
A porta se abriu lentamente e um homem baixo e gordo usando um jaleco branco entrou no quarto. Ele tinha uma pequena planilha na mão, e depois de analisá-la me olhou sorrindo.
-Você teve sorte mocinha – disse ele com um tom de voz grave - conseguimos fazer uma lavagem estomacal em você a tempo. Alguns minutos a mais e talvez você não estivesses aqui agora.
Virei à cabeça no travesseiro desviando o olhar do medico para o pequeno criado mudo ao lado da minha cama.
-Você vai ficar em observação por dois dias no máximo – continuou o medico – depois disso poderá voltar para casa.
Notei que ele e meu pai deram um rápido aceno de cabeça um paro o outro e o medico saiu do quarto fechando a porta lentamente.
O silencio era critico e o ar daquela atmosfera era tenso.
-Jéssica – meu pai disse – os médicos disseram que havia uma grande quantidade de raticida dentro de você. – ele fez uma rápida pausa – porque tentou se matar?

Virei a cabeça no travesseiro e encarei seus olhos.
-Porque sim – respondi com a voz um pouco debilitada.
Papai balançou a cabeça de um lado para o outro em sinal de desaprovação.
-Eu nunca, nunca – o disse um pouco exaltado – te dei motivos para fazer qualquer coisa do tipo! Eu não te eduquei assim Jessica. Não te eduquei assim.
Continuei encarando ele.
-Eu não entendo – disse ele andando de um lado para o outro – se você acha que tem uma vida tão ruim assim ao ponto de tirá-la, sinta-se livre para ir embora!
Meu estomago estava estranho.
-Você quer que eu vá embora? – perguntei – Se você quer que eu saia de casa é só me falar que eu saio.
Ele me olhou assustado e respirou fundo.
-Acho que pode ser o melhor no momento – disse ele – eu penso seriamente em te mandar um tempo para morar com a sua avó.
Estremeci por inteira.
Minha avó morava em Porto Alegre, uma cidade que ficava em outro estado. Um estado que ficava extremamente longe de onde eu estava.
-Não posso ir – protestei – e o colégio?
Papai me olhou decidido.
-Eu já conversei com a diretora do seu colégio – disse ele – se o for o caso faremos uma transferência de colégios.
Respirei fundo.
-Então é assim que você pretende se livrar de mim? – perguntei.
Ele me olhou seriamente.
-Eu não estou tentando se livrar de você – protestou ele.
-Não é o que esta parecendo – bufei.
Ele ia responder quando alguém bateu duas vezes na porta.
A porta abriu lentamente e eu quase tive um infarto quando vi quem entrava por ele.
-Ricardo? – perguntei assustada.
-Sim – disse ele – você esta bem Jessica?
Fechei os olhos e respirei fundo.
-Agora estou – respondi.