Junho

     -AAAI! EU VOU MORRER DE FRIO!

     -TÃO FRIO!

     -VOU ACABAR RESFRIADO ATÉ MORRER!

     -Seu idiota! É congelar até morrer!

     -He he... – riram em uníssonas duas garotas colegiais.

     Voltei a olhar para meus amigos – Kouga, Miroku, Naraku – que estavam se arrumando, enquanto olhavam para o espelho.

     12 de Junho. Dia dos Namorados. O dia que todo cara espera.

     -Dia dos Namorados...

     -Miroku, o que você e sua namorada vão fazer no Dia dos Namorados?

     -Nada em particular, e você Naraku?

     -Eu nunca recebo chocolate, então agora eu ajo como se não houvesse Dia dos Namorados...

     -Sério?

     -... – como são patéticos...

     Mesmo que caras como ele digam esse tipo de coisa, a maioria deles, por dentro ainda está esperando.

     -Eh... Ter uma namorada pode ser bastante problemático também.

     “Quem está enganando? Quer trocar com a gente?” – pensamos juntos.

     Todos os caras começam a esperar desde o dia antes do Dia dos Namorados... Talvez alguém irá colocar um chocolate na sua carteira, por isso você tem que deixar um espaço vazio para isso. E depois que você chegar em casa,no dia anterior ao Dia dos Namorados, sempre estará esperando por uma ligação como essa:

     “-Eu sou Yamamoto. Estávamos na mesma sala no ano passado. Eu tenho uma coisa para te dar amanhã...”

     No final, não houve nenhum telefonema...

     [...]

     No Dia dos Namorados, de manhã bem cedo, estamos mais ansiosos ainda...

     -O que você fez ontem? – diz, mas pensa – “Não me diga que não tem nenhuma garota olhando para mim...”

     -Nada de mais, e você? – e pensa – “Talvez uma garota vá chamar meu nome.”

     Olhando a estante de sapatos, e na sua carteira, um pouco desapontado por não ter nada...

     Mas mesmo que seja desse jeito, ainda há ansiedade em receber. Não vamos embora para casa até tarde, na esperança de algo acontecer.

     Mas no final, nada acontece, então todo mundo vai embora.

     Ah, e tem o tipo de cara que espera até o dia seguinte...

     -Eu vou para casa sozinho hoje... – enquanto pensa – “Às vezes, é porque tem alguém do meu lado toda hora que eu não recebi chocolates...”.

     Simplesmente, acho que você não vai morrer se não receber chocolate, mesmo assim...

     Catch... (N/A: Barulho de coisa caindo.)

     Eu realmente queria receber um chocolate...

     A lapiseira rosa caiu da carteira ao lado. Virei meu rosto, e deparei-me com ela. Sempre sorrindo e brincando, ela é sempre assim.

     -Aqui está... A sua lapiseira...

     -Obrigado.

     -Higurashi? – chamou o professor – Faltou?

     -Aqui, professor.

     -Então... Higurashi Kagome comece lendo do segundo parágrafo.

     Higurashi, pra quem... Ela vai dar chocolate? Parece que ela não tem namorado... Eu também não tenho namorada...

     [...]

     -Bankotsu é tão incrível... – comentou Kouga.

     -Aqui está ele. Tão incrível... – disse Naraku.

     -Comparados com ele, somos uns inúteis...

     -Quê? Por que vocês estão tão deprimidos? – perguntei.

     -Bankotsu ganhou um montão de chocolates...

     -Deixa eu te contar uma coisa – disse Kouga – eu nunca ganhei chocolate desde que nasci!

     Tão direto... Não precisava ter dito isso... Se bem que, eu só recebi chocolate no jardim de infância:

    “-Peça desculpa a ele, e entregue o chocolate.

     -Desculpe.”

     Mas eu tinha uns cinco ou seis anos...

     -Ah, vai! Dê-me chocolates!

     -Eu não quero.

     -Qual é o problema? Por que não quer me dar?

     -Eu já disse que não!

     Eu realmente invejo pessoas com esse tipo de personalidade, nunca teria coragem de pedir esse tipo de coisa... Sempre quis dizer isso para uma garota.

     Mas eu realmente não consigo dizer isso...

     [...]

     Ah, Higurashi entrou na sala. O que ela está fazendo? Aquilo é um pacote de salgadinho? Mas... Por que está tentando abrir com os dentes? Hu hu... Não vai conseguir daquele jeito.

     -Deixe-me tentar. – disse a ela, esticando o braço.

     -Hm...

     Ela entregou e corou. Que bonitinha. Hu hu. Abri o pacote com facilidade, usando os dedos.

     -Aqui.

     -Ah, obrigada! – disse toda corada.

     [...]

     -EU VI AQUILO! TAISHOO!

     -Hã? – caí no chão depois dele me chutar.

     -Você quer que a Higurashi te dê chocolate...

     -O que disse?

     -AJUDANDO-A ABRIR O SAQUINHO, VOCÊ QUER GANHAR PONTOS, NÃO É? SEU APROVEITADOR!

     -DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO, SEU IMBRCIL?

     -SÓ PODE SER!

     -Me solta.

     -HIGURASHI SENTA DO SEU LADO! E VOCÊ TÁ ACHANDO QUE ELA VAI TE DAR CHOCOLATE, POR ISSO ESTÁ SENDO TÃO LEGAL, NÃO É?

     Você acha que ela vai me dar chocolate?

     Mesmo que eu realmente queira receber chocolate da Higurashi... Eu nem sei se ela vai comprar chocolate ou não...

     [...]

     -Como podem as garotas ver os caras de cueca, mas os caras não podem vê-las?

     -Cala boca.

     Estávamos no shopping, e descíamos a escada quando eu vi Higurashi na fila para comprar chocolates.

     Ela vai mesmo comprar chocolates!

     [...]

     -Obrigado por ontem! – disse Higurashi estendendo um bombom para mim.

     -Nada...

     -Ah, Sango-chan, você quer chocolate?

     -Não posso, estou de regime...

     Seria ótimo se ela tivesse me dado isso amanhã... (N/A: Na fic, são dia 11, não 12.)

     [...]

     -InuYasha, a Higurashi tava comprando chocolate ontem?

     -Sim...

     -Eles devem ser para você!

     -Como você sabe?

     -A Higurashi não conversa muito com os garotos... E ela te deu chocolate!

     -Hm...

     -Bom para você! Já sabe que vai ganhar chocolate!

     Sério? Sério mesmo que é assim?

     A aula acabou e eu saí pelo portão de trás, sozinho. Estava frio, muito frio. Acho que vai nevar...

     PLOF, PLOF, PLOF...

     Olhei para o lado e vi Higurashi. Ela me encarou e disse:

     -TCHAU!

     -Tchau...

     -...

     -O que é que você está fazendo? – perguntei. Ela estava segurando a bicicleta, por que não subia e ia para casa?

     -Eu perdi a chave do cadeado da minha bicicleta e a neve vai cobri-la, então eu preciso levá-la para casa...

     -Hum... Sei... Tchau.

     Coitada, vai ter que levar aquela bicicleta até a casa onde mora... Onde a Higurashi mora? Será que é longe? E parece que vai nevar logo...

     PLOF, PLOF, PLOF...

     Olhei para trás e ela continuava lá, indo lenta e vagarosamente, carregando a bicicleta aos poucos.

     -O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! EU POSSO LEVÁ-LA SOZINHA!

     Que escandalosa. Só por que eu fui ajudá-la, ela fica gritando que nem louca... Peguei a bicicleta dos braços finos e delicados da Higurashi e apoiei nos meu ombro direito.

     -Não tem problema, se você for levá-la sozinha, só vai chegar à sua casa à meia noite, certo?

     -Obrigada. – disse ela corando.

     O que eu estou... Será que estou indo longe demais?

     Pergunte! Pergunte! É fácil, InuYasha. É só dizer “O chocolate é exatamente para quem?”, não é? Ah, droga. Eu não consigo...

     [...]

     -Muito obrigada! Muito obrigada mesmo!

     -Hum... – olhei para trás, mas voltei meu olhar para frente.

     Andei mais alguns dois metros... Não ouvi nada, isso quer dizer que a Higurashi ainda não entrou... Mas por quê? Não me diga que a Higurashi está esperando eu sumir de vista como fazem aquelas mães quando o filho vai embora, não é?

     Virei para trás novamente e lá estava ela, com o olhar fixo em mim, e quando viu meu rosto se mover, sorriu calorosamente.

     Nesse exato momento... Eu realmente quero ganhar chocolate dela...

     [...]

     Dia 12...

     -Hey, InuYasha!

     -Oi...

     -Assistiu ao jogo ontem?

     -Acho que assisti, mas também acho que não...

     -Assistiu ou não?!

     Algumas garotas estão chegando com os pacotes... Mas elas só estão dando umas pras outras... Que cruéis... Dêem para os garotos também!

     [...]

     Entrei na sala e fui direto para minha carteira. Coloquei minha mão embaixo da carteira e procurei por algo... Mas não tinha nada. Droga! Aquele chocolate realmente não era para mim...

     CATCH (N/A: barulho de bolsa sendo colocada em cima da carteira.)

     Olhei para o lado e vi a Higurashi. Isso quer dizer que ela chegou agora... Ainda posso ter esperanças?

     Olhei para a bolsa dela, mas olhando por fora não dá para saber se tem algo dentro ou não...

     [...]

     Segui a Higurashi durante o dia todo, mas ela sequer me notou... As aulas já estão quase terminando e não consegui nem falar com ela...

     Mas a Higurashi ainda está na sala... Pode ser que esteja esperando o momento certo...

     Não agüento mais... Preciso respirar ar puro. Vou para o pátio! Sai da sala e estava a uns três metros da porta quando:

     -TAISHO! – gritou Higurashi. Meu coração falhou uma batida. Virei para trás e esperei ela dizer alguma coisa. Quando abriu a boca, disse:

     -TCHAU!

     Ela logo saiu com uma de sua amiga, mas eu fiquei lá... Só isso? Só um simples “Tchau”?

     É dia dos namorados e nada aconteceu... E provavelmente vai acabar assim...

     Então aquele chocolate que eu vi a Higurashi comprar não era para mim...

     Fui pro meu quarto e liguei o celular. Quinze minutos depois, uma ligação. Peguei o celular correndo e vi no visor “Ligação de orelhão”. As inúteis esperanças voltaram e eu atendi o celular.

     -Alô?

     -Alô? Sou eu, Taisho! O Kouhaku!

     -O quê? – Acabaram as esperanças...

     -Hey, você ganhou chocolate da Higurashi?

     -Ela não deu para mim...

     -Ela não te deu? Que saco... Você teve todo aquele trabalho por nada...

     -Claro que não! Eu não fiz nada desse tipo! Eu só...

     Só de vê-la com tantos problemas... Eu só queria ajudá-la... Só isso... Porque... Eu gosto dela!

     -Taisho? Hey, eu não consigo te ouvi...

     Por que eu... Não me declarei para ela?

     Ela me deu chocolate...

     Eu acho que ela vai-me dar chocolate...

     Ela não me deu chocolate...

     Mas se eu pensar direito... Isso não importa. O que importa são os meus sentimentos!

     Saí do meu quarto correndo, e fui para a porta. Calcei meus tênis e abri a porta.

     Mesmo sendo dia dos namorados, garotos também podem se declarar! Caras que não se declaram não podem nem ser considerados homens!

     Tudo bem se eu levar um fora...

     Passei pela porta e... Bem... A Higurashi estava ali...

     Ela corou ao me ver... Então gritou:

     -KYAAAA! AH... HUM... Eu queria ter dado isso para você à tarde, mas eu estava com muita vergonha... Então... – disse ela segurando uma sacolinha de papel com a marca GODIVA, uma marca de chocolate...

     -...

     -Eu queria muito te dar isso... Você gosta de chocolate da GODIVA?

     -Suki... (N/A:”Suki” quer dizer “Gosto”.)

     -Sério? Ah, que ótimo!

     -Eu não estou dizendo que gosto do chocolate... Estou dizendo que gosto de você... – Eu corei... Homens também coram, certo?

     Ela ficou em silêncio...

     Eu sempre pensei que ela ia sorrir... Mas no final... Os olhos dela estavam cheios de lágrimas... Fazendo-me querer chorar também... Bem, talvez só um pouquinho...