Diarios De Um Coração Insano. escrita por Cassie


Capítulo 32
Um Passado Presente e Um Futuro Passado.


Notas iniciais do capítulo

Todas as noites nos meus sonhos eu vejo você, sinto você.
É dessa maneira que sei que você continua.
Mesmo com toda a distância e espaços entre nós
Você veio para mostrar que vai continuar.

http://letras.mus.br/titanic/40317/traducao.html

Escutem durante a leitura, fica tão lindo...



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Dimitry estava serio, e se recostou preguiçosamente na cabeceira da cama. Eu o olhei ainda confusa com o que ele havia dito, então voltei a olhar para o espelho. Espantei-me de imediato assim como o vampiro havia previsto. O espelho refletia tudo exatamente como era, o quarto de paredes amareladas com detalhes amadeirados e moveis de requinte, mas o que me impressionou não fora isso. O que vi foi algo alem de minha compreensão. Aquela pele clara e levemente rosada nas maçãs do rosto, com uma textura macia e delicada. Os lábios finos e desenhados, cerrados numa linha reta que era elegante e misteriosa, os olhos grandes, e levemente puxados no canto e a intensidade de sua cor amarela, e por fim a cabeleira em um tom acobreado, próximo ao vermelho, porém mais claro e parecido com o alaranjado, no entanto mais escuro. No corpo havia um vestido longo, como aqueles que hoje só se usa em bailes, mas que antigamente eram marca registrada de damas da alta sociedade. A cintura era bem marcada por um espartilho todo trabalhado em renda, uma renda clara que suavizou o tom vermelho sangue, e a saia que se estendia até os pés, possuíam o mesmo trabalho em renda, porém uma renda escura, que tonalizava de forma sombria o tecido, deixando um contraste perfeito entre as cores. Olhei para meu corpo conferindo o que eu vestia, e sim, eu ainda estava com minha camisola branca que pairava sobre meus joelhos o que passou a mim um sentimento de repulsa e medo. Aquela era Magdalaine. Voltei o olhar a Dimitry, que parecia calmo e sorriu presunçosamente ao ver minha face desconcertada. Ao trazer os olhos para o espelho, havia outra pessoa no quarto, uma mulher de idade avançada chamava atenção Mary, que não parava de se admirar em frente ao espelho. Ela certamente tinha consciência de sua beleza.



"Ande minha querida, não pode se atrasar. Seu pai vai receber a guarda fronteira do reino e nomear o comandante a novo titulo mais poderoso, não quer perder essa cerimônia quer?" disse a velha tocando o braço daquela jovem, que animou-se ao ouvi-la falar do comandante. A garota colocou uma fivela no cabelo prendendo duas machas no alto de sua cabeça, e ali alojou uma simples, porém belíssima coroa. No dedo colocou um anel fino de ouro que a anciã lhe entregou e nos pés um sapatinho de carmim. Ela deslizava nos corredores do castelo, como se voasse com asas imperceptíveis ou invisíveis. Ao aparecer numa enorme porta arredondada, todos ali presente levantaram em reverencia a princesa. No fim do longo tapete vermelho havia um homem de longos cabelos castanhos e uma barba saliente, porem curta, parecendo apenas uma plumagem sobre sua face. A seu lado estava uma garota loira, de corpo escultural, e rosto de anjo. Novamente um nó na garganta. Aquela era idêntica a minha irmã Laura.



Após curtos e demorados passos, Mary terminou sua caminhada rumo ao rei, seu pai. Cumprimentada pelo mesmo e beijada no rosto por sua irmã, ela sentou-se na poltrona do lado esquerdo de seu pai. Tão logo fora anunciada a chegada da guarda fronteira e os olhos de Mary brilharam enquanto seus lábios se retorciam no mais lindo sorriso. Dimitry, anunciado como o comandante, entrou no enorme salão seguido de outros homens belíssimos, bem trajados, com armaduras e uma espada na cintura. O barulho das ferragens de suas vestes podia ser ouvido a cada passo dado, e eu reparei novamente em Dimitry, que tinha no dedo anelar direito um anel fino, de ouro, idêntico ao de Magdalaine. Ela já estava prometida a ele. Uma vontade de ambos que o rei atendeu com orgulho e ambição. Dimitry ajoelhou-se, tocando somente um joelho no chão e no outro, dobrado, ele apoiou o braço em sinal de reverencia. Todos os outros soldados que aos poucos se aproximavam repetiam o gesto, e por ultimo o mais cobiçado aos olhares femininos.



Alto, de um corpo exuberante, pele clara e cabelos sedosos num tom brilhoso de prata, com pontas levemente escuras. Olhos bicolores. Sim, aquele ultimo soldado era idêntico a Lysandre. Embora amedrontada, não fiquei surpresa. Ao que parece, ele não será a ultima reprodução de minha realidade que verei. Assim como todas as outras damas expostas ali, Mary Magdalaine acompanhou com o olhar cada passada larga e pesada que aquele heterocromático dava. Sua cabeça movimentou-se para baixo conforme ele se ajoelhava. Ela parecia hipnotizada, e ninguém ali percebeu isso. O rei por sua vez, levantou-se, acompanhado de todo aquele exército que os protegiam com fervor. Pegou uma espada enorme, que me pareceu muito pesada e tocou a ponta na cabeça de Dimitry. Articulou algumas palavras ininteligíveis a mim, e todos ovacionaram e aplaudiram. Dimitry passou a ser seu conselheiro real, e mestre de batalhas. Resumindo, suas ordens a qualquer um ali tinham tanto valor quanto as da Família Real. Logo ele chamou por um nome, procurando o soldado correspondente a ele. "SÃR ZET" proferiu como um trovão. O dono dos olhos heterocromáticos avançou até ele, recebendo de sua espada um toque na cabeça. "Devido a sua determinação e bravura para conosco, eu, hoje o nomeio comandante da guarda fronteira de Chantilly. Aquele que por ventura desacatar toda e qualquer ordem dada por ti, este será punido." Sua voz roca ecoou pelo salão, sendo acompanhada por aplausos e gritos. Mary não tirava os olhos do agora comandante, e ele lhe devolvia olhares sugestivos e maldosos.



Uma fumaça branca preencheu toda a tela, digo, todo o espelho e fui transportada a um outro momento, que me pareceu tempos mais a frente. Os preparativos para o casamento de Dimitry com a Princesa Mary Magdalaine já haviam começado e a cerimônia seria dentro de um mês segundo a ama de Mary que dava ordens a todos os outros empregados. Mary e Dimitry passeavam por um campo florido, e o sol já estava se pondo. Sentaram num banco de madeira e o vampiro lhe dizia coisas lindas e românticas. A garota sorria, e volta e meia olhava os arredores em busca de algo. A noite chegara e todos já dormiam. A lua era clara e o céu enfeitado com as mais lindas estrelas. Mary não estava em seu quarto e sim naquele mesmo campo. Ela esperava por alguém. Pensei ser Dimitry, mas logo vi o tal Zet aparecer por entre as arvores. Ela se atirou nos braços do rapaz que a recebeu sem cerimônia alguma. Eles pareciam acostumados um com o outro, com cada toque, e isso me fez ver que aquele não era um primeiro encontro, e que essa situação já perdurava por algum tempo. Uma sensação desconfortável invadiu meu corpo e minhas mãos estavam tremulas. Eu estava horrorizada com os pensamentos que me ocorriam. Por isso Dimitry não a transformou? Por pura vingança? Novamente aquela fumaça, recobrindo qualquer imagem antes refletida ali. Agora aparecia uma floresta, e aos poucos a imagem ia ficando mais clara. Era Zet, na frente de uma cabana de madeira, com luzes que atravessavam a janela clareando vagamente a área em que ele estava. Seu corpo debruçado por cima de outro. Ele chorava. E o outro gemia e suava. Era um moço de cabelos e olhos negros. Leigh pensei, sabendo é claro, que naquela época não era ele. O platinado chorava, e dizia "vamos encontrar uma cura, eu juro." E o outro, aos prantos e dores retrucava calmamente "não jure, sei que não poderá fazer isso. Quero que viva sua vida, e que cuide da princesa, sei que estão juntos." O outro agarrava o irmão com toda a força," não diga bobagens, você não vai morrer. Não vou permitir que morra."  "É tarde Zet, não destrua sua vida como eu fiz com a minha. Lute por ela". foi a ultima coisa que o moreno disse. Seus lábios cerraram-se e Zet levou a mão aos olhos dele, fechando-os.



O ultimo sobrevivente daquela aldeia, agora se fora, e Zet retornou ao castelo, recebido por Magdalaine, que o levou para o quarto sem que ninguém os visse. Ele desesperado e inconsolável, deixou-se levar por suas caricias, e possuiu a moça como nuca antes. Ela adormeceu em seus braços e ele levantou-se, foi ao banho e saiu dali. Dias depois, informou ao rei sobre a morte de seu irmão, e sobre as condições precárias que se encontrava a vila mais próxima. Para conter a doença, o rei isolou toda a aldeia infectada e assim assegurou seu reino. Pelo menos achou que sim. Mary estava lá, soando, com febre alta. Seu corpo contorcia-se com as dores e seus olhos lacrimejavam a cada tentativa de manter-se viva. Feiticeiros e magos de todos os reinos tentavam salva-la e de nada adiantava. "Vampiros, eles são a nossa única chance. Todos estão morrendo aos poucos, mas com a imortalidade, a morte não nos alcançará." A ama de Mary disse. Os olhares espantados e debochados a acusavam, seguido de alguns risos e comentários infames. "Por favor, por Mary." Ela suplicou e o rei achou que se era a única maneira, ainda que incerta, deveriam tentar. Escalou Zet e outros dois, um loiro que lembrava Nathaniel, e um moreno que me era familiar, mas não pude associá-lo a qualquer outro de minha realidade, para que fossem para a Romênia, em busca de um vampiro. Dimitry alterou-se, seu semblante era vago e espantado, logo ele voltou a olhar normalmente para aqueles presentes ali e disse que isso era um absurdo. O rei, vendo sua reação mudou o semblante para um extremamente revoltado. ''Está fazendo objeções a única esperança que temos?" perguntou em fúria. "De maneira alguma, apenas acho que mandá-los irá atrasar o vampiro, que poderia chegar velozmente a Mary, a tempo de salva-la." Disse Dimitry, calmo." Eu vou, e deixo que mordam-me, retornando para transformá-la. É isso ou não teremos chance alguma, o tempo esta acabando." Disse novamente calmo, mas seu tom de voz não dava brechas para contradições. O rei concordou, e assim Dimitry partiu. A imagem agora mudou rapidamente, mostrando dias e noites irem e virem e o vampiro ali, escondido na vila adoentada. A morte de Magdalaine fora anunciada, mais uma noite se passou e no fim do dia Dimitry apresentou-se para o rei, recebendo a noticia de que Mary havia morrido. Sua tristeza era palpável, e verdadeira, mas... porque ele não a transformou se a amava tanto? E porque ficar triste se a deixou morrer? Culpa talvez? Agora uma fumaça preta recobriu todo o vidro daquele espelho e ao mostrar-me outra imagem, esta sim me deixou numa espécie de medo. Pânico. Ou qualquer outra coisa desconfortável.



Mary estava ainda mais linda, os vestidos longos substituídos por um bem mais justo, e muito curto. Os lábios, ao invés de rosados estavam vermelhos. Sua pele mais pálida, olhos cor de sangue e uma velocidade voraz. Ela corria por entre pessoas que gritavam e choravam, e cada grito de dor soltava uma gargalhada alta e maléfica, que penetrou meus ouvidos estremecendo-me. Muito sangue se espalhava pelas ruas e Zet a ajudava a causar terror e destruir tudo o que viam. Dilaceravam corpos por diversão, assustavam crianças pelo simples prazer de ouvi-las chorar. Não, aquilo não havia acontecido, não verdadeiramente. Essa foi a razão pela qual Dimitry a deixou morrer. E eu, ah que idiota que sou. O julguei por tantas vezes. Ele era um homem bom. Um vampiro bom. E era a isso que eu me apegava. A essa paz que ele me trazia. O calor que sua pele me dava sempre que nos abraçávamos. Foi a tudo isso que sempre me apeguei, e por tudo isso que sempre acreditei em sua existência. No entanto, a semelhança entre Mary e eu não era apenas um contorno de lábios que se pareciam, ou a cor de pele semelhante, tão pouco o olhar meigo que lhe fazia referência. Não, ela era idêntica a mim, assim como todos que a rodeavam eram idênticos aos que estão comigo. Isso deve-se a alguma razão de força maior, mas no momento não me importo com nada disso. Não quero me importar. Quero apenas ter a certeza, de que sou mais que uma mera lembrança.

**


Senti as mãos de Dimitry tocar meu ombro, levei a minha até a sua, acariciando-a. Ele envolveu minha cintura, virando-me para si.



-Agora entende os meus motivos?- Perguntou-me. Assenti e ele tocou meu queixo, levanto meu rosto em direção ao seu, para que assim eu pudesse vê-lo. -Não vai me fazer mais perguntas?- perguntou divertido. Neguei com a cabeça. Mal tinha forças para falar. Ele sorriu.



-Pelo menos, não por hoje.- disse por fim fazendo-o me apertar ainda mais contra seu peito.



-Quero pedir-lhe algo.- ele disse. Não me atentei a seu pedido e me afastei abraçando meu próprio corpo enquanto voltava em direção ao espelho.



-Dimitry?- o chamei e ele veio até mim. -Naquela noite, do acidente, - comecei devagar e ele arqueou uma sobrancelha.- salvou a mim e meu irmão por que me pareço com ela, ou teria feito mesmo assim. Se fosse qualquer outra criança com seu irmão adolescente e pouco responsável?- terminei de uma vez. Tão rápido que mais um pouco, nem mesmo eu saberia o que disse. Pude ouvi-lo sorrir.



-Quando vai entender de uma vez, que se ainda existo, é somente por você Hinna?- ele disse abraçando-me.- Fui atraído para aquela ponte, por uma razão que nunca soube explicar nem mesmo a mim, simplesmente senti que deveria estar ali, e da maneira mais rápida cheguei até ela. Encontrei você e aquele rapaz beirando a morte. E ao ouvir sua voz e olhar-lhe os olhos percebi que aquela era minha missão. Cuidar de você minha pequena. Você é minha razão de existir. Minha razão de ser, e estar aqui.- completou beijando-me a face. Sorri, e abracei com vigor.



-O que queria me pedir?- perguntei recordando o assunto que ele deixaria morrer.



-Não me parece justo, por isso peço que esqueça tudo bem?- pediu com um sorriso meigo que quase me fez concordar.



-Não, seja o que for eu farei.- respondi surpreendendo-o.



Ele afagou meus cabelos, afastando-os de meu pescoço. Logo entendi o que ele queria, e tombei minha cabeça para o lado, dando-lhe a permissão que esperava. Senti sua respiração morna tocar minha pele, e logo seus lábios alojaram-se ali. Em seguida, uma dor fina, enquanto sua mordida perfurava-me.



Logo minha visão estava embaçada, e sua voz cada vez mais distante.



-Queria que pudesse ficar mais tempo aqui comigo. Mas ainda não é o momento. Até breve minha pequena estrela.- Foi a ultima coisa que ouvi.


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Notas finais do capítulo

Minhas lindas, por motivos de força maior (decisão d vuxes e.e), nos veremos toda segunda ok... Um bzooo e até logo..



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