Deep-sea Girl escrita por Lyssia


Capítulo 2
Capítulo I




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Deep-Sea Girl

Ao chegar ao campus de sua faculdade, naquele dia, a jovem de cabelos esverdeados e longos movia-se apenas por paixão. Seus fios foram presos em um rabo-de-cavalo levemente desgrenhado, pois não teve tempo de fazer seu costumeiro penteado ou de produzir outro adequadamente. Abaixo de seus belos olhos de um azul com traços esmeralda, duas manchas, negras e visíveis, denunciavam sua noite mal dormida. Suas roupas, uma calça jeans e uma blusa negra de alças e caimento folgado, ao menos, pareciam em seu devido lugar.

A Hatsune andou pelos corredores, onde apenas algumas pessoas conversando ou passando rapidamente por si, até alcançar a sala de História da Arte, jogando sua bolsa em uma das mesas do meio e sentando-se em seguida, observando, entediada, alguns alunos entrarem e a professora terminar de arrumar a tela branca, usada para fazer apresentações de slides. Viajando seus olhos pela sala, topou-se com o rapaz de cabelos azulados que, assim como ela própria, se destacava nas aulas de pintura, recebendo um sorriso simpático como cumprimento, assim que foi percebida. Apenas continuou analisando o local, sem se incomodar em corresponder-lhe.

Continuou observando aquele local já conhecido, até que, alguns minutos depois, a professora apagou as luzes e fechou as portas, começando com sua aula, falando sobre as esculturas pré-históricas, mostrando não só a diferença entre a sofisticação atual como também a falta de riqueza em detalhes e o foco nos órgãos sexuais e nos seios. As aulas seguintes se passaram mais rapidamente e Miku, a cada minuto, agradecia por não ter aula de pintura naquele dia, mesmo que fosse sua matéria favorita, pois, caso contrário, teria que carregar o material, que pesaria ainda mais em sua bolsa.

No fim do dia, parou em uma padaria ao lado do campus para comprar algum pão-doce, juntamente a um cappuccino, e sentou-se a uma mesa próxima à saída, comendo com calma. A lanchonete do campus fechara mais cedo por um motivo que a jovem não chegou a saber com certeza, apenas ouvindo boatos de que algum cano estourara, por isso vários estudantes passavam ali para comer, conversando enquanto sorriam. Aquela cabeleira azulada lhe chamou a atenção e Miku passou a observar seu companheiro de curso. Viu-o atravessar a rua, em direção à padaria, distraído, se separando de parte do grupo de pessoas com aparências igualmente alegres, que ela sempre o viu junto, e passando a ser acompanhado apenas por um rapaz de cabelos arroxeados e longos.

Sentaram-se à parte de dentro do local, após receberem seus pedidos, duas xícaras de café e um grande pão recheado. Era perceptível que nenhum dos dois notara a garota de olhos azul-esverdeados que lhes observava com atenção, captando cada sorriso bobo e radiante do de cabelos azul-escuros, que insistia em tentar lhe cumprimentar todos os dias. Ela não tinha certeza se deveria ou não se aproximar. Já havia terminado seu relacionamento havia quase dois meses e começava a pensar que, talvez, devesse tentar se enturmar, distrair sua mente, passar menos tempo trancada em casa, para que tudo se tornasse mais fácil.

Passou mais alguns minutos naquela indecisão. Sabia que logo eles se levantariam e ela perderia sua chance. Respirou fundo e se levantou, pronta para ir até aquela mesa e se desculpar por ter ignorado o cumprimento mudo do rapaz, mesmo que o fizesse quase todos os dias. Porém, quando já dava os primeiros passos, parou de andar, observando, com surpresa, um homem mais velho, de cabelos castanhos e roupas formais, no balcão, esperando por seu pedido enquanto conversava com a atendente. Os olhos aos poucos foram diminuindo de tamanho, e a expressão surpresa dando lugar a uma angustiada.

Virara-se de costas, pronta para sair antes de ser percebida por aquele homem, passando a andar a passos apressados ao alcançar a rua, como se pretendesse correr no meio da multidão a qualquer momento. Parou apenas ao chegar ao ponto de ônibus, onde mal teve tempo de se sentar, pois, por sorte, seu transporte chegara quase imediatamente. Foi até o final do veículo quase vazio, sentando-se à janela que não abria e pondo a bolsa no colo, abaixando a cabeça e olhando com o canto dos olhos para a rua. Após 20 minutos, puxou a cordinha, anunciando ao motorista que chegara a seu destino, e desceu, ainda tendo que andar uma rua para chegar à sua casa.

Assim que abriu a porta, encontrando a casa vazia e desarrumada, suas orbes dirigiram-se para as manchas coloridas no chão, desesperada e inconscientemente. Seus olhos se encheram de lágrimas involuntárias e ela jogou-se no sofá, largando a bolsa ao chão, e se agarrou a uma almofada, deixando que um mínimo de sua tristeza escapasse em forma líquida, tentando imitar graciosos cristas, mas fracassando ao se chocarem contra o decido da almofada, tornando-se meras manchas de umidade em um objeto de decoração. Os soluços não tardaram a vir, saindo de forma rouca, pois estava há tanto tempo sem conversar com alguém que a garganta parecia desacostumada a emitir sons.

“Ele parecia tão bem”, pensou, depois de um pouco mais calma, embora lágrimas ainda escorressem por suas bochechas. Isto era o que mais a angustiava. Estava trancada naquela casa, chorando por qualquer motivo e sem falar com ninguém e ele sorria sem problemas para uma pessoa que acabara de conhecer.

Sua vida dera uma súbita freada, enquanto o mundo continuava se movendo. E, enquanto isso, ele estava tão bem! Em algum lugar em sua mente afundada em um negrume sem luz, acendeu-se uma chama de calor cortante e destruidor, que ao invés de clarear ao redor parecia a cegar ainda mais, distorcendo as sombras e transformando-as em ofensas. Sentira raiva. Raiva do maldito ex-namorado, que não só a abandonara sem nenhuma justificativa, como também não se abalara. Raiva por ele parece perfeitamente igual e bem, enquanto ela afundava.

Levantou-se de supetão, chutando algumas coisas em seu caminho até o quarto. Acendeu a luz, ignorando o caos de roupas jogadas pelo porcelanato e bolos de fios de cabelo, que se desprendiam de sua cabeça quando penteava-se. Abriu o armário, ensandecida, passando os olhos pelas roupas exibidas, procurando uma que lhe agradasse. Sacou um vestido, negro e simples, um pouco mais comprido atrás, jogando-o na cama e marchando até o banheiro, onde tomou um rápido banho, com os cabelos presos, para não molhá-los.

Já acabava de pentear os cabelos quando soltou um suspiro, se jogando de costas na cama e largando o pente. Para onde diabos ela achou que iria? A alguma balada ou bar? Sozinha, sem sequer um amigo ou mesmo conhecido? Assim, não haveria diferença entre beber fora ou dentro de casa, pois não pretendia conseguir algum par, mesmo que fosse apenas por uma noite, e sabia perfeitamente bem que não estava receptiva para fazer amigos. Puxou e soltou o ar com força, sentando-se, terminando de se ajeitar seus fios esverdeados e pondo um pijama qualquer, jogando o vestido no armário, sem cuidado.

De encaminhou à cozinha com passos lentos, tirou do armário uma garrafa fechada de vinho e, de outras portas, um saca-rolha e uma taça grande e bonita. Sentou-se no sofá, servindo-se. No fim de tarde do dia seguinte a mulher que lhe encomendou o quadro do fundo do mar iria buscá-lo. Precisava dar um jeito na sala. Pelo que viu quando foi pegar o vinho, também, estava ficando sem comida. Aproveitaria que no dia seguinte não teria aula e arrumaria o necessário. Também havia uma nova encomenda e ela precisava se apressar, pois tinha apenas uma semana desta vez.

A garota percebeu, estupefata, que realmente o mundo continuava se movendo e apenas ela estava lá, sem nem sequer observar, apenas lamentando-se. Deveria envergonhar-se de tudo aquilo; de sua fuga covarde na padaria, de não conversar com ninguém, do estado que estava sua casa. Porém, ao invés de motivá-la a mudar, aqueles pensamentos cortantes apenas a fizeram se sentir ainda pior. Depois de cinco taças de vinho, seu cérebro já não trabalhava tão bem e ela se deitou no sofá, pensando. As lágrimas caindo de seus olhos novamente, ao mesmo tempo que um sorriso bobo, causado por lembranças de seu antigo namoro, lhe enfeitava a face.


Miku só percebeu que adormecera ali ao acordar. Encontrou a garrafa e a taça de vinho no chão da sala, inteiras e de pé, e as levou para a cozinha, pondo a garrafa na geladeira e a taça na pia. Percebeu que não havia comido nada à noite ao ouvir o estomago roncar e pegou um pacote de biscoitos salgados, saindo da cozinha com este em mãos, rumando para o sofá, novamente. Seu pescoço e suas costas protestavam pela posição na qual pegara no sono, mas, decidida a ignorar a dor, ligou a televisão para ver se passava algo interessante.

Após acabar de comer, percebendo que o melhor que poderia ver seria um noticiário da manhã, pois acordara ainda às 8 horas, provavelmente pela posição desconfortável, caminhou até o banheiro, penteando os cabelos, escovando os dentes e lavando o rosto. Em seguida, trocou seu pijama por uma bermuda jeans e uma blusa de meia manga. Não queria, porém precisava ir ao mercado. Olhando-se no espelho do armário, cogitava esconder sua expressão cansada com maquiagem, mesmo que não possuísse a menor vontade de fazê-lo. No fim, apenas suspirou, prendendo os cabelos na habitual maria-chiquinha e saindo de casa.

Ao passar por duas adolescentes que conversavam animadas, na calçada, e ver-se refletida em uma das vitrinas, Miku franziu o cenho. Não aparentava a idade que tinha e aquele penteado deixava-a ainda mais nova. Talvez fosse a hora de abandoná-lo por algo mais sério ou simplesmente menos infantil, como um rabo de cavalo ou coque. Fechou a expressão ainda mais. Estava acostumada e gostava de suas marias-chiquinhas, que usava desde pequena. Deixar de usá-las seria mais do que uma mudança; seria um incomodo.

Assim que chegou ao mercado que ficava próximo de sua casa, a Hatsune suspirou de alívio ao ver que não havia muitas pessoas. Talvez pelo horário ou por ser um sábado, dia que não havia nenhuma promoção. Pegou uma cesta plástica e pôs-se a caminhar pelos corredores de prateleiras, pegando os produtos que estavam em falta em sua cozinha. Finalmente se dirigiu para a área reservada apenas para verduras, legumes e frutas, segurando um sorriso satisfeito ao ver que os alhos-porós estavam bonitos naquele dia. Já pensava em fazer algum prato especial com seu vegetal favorito.

- Hatsune-san! – ouviu um cumprimento, virando-se para encontrar o rapaz de cabelos azul-escuros lhe direcionando aquele amável e radiante sorriso. Miku forçou seus lábios a corresponderem. Era sua segunda chance.

- Bom dia, Shion-san. – devolveu, vendo o rapaz lhe observar surpreso, como se esperasse ser ignorado. – Eu quase fui falar com você ontem, na padaria.

- Você estava lá? – sussurrou, incrédulo por nem sequer ter percebido a menina. – B-bem... e o que queria me falar? – a viu pegar ar, como se fosse dizer algo realmente difícil.

- Desculpe por ter te ignorado até agora.


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Notas finais do capítulo

Olá...
Eu pensei que a sensação de que havia algo errado com a estória desapareceria quando postasse o primeiro capítulo... mas eu estou ainda mais insegura... ajeitei tudo que achei, comecei isso de umas três formas diferentes e quando terminei ainda reli tudo um monte de vezes e modifiquei váaarios trechos... mas quando eu leio, não consigo pensar em algo que não seja: tá ruim!
Se você ai, que estiver lendo (se é que alguém leu isso...) tiver pena desta pobre autora em crise, por favor, mande um comentário XDDDDDD
Enfim, acho que nesta fic, eu só chego ao 10 se enrolar muuuito. Devo terminar com poucos capítulos, porque a trama se desenvolve com alguns draminhas, mas bem, afinal, não conta como ela conseguiu o problema, e sim como o venceu. A partir de agora Miku ainda afunda mais um bocado e faz umas ignorâncias antes de se acertar XDDD então, não vai virar um romancezinho. Ela apenas está tentando fugir se enturmando com outras pessoas.
Bem, é isso! Até o próximo.