Skyfall escrita por Fitten


Capítulo 33
Capítulo 34 - Revanche


Notas iniciais do capítulo

Então meninas, eu chorei sete filhos escrevendo isto com a Anna, sério! Eu soluçava, ela chorava, enfim... Nós choramos escrevendo isso. Será que vocês adivinharam quem era a voz? Esse capítulo é completamente dedicado á: Laura, pela recomendação fodástica! Obrigado amor...
Bem meninas, boa leitura



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Esse era novamente um daqueles momentos em que eu não sabia se estava sonhando ou se era real - tão real quanto um pesadelo pode ser. Certamente esse era um daqueles terríveis momentos em que os segundos se arrastam infinitamente, deixando o tempo suspenso no ar como uma nuvem de poeira. Tudo desacelerou, tudo empalideceu, e mesmo assim, meu coração continuava martelando ruidosamente, desrespeitando a solenidade daquela cena que meus olhos custavam a acreditar.

– Você. - Sibilou Jane, fazendo com que a fina camada de torpor que cobria meus ouvidos se desfizesse no ar. Eu não conseguia me mover, embora o caos tivesse se instalado a minha volta, meus membros paralisaram-se e nada do que eu fizesse ou pensasse era capaz de fazer meu corpo se mover. Eu não conseguia reunir a coragem para virar-me, para encarar o rosto que poderia se desvanecer numa nuvem de vapor, tinha medo de perdê-lo, de quebrar aquele delírio fugaz, o melhor que já tivera em meses... Contudo, o cheiro era irrevogável, era mais nítido e real do que minha mente confusa poderia imaginar.

– Eu venho esperando por isso há muito tempo Jane. - Sim, sim. Não havia dúvidas. Era real, eu não estava sonhando, não estava enlouquecendo sob os poderes de Jane. Não havia mais dor em mim, nem sofrimento, por que a única pessoa que poderia afastá-los de mim estava aqui.

– M-mãe? - Gaguejei num sussurro, ainda incapaz de olhá-la. Meu maxilar tremia, travava se, as palavras não saíam...

– Está tudo bem Nessie. Nós estamos aqui, querida. - Disse-me ela. Era novamente como nas noites em que ela me colocava para dormir. Sua voz musical sussurrava em meus ouvidos que tudo estaria bem, promessas bonitas que nem sempre puderam ser cumpridas, as quais eu me lembrava perfeitamente. A ansiedade de vê-la inundou minhas veias, fazendo meu corpo recuperar os movimentos. Ademais, havia um outro cheiro que eu precisava checar...

Me levantei, tirando de cima de mim os cacos da porcelana do altar, as flores que caíram de seus vasos atrelaram-se em meus cabelos, meus joelhos vacilavam...

Pairando sobre as fileiras de bancos, estava ela. Pálida e delicada como sempre fora, exatamente como eu me lembrava. A porta lateral da igreja estava aberta, e no limiar do batente havia alguém, e eu sabia quem era, podia sentir o cheiro tão incrivelmente familiar. Eu ficaria olhando para eles por toda a eternidade, apenas memorizando seus rostos, tentando discernir a tonalidade exata de seus olhos, mas aquela cena se misturava em tantos aspectos, que eu já não sabia se estava contemplando um belo quadro ou uma terrível gravura. Havia destruição a minha volta, e ódio nos olhos de meus pais...

Os olhos claros de meu pai encontraram os meus por um momento, e em seguida vagaram pela nave destruída da igreja. Percebi que Demetri e Alec tinham interrompido sua luta, e o rastreador Volturi agora postava-se ao lado de Jane. Alec nos observava a alguns metros, entre Jane e eu, entre meu mundo e o mundo dele. Meu pai o observava profundamente, enquanto ouvia todas as mentes de uma só vez, escaneando diferentes pensamentos, diferentes versões da mesma história.

– Edward, tire ela daqui. - Sibilou minha mãe à figura imóvel de meu pai.

– Nem pensar. Não vai ficar sozinha com eles. - Gesticulou ele para Jane e Demetri.

Jane não desviava os olhos de minha mãe, e o ódio que emanava dela era quase tão mortal quanto seus poderes.

– Bella Swan - Disse Jane, maliciosa. As duas se encaravam profundamente, meu pai se colocou ao lado de minha mãe e eu fiquei observando a cena de longe, do altar semi destruído, de onde era possível ver toda a nave da igreja. - Pensei que fugiriam pelo resto da vida, já não era sem tempo. - Escarneceu ela.

– É Bella Cullen agora. – Retorquiu. – E quando eu terminar com você, vai desejar que tivéssemos demorado mais. - Sibilou minha mãe, sua expressão usualmente suave e gentil transformara-se numa máscara de ódio, era a primeira vez que via minha mãe com aqueles olhos.

– Calma Bella. - Sussurrou meu pai para ela. - Concentre-se.

Eu tinha milhões de perguntas para fazer, mas algo na expressão concentrada de meu pai me fez parar por um momento.

– Pegou o quê precisa Edward? - Perguntou minha mãe, os olhos âmbar fuzilando Jane.

– Não, ela está concentrada demais em matar você. - Disse meu pai, a expressão severa.

Eu os observei atentamente, buscando as respostas que minha mente sozinha não conseguia encontrar. Meus pais pareciam diferentes, e Jane estava notando isso também.

– Seja qual for o plano idiota que trouxe vocês aqui, é inútil. - Disse ela, um sorriso soturno brincando no canto de seus lábios. - Pra vocês acaba hoje.

– Você está muito segura de si Jane. Eu gostaria de saber o que vai fazer sem seus poderes. - Rosnou meu pai, a mandíbula apertada e as mãos em punho. Eu conhecia a expressão que desenhava-se no rosto dele, aliás, eu o conhecia bem demais em todos os aspectos. Eu sempre fui capaz de prever as reações de meu pai melhor até mesmo que Alice.

– Pelo jeito não é só isso que você gostaria de saber, não é mesmo Edward Cullen? – Jane sorriu. - Eu sei o que você está procurando. - Ela lançou um olhar sarcástico a meu pai, e eu fiquei imaginando o que estava acontecendo ali. Meu pai olhou para mim.

– Ela sabe onde Alice está Ness. - Disse ele. - Mas está escondendo esse segredo muito bem. - Olhei para Jane e depois para Alec, e vi no rosto dele a mesma pergunta que surgiu em minha mente.

– Então não foram vocês que tiraram Alice do castelo? - Perguntei.

– Não. - Respondeu ele seriamente, sem desviar os olhos de Jane e Demetri. Por um momento eu fiquei absorvendo aquela nova informação, tentando descobrir o quê fazer com ela, ou ao menos tentar entender o que estava acontecendo. Eu e meu pai trocamos olhares preocupados, enquanto a tensão a nossa volta tornava-se cada vez mais densa.

– Mas Aro acusou a mim e a Alec. - Retruquei, lançando um olhar aturdido à Alec, que encontrava-se na mesma discussão interna. - Se ele sabia que não fomos nós, por quê fez toda aquela... - Parei, vendo em minhas próprias palavras o sentido de tudo. Aro precisava de um bom pretexto para me executar, e um ótimo pretexto para executar Alec e Willian. Meu pai assentiu levemente para mim, em seguida lançou um olhar ilegível à Alec. Eu gostaria de saber o que ele estava pensando, em que estado estava sua mente diante de tudo aquilo.

– Alec? - Minha mãe perguntou, encarando-me por um breve momento. Olhei-a aturdida.

– Eu te explico depois. - Murmurou meu pai para ela, focando novamente seu olhar perscrutador em Jane.

"Pai." - Chamei mentalmente. - "O quê está acontecendo? Onde está Alice então?" - Ele me olhou de esguelha.

– Vocês são tão patéticos... - Sibilou Jane. - Acham mesmo que viriam até aqui fazer um resgate digno de pena e sairiam inteiros? Acham mesmo que entrariam na nossa cidade e sairiam vivos? - A voz infantil de Jane alterava-se a cada palavra, e meu pai concentrava-se nela quase hipnoticamente.

– Quem a levou Jane? - Insistiu meu pai, enquanto minha mãe focalizava seu alvo obstinadamente. Jane escarneceu.

– Vá para o inferno Cullen. - Rosnou ela.

Se eu tivesse piscado meus olhos eu teria perdido quase tudo, e mesmo com meus sentidos afiados foi difícil entender o que houve.

Não sei ao certo quem atacou primeiro, Jane ou minha mãe. Elas se chocaram com um barulho metálico e avançaram como um turbilhão por sobre os bancos, destruindo tudo. Meu pai não pôde ajudá-la, na verdade ele não pôde fazer nada, e só foi capaz de interceptar o golpe de Demetri, por quê estava dentro da mente dele.

Eu fiquei pregada no chão, incapaz de fazer algo ou de pensar logicamente, eu talvez estivesse presenciando os últimos momentos de meus pais, e embora eu não quisesse pensar nessa possibilidade, o medo se espalhou por mim, amortecendo meus membros como morfina. Meus olhos acompanhavam os movimentos impossivelmente rápidos, fazendo meu coração se apertar cada vez mais em meu peito.

Eu estava atenta à tudo. Meus olhos e ouvidos pareciam ter aumentado de tamanho, eu via e ouvia tudo ao mesmo tempo. Os socos e chutes que pegavam de raspão, os sibilados raivosos, os baques metálicos, o zunido baixo dos corpos movimentando-se em velocidades improváveis... E mesmo com toda agitação entre aquelas frágeis paredes, sob aquele antigo teto sagrado, eu ainda conseguia ouvir o vento fustigando as árvores e os telhados do lado de fora, e a chuva que jorrava do céu carregado, e se eu não estava enlouquecendo, eu também ouvia passos circundando a igreja.

Eu tentei me concentrar naquele som, tentei decifrá-lo, mas o desespero me fazia ficar sem reação, perdida.

Eu vi meu pai desviar de uma série de violentos golpes, e Demetri avançar sobre ele como um elefante raivoso. Ele era excepcionalmente habilidoso, do contrário já estaria morto. Contudo, Demetri compensava os poderes de meu pai com uma força e velocidade surpreendentes. Jane era violência pura.

Ela não pensava antes de agir, nem planejava seus movimentos, apenas deferia uma serie de socos e chutes, nunca se importando de fato em quê acertava. Ela avançava, colérica, destruindo tudo, e minha mãe esquivava-se sem dificuldade de seus golpes.

Jane abriu a guarda num momento oportuno e minha mãe a jogou contra a parede de pedra da igreja, fazendo a estrutura tremer. Meu pai virou-se por um segundo, incapaz de se concentrar em seu próprio adversário enquanto minha mãe lutava. Demetri se aproveitou da distração e, agarrando-o pelo pescoço, lançou-o ao chão num golpe violento que fez o ar fugir de meus pulmões.

– Edward! - Gritou minha mãe, correndo de encontro à ele. Demetri avançou sobre ela, e eu tive que fechar meus olhos. Ouvi outro estrondo ensurdecedor, e o tremor novamente sacudiu as paredes da igreja. Quando reabri meu olhos, sufocada de pânico, eu ví Alec segurando Demetri por trás, num abraço de ferro que o ergueu do chão. Demetri de debatia, enquanto Alec lutava para contê-lo.

– Vá. - Disse Alec à minha mãe. - Saia daqui. - Ela o olhou aturdida, e sem entender afastou-se, arrastando meu pai para longe da fúria de Demetri.

– Eu estou bem Bella. - Disse meu pai, olhando-a ternamente. Corri em direção à eles, sentindo meu coração subir na garganta a cada passo vacilante.

– Pai. - Ajoelhei-me ao lado dele, pegando sua mão.

– Está tudo bem querida, não se preocupe. - Ele se sentou, fingindo não sentir a dor do último golpe. Minha mãe encarava-o com os olhos assustados de quem se vê oscilando na beira de um precipício, em seguida, olhava completamente perplexa para Alec, lutando com todas as forças para manter Demetri longe de nós.

– Ele está do nosso lado agora. - Disse meu pai para ela. Eu ainda não conseguia me acostumar com meu pai tendo acesso a mente até então privativa de minha mãe, algo que ela veio praticando sem descanso nos últimos sete anos. Na verdade, nesse momento eu queria ser capaz de ler a mente dela também, pois eu certamente não conseguiria dizer a ela o quê houve entre mim e Alec durante os meses que estive aqui, nem para ela, nem para ninguém.

– Podemos confiar nele? - Perguntou minha mãe. Meu pai olhou para mim e nós trocamos um olhar cheio de significados, o mesmo olhar que sempre dizia muito mais que palavras e que dispensava qualquer explicação.

– Sim. - Disse ele. Eu o agradeci mentalmente, sentindo-me um pouco pesarosa por Alec, que certamente enfrentaria a desconfiança de todos.

Eu estava perdida nesses sentimentos pesados e sufocantes quando novamente eu ouvi passos do lado de fora. Percebi de imediato que não era a única a tê-los percebido.

– Devem ser os guardas. - Sussurrei para eles. - Eles estavam nos seguindo. - Falei, sentindo meu estômago se retorcer com a idéia do que nos esperava. Eles não deveriam ter vindo, agora todos nós iríamos morrer...

– Shhh, Ness... - Meu pai pegou meu rosto entre as mãos. - Nós não vamos morrer, ninguém vai morrer. - Disse-me ele, olhando em meus olhos. - Confie em mim.

Ele se levantou, trazendo para junto de si minha mãe em seu lado esquerdo e eu, em seu lado direito. Jane nos espreitava das sombras do altar, procurando uma brecha no escudo de minha mãe, por onde pudesse penetrar.

– Agora escutem. - Disse ele, enquanto fixava os olhos em Alec e Demetri. - Bella, eu quero que proteja suas costas o tempo todo, não baixe a guarda, não se precipite. - Ela assentiu, sem nada dizer, apenas olhando para a silhueta imóvel de Jane. - Eu vou cuidar de Demetri.

– Pai, eu posso ajudar. Por favor me deixe ajudar. Eu e Alec podemos...

– Vocês vão sair daqui. - Disse ele firmemente. Eu o olhei atônita.

– O quê? - Eu tinha milhões de motivos para dar a ele, razões que defendiam meu direito de ficar ao lado deles e lutar, mas eu não tive chance alguma.

– Escute. Eu quero que você e Alec saiam pela porta da frente, não precisa ter medo.

– Mas pai...

– Apenas faça isso. - Interrompeu ele. - E depois corra, vá para algum lugar seguro. Espere lá até que tenha terminado. - Eu o olhava incrédula. Era um absurdo o que ele estava me pedindo.

Minha mãe parou diante de mim, desvencilhando-se dos braços de meu pai. Ela me olhou por algum tempo, memorizando meu rosto, alisando meus cabelos. Eu a olhava suplicante, tentando fazê-la entender que meu lugar era ao lado deles, mas ela apenas acariciou meu rosto e disse:

– Não pare até estar longe o bastante. - E me beijou na testa.

Eles não me deram tempo de protestar, de mostrar-lhes do que eu era capaz. Avançaram juntos deixando-me com minhas perguntas, olhando-os pelas costas.

– Solte-o Alec. - Falou meu pai, a voz quase num grunhido. Alec hesitou por um momento. - Cuide dela. - Disse meu pai. - Se a ama de verdade cuide dela com sua própria vida. Prometa-me. - Alec o encarou.

– Eu prometo. - Disse, e soltou Demetri em cima de meu pai.

Alec correu até mim, passando por minha mãe como um vulto. Ela nos olhou, lado a lado, e sorriu para mim uma última vez.

Em seguida partiu, perseguindo Jane por entre os pilares de mármore e os bancos de madeira. Olhei pra Alec e ele retribuiu meu olhar.

– Estou dando uma pequena vantagem para seu pai. - Disse ele, gesticulando para a figura desorientada de Demetri. Eu assenti, virando as costas para aquela cena aterrorizante, implorando para qualquer Deus existente para que eu voltasse a ver meus pais.

– Alec. - Chamei. - Não se aborreça se eu torcer por minha mãe. - Ele olhou para Jane, esgueirando-se com dificuldade dos golpes precisos de minha mãe e disse, taciturno:

– Jane escolheu o destino dela.

Quando cruzamos as portas da igreja, totalmente destruídas, a chuva nos recebeu de frente.

O céu estava negro e a cidade inteira cheirava a morte. Uma fumaça densa espalhava-se pelo ar gelado de Volterra.

Eu não sabia para onde estava indo, nem onde deveria estar, apenas me coloquei em movimento, cruzando a praça sem pensar muito bem aonde iria. Alec estava silencioso, seguia-me de perto sem fazer um único ruído. A água lavava nossos rostos, e encharcava nossas roupas, fazendo-as ficar mais pesadas. Por toda cidade havia traços de cheiros estranhos. Cheiros que não conseguíamos identificar por causa da chuva e do vento. Estávamos no meio da praça quando Alec parou de súbito.

– O quê foi? – Perguntei, tentando vislumbrar seu rosto imerso na escuridão. Ele inspirou.

– Temos companhia. – Ele chegou mais próximo de mim, rodeando-me protetoramente, procurando por algo que eu ainda não detectara. Alec olhou para cima, para os telhados, e sem entender o que estava acontecendo, eu segui seu olhar. Um raio iluminou o céu por um segundo, mas foi o bastante para eu vê-los.

Eram vinte, talvez mais, eu não saberia dizer... Um rápido vislumbre me permitiu enxergar apenas alguns rostos, aqueles que eu já conhecia.

– Renesmee. – Disse uma voz grave e jovial. – Nós somos aliados, estamos do mesmo lado. – A escuridão e a distância não me permitiam ver o rosto daquele ser, embora a voz me parecesse familiar. Os outros, espalhados pelos telhados e becos de Volterra, espreitavam silenciosos, imersos nas sombras.

– Você pode prosseguir, haverá aliados em toda cidade, em qualquer lugar que ir. Você está em segurança agora. – Suspirei.

– Obrigado.

– Contudo, eu lhe aconselho a sair da cidade o quanto antes. – Continuou o desconhecido. – Nós vamos queimar Volterra.

***

Vinte minutos depois, Alec e eu corríamos para os portões da cidade. Em minha mente, eu ainda escutava os ecos da voz de Benjamin, o egípcio que foi nosso aliado à sete anos atrás, e que agora estava ao nosso lado novamente. Eu não o tinha reconhecido a princípio.

Tremi quando disseram que Alec não poderia passar dalí. Um Volturi em nosso meio. Era inadmissível. Na verdade nem eu sabia como fizera para convencê-los. Nas horas de desespero é que se faz as coisas mais improváveis.

Nosso dever agora era sair o mais rápido possível de Volterra, que seria queimada com os restos do castelo Volturi, que já estava em chamas quando o deixamos. Os aliados dos Cullen estavam espalhados pela cidade, certificando-se de não deixar pontas soltas. Pedi a Benjamin que encontrasse Willian e a humana que estava sob a proteção de Aro. Pedi que os trouxessem vivos. Ele me prometeu, e eu tinha que acreditar que ele cumpriria.

Benjamin, o controlador do tempo, um jovem que aparentava dezesseis anos, dono de tanto poder... Enquanto nós corríamos, eu pensava naqueles imortais que estavam aqui, hoje, lutando, e me perguntava pelo quê eles lutavam.

– Nós lutamos por liberdade - disse-me Benjamin. – Nosso mundo não pode mais permanecer sob o domínio de Aro.

Tantos imortais reunidos em uma só causa, em um só desejo. Mas quando os Volturi caírem, quem governará nosso mundo?

Perguntei a ele sobre o resto de minha família. Ele me disse que estavam todos aqui, lutando também, disse-me que éramos um exército. Ele estava certo.

Por onde quer que passássemos era possível vislumbrar um vulto apressado, uma sombra se esgueirando, um par de olhos nos observando, e aonde quer que fôssemos, todos conheciam a filha de Edward e Bella, a herdeira mestiça dos Cullen.

Como prometi a meus pais, eu me apressei em sair da cidade. Disseram-me que estava quase terminado, que perdemos poucos, que o exército Volturi estava digno de pena. Me mandaram para os portões de Volterra, onde nossos aliados se encontrariam no final da luta, onde comemoraríamos a vitória... Benjamin estava otimista.

Alec me guiou por entre as casas e os becos até a entrada da cidade, ele estava mais confiante agora, seu rosto parecia mais leve. Estávamos quase lá, duas ou três quadras talvez... Entramos num beco estreito, estava bem escuro lá, adentramos sem medo, sem a usual cautela, estávamos relaxados. Alec ia na frente, eu o seguia de perto, a chuva formava poças no chão de pedra. Cortesia de Benjamin.

Alec parou, e por um momento eu pensei que fosse por capricho, estávamos perto demais, pra quê correr? Mas então eu o vi, estava parado na extremidade oposta do beco, obstruindo as luzes fracas dos postes. As patas imensas, o pelo eriçado nas costas, um rosnado preso na garganta... Jacob avançou. Alec tentou recuar. Eu gritei, tentei pará-lo , mas eu estava longe demais.

A enorme mandíbula se fechou onde um segundo antes estivera o flanco direito de Alec.

Um leve deslocamento para esquerda. A pata dianteira alcançou o ombro direito, o guincho metálico ecoou em meus ouvidos como uma folha de aço sendo rasgada ao meio. Alec caiu junto às latas de lixo, a parede sólida a suas costas estremeceu. Um grito mudo escapou por meus lábios.

Não importava o quanto eu me apressasse, a distancia parecia crescer mais e mais. Trinta míseros metros, e mesmo assim a velocidade sobrenatural herdada de meu pai não foi suficiente para deter aquele impulso assassino que o impelia contra Alec. O ódio maciço que transbordava pelos olhos dele parecia queimar como fogo líquido, enchendo o espaço a nossa volta com uma fúria penetrante. Era lindo tanto quanto era nocivo e vê-lo naquele momento era ao mesmo tempo maravilhoso e terrível. Eu nunca o vira tomado por tanto ódio...

Passei pela pilha de latas e sacos plásticos na qual Alec estava estirado feito um boneco quebrado, e corri em direção a Jacob. Eu não sabia o que deveria fazer, como impedi-lo, como dizer a ele que aquele ali também me amava. Que eu também amava ele...

Não, eu não encontraria as palavras certas em tão pouco tempo.

Os olhos escuros pousaram em mim como dois faróis na escuridão, eu contava que apenas isso o parasse, que ele se detivesse por um momento ou apenas titubeasse. Era só o que eu precisava, um momento de hesitação. Mas ele não parou e meu plano improvisado falhou miseravelmente.

Mais rápido do que eu poderia ter previsto, ele saltou sobre mim, o corpo gigantesco moveu-se habilmente pelo espaço minúsculo, pousando bem em frente a Alec. Dei meia volta, correndo, sufocada...

– Jake, não! - Gritei, mas a chuva, os ventos e seja lá mais o que estivesse presente naquele beco conosco, emudeceu minhas palavras, tornando-as um chiado ininteligível. Alec se colocou de pé num átimo, segurando o ombro com a mão. Eu vi os olhos de Jake perderem o foco e rezei para que Alec tivesse tempo de usar seus poderes para escapar.

Inútil. Eu deveria ter previsto. Jake não se deteve. Ele nunca se deteria se pensasse estar me protegendo de um inimigo poderoso como Alec, ele continuaria lutando cego, surdo, aleijado, tanto fazia... Eu o conhecia bem demais para esperar dele um momento de hesitação. Jake sempre foi o melhor em exterminar nossa espécie, e ele ter se apaixonado por alguém como eu, não era nada além de ironia do destino.

Alec era rápido, e foi isso - apenas isso - que o salvou de Jacob. Mesmo assim, os dentes afiados alcançaram o tornozelo esquerdo de Alec. Jacob o arremessou à rua, chacoalhando-o como uma boneca de trapos. Alec caiu no meio-fio, erguendo uma nuvem de pedriscos e água de chuva. Jacob correu em direção a ele, meio desorientado, se debatendo e atacando tudo que havia a sua volta - vivo ou não.

Avancei sem pensar, implorando para os céus por uma chance de salvar ambos. Eu não podia deixar Jake matar Alec, e sabia que Alec estava apenas recuando nessa luta. Se ele decidisse lutar, eu estaria no meio de um furacão. Corri para a rua, desviando das dentadas aleatórias de Jacob, tentando alcançá-lo. Tentei pará-lo...

Jake não me deixava chegar perto. Alec ainda o mantinha no escuro e ele não podia me enxergar nem tampouco sentir meu cheiro. Por muito pouco quase tive minha cabeça arrancada por uma pata impossivelmente veloz, passando de raspão e levando alguns fios de meu cabelo consigo. Aproveitei uma brecha e agarrei-me às costas dele, cravando meus dedos entre os pelos castanho-avermelhados. Ele sentiu minha aproximação um segundo antes de eu alcançá-lo. Jake jogou o corpo para o lado, empurrando-me de encontro a parede. Rolei até o meio-fio, pousando com um estampido trovejante no asfalto molhado.

Quando tentei me mover, meio segundo após a queda, senti meu sangue empoçar minhas roupas. Ao bater conta a parede, uma farpa de ferro da grossura de um punho fechado atravessou minha perna, na altura da coxa esquerda. Eu não tinha percebido até cair no chão que o pedaço esfarrapado de metal ainda estava atravessado em mim. Eu normalmente não me machucava tão facilmente, mas julgando pela força do golpe de Jake, eu entendia como aquilo acontecera. Maldita linhagem humana. E agora eu estava sangrando... Ótimo.

Um rosnado engasgado chamou minha atenção para a luta, e quando eu consegui me mover o suficiente para vê-los, eu não pude acreditar que tinha perdido apenas meio segundo. O corpo enorme de Jacob estava estirado no chão, lutando para se levantar, e Alec pairava ameaçadoramente sobre ele. Jacob ainda tinha o olhar desfocado, perdido, e embora se debatesse ferozmente, ele estava visivelmente mais lento. Senti a vertigem me tomar, mas o sangue se esvaindo de mim tinha pouco a ver com isso. Tentei me levantar, mas a fraqueza oriunda de tanto tempo sem me alimentar parecia travar meus ossos, deixando-os mais pesados, impossível de se sustentar.

– O quê você fez? - Gritei para Alec. A chuva lavava meu ferimento, espalhando pelo pavimento uma poça de sangue. Minhas roupas, mãos e braços estavam tingidos de carmim.

Alec olhou para mim. Havia ódio em seus olhos, um brilho prateado que gelou meus ossos. Ele respirava rapidamente, com lufadas pesadas e rígidas, seus ombros movimentavam-se no ritmo funesto de sua respiração. Ele caminhou lentamente até mim, sem pressa de libertar Jacob daquele entorpecimento que o impedia de se levantar.

Enquanto andava, Alec olhava-me de uma forma que me apavorava, como se por um momento ele não fosse o mesmo Alec que conheci, ou pior ainda, como se aquele fosse o "velho" Alec. Meu coração disparou em meu peito, e mais uma vez tentei me colocar de pé. Me arrastei até uma parede próxima, onde consegui apoiar minhas costas. Alec continuava avançando com aquele gelo no olhar.

Um rastro de sangue se estendeu a meu redor. A queimação constante em minha garganta deu uma guinada, como se estivesse competindo com a dor pulsante em minha perna. Alec parou diante de mim.

Olhei para cima, para seu rosto imóvel e lívido. Ele retribuiu o olhar, enfatizando sua atenção para a ferida sangrenta em minha perna.

– O quê você fez? - Repeti, sentindo minha voz sumir. Ele não respondeu, eu insisti. - O quê fez com ele? - Era como se uma bola de aço fumegante estivesse atravessada em minha garganta. Apertava e queimava cada vez mais. Ele se abaixou, aproximando-se de mim com uma cautela agourenta, tocou meu rosto gentilmente. Eu o observei, tentando controlar minha respiração. Alec fechou os olhos.

Eu fiquei alí, sangrando, sentindo minha cabeça rachar em duas partes, sentindo um medo virulento tomar conta do meu corpo, observando o rosto dele se transformar em mil faces das quais eu não conhecia sequer uma única.

– Você está bem? - Sussurrou ele com a voz embargada, com se tivesse medo de falar. Alec mantinha os olhos fechados e respirava com dificuldade. Minha pele queimava sob o toque gelado da mão dele, ardia contra a chuva que caía impiedosamente sobre a cidade morta dos Volturi. Em todos os cantos só havia o silêncio, e ao fundo, soando como uma música fúnebre, um uivo cortante subia ao céu e preenchia meus ouvidos com dor. Eu não conseguia me mexer. O horror daquele momento me entorpecia.

Alec deixou a mão que pousava em meu rosto escorregar suavemente até minhas mãos. Ele beijou-as, eu estremeci. Um gemido de dor escapou por meus lábios quando ele aproximou o rosto pálido do meu, a respiração fria tocou minha pele como uma cortina de cetim. Ele abriu os olhos. Dois faróis de fogo me observando de tão perto, a fluidez daquelas íris brincava com cores, capturava minha atenção, prendendo-a em suas profundezas.

– Shhh, está tudo bem meu amor. - Disse ele, apertando os lábios frios contra os meus. Alec puxou a estaca de ferro cravada em minha perna. Meu grito de dor foi sufocado pelo beijo molhado, pelos lábios macios que selavam toda minha dor, suprimindo também meus pensamentos, que por um momento ficaram vazios, vagos e distantes. Ele apertou a ferida, estancando o sangue quente que fluía e se espalhava com a chuva. Aos poucos a dor ia cedendo, deixando um espaço que era rapidamente preenchido pela sensação quente do beijo dele. Em seus olhos, eu podia ver a sede queimando.

A respiração dele era inconstante, com guinadas nervosas e lufadas demoradas, enquanto eu apenas amolecia nos braços dele, sentindo um misto de fraqueza e suavidade. Abri meus olhos, devagar, temerosa... Alec afastou-se lentamente, olhando-me, provando-me até o último momento. Olhei para a ferida, estancada sob a mão pálida de Alec, um contraste acentuado de branco e vermelho contra o pano negro da noite que nos cercava, e mesmo assim, todas as cores eram facilmente desbotadas pela chuva que caía como agulhas feitas de gelo.

O silêncio era como uma música se repetindo em meus ouvidos, com apenas duas coisas quebrando-lhe o ritmo: o farfalhar da chuva precipitando-se contra o chão, e a respiração quase inaudível de Jacob.

Meu coração afundou, e se houvesse em meu rosto alguma cor remanescente, esta teria se esvaído no momento em que procurei a silhueta grande e peluda estirada no meio do asfalto empoçado. Ele estava lá. Na forma humana.

O peito nu brilhava contra a luz opaca dos postes, a água pingava como orvalho negro de seus cabelos. E os olhos... Aqueles olhos grandes e escuros estavam lá, me encarando de dentro de sua imensidão profunda. Ele assistia, mudo e inexpressivo, ao espetáculo romântico e sangrento que se desenrolava diante dele.

– Jake. - Tentei dizer, mas o nome não ousava sair de minha boca, como se eu mesma não tivesse coragem de pronunciá-lo. Um segundo se passou sem que nada mudasse. A chuva ainda caía. Alec ainda tentava estancar meu sangue. Jacob ainda me olhava com aquela decepção enterrada na lama de seus olhos marrons. E eu ainda sentia uma dor imensa tomar cada vez mais partes de mim.

A escuridão e a cortina cinzenta de chuva o cobriam quase completamente, eu via apenas o rosto intransponível, o olhar paralisado, os ombros subindo e descendo no ritmo lento de sua respiração cadenciada. Ele estava nu, eu sabia disso embora não pudesse vê-lo completamente, ele se transformara bem ali, onde dois minutos antes ele havia caído, onde dois minutos antes Alec quase o matara. Não houve tempo de vestir-se, não houve tempo de correr para longe daquela cena que jamais se apagaria nem na mente dele nem na minha. Na verdade, eu nem ao menos sabia como ele teve forças para se levantar...

Jacob virou as costas e saiu, andando lentamente na escuridão.

– Jake. - Gritei, tentando me levantar e caindo inutilmente no mesmo lugar, um desespero inconsciente crescendo dentro de mim.

– Shhh, calma. - Sussurrou Alec, segurando-me pelos braços. A queimação em minha garganta transbordou por meus olhos, derramando-se por meu rosto, deixando um rastro quente em minha pele.

– Jake, Jake. - Eu gritava e tentava inutilmente colocar-me de pé, e Jacob apenas continuava andando para longe de mim.

Quando a escuridão o engoliu, apagando de vez sua imagem, eu senti que não conseguiria mais me levantar. Eu me rendi, fraca e inerte, aos braços frios de Alec, tentando sem êxito conter a torrente de lágrimas que ameaçava me dominar. Eu lutava, mas eu sabia que não tinha mais forças nem ao menos para fingir ser forte.

Eu não queria que Alec visse aquilo, embora o tivesse dito que não poderia ficar com ele, eu nunca lhe disse o motivo real, a razão pelo qual meu coração não poderia pertencer a ele, não completamente. Mas agora, reduzida a cinzas, ensanguentada e destruída nesse chão que nem ao menos era o chão de meu lar, e sentia que Alec merecia mais que um muito obrigada, e não apenas pela minha consciência pesada, mas por quê eu, de fato, queria dá-lo algo mais de mim, maior... Algo melhor que uma crise de choro.

Mais eu não poderia, não é? Não poderia dá-lo o que não tenho, algo que não me pertence.

Os minutos se arrastaram lentamente, ou talvez tenham ido depressa demais, eu sinceramente não sabia. Mas quando as luzes alaranjadas do incêndio que consumiria toda Volterra começaram a nos alcançar, foi preciso partir.

Alec me conduziu pela escuridão impenetrável sem dizer palavra. Minha perna ainda doía, embora já estivesse quase completamente cicatrizada. Seria mais rápido se eu tivesse me alimentado.

O imagem de Jacob queimava em minha mente como uma fogueira num palheiro, consumindo todos os meus pensamentos. Eu não podia deixar de sentir uma dor aguda toda vez que aquele rosto atravessava minha visão, tão claro e nítido como uma aparição. Eu pensava: onde diabos ele foi? Será que está bem? Será que me odeia? E nenhuma dessas perguntas eram respondidas, nada além de ecos e silencio entre as paredes do meu cérebro.

Quando chegamos enfim aos portões da cidade, eu fui recebida pelos abraços e beijos de Rosalie e Esme. Elas falaram e falaram, me encheram de perguntas, e por mais que eu estivesse feliz em revê-las, a lembrança de Jacob não me abandonava nem um só minuto. Rosalie pareceu gostar ainda menos de Alec, dirigindo a ele o olhar que usualmente era reservado à Jacob. Haviam ainda alguns Quileutes, encarregados de guardar os portões, dentre eles eu só pude reconhecer Quil, liderando os mais novos. Fora esses rostos conhecidos, haviam os novos aliados, vampiros de todas as etnias, mas eu não me demorei muito entre eles.

Minha mente ainda estava entre aquelas casas, sob aqueles prédios, passeando pelas ruas que pouco a pouco sucumbiam ao fogo. A chuva já havia cessado há algum tempo, eu nem ao menos me dera conta disso.

– Eles logo estarão aqui Ness, não se preocupe. – Disse Rosalie, preocupada com meu silêncio. Assenti, sem olhá-la. Do alto do monte que circundava Volterra, era possível ver a cidade toda. Um vapor alaranjado subia do subsolo, tomando ruas e casas, alastrando-se como uma risca de pólvora, o ar enchia-se com uma fumaça escura e densa, o cheiro era de morte par nossa espécie.

– Ele é confiável Ness? Ele pode ser um espião, pode ser um infiltrado de Aro. – Sussurrou Rosalie em meu ouvido, lançando olhares carrancudos à Alec. Olhei para ele, encostado junto ao tronco de uma árvore, observando sua cidade queimar.

– Eu estou viva por causa dele. – Eu disse, encarando minhas mãos sujas de sangue seco. – Papai confia nele também. – Disse, sabendo que esse argumento era indiscutível para Rosalie. Ela continuou encarando Alec, silenciosa.

Uma movimentação estranha chamou minha atenção para a matilha, segundos após, Quil aproximou-se em sua forma humana para nos dar as últimas informações.

– Está quase acabado. O ninho foi queimado até o último Volturi pular que nem pipoca. – Disse ele, em seu tom despreocupado, sorrindo orgulhosamente. – Edward e Bella também já terminaram. – Disse ele olhando para mim. - Estão indo encontrar os outros. Sam disse que a matilha não tem mais o que mastigar. Vamos para casa. – Quil sorriu largamente e um uníssono de uivos se ergueu no ar. Os vampiros desconhecidos festejavam, cumprimentando-se, trocando palavras rápidas entre sorrisos aliviados. Alec não se moveu de sua posição, eu apenas ouvi em silencio. Quil continuou reportando detalhes a seus companheiros e a alguns dos vampiros, enfatizando detalhes da luta. Eu ouvia as palavras dele apenas como um eco longínquo.

– ...então eles cercaram a cidade e entraram pelo subsolo, na parte traseira onde era menos vigiado. Sam disse que foi um pandemônio quando eles invadiram, uma zona dos infernos. A guarda deles estava uma bagunça, sem nenhuma liderança, totalmente desorganizada. Ele disse que quando terminaram com a guarda foram atrás dos velhotes, mas eles já tinham fugido para superfície. – E abaixou a voz como se com isso eu não pudesse escutá-lo. – Jake revirou cada cômodo do castelo atrás dela. – Disse ele, gesticulando para mim. – Sam disse que ele saiu que nem um louco de lá quando não encontraram ela, cobriu a cidade inteira em meia hora. Sabe, o Jake é um alfa também, mas na nossa política só pode haver um alfa. – Explicou Quil aos vampiros que o escutavam atenciosamente, ele estava eufórico com toda aquela atenção. – Mas o Jake debandou da nossa matilha há alguns anos, questões pessoais sabem. Desde então nós não podemos ouvir a mente dele, só o Sam pode, por quê ele é o outro alfa. É bem maluco, mas funciona. Hoje em dia só a Leah e o Seth podem ouvir o Jake, fora o Sam. – Quil parou um momento, perdido em pensamentos, depois recomeçou seu discurso.

– Eu até prefiro ficar fora da mente do Jake sabem, ele é muito confuso, vive cheio de minhocas na cabeça. Se bem que eu daria tudo pra ter visto a briga feia com o Volturi ali. – Disse ele novamente aos sussurros, apontando descaradamente para Alec, os vampiros olharam-no com curiosidade. – Mas Sam não quis dar muitos detalhes, disse que estava tudo bem e ponto. – Quil deu de ombros, perdendo em seus pensamentos novamente.

– A última notícia que ele nos deu depois disso, foi que tinha perdido contato com Jake. De certo ele deve estar queimando alguns entulhos. Ele precisa dos polegares opositores para isso, se é que me entendem. – Quil gargalhou de sua própria piada.

Eu sabia perfeitamente bem o quê acontecera, mas não tinha coragem de verbalizar aquilo, não conseguia nem ao menos acreditar que havia acontecido de fato. O pequeno grupo se dispersou um pouco, juntando-se em debates e discussões sobre o futuro da nossa espécie.

– Conte-nos alguma coisa útil. – Resmungou Rosalie para Quil. – Como foi a luta, quem perdemos... Isso é importante e não as esquisitices caninas que vocês têm. - Quil olhou-a carrancudo e em seguida lançou-se em uma descrição meticulosa dos acontecimentos daquela noite. Embora eu quisesse muito ouvir aquilo, meus ouvidos taparam-se para todo o resto. Eu podia ouvir os estalar das chamas na cidade lá embaixo, ouvia as pedras desmoronarem e o vento que agitava a fumaça densa sobre nossas cabeças. E eu pensava: onde está você Jake?

Não me dei conta de que me levantava. Apenas me afastei sorrateiramente do grupo, adentrando as árvores. Na orla do pequeno bosque que nos separava dos portões de Volterra, eu olhei para traz. Alec me olhava silenciosamente, por entre as árvores e dentro da escuridão, ele viu em meus olhos o motivo que eu não conseguia dar a ele.

Virei-me em direção a cidade em chamas, sabendo que só haveria um jeito de sair de lá. Eu encontraria Jacob e o traria comigo, ou eu não teria motivos para voltar.


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