Silver Moon - Me Chame Cantando (tritão) escrita por Oribu san


Capítulo 3
Capítulo 3 - Idas e vindas. Contos de maré.


Notas iniciais do capítulo

Este capitulo é mais um prologue que prepara a historia para o capitulo mais agitado e em seguida o grande final. por isso é menor que os outros.



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O astro rei iniciou mais um dia, parecendo inspirado. Brilhava forte no céu, no espirito de carnaval, da festa de São Marine. O sol mal havia saído e as portas das casas se abriram. Libertando as crianças, que vestidas de piratas corriam sem parar, atirando balões de água unas nas outras. Os adultos já bebiam nos bares e nas ruas, junto aos turistas de todos os cantos, povoando a cidade e enchendo as ruas.

Música, comida e bebida em todos os cantos, faziam de Silver Moon uma grande festa a céu aberto. Lenny havia se recusado a vestir-se de pirata, colocara no máximo o colete sem mangas que mal parecia parte de uma fantasia. Ao contrario de seu pai, que comparecera totalmente caracterizado, correndo na rua com duas crianças nos braços enquanto outras três corriam atrás dele, com pistolas d’água.

– Ei meninão, vê se não fica “muito” doente. – Deu as costas a seu velho indo ao porto, o deixando sozinho com seus “amiguinhos”.

Esperou por Titã ali, até quase o meio dia. Como ele não apareceu, seguiu para a loja do senhor Rubber, talvez o encontrasse ali.

Não encontrou. Nem ele, nem o próprio dono da loja, que ele vasculhou com os olhos pela vidraça, porque estava trancada. Tantas pessoas indo e vindo o deixava intrigado. Num dia como este, com tantos clientes, a loja de Zed deveria mesmo estar fechada? E com tanta gente na rua, porque justamente quem ele procurava tinha desaparecido? Sem ideias e sem mais nenhuma opção, voltou ao seu ponto de partida.

– Só falta agora meu pai ter sumido também.

Não. Levi ainda estava lá, brincando agora com as crianças e um novo amiguinho.

– Titã!

Ele usava apenas seu colar de conchas e uma bermuda, a qual só tinha posto porque haveria muitas pessoas ali. Percebendo o chamado, parou os pés descalços, sendo atingido então por um balão no rosto sorridente.

– Capitão! Já vou.

– Capitão!? – Espantou-se com a intimidade com que Tristan disse aquilo a seu pai.

– Já marujo?

– Marujo? – Os dois se aproximaram dele. – Desde quando vocês são tão próximos?

– Humn Deixa eu ver... – Titã contou nos dedos e depois levou a mão atrás da cabeça rindo. – Hoje de manhã. Eu vim trás de você mais só achei seu pai.

É. Não era de se estranhar. Seu pai era muito sociável. As inúmeras mulheres que já saíram com ele que o digam. E Tristan, quem não seria capaz de gostar dele? Pelo menos era assim que Lenny pensava. Sendo assim, o estranho ali era ele. Que mal dava espaço para que as pessoas normais se aproximassem dele.

– Vamos? – Tristan o pegou pela mão como já havia feito antes.

Mas nunca na frente de Levi. E isso fez o menor olhar para ambos, com um olhar de “não é nada disso pai”, enquanto se afastavam.

– Aonde vocês vão? – Ele gritou com as mãos na boca em forma de concha.

– A uma festa perto da minha casa. – Ele respondeu acenando com um enorme sorriso, ao seu amigo de brincadeiras já longe. De fato era o que era, e ele não gostava de mentir.

Havia uma parte do porto mais afastada, onde os barcos quebrados costumavam ficar, e por isso quase não havia pessoas ali num dia normal. O que dizer então em um dia de comemoração? Era um deserto. Foi de lá que decidiram partir, para que ninguém os visse.

Não demorou e seus amigos cuja ciência afirma não existir aparecerão no mar. Aísha estava tão bonita, mais do que de costume, tinha feito em seu cabelo uma enorme trança enfeitada com flores marinhas, que por serem amarelas, chamavam ainda mais atenção para seu pingente de sol. Isso porque Risal havia lhe dito para não ir com o cabelo solto, para que qualquer um pudesse ver o colar seu pescoço antes de se aproximar dela.

– Gostei da trança Aísha. Ela tem algum significado?

– Tem. Ela impede que eu quebre algumas caras. – Risal.

Ele usava quase nada, só um brinco de lua na orelha esquerda e um par de braceletes de prata adornado com um rubi cada um, que ressaltava seus olhos malignos da mesma cor. Porem parecia empolgado com alguma coisa. Desta vez tinha até um leve sorriso no rosto. Nada comparado ao de Marcel, que não usava nada.

Tristan saltou na água. Era uma queda de quase quatro metros, mas se ele podia, porque não tentar? Pulou atrás dele sem voltar à superfície. Quando abriu os olhos dentro d’água, viu que obviamente a bermuda de Titã havia desaparecido para dar lugar à calda, mas a novidade foi o que se formou além dela. Uma espécie de armadura feita de metal nos ombros e de couro e fivelas o resto, deixando o lindo peito à mostra e parte dos braços. Admirando o traje percebeu que preso próximo ao coração como um broxe, estava o fecho de cabelo que deu a Tristan.

– Esse... Esse é o fecho que eu... – Gaguejava novamente.

– É desculpa usar ele assim. É que nessa forma não preciso prender o...

– Está perfeito ai. – Risal cortou a conversa. Aquilo havia sido um elogio? Mal dava pra notar.

Nadaram cerca de dez minutos em alto e fundo mar, até chegarem a um grande anel de pedra do tamanho de uma janela. O que de fato era, já que ao passar um por um, dentro daquele rochedo solitário no mar, foram parar de frente a cidade submersa.

Havia centenas de sereias e tritões de todas as idades, por todos os cantos, em uma festa tão grande e linda quanto a de sua cidade.

– Bem vindo a Silver Moon lindinho. – Aísha pendurou-se em seu braço, fazendo o visitante olhar na mesma hora para Risal. Que olhou diretamente nos seus olhos e depois para frente afirmando sua permissão.

– Tudo bem.

– Tu bem? – Marcel agitou-se – Porque Titã e Lenny podem dar o braço a Íshinha, e eu não?

Risal parou ficando cara a cara com Marcel, o intimidando com um sorriso diabólico e o dedo na cara.

– Primeiro porque ele não a chama de “Íshinha”. – Imitou sua voz, apertando o nariz com os dedos. – Segundo porque você está solteiro.

– Ei Lenny! – Nem mesmo Risal conseguia fazer o sorriso de Marcel desaparecer por muito tempo – Por acaso você tá namorando...?

– Não é da sua conta idiota. – O namorado de Aísha agarrou Marcel pela calda o tirando rápido dali. – Venha seu burro. Vamos fazer nossas inscrições.

Continuou arrastando Marcel o tirando dali antes que fizesse, ou dissesse alguma bobagem. Seguido de perto por Tristan, que não conseguia parar de rir da dupla. Deixando pra trás “as garotas” como Risal dizia, passeando sozinhas.

– Aísha o que você quis dizer com bem vindo a Silver Moon? Esta aqui não é...

– Você não sabe? Estou decepcionada. Esta é a verdadeira Silver Moon.

– Como é?

– Vem. Eu te explico. – Ela o levou entre as inúmeras barracas que haviam sido colocadas na praça, por feirantes marinhos.

Experimentava joias e pedia sua opinião sobre algumas, enquanto lhe explicava. Com um tom de historinha na voz.

– Á muito tempo. Na época dos reis e rainhas, quando existiam castelos. E nós vi...

– Nós quem? As sereias?

– Nós o geral Lenny. Elfos, lobisomens, sereias... Presta atenção.

– Desculpa. – pôs um chapéu de pirata, que lhe ficou maior do que a cabeça.

– Isso não combina com você. Bom... Quando nós vivíamos entre os humanos, “nós” as sereias, ajudamos os humanos a construir a sua cidade e lhe dêmos o mesmo nome que esta. Para que pudéssemos viver em ambas. Por isso que a estatua na sua, é de uma sereia, e a nossa – Apontou para a escultura entre o comercio. – É um navio. Mas com o tempo o homem mudou, e todos nós decidimos que era melhor que nos chamassem de lendas, mitos.

– Entendi.

Ele sempre adorava juntar o máximo de informação que podia, mas nada muito ortodoxo, como suas matérias escolares, só se empolgava mesmo por coisas desse tipo. Então a historia que passava em sua mente como um filme, enquanto Aísha narrava, era de um deleite fantástico. Porem, por mais encantado que estivesse. Já se pegava procurando por um certo alguém entre o povo. Sem notar que outro alguém já havia lhe notado. Aísha o estava observando, tinha o sorriso matreiro com um algo de irônico, como se estivesse achando aquilo, a coisa mais engraçada. Um estalo o fez perceber um rosto conhecido na multidão escamosa. Não era o esperado, mais ainda assim era uma boa visão.

– Zed! O que está... Como está aqui?

O ancião se encontrava atrás de um balcão até mesmo ali. Cumprimentou primeiro a dama que o acompanhava, para depois responder sua aclamação de um modo bem diferente. Colocando a língua pra fora, mostrando o que estava mastigando.

– Minha mais nova invenção. Chamasse bolha de ar. – A goma que ele mascava era de uma cor esverdeada e não parecia muito saborosa. Talvez em parte porque já estivesse usada, ou talvez, porque em seu rotulo estava escrito “sabor pulmão”. – Não é muito doce admito, mas enquanto estiver na boca dá pra respirar. Tome fique com uma.

– Não obrigada. – Ele afastou as mãos. O senhor mantinha a mão ainda aberta, e um olhar do ser sábio que era.

– Tem razão. Melhor que fique com a mocinha.

Entregou a ela assentindo que sim com a cabeça, segurando firme em suas mãos como se estivesse lhe confiando algo de suma importância. Soltando apenas quando ela o pôs em uma bolsinha de escamas prata, que trazia a tiracolo.

– O senhor ainda vai acabar falido se ficar dando tantos presentes. – Se afastavam. Rubber tinha clientes de verdade para atender. Muitas sereias curiosas com aqueles objetos do mundo da superfície.

– Aísha... Risal tem ciúmes, de você e Marcel? – Sussurrou.

– Não. Você ainda não consegue entende-lo, não é? Ele está preocupado com Marcel. Não com ciúmes. Na cabeça dele, o fofinho não vai conseguir encontrar alguém se ficar nadando por ai...

– De braço dado com você. Entendi.

– É. Ele pode ser meio desligado, mas está sempre contente. Não consigo entender como ninguém pode ter se interessado por ele ainda. Nem meninas, nem meninos.

Esta ultima declaração fez com que ele estancasse o passeio de súbito, parando de nadar.

– O quê?! – Tinha na face uma cara abobalhada.

– Ai... Não acredito que vou ter que te explicar tudo. – Ela levou a mão à cabeça. – Deixa eu resumir pra você. Algumas criaturas como, por exemplo, nós, “procuram” o mesmo sexo, da mesma forma que procuram o sexo oposto. Entendeu amor?

– Eu, acho... Eu... Eu acho que sim.

Estava falando rápido e embaralhado. O bom de ter a pele parda, é que mesmo quando você está vermelho, “você não fica vermelho”. O que o deixara tão desconcertado não fora o fato de todos daquela espécie serem bissexuais, mas sim o fato de que isso também se aplicava à Titã. Será?

– Ai que bom. Por um minuto pesei que teríamos de conversar sobre sexo também.

Ele continuou de cabeça baixa, pensativo enquanto ela ria de forma nada debochada.

– Quem quer conversar sobre sexo? – Tristan voltava com os outros dois, que um pouco mais atrás ainda discutiam a falta de inteligência de Marcel.

– Eu não sou burro. Eu só não sabia que... – Risal interrompeu o narrar do desatento, com uma cotovelada, logo que percebeu a situação enfrente.

A voz de Tristan. Quase que seu coração sai pela boca enquanto o sague que deveria estar ambiente, não sabia se gelava ou se corria quente desenfreado pelas veias. Isso tudo por conta do que tinha ouvido, e a voz dele justo naquele momento, tinham sido como um estopim que fez com que tudo disparasse.

Estava tão nervoso e por tantos motivos que não conseguiu se acalmar. A pele do rosto incapaz de corar estava quase que ficando roxa.

A essa altura o ruivo não entendia nada do que se passava. Olhou de um lado para o outro e então para não perguntar ao mais bruto, sussurrou ao pé do ouvido da garota sereia.

– Quê, que tá acontecendo?

– Ih. Acho que ele vai passar mal. – Risal comentou de braços cruzados com a mesma expressão ranzinza de sempre.

– Lenny! Ei... – O chacoalhou um pouco para que dissesse algo. – Você está bem?

As mãos o seguravam pelos braços, o olhando fixamente de perto. Perto demais. “Oh céus” ele pensava. Ainda bem que não estava na forma humana, ou aquilo que acontecera entre suas pernas a noite passada se repetiria.  A única coisa que seu corpo o assentiu fazer foi balançar a cabeça para cima e para baixo, mostrando que estava no mínimo racional.

– Ehrr... Talvez seja fome. – Aísha tentava concertar um pouco a situação em que tinha colocado o novo amigo, fazendo por trás de Titã sinais para que o outro lhe confirmasse a historia. – Você comeu alguma coisa hoje?

– Nãoum? É. Não.

– Então vamos comer. Daqui a pouco vão começar as disputas, e não quero que perca isso.

Parados em frente a uma tenda, lhe ofereceu um prato muito exótico, para quem esperava no máximo comer peixe cru. Tinha o formato de um polvo, era transparente e gosmento como uma água-viva, e vinha no copinho como sorvete. Pensou em perguntar que bicho era aquele, mas sabia que no fundo talvez fosse melhor nem saber. Aproximava aquilo da boca, quando a criatura abriu o único olho que boiava em sua forma gelatinosa entrando em fuga, sendo abocanhada em seguida por uma outra criatura desprezível.

– Você demorou demais. – A sereia de cabelos brancos e calda no tom mais escuro de roxo que Lenny já vira, lambia os dedos.

– Ula. – Tristan quase rosnava seu nome.

A presença dela havia mudado o clima amigável que antes reinava entre os cinco. Aísha ficara séria, Marcel agarrava-se firme a seu braço mal conseguindo olhar para a outra. O único que parecera não ter mudado era Risal, mas isso era porque uma peste reconhece a outra.

– O quê...? Não está feliz em me ver? – Ela se envolveu em Titã tentando tocar seu rosto com a sensualidade e maldade de uma cobra.

– O que está fazendo aqui? – Ele segurou sua mão antes que lhe tocasse a face.

Segurava o pulso com tanta força que poderia quebra-lo se quisesse. Ela a puxou de volta e ele a largou.

– Ora o mesmo que todo mundo. Isso é uma festa não é? Só estou... Me divertindo. – Continuava falando com veneno, debochando de suas caras. – Agente se vê.

– Espero que não.

O ar de guerra só pode ser emancipado após a partida daquele ser. Todos voltavam a seu normal, como se estivesse amanhecendo ou voltando a respirar sossegados. O garoto ali sentia-se exilado da historia, tal qual alguém que lê o livro pela metade, um filme já em seu final. Por tanto não estava no direito de perguntar. Nem precisou. A peste que havia ficado, respondeu seus pensamentos.

– Ex-namorada e Bruxa do mar. Péssima combinação – Risal se quer se virou para falar. Olhava apenas para o amigo que ainda estava parado de costas a eles.

Antes que pudesse analisar melhor aquilo em sua mente. Risal o empurrou na direção de Titã. Lenny olhou pra trás querendo voltar, mas Risal deu um soco na própria mão o ameaçando. Ele se aproximou devagar do outro, parando de frente para suas costas. Não sabia o que dizer. Queria lhe abraçar, consolar o ser mais forte sem seu peito como ele o havia feito. Erguia a mão para tocar-lhe, no momento em que tocou um sinal sonoro, alertando a todos.

– Os jogos vão começar!!! – Ele virou-se muito repentinamente, mostrando a todos o seu sorriso. Após a tempestade, Tristan era o sol.



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Notas finais do capítulo

Não fasso ideia de quem está lendo isso. escreva pelo menos "eu" nos comentários e me incentive a continuar.
‎('.../')
(◕.◕) Até logo nii-chan.
(,,)(,,)



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