Ponto de Vista – Madelene Skinker.

                As pessoas continuavam a se amontoarem nas portas das salas que davam para o corredor. Eu andava em passos rápidos, querendo fugir da multidão, mas, parecia que a multidão me perseguia. Aquilo me era incomodo e incrível ao mesmo tempo, era espantoso o jeito com que as pessoas continuavam a se amontoarem nas pontas dos pés apenas para darem uma espiadela em mim, como se eu estivesse por traz de uma vitrine.

                Eu não gostava daquela atenção exagerada, mesmo depois de sete anos de convivência comigo, todos pareciam achar que aquela era a única vez que me veriam no mundo e em razão disso deviam formar uma verdadeira carnificina apenas para me olhar de esgueira.

                Porém, eu não os culpava, afinal, meu nome soava como uma aberração ou algo que saia do normal. A primeira nascida-trouxa indo para a Sonserina, ao ver deles, eu fugia das regras normais impostas por eles mesmos.

                - Isso é incrível. – Praguejou Samantha do meu lado enquanto folheava pela última vez suas anotações para a prova de Transfigurações. – Eu posso invadir o Grande Salão bem na hora do almoço quando ele estiver apinhado de pessoas, montada em um dragão e nua, que nunca vou chamar tanta atenção quanto você.

                Sorri amargamente.

                - Que tal colocar isso em pratica? Sabe, só uma experiência – Malfoy surgiu com um sorriso malicioso nos lábios enquanto Sam revirava os olhos. – Iria chamar mais a minha atenção do que a Madelene. – Ele segredou rindo de uma piada particular.

                - Some, Malfoy. – Ela disse batendo nele com o livro de transfigurações, e o mesmo caiu com um estrondo no chão enquanto o loiro gemia de dor, e logo depois apanhava o livro, olhando as anotações de Sam.

                - Essa prova vai ser a pior do semestre. – Samantha segredou enquanto colocava os cachos ruivos para traz da orelha – Ainda bem que vai ser em dupla. Espero que você tenha estudado. – Completou me olhando de esgueira de uma forma ameaçadora.

                - Eu sempre estudo. – Falei amargamente, enquanto Malfoy se afastava de nós em direção do banheiro masculino e Sam e eu íamos em direção da sala de transfigurações no Primeiro Andar.

                Transfigurações era a matéria mais complexa, ainda mais com Dumbledore como professor, mesmo assim ele fazia de suas aulas uma verdadeira inspiração. Por traz daqueles óculos de meia-lua e daquela barba prateada, havia tanta sabedoria quanto o possível.

                Eu me dedicava inteiramente aos estudos, principalmente agora no sexto ano, faltando apenas um ano para a formatura e deixarmos a escola finalmente. Os conteúdos estavam cada vez mais complicados e as matérias cada vez mais complexas e de difícil entendimento. Eu e Sam sacrificávamos vários dias ensolarados por uma biblioteca mofada a fim de nos dar bem nas aulas.

                Finalmente chegávamos na sala de transfigurações, quando Sam parou de repente.

                - O que houve?

                - Malfoy... Ele pegou meu livro de transfigurações e não devolveu. – Ela disse, olhando para mim alarmada – E agora?

                - Vai atrás dele, eu vou entrar. Mas, volta logo, não quero fazer a prova sozinha. – E com isso ela saiu correndo em disparada em direção do banheiro masculino e eu juntei os dedinhos para ela não inventar de entrar lá dentro correndo.

                Entrei dentro da sala, me surpreendendo em ver todos já com suas duplas formadas e sentados em mesas de dois. Os únicos que permaneciam sem par erámos eu e Riddle, que esperávamos Sam e Malfoy.

                - O que vocês estão esperando? – Dumbledore perguntou.

                - Ér... Minha dupla ainda não chegou, professor. – Disse com cautela, esperando que Sam entrasse rapidamente por aquela porta ou arrancaria cada cabelo ruivo de sua cabeça.

                - E você, Sr. Riddle?

                Ele sorriu.

                - Creio que a minha dupla está apanhando da dupla dela neste exato momento, professor. – Ele falou, e eu nunca ouvi palavras tão certas vindo de Tom quanto aquelas.

                - Então sejamos prudentes, o Sr. e a Srta. formem uma dupla, que a dona Willows e o senhor Malfoy formarão outra, e assim não atrasaremos mais a prova.

                - Mas...

                - Nem mas, Madelene. Creio que Samantha não ficará brava convosco sendo que o erro foi cometido por ela e não por você. – Ele disse entregando uma folha de pergaminho em minhas mãos e um cálice cheio de água para o teste prático, e eu assenti, me sentando ao lado de Riddle que molhava a pena no tinteiro.

                - Espero que saiba ao menos o conteúdo. – Ele disse gélido.

                - Por favor, creio que sei mais do que Malfoy. – E depois de um minuto ele apenas assentiu, vendo a verdade em minhas palavras, e começando a escrever nossos nomes nas folhas com letra caprichosa. – Faça as primeiras questões enquanto eu faço a parte pratica. – Instruí e ele concordou.

                Em poucos segundos com apenas um movimento de varinha, o copo de água era um ponche cor magenta, conforme o pedido. E então comecei a ajudar Riddle nas questões que ele não sabia que eram poucas e raras. E acabamos acabando nossa prova antes mesmo de algumas pessoas terminarem de ler todas as questões.

                Ele colocou a prova por baixo do tampão da sua mesa, junto com o ponche que havia ficado perfeito, e então começou a brincar com a pena e o tinteiro.

                Dumbledore aos poucos começava a recolher as provas de quem havia acabado, pegando umas três, incluindo a minha e de Riddle, para pegar a de Sam e Malfoy, que até o momento atual não haviam parado de discutir.

                Sam entregou o pergaminho, e Dumbledore falou um tanto irritado com as briguinhas:

                - E o cálice com o ponche? – Perguntou o grisalho.

                - Está com ele. – Proclamou a ruiva, olhando de relance para Malfoy perguntando em um tom ameaçador – Não está?

                A pele branca do loiro parecia papel, e ele ficava cada vez mais pálido, afastando sua carteira da de Sam, e falando com cautela.

                -Sabe, Willows. É que você correu atrás de mim até a Torre de Astronomia, então, meio que me deu sede... E eu não podia sair da sala... Então pensei que não faria mal nenhum caso eu tomasse... Acidentalmente, todo o... – Ele engoliu em seco enquanto ela tinha a face da mesma cor dos cabelos e então completou vacilando: - ponche... Ah, não me bata! Por favor! Não me bata!

                Malfoy pedia de joelhos enquanto a sala se enchia de risadas, e Sam parecia dobrar de tamanho enquanto saia fumaça das narinas e ela dava um tapa ruidoso nas faces pálidas dele. Pensei que veria uma marca vermelha onde a mão dela pegou, mas, não havia uma marca. Não, haviam cinco marcas, uma para cada dedo da mão da ruiva.

                - Tom Riddle e Madelene Skinker! Levem esses dois para o professor Dippet, e tire-os da minha frente... Já! – Dumbledore perdeu a compostura, e a sala se silenciou, enquanto uns forçavam para não rirem enquanto Malfoy cobria o rosto com as mãos, e praguejava contra uma Samantha com os braços cruzados contra os seios e uma cara emburrada.

                Andamos em silencio a maior parte do caminho, decidimos pegar primeiro gelo para as feridas que estavam se formando para depois irmos até o diretor. Sam ia na frente ainda com os braços cruzados, quase levando a tapeçaria junto enquanto andava chutando a mesma. Eu e Malfoy íamos logo atrás, enquanto eu tentava força-lo a colocar o gelo nas feridas, e ele resistia bravamente aos meus cuidados. E por último, Riddle andava atrás, soltando gargalhadas, sobre ameaças de morte do loiro e da ruiva.

                - Ainda não acredito que você bebeu o ponche – Falei desolada, enquanto finalmente Samantha e Malfoy começavam a achar a situação cômica de mais para ser trágica.

                Tom então começou a liderar o grupo, pois parecia ser o único que sabia exatamente onde era o gabinete do diretor, e quando finalmente chegamos lá, apenas os dois entraram, me deixando no Hall com Riddle.

                Era estranho estar ali, principalmente ao lado dele. Sempre era um campo minado estar ao seu lado, não se sabia quando estava em terreno firme e poderia dizer o que quisesse, ou quando uma bomba estaria prestes a estourar. Aquilo era um pouco doentio, o jeito como a submissão era simples a todos quanto a Riddle, como se ele fosse uma verdadeira ameaça. Suspirei, jogando na sorte se estaria minado o solo que eu pisaria a seguir.