A Casa Dividida escrita por Redbird


Capítulo 40
As certezas do intendente


Notas iniciais do capítulo

Olá meu povo :) mais um capitulo para vocês. Espero que gostem. Beijos da tia Red!!!



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O mundo girava. Parecia que ela havia levado uma pancada na cabeça porque tudo o que conseguia distinguir eram borrões. Algo gelado estava pousado em sua testa. Demorou um tempo para que se desse conta de que era um pano. Katniss ficou furiosa. Porque eles simplesmente não a deixavam morrer? Provavelmente ela iria morrer mesmo.

Lembrava de ter tomado um tiro. Fora isso que a detivera na fuga. O calor da pólvora que ela mal sentira, o horror de visualizar seu sangue escorrendo e a arma de Snow apontada para ela. Seus amigos desesperados tentando resgatá-la no meio da fuga. Tudo isso parecia tão distante que ela se perguntava se era real. Se alguma coisa era real. Tudo o que ela conseguia sentir era uma dor excruciante na perna e uma tontura enlouquecedora.

Katniss sentiu uma presença. Estranhamente, ela não sentiu medo. Não se importava mais com nada. Peeta estava a salvo, Prim estava bem longe a uma hora dessas com o marido e seus amigos abolicionistas estavam bem. Ela sentiu algo parecido com preocupação ao imaginar alguém morto. Mas ela sabia, por uma dessas estranhas forças da natureza, que todos eles estavam bem.

Alguém tocou sua testa. Katniss também sentiu seu pulso sendo apertado. Provavelmente estavam tentando verificar se ela ainda estava viva,

–Ela está voltando senhor- disse uma voz que Katniss não reconheceu.

–Obrigada Doutor Flickmann- Antigamente, quando ouvia essa voz, tudo o que sentia era pânico. Agora, ela apenas conseguia sentir um desgosto intenso. Não era nem mesmo parecido com o ódio que já sentira antes.

–Você-continuou a voz de Snow- Traga mais panos e cuide dela. Assim que a moça acordar quero saber imediatamente. Estamos entendidos?

–Sim senhor! - Katniss reconheceu a voz como sendo a da moça que lhe trazia comida enquanto estava encarcerada,

Ela queria continuar dormindo, gostaria de dormir para sempre. Esquecer a dor, esquecer tudo. Simplesmente partir. Apesar disso, seu coração continuava batendo teimoso e rebelde. Isso era um saco, com certeza. Ela não soube por quanto tempo ficou assim, em um limbo de dor .Seus músculos estavam protestando com tanta força que ela teve que abrir os olhos.

–Oh deuses- ela ouviu a mulher correndo para pegar um pouco de água- Tome um pouco senhorita.

Katniss se obrigou a engolir um copo d´àgua.

–O que houve?- Sua voz soou diferente, como se ela estivesse com dois quilos de areia dentro da garganta.

–Você foi atingida na perna. Conseguimos retirar a bala e você teve um pouco de febre. Acho que vai ficar bem.

Katniss não respondeu. Ela se perguntou porque Snow se importou em deixá-la viva. Ela observou a mulher. Tinha duas tranças negras e a pele morena. Uma perfeita californiana. Tinha um semblante tão triste que, apesar de tudo, Katniss lembrou-se de ser gentil com ela.

–Obrigada- falou em espanhol. A mulher se virou para ela surpresa.

–A senhora....

–Falo espanhol? Claro que sim. Nasci aqui como você, antes da Califórnia fazer parte dos Estados Americanos.

A mulher apenas assentiu.

–Vou avisar o senhor que a senhorita acordou.

–Não!- a palavra saiu da boca de Katniss antes que ela pudesse pensar- Por favor, eu não quero vê-lo. Não agora.

A mulher olhou para Katniss sem saber o que fazer, provavelmente a garota não a havia colocado em uma boa posição.

–Senhorita- O medo na voz da mulher era tão obvio que Katniss se sentiu mal por ela. Snow deveria ser um péssimo patrão. Infelizmente ela não precisou lutar muito com sua consciência.

–Ora, que surpresa- disse Snow- Bom ver você acordada.

–Por que não me deixa em paz? Eu já disse tudo o que queria saber, por que você não atirou em mim quando pode? O que quer de mim?

Snow pareceu considerar por um momento as perguntas de Katniss. Ele olhou para a empregada que ainda parecia assustada.

–Pode ir - Mandou o intendente. Katniss ficou surpresa com a rapidez com que a mulher saiu. Snow não deu a mínima atenção a empregada, mas só falou assim que ela estava bem longe.

–Uma pergunta interessante. Achei que seus amigos poderiam querer pagar um resgate por você. Além disso, apesar do que goste de imaginar, eu não mato por prazer. Consegui mantê-la presa aqui, já é uma vitória.

Katniss não pôde esconder a surpresa, um resgate. Ela não ligou muito para isso, precisava sair dali. Não queria ficar mais nem um minuto perto de Snow ou dos escravagistas. Por outro lado... Seus amigos não estavam a salvo? Se, e esse se era uma possibilidade bem pequena, ela conseguisse voltar para seus amigos, eles estariam em um perigo bem maior. Quanto ao resgate, mesmo que seus amigos quisessem eles não teriam como pagar nada a Snow.

–Não se dê ao trabalho de pedir resgate- disse Katniss dando de ombros- Eles não pagarão.

Snow olhou para ela com uma expressão zombeteira.

–Você claramente não sabe quem é. De qualquer forma senhorita Everdeen, também a mantive aqui por que acredito que possa me dar informações úteis.

–Eu já disse tudo o que sabia- contestou Katniss rápido.

–Claro, claro. Mas sei que você ainda tem mais informações. Não sou tolo ao pensar que as dará de boa vontade, no entanto.

Katniss sentiu um arrepio involuntário imaginando como Snow pretendia fazer com que ela falasse. "Não há nada que ele possa fazer contra mim agora" pensou ela . "Peeta e os outros estão a salvo é nisso que preciso me concentrar".

–O que você pretende fazer?-Perguntou Katniss desafiadoramente- Me deixar sem comida, me torturar. Eu não tenho mais nada a dar você.

–Ora, ora. O que você deve pensar de mim. É claro que sou um homem persistente. Mas, convenhamos minha menina, se eu realmente fosse o tipo de homem que você pensa que eu sou, você já seria minha há muito tempo.

A moça estremeceu com o pensamento. O coração dela tinha atingido uma velocidade avassaladora. Tinha que decidir o que fazer. Voltar para seus amigos era impensável. Ela já tinha dito o que podia. Não sabia muito sobre o movimento, e mesmo que soubesse, claramente não contaria a Snow. Como se tivesse sido enfiada a agulha, a memória de seu envolvimento no movimento a atingiu em cheio. O dia em que Peeta a chamara para trabalhar. O dia em que realmente decidira lutar vendo Tresh sendo ameaçado pelo capataz. Bom, talvez essa fosse sua luta final, era melhor ela lutar decentemente.

–E que tipo de homem é você senhor Snow?- desafiou Katniss.

Snow sorriu para ela. Era incrível que, depois de tanto tempo, eles estivessem tendo um diálogo tão calmamente.

–Do tipo que defende o que acredita. Do tipo que geralmente consegue o que quer. Sou acima de tudo senhora Everdeen, um patriota. Que luta por aquilo que acha certo por seu país.

–Então você acredita que a escravidão esteja certa?

–Não seja ingênua senhorita. Certo e errado não estão em discussão aqui. O que está em jogo é nossa nação. Como você acha que sobreviveríamos sem a escravidão? Ela é uma das bases de nossa economia. Sem ela, os Estados Unidos da América não seriam nada mais do que cinzas.

Katniss não respondeu. Ela lembrou de um livro que havia lido há um tempo atrás e de algo que seu pai dissera. "Pessoas com certezas são perigosas Katniss. É a dúvida que te faz sábia. E ela que sempre deve guiar você". Pessoas cheias de certezas faziam guerras. Matavam, até que sua verdade fosse a única absoluta. Snow era esse tipo de pessoa. Acreditava que, para salvar sua preciosa nação deveria sacrificar centenas, milhares a escravidão.

–É isso que você diz a si mesmo toda vez que vai dormir?- Questionou Katniss, olhando intensamente para o intendente.

–Eu não sou um monstro senhorita Everdeen, apenas tento manter a ordem. Ofereci a senhora a chance de um casamento. Cheio de riquezas, tranquilo e feliz. Algo que ninguém nunca tinha oferecido antes. E você simplesmente desistiu de uma vida segura.

–Essa vida segura custaria minha felicidade- falou Katniss, sentindo a ferocidade novamente tomar conta de seu coração.

–Palavras bonitas- comentou Snow- Mas me diga Katniss, o que seria da sua preciosa liberdade sem segurança? Sem comida, abrigo ou conforto? você achou realmente que poderia ter uma vida ao lado daquele professor?

Só a menção de Peeta foi o bastante para que Katniss olhasse para outro lado desconfortável.

–Ele é um bom homem sabe-avaliou Snow-Ele deve realmente amar você. Senhorita Everdeen, você bagunçou a vida desse pacato professor abolicionista.

A negação deveria vir rápida e pronta, só que a verdade era que Snow tinha razão. Ela havia quase acabado com a vida de uma das poucas que pessoas que acreditara nela. E isso doia. Ela pensou que ele estaria melhor longe dela, houve momentos, enquanto ela estava no campo de batalha. cuidando dos soldados, que ela tinha ficado grata de estar longe de Peeta.

–Você deveria ter ouvido sua mãe. É Incrível como vocês jovens têm a tendência a nunca escutar a voz da razão. Mas não se preocupe, esta guerra está praticamente ganha pela União. Lincoln nunca vai deixar que o país se separe. A abolição por outro lado....

Fazia tempo que Katniss não tinha noticias sobre a guerra. Os campos ficavam muito separados uns dos outros e as mulheres raramente ficavam sabendo de algo que não fosse um ferido para ser curado dentro de sua tenda.

–O que você quer dizer com isso?-inquiriu a garota mesmo sabendo que seria muito difícil conseguir uma resposta do intendente.

– A guerra começou a mais de um ano. As coisas estão esquentando agora. Você sabe, conseguimos recuperar cidades como Memphis e algumas forças navais da União já estão em direção ao norte- disse Snow, recitando fatos como se não tivessem importância nenhuma- Não nego que os confederados estejam lutando bravamente. Talvez essa guerra demore mais do que pensamos, no entanto, a vitória é praticamente certa.

Katniss lembrou dos soldados que vira, praticamente mau trapilhos, vivendo em farrapos e descalços. Infecções eram tão comuns que a maioria dos soldados morria mais de doenças do que no campo de batalha propriamente dito. Ela se perguntou o que seria deles se a guerra se arrastasse por mais alguns meses. se ela durasse mais um ano provavelmente estariam todos mortos.

–Eu sempre achei que você tivesse alguma ligação com os confederados- comentou Katniss- Todo tempo estive certa disso.

–Os confederados? Por favor, não me confunda com esses idiotas. Não passam de caipiras sulistas. Caipiras sulistas traidores, ainda por cima. Se você acha que defendo a escravidão, bom com certeza. Essa é a única coisa que mantem nossa adorável nação intacta. E acredite minha cara, não há nada mais importante para mim.

A garota estava atônita demais para responder. Ela apenas podia se perguntar o que seria dela agora.

–Nossa cidade está quase livre de abolicionistas. Eu disse a você que não tinham chance.

O sorriso vitorioso do rosto de Snow era insuportável. A moça queria por tudo o que era mais sagrado do mundo fazer com que ele desaparecesse. Ela não aguentava mais conversar com o intendente. Fez a única coisa que podia fazer, virou-se de costas para o homem e esperou que ele fosse embora. Felizmente o intendente não demorou muito.

A lembrança da promessa feita a Peeta ainda estava presa nela. Ela imaginou como ele estaria. Talvez estivesse tentando resgatá-la. Talvez achasse que ela já estava morta. Ela implorou para uma força divina que ele acreditasse que ela estava morta. O conversa com Snow servira para que Katniss se desse conta de que ele estaria mais seguro, mais seguro não, mais feliz, longe dela. Snow uma vez dissera que ele poderia ter um futuro. Só de imaginar ele com alguém fazia o coração de Katniss se partir em mil pedacinhos... mas ele merecia isso. "Eu amo você", pensou ela, "Eu sempre vou amar. Espero que seja feliz".

Snow veio no inicio da noite falar com ela. Katniss não respondeu. Nem quando ele disse que não tinha noticias dos amigos dela. O alivio foi tanto que Katniss fechou os olhos e mergulhou naquela melodia. Não respondeu quando ele disse que eles já deveriam ter vindo resgatá-la se a amassem de verdade. Ela não falou mais com ninguém. Talvez Snow a deixasse trancada pelo resto da guerra. Talvez ele se cansasse dela.

Snow vinha visitá-la pela manhã e no inicio da noite. Ele apenas a cumprimentava, perguntava como ela estava e quando ela não respondia ele suspirava impaciente e ia cuidar de seus afazeres diários. A noite ele vinha checar se ela havia comido.

–Sabe, não podemos continuar desse jeito para sempre- disse ele olhando distraído para a janela na noite do quarto dia- Irei enviar um pedido de resgate. Talvez eles pensem que você esteja morta, por isso ainda não tentaram resgatá-la.

O frio tomou conta da pele de Katniss ao pensar em seus amigos tendo que pagar um resgate para ela. Não queria isso. Deveria ter dado um jeito de fugir. Mas com a perna ruim e o medo da retaliação de Snow... ela estava numa encruzilhada. Apesar do medo, Katniss não respondeu.

A garota ouviu alguém vindo correndo de dentro da casa.

–Me disseram que o senhor estaria aqui- disse um soldado. Katniss reconheceu com sendo um dos homens que sempre estavam perto de Snow.

–O que você quer? Não deveria estar com o resto da tropa ou guardado a prefeitura?

–Senhor, este é axatamente o problema. A prefeitura...seu escritório. Está em chamas. Os abolicionistas...eles estão nos atacando.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Espero que gostem. Acho que estamos chegando a reta final. nem acredito!!!!! Beijooos



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