A Casa Dividida escrita por Redbird


Capítulo 32
O Resgate


Notas iniciais do capítulo

Olá minha gente! Mais um capitulo. Devo confessar que demorei por que estou tendo um bloqueio criativo, uma crise de identidade sei lá.... Mas enfim... aqui está! Obrigada por lerem e eu realmente espero que gostem.



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É engraçado como nos acostumamos com a dor depois de algum tempo. Já faziam cerca de três dias que Peeta estava naquele lugar esquecido por Deus e ele sentia o desespero lentamente se transformando em letargia. As feridas da mãos já não o incomodavam tanto. Ficar na mesma posição era desconfortável, mas isso não era o pior.Os guardas o alimentavam, é claro. Embora fosse pouco, não era esse tipo de fome que estava matando Peeta.

Ele poderia ficar cem anos naquele lugar, poderia comer a metade do que comia, poderia inclusive sobreviver com aquelas malditas cicatrizes feitas com as cordas que o aprisionavam. O que ele não podia suportar era a falta de noticias. Peeta não sabia se Haymitch havia sido pego e se Snow e Coin tinham conseguido atingir Katniss de alguma maneira.

Havia algo novo também. No inicio, Peeta sendo uma pessoa pacifica, alguém que prezava pela razão acima de tudo, não reconheceu. No entanto, agora ele sabia muito bem o que era esse novo sentimento que invadira seu coração e sua mente quase o cegando. Ódio, puro e simples. O professor não sabia que era capaz de sentir esse sentimento de uma maneira tão intensa. Contudo, bastava imaginar Snow tentando fazer algum mal a Katniss que ele sentia seu sangue ficar quente como se tivesse mergulhado nas águas de um vulcão.

Ele tentara diversas vezes sem sucesso conversar com os seus carcereiros, mas tudo o que conseguiu foram mais chutes e pontapés. Peeta estava imaginando quanto tempo ele demoraria para esquecer como era uma voz humana porque nenhum dos soldados se dava ao trabalho de falar com ele, muito menos mostrarem seus rostos.

Ele só conseguiu a sombra de uma voz algumas horas (ou dias, tempo era uma coisa muito relativa tinha começado a perceber) quando disse que faria o que eles quisessem se deixassem Katniss em paz, que diria tudo o que precisassem ouvir se não encostassem nela. O soldado apenas sorriu pegou uma jarra de água que ele havia deixado para Peeta que mal conseguia alcança-la e despejou seu conteúdo em cima do professor.

–Melhor você estar limpinho para receber o intendente então- disse o soldado rindo. O homem saiu da cabana, não sem antes dar mais um pontapé nas costelas já doloridas de Peeta.

Então o silêncio seguiu. Ele não sabia o que iria acontecer agora. O que fariam com ele ou com seus amigos. Tentou ficar o mais calmo possível, desespero não iria adiantar nada, essa era a única certeza que ele tinha agora. Ele tentou ouvir os barulhos produzidos pelos soldados do lado de fora da cabana mas, como sempre, só ouviu o som da sua própria respiração.

Peeta não tinha como medir o tempo, mas ele sabia que a noite provavelmente iria chegar e isso não seria nada bom. O frio, a escuridão, as dores e o medo, tudo se acentuava e tinha um aspecto diferente durante a noite. O professor se lembrou de uma das lições de filosofia que tivera com Katniss. Tinha sido logo depois que ela chegara em sua casa, numa daquelas tardes maravilhosas de estudos.

–Eu não sabia que você gostava tanto de Séneca- disse ele observando como a garota se empolgava ao falar do filosofo.

Katniss sorriu para ele envergonhada. Era estranho como ela se envergonhava exatamente das coisas que ele mais gostava nela.

–Gosto da força dele, sabe- disse ela corando vagamente.

Peeta olhou para ela com a sobrancelha erguida.

–Força?- perguntou incrédulo- Ele se matou por que alguém mandou, ele aceitava as coisas como eram. Não é exatamente esse meu conceito de força e coragem.

Katniss riu.

–Você entendeu errado Peeta. Ele não aceitava tudo exatamente, ele apenas sabia que haviam coisas que ele não podia controlar. E ele não morreu por que ordenaram, mas para provar algo.

Peeta observou melhor Katniss, ela estava estranhamente pensativa

–Esse tipo de Filosofia realmente atingi você não é?- falou gentilmente.

A garota mordeu o lábio decidindo se dividia com ele seus pensamentos ou não. Deuses, como era difícil chegar à mente dela, mas todas às vezes que ele conseguia era como se tivesse entrado em um mundo totalmente novo, cheio de maravilhas que só ele podia explorar.

–Eu sempre tentei controlar minha vida. Sempre procurei sentido nas coisas. É o que nós humanos fazemos. Veja minha mãe. Ela passa a vida preocupada com status, com dinheiro, com o que os outros vão pensar dela. Apesar disso, toda vez que ela consegue um pouco mais de prestigio, um pouco mais daquilo que ela quer, ela continua sendo amarga, sempre querendo mais. Não faz sentindo.

– É por isso que você gosta da filosofia Estoica? Por que ela é exatamente o contrário do que sua mãe é.

–Não. Gosto desse pensador por que prega que, apesar de tudo, você tem que ter coragem de aceitar que existem coisas que não pode mudar. Você tem que observar os fatos e fazer o melhor que pode com aquilo que tem. Isso não é covardia Peeta, é aceitação. E são coisas bem diferentes.

Peeta sentiu que talvez nunca fosse entender realmente o modo como a mente de Katniss funcionava embora, pensou ele agradavelmente, valia a pena tentar.

–É uma bela maneira de pensar- disse o professor olhando admirado para a mulher que tinha do lado. Katniss, felizmente não percebeu seu olhar já que estava dentro de seu próprio mundo.

– Não sei, só sei que foi como consegui sobreviver a todos esses anos com a ausência do meu pai e o mal humor da minha mãe- disse ela dando de ombros , os lábios contorcidos num resquício de sorriso.

Peeta não entendeu por que essa memória veio tão forte em sua mente. Era como se fosse uma resposta a um instinto de sobrevivência. Ele podia ouvir claramente uma voz sussurrar através dela, seja forte, seja corajoso. Isso não vai durar muito. Uma estranha paz invadiu o seu coração. Tudo vai ficar bem, ele repetia para si mesmo como um mantra enquanto o vento começava a soprar mais gelado e seu corpo se deixava levar caindo em um sono profundo.

Ele não reconheceu os sons que invadiram a cabana quando acordou algum tempo depois. Primeiro, ele pensou que poderiam ser os soldados, fazendo festa e brincando entre si. Depois, quando ficou claro que eram gritos, ele se ajeitou para ouvir melhor. Só conseguiu ouvir mais gritos indecifráveis e o que pareciam ser patas de cavalos.

Provavelmente, pensou amargamente, devia ser alguém vindo para matá-lo. Num momento de delírio ele achou que tinha visto uma flecha passar por cima da única janela do local. Os soldados estavam em polvorosa ele percebeu. Alguma coisa estava errada, mas ele não ousou ter esperanças. Ninguém poderia encontrá-lo ali, poderia?

Estava acontecendo uma luta do lado de fora, tinha certeza. O Barulho aumentava cada vez mais. De repente a porta se abriu com um baque surdo e Peeta achou que seu coração iria sair pela boca.

Os cabelos negros trançados, os olhos cinzas que para ele sempre tiveram o poder de lembrar um lago calmo ou uma terrível tempestade. Seu vestido estava molhado e sujo com o que parecia lama. Seu rosto estava arranhando e ela tinha as mão sujas de sangue. Apesar disso, pensou Peeta olhando a aparição, ela nunca esteve tão linda.

Ele tentou falar mas não conseguiu, ele estava atônito demais.

–Oh Peeta, o que fizeram com você?- Disse Katniss gentilmente, o livrando das cordas que o prendiam a uma cadeira.

Katniss o ajudou a se sentar, ainda o segurando gentilmente. Peeta percebeu que ela era forte para alguém pequeno. E os olhos dela... pareciam que tinham roubado todas as nuvens do céu.

–você... isso não é um sonho é? – finalmente conseguiu falar.

Katniss não respondeu, apenas o ajudou a levantar enquanto olhava apressada pela porta. Assim que os dois deram um passo dois soldados entraram na cabana. Ele tentou gritar quando viu duas armas apontadas para Katniss, mas sua voz não saiu.

Felizmente a garota foi mais rápida. Atirou um flecha na perna de um deles que caiu no chão com um berro de dor. Katniss se jogou para o lado para evitar a bala do outro soldado que ainda estava de pé, caindo por cima de Peeta. Ele mal teve tempo de discernir algo e Katniss já tinha atingido o soldado com uma flecha na barriga.

–Vamos- ela gritou para Peeta se apressar.

O grito tirou Peeta de sua letargia e os dois correram o mais rápido que as pernas enferrujadas do professor permitiam. Por sorte, o cavalo que Katniss tinha roubado estava bem perto dali. Ela fora esperta o suficiente para desmontar em um local onde ela poderia pegar os soldados de surpresa com os cascos do cavalo e ainda sim proteger o animal. Katniss ajudou Peeta a subir e os dois se puseram em uma cavalgada rápida.

–Você- disse Peeta enquanto tentava se segurar- É maravilhosa, sabe disso não sabe?

–Me agradeça quando estiver a salvo e quando eu souber para onde estamos indo.

Peeta não pode evitar, deu uma sonora gargalhada. Sentindo todo o alivio e adrenalina invadirem seu ser como bálsamo.

–Psiu!- disse Katniss fingindo contrariedade- Você vai avisar a todos os soldados que estamos aqui.

–Você não acha que eles já sabem com todo o barulho que o cavalo está fazendo ?

A verdade era que Peeta não se importava. Ele estava a salvo, Katniss estava a salvo. E eles estavam fugindo a toda velocidade em cima de um cavalo. A vida não poderia estar melhor. Katniss apenas fez mais um psiu e ele se contentou em aproveitar o momento silenciosamente, se perguntando a onde eles iriam parar.

Sua resposta veio uns 20 minutos mais tarde, quando Katniss parou o cavalo na frente de uma casinha humilde, feita de madeira. Ele pode ver um fogo saindo pela pequena chaminé e agradeceu internamente a parada. Ele não sabia quanto tempo mais suas pernas poderiam aguentar a corrida.

–Onde estamos?

Katniss mordeu o lábio. Havia preocupação saindo por todos os seus poros, percebeu Peeta.

– Essa é a casa de Lisbeth , mãe de Rue. Eu não queria envolvê-la nisso mas...

Peeta assentiu, se sentindo culpado, o alivio sumindo por completo. Eles estavam correndo muito perigo, lembrou finalmente. Ele quase deu de cara no chão quando desceu do cavalo, mas Katniss o ajudou a manter o equilíbrio. Os dois foram se arrastando até a porta da casinha.

Assim que Katniss bateu, um senhor de aparência muito velha abriu a porta. Ele vestia um macacão surrado e Peeta percebeu que o homem tinha dois dentes faltando.

– Hum... podemos falar com Lisbeth?- perguntou Katniss nervosa.

Uma mulher de meia idade apareceu na porta. Ela estava com um avental sujo de ovo e suas mãos estavam brancas. O olhar era triste, mais triste do que Peeta poderia lembrar de ter visto em alguém um dia.

– Katniss- disse a mulher quando reconheceu a menina parada ali na porta- Deus, o que aconteceu com você menina?

–Desculpe senhora, mas nós não tínhamos nenhum outro lugar para ir. Será que poderíamos nos esconder aqui? Apenas por essa noite. Prometo que não causaremos problemas.

A mulher assentiu e os empurrou para dentro da casa.

–Sinto muito senhora... por Tresh... eu- começou Peeta, mas foi interrompido por um aceno de mão da senhora.

–Oh querido não fale, você está muito fraco. Levo o para os quarto dos fundo Katniss.

Katniss fez o que e mulher disse e colocou Peeta em uma cama que apesar de ser pequena, parecia bem confortável.No momento seguinte ela já estava limpando seus cortes e machucados com um pano umedecido e explicando a Lisbeth tudo o que tinha acontecido. Lisbeth e o homem que abrira a porta estavam de saída.

– Mary vai ter um bebê hoje, estou indo lá para ajuda-la. Provavelmente vai levar a noite toda. Vocês ficarão bem aqui durante essa noite. Há um pouco de comida na cozinha.

–Obrigado Lisbeth- disse Katniss. A mulher apenas sorriu para os dois e saiu porta a fora.

–Acho que agora posso agradecer não é?- Perguntou Peeta enquanto sentia o pano úmido aliviando sua pele aos poucos.

– Acho que agora é seguro – disse Katniss com um meio sorriso para ele.

O coração de Peeta falhou uma batida ao contemplar mais calmamente o rosto de Katniss.

–Você está machucada também –disse ele, sua mão percorrendo as bochechas dela.

Peeta sentiu Katniss tremer ao toque, sem saber o motivo ele também tremeu. Não ajudou em nada Katniss colocar os dedos sobre sua mão.

–Eu vou ficar bem. Ah, o que eles fizeram com você Peeta?

–Snow...

–Psiu, tudo bem. Não quero que pense nisso.

O cansaço era quase insuportável. Katniss era só um borrão de cabelos e mãos, mas ele queria ficar conversando com ela. Queria perguntar como ela tinha conseguido o arco para atirar naqueles soldados, queria perguntar como ela chegara até lá, como ela tinha aprendido a lutar tão bem, no entanto, tudo isso sumiu de sua mente.

– Apenas durma, vai ficar tudo bem. Eu vou ficar aqui com você.

Sem pensar, ele seguiu o conselho de Katniss e deixou que o sono o vencesse. Amanhã teriam muito que resolver, mas agora... eles estavam seguros, eles estavam juntos. E isso era tudo o que importava.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Espero realmente que tenham gostado. Obrigado por lerem. Beijoos



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