Sabrina POV.

Demorou um pouco para eu perceber que a presença de Lilith havia feito eu ficar mais pálida e que meu cabelo havia ficado agora num negro tão intenso que chegava a ser surreal, assim como meus olhos. E a parte azul dele estava tão intensa quanto, chegava a um ponto de parecer natural. Eu não corri ou ao menos me dei o trabalho de apertar o passo para chegar menos atrasada. A maioria dos campistas parecia não ver Lilith, ou se viam, simplesmente ignoravam. Mas eu acho que era meio difícil ignorar uma menina pálida igual um papel, com cabelo negro como a noite e sorriso presunçoso e maligno. Até que, de uma hora pra outra, uma menina de cabelos castanhos cacheados e olhos intensamente familiares apareceu na minha frente, olhando para a Lilith.

– Demônio. – murmurou, secamente.

– Você... Pode vê-la? – perguntei, e a menina assentiu. – Quem é você? – franzi o cenho, a encarando.

– Bruna. Pode me chamar de Bru. Sou filha de Hefesto. – deu de ombros e eu soltei o ar furiosamente. Filha de Hefesto. Por isso os olhos familiares. Eram iguais aos do... Leo. Ela sorriu de canto. – Você está indo para a aula de esgrima não é? – assenti, pensativa. – Muito bem. Vou acompanhar você e a demônia. – deu de ombros indiferente. Lilith riu.

– Bom que sabe o que sou, garota. Vamos querida. – Lilith voltou a andar, me levando com ela, e Bru veio atrás, bocejando como se ver um demônio no meio do acampamento chamando alguém de querida fosse a coisa mais normal do mundo. Enfim, andamos até o campo de esgrima. Chegando lá avistei um filho de Ares lutando furiosamente com outro garoto qualquer. Encostei-me numa parede, sorrindo presunçosamente e um tanto fria. Os olhos se voltaram para mim, alguns surpresos, outros abismados. Leo estava ao lado da Drew, parecia entediado com algo que ela falava, mas quando me viu ajeitou a postura e me olhou de um jeito estranho. E então, voltou os olhos para aonde Lilith estava e quase caiu. Ficou pálido e parecia ofegante. Drew franziu o cenho para ele, voltou os olhos para mim e me olhou superior e com ódio no olhar. Dei de ombros, e percebi que a luta havia sido interrompida por um gritinho indignado dela. Aproveitei a deixa, andando calma até Quíron, que parecia aborrecido.

– Perdão, diretor. Mas parece que alguém está com problemas com o autocontrole. – alguns campistas riram, e dei de ombros. – Por fim, eu adoraria batalhar, se não fosse incômodo para os meninos. – meus olhos faiscaram e os garotos que batalhavam saíram do campo instantaneamente. Esses donzinhos especiais de filha de Hades eram bem úteis. Quíron assentiu.

– Então criança, com quem gostaria de batalhar? – perguntou, com sua calma eterna. Voltei meus olhos a todos, com calma, e vi Lilith olhando diretamente para um deles. Sorri presunçosamente e disse ao centauro.

– Eu desafio Leo Valdez para uma batalha frente a frente, até o fim.

Leo POV

Legal. Já não bastava aquela menina sombria que eu havia visto ontem estar olhando com aqueles olhos perversos para mim. Sabrina ainda tinha que me desafiar para uma luta. Eu não queria lutar com ela, feri-la, mesmo estando com um ódio profundo da mesma. Só que eu não recusaria essa oferta com todos os olhares sobre mim. Então saquei minha espada e disse, com calma.

– Eu aceito.

Narradora POV

Sabrina sorriu, e sua nova amiga Bruna lhe jogou uma espada, rindo internamente. A mesma a pegou, e Leo andou até o meio da roda de campistas, um tanto hesitante.

– Comecem. – anunciou Quíron. Ambos começaram a batalhar furiosamente. Colocavam todos os sentimentos, ódio, mágoa, fúria, e muitos outros embutidos nos seus movimentos. Leo desviou de um ataque que estava visivelmente direto ao seu pescoço e arfou, olhando a garota em dúvida. As espadas voltaram a se chocar, ecoando pelo local todo. Os campistas estavam num silêncio profundo, e sua atenção estava voltada totalmente a batalha, que não havia piedade. Leo conseguiu fazer um corte no braço da sua oponente, que o encarou indignada. Ela passou por baixo da espada do garoto, desviando de um ataque, enquanto encostava a própria lâmina na dele, dando uma volta e a fazendo voar para longe. A expressão surpresa do moreno se transformou em medo, enquanto o rosto antes concentrado da garota se transformava em algo sombrio. Podia-se ver um corte no rosto da mesma, que ele nem ao menos lembrava de ter feito. Ela passou o dedo no corte, retirando o sangue e encarando o mesmo. Então, pode-se ver uma menina de cerca de 10 anos, pálida, andando até a filha de Hades com um sorriso perverso. Ela segurava uma foice, a qual estendia para Sabrina. E era esse o momento de decisão.

– Aceite. Mate-o. – a menina dizia, e por cima de sua voz podia se escutar uma voz demoníaca. A filha de Hades então ficou confusa. Leo olhou para a menina-demônio assustado, e então voltou os olhos para os de Sabrina, a fitando intensamente. Ele sabia que a decisão que ela tomasse iria definir o destino de ambos. E nesse momento a garota se viu prestes a tomar uma decisão. Ela poderia rejeitar a foice e sair como uma fraca. Ou ela poderia aceita-la, e matar o garoto por quem havia se apaixonado. E essa decisão... É bem mais difícil do que vocês imaginam.