Um Sonho Inesperado escrita por Miss Swen


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Eu realmente tive que fazer isso!
Espero não decepcionar ninguém no 15º capítulo, mas era uma coisa que eu não conseguia mais adiar.
Enjoy!



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Durante todo o caminho pensei sobre os acontecimentos daquele dia.

Segui para minha casa no meu carro e Jane no dela.

Eu podia me fazer de forte e agir com naturalidade diante dos meus sentimentos, mas no fundo para mim também ainda era confuso. No fundo eu também tinha medo.

Passei a maior parte da minha vida sem ter muitos amigos, mas eu falo daqueles de verdade, que estão com você quando precisa, quando pensa que não precisa e que são capazes de te irritar ao mesmo tempo em que te encantam.

Até alguns anos atrás eu vivia sem esse tipo de contato, tudo era muito superficial e direto, como na faculdade, onde a maioria das pessoas que se aproximavam de mim tinham o único intuito de conseguir algo em troca.

Com o tempo eu me acostumei à ideia de conviver sem isso, acreditei mesmo que não fosse uma coisa tão importante, e então quando menos esperei conheci Jane.

Claro que em um primeiro momento não nos demos bem, depois houve a surpresa de que iríamos trabalhar juntas, e após alguns dias de pura implicância as coisas melhoraram.

Mas quando isso aconteceu eu não criei expectativas, acreditei que seria como sempre foi nos outros lugares em que trabalhei, seríamos colegas e nada mais, ela me respeitaria e juntas faríamos o que devíamos fazer dentro do campo profissional.

Então tudo o que aconteceu em seguida me surpreendeu, mas eu não recuei, simplesmente deixei que ela se aproximasse. Me convidando para beber algo junto com seus colegas depois do expediente, fazendo piadas com meus comentários, e inclusive eu ria deles, coisa que não era do meu costume.

E foi isso o que essa amizade fez comigo, ela me tirou um pouco fora dos padrões que eu seguia, ela me mostrou que improvável não significa impossível, e o tempo passou, dando lugar a um sentimento maior, mais forte, algo que definitivamente não estava nos meus planos.

Eu sabia que tudo havia mudado depois daquele beijo, mas também podia ver o medo e a incerteza nos olhos dela, e mesmo lutando para parecer forte, não conseguira ignorar o meu próprio medo de como seria tudo dali em diante.

Afinidade sempre foi um fator essencial para o relacionamento romântico entre duas pessoas, Jane e eu tínhamos isso, já que éramos amigas há bastante tempo.

Cada movimento novo era natural, e mesmo que ainda carregado pelo medo, nós conseguíamos deixá-lo de lado e seguir em frente.

Naquela noite quando fui para casa e não encontrei Angela em lugar algum eu me senti desconfortável, mas decidi acreditar que o desencontro foi causado pela escolha do horário em que eu tinha chegado. A verdade é que mesmo sabendo que ela entendia toda a situação e de alguma forma havia aceitado, eu continuava com medo de como passaria a me olhar depois de tudo.

Sempre disse que eu era como sua filha também, e agora como encararia sua filha de coração apaixonada por sua filha de sangue?

Eu não sabia se conseguiria suportar algum tipo de rejeição ou sequer uma mera mudança no modo como ela me tratava, afinal, era tão bom tê-la sempre por perto.

Minha agonia só piorou pela manhã, quando eu não a vi novamente e a casa de hóspedes estava vazia.

Fui para o trabalho decidida a falar com ela, mas quando cheguei não a vi lá também, então resolvi falar com Jane, ela poderia me dar uma explicação.

E foi o que fez.

Logo que me contou o motivo da ausência de Angela eu me tranquilizei, embora a ideia de uma provável conversa futura ainda me deixasse nervosa.

Então o dia seguiu com a aparição inesperada de Christopher que tomou atitudes violentas me deixando sem ação, assim como Jane chegou na hora certa e tudo se resolveu, resultando na prisão dele.

Sempre me considerei uma pessoa muito sensata, direta, e por vezes sincera demais, o que para mim estava longe de ser um defeito. Mas assim como possuía essas características também gostava de ponderar minhas palavras, preferia ter certeza antes de dizer algo, porém, tudo estava muito diferente nos últimos dias.

Prova disso eram minhas atitudes e frases tão impensadas diante daquele novo relacionamento entre minha melhor amiga e eu. Sim, porque eu já me sentia confortável para intitular tudo com um relacionamento oficial, ainda mais depois de Jane afirmar ser minha namorada na frente de Christopher, e depois garantir que realmente quis dizer aquilo.

Ela ainda não se sentia pronta para dar o próximo passo, o que era perfeitamente normal, já que fomos apenas boas amigas por anos, então a ideia de envolver sexo ainda a assustava.

Eu não sabia como poderia ser, e provocar Jane era algo que vinha fazendo quase que automaticamente, pois quando me dava conta já havia dito ou feito algo que a deixasse completamente desconfortável. E o que mais chamou minha atenção foi que eu não conseguia me sentir mal por isso.

Eu estava deixando acontecer, esperando para ver onde iria dar, e claro que isso contrariava tudo em que eu sempre acreditei, e no início isso me assustou, mas depois que analisei bem toda a questão, finalmente entendi que desde o começo nada daquilo fazia muito sentido, então por que deveria mudar agora?

O caminho para casa foi tranquilo, pelo retrovisor pude ver o carro de Jane seguindo o meu.

Por volta de 20 minutos mais tarde cheguei à minha rua, entrei com o carro na garagem e saí a tempo de vê-la sair do dela, que estava na rua.

Esperei que se aproximasse e abri a porta.

Ao entrarmos eu segui na frente e ela fechou a porta.

Coloquei minha bolsa sobre o sofá e fui até a cozinha pegar um copo d’água.

– Quer beber alguma coisa? Tenho cerveja na geladeira. - olhei a tempo de vê-la retirar arma e distintivo e colocar sobre a mesinha que ficava ao lado do sofá.

– Ainda não, pretendo continuar consciente.

– Você mesma disse que não é porque aconteceu uma vez que iria acontecer em todas, lembra?

– Lembro, mas mesmo assim prefiro não arriscar.

Arriscar?

Por quê ela estava tão nervosa?

– Tudo bem, eu vou colocar minha bolsa no quarto e tirar esse casaco, volto logo.

Ela assentiu e eu saí.

Cheguei ao quarto, coloquei a bolsa sobre a cama e tirei o celular de dentro dela, verifiquei para ver se estava tudo em ordem e deixei em cima do travesseiro.

Retirei o casaco preto que vestia e fui até o banheiro.

Parei em frente ao espelho e olhei para o meu reflexo.

Passei os dedos suavemente em baixo dos olhos para suavizar qualquer sinal de cansaço e voltei para o quarto.

Estava saindo quando passei em frente a outro espelho, esse permitia que eu visualizasse todo o meu corpo.

Assim alisei o vestido e passei as mãos pelo cabelo.

Tudo estava bem.

Tudo daria certo.

Não é?

Peguei meu celular.

Ao chegar na sala encontrei Jane observando minha estante, ela folheava alguns livros e depois partia para alguns troféus. Coloquei o celular sobre a mesinha de centro.

Me aproximei dela.

– O que está fazendo? - perguntei.

Virou para mim um pouco surpresa, mas em seguida relaxou.

– Vendo sua coleção. - apontou para os troféus.

– Não é exatamente uma coleção, apenas representam alguns méritos.

– É importante mesmo assim, por quê nunca me falou sobre eles?

– Porque você nunca perguntou.

– Nós duas sabemos muito bem que você não precisa que ninguém te pergunte nada quando quer falar alguma coisa, só saí falando e pronto.

– E isso é um problema?

– Não se você começar a falar agora sobre esses troféus.

– Ok. - peguei uma das peças – Esse eu ganhei quando tinha 16 anos, minha escola fazia uma competição de ciências todo ano e eu vivia tentando ganhar, mas naquele ano me superei.

– Tanto que venceu.

– Exatamente. - peguei outro – Esse foi durante a faculdade, no meu terceiro ano pra ser mais exata, o campus organizava um movimento que estudava as possibilidades de melhorias no ensino, e embora tudo fosse de ótima qualidade, eu consegui criar algumas maneiras alternativas, e por vezes mais eficazes também.

– E eles seguiram suas ideias?

– Não de imediato, o diretor estava ocupado demais para deixar o orgulho de lado e admitir que uma aluna fosse capaz de resolver os problemas que ele não conseguia, e então quando percebeu que não tinha outra saída, resolveu se abrir aos novos métodos.

– E você ganhou o crédito por isso?

– Não, mas não me importei, afinal, eu sabia que foi ideia minha, e isso já era mais do que o suficiente. - mais um troféu – Esse é de uma cerimônia de premiação em Los Angeles feita para pesquisadores de novas formas de recuperação de digitais.

– E você conseguiu?

– Sim, e nesse campo foi o primeiro e único. - falei com certa melancolia.

– Ainda vai ganhar muitos outros Maura, eu sei disso.

– Obrigada. - peguei o último – Esse é o mais recente, de alguns meses atrás pra falar a verdade.

– E o ganhou pelo que?

– Uma das crianças de uma fundação que eu ajudo deu ele pra mim... - olhei melhor para o objeto que me trazia lembranças – Disse que eu o merecia ficar porque era uma boa pessoa.

– Criança sábia essa.

Retomei a concentração.

– Isso foi um elogio? - perguntei sorrindo enquanto colocava o troféu de volta na estante.

– Depende de como seu ego vai ficar, porque depois de todos esses prêmios acho que um mínimo agrado pode fazê-lo estourar.

Nós rimos e sentamos no sofá.

– E como vão as coisas com o caso?

– Difíceis, tudo que conseguimos leva a lugar nenhum.

– Amanhã posso revisar os exames e te avisar se surgir algo novo.

– Eu sei. - ajeitou a postura – Mas não quero falar sobre isso hoje, minha cabeça já está muito cheia de toda essa loucura e depois do que o Buckmann aprontou eu só quero esquecer.

– Ainda temo pelo que ele pode fazer, estava com tanta raiva.

– Já disse que não ligo pra isso, será que você poderia não ligar também?

– Vou tentar, mas não prometo nada.

– Ótimo, tentar é um bom começo.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

– Estive pensando, nós poderíamos...

– O que? - me interrompeu apressadamente.

Notei que ela estava ansiosa.

Mas por quê?

– Você está bem?

– Estou, é que... Bom, você disse que tinha algumas ideias antes da gente vir pra cá e eu só queria saber o que era.

Ah, isso!

Ela estava nervosa pelo que eu falei.

E por quê será que a minha vontade de provocar continuava tão forte?

– Oh claro, eu pensei que ao invés de pedir comida, poderíamos fazer algo juntas.

– Fala de cozinhar?

– Isso.

– E desde quando você cozinha? - cruzou os braços.

– Desde que consegui livros de receitas realmente maravilhosos, mas quase nunca posso usá-los porque sua mãe sempre se oferece para assumir a cozinha e mesmo que eu tente recusar ela insiste.

– Faz bem o estilo dela.

– E então, podemos?

– O que?

– Cozinhar Jane, cozinhar.

– Claro! - se levantou e eu fiz o mesmo – Só não bote fogo na casa... Mas espera, a casa é sua mesmo. - sorriu.

Peguei as coisas de que precisava e lavei minhas mãos, Jane fez o mesmo.

– Ok, já tenho tudo aqui. - olhei para os ingredientes sobre a bancada.

– Tem certeza que sabe mesmo fazer isso?

– Só é necessário ler. - peguei o livro e entreguei para ela.

– E por que eu? A ideia foi sua!

– Sim, mas eu me sinto melhor em contato com os alimentos.

– Ah, se sente? Certo, e já sabe o que exatamente vamos preparar?

– Você gosta de espaguete não é?

– Claro, eu sou italiana.

– Então vai ser isso.

– Não precisa.

– Mas eu quero.

– Maura, eu sei que nem é seu tipo de comida preferida.

– O paladar de uma pessoa pode mudar.

– Sim, mas...

– Eu não vou discutir isso, e estou te dando passe livre para reclamar caso não fique bom.

– Mesmo?

– Sim.

Semicerrou os olhos.

– Está bem. - folheou o livro e depois o colocou sobre o balcão de novo – Se vamos fazer espaguete não precisamos disso!

– Mas é um ótimo livro.

– Eu não duvido, assim como também não duvido da minha capacidade de cozinhar um prato que eu adoro sem precisar ler.

– Como quiser. - peguei o livro e o guardei de volta no lugar.

Aos poucos fomos preparando tudo, uma panela para a massa e outra para o molho.

Jane despejou o molho ainda com o fogo desligado e pegou os temperos.

– Posso fazer isso? - perguntei.

– Poder você pode, só não tenho certeza se é mesmo o que quer.

– Pois eu tenho. - peguei a faca da mão dela e trocamos de lugar.

Com cuidado fui cortando em pequenos cubinhos cada tipo diferente de ingrediente.

– Eu pretendo comer ainda hoje, poderia ser mais rápida por favor?

– A pressa é inimiga da perfeição.

– Sim, mas é melhor amiga da fome.

– Eu estou tomando cuidado com isso Jane, é preciso saber o que se faz para não se machucar pois a faca passa muito rente aos dedos.

– Está brincando? Você abre corpos todo santo dia e fica insegura com uma faca?

– Não estou insegura, e esse não é um assunto muito apropriado para se falar enquanto cozinha.

– Tem razão foi meio nojento, desculpe. - sorriu.

– Além do mais existe uma diferença enorme entre a precisão de um bisturi e de uma faca.

– E também existe a minha paciência, ou melhor, existia porque a sua demora está acabando com ela.

Nós rimos e assim que eu terminei o que estava fazendo ela se dedicou a terminar de preparar a massa.

Eu me perdi ao ver a concentração dela, cada movimento era tão natural e nada poderia ser mais reconfortante do que ver como ela se sentia bem ao fazer aquilo.

– Maura? - chamou e eu percebi que tinha ficado parada olhando-a.

– Sim?

– Você ligou o fogo?

– Pra que?

– Como pra que? Pra cozinhar o molho!

– Oh, não. Desculpe, eu me distraí.

– Percebi. Mas não tem problema, eu faço isso. - se aproximou e segurou no cabo da panela.

– Não, eu posso fazer. - peguei no cabo por cima da mão dela.

– Olhe a massa pra mim e eu cuido disso. - puxou com mais força para me fazer soltar, mas eu não cedi.

– Jane, eu posso muito bem... - puxei a panela para o meu lado.

Não sei ao certo como aconteceu, só sei que em segundos o molho estava por boa parte do meu vestido e um pouco no rosto e cabelo, resultado da força excessiva com que cada uma de nós tentou mostrar que era capaz de ascender o fogo.

– Oh Maura! Você está... - colocou a panela praticamente vazia de volta na bancada – Seu vestido... Sinto muito!

Olhei para mim mesma e tive uma reação que não esperava.

Eu ri.

– Tudo bem.

– Como tudo bem? Desde quando você não liga quando suja uma das suas roupas? Da última vez quando derramou vinho na blusa quase surtou pra tirar a mancha.

Arrisque Maura, arrisque.

– Sim e eu me lembro da sua cara quando tirei a blusa.

Ela ficou séria mas depois sorriu.

– Lembra?

– Perfeitamente, você não sabia o que fazer.

– Eu não sabia que sabia disso.

– Tem muitas coisas que eu sei mas não saio falando por aí. - nos olhamos por alguns segundos – Certo, eu vou tomar um banho e trocar de roupa.

– É, acho que se ficar aqui eu não vou conseguir manter um diálogo sem rir de você.

– Pode rir, porque enquanto eu tomo banho, você vai refazer o molho.

– Por quê? Foi você quem fez essa bagunça.

– Não, nós fizemos.

– Ótimo, então nós refazemos o molho. - segurou meu braço para me impedir de sair.

– Não, você refaz porque fui eu quem se sujou. Mereço um crédito não é mesmo?

– Ah Maura... - reclamou.

– Shhh... Eu já volto. – me aproximei e coloquei um beijo na bochecha dela, fazendo com que os cantos dos nossos lábios se tocassem.

Senti a mão dela liberar meu braço delicadamente e ao nos afastarmos me olhou nos olhos e sorriu.

*******************************************************************************

Estava no banho retirando todo aquele cheiro forte de tempero do meu corpo.

Como pude deixar algo assim acontecer?

E pior, como pude simplesmente não me importar?

Eu não sabia o que era, mas algo em estar com Jane durante aquele incidente o fez completamente cômico ao invés de trágico.

Enquanto meu pensamento voltava a tudo isso um sorriso surgiu nos meus lábios, então ouvi uma leve batida na porta seguida por uma voz.

– Maura, seu celular está tocando. - era Jane.

– E qual é o nome que está aparecendo na tela? - perguntei ainda embaixo do chuveiro.

–Richard.

Deixei o sabonete cair.

– Me passe o celular.

– Tem certeza? Quer dizer, ele não pode ligar de novo?

– Não, eu estou esperando essa ligação há semanas!

Pensei em pegar minha toalha para me cobrir mas quando olhei ela não estava por perto.

Não era assim que eu esperava que Jane fosse me ver nua pela primeira vez, mas quando notei ela já estava abrindo a porta do banheiro e parada de frente para mim.

– Ah... - estendeu o aparelho na minha direção – Seu celular... Aqui...

Devagar abri a porta do boxe.

– Pode pegar a toalha pra mim?

– Claro.

Num movimento rápido ela me entregou a toalha, eu sequei as mãos e peguei o celular.

Só tive tempo de ouvir a porta batendo antes de me concentrar na chamada.

Depois de resolver o que precisava coloquei meu telefone sobre a pia e terminei o banho.

Me enrolei na toalha e saí.

Abri a gaveta e peguei um conjunto de lingerie roxa, eu queria sair o quanto antes dali pois precisava entender como as coisas haviam ficando com Jane depois do nosso pequeno momento constrangedor.

Não queria fazê-la se sentir desconfortável.

Após vestir minhas peças íntimas lembrei que havia deixado o celular no banheiro e entrei para pegá-lo.

Ao sair me deparo com Jane na porta, ela parecia surpresa por me ver seminua.

Fale alguma coisa Maura! Vamos!

– O cheiro está bom.

– Como é?

– Da cozinha, está vindo um cheiro muito bom de lá.

– Ah é o nosso jantar. - falou ainda encostada no batente da porta.

– Conseguiu refazer o molho então? - coloquei o celular em cima da cama e abri meu armário para escolher uma roupa.

– Consegui. Por pouco não o queimei com essa história de te dar se celular, mas... - e não terminou.

– Me desculpe por fazer você passar por isso, não queria que se sentisse desconfortável, mas é que...

– Precisava atender aquela ligação. - completou, me interrompendo.

– É, mas ainda assim eu sinto muito.

– Tudo bem.

– Tem certeza?

– Nós tínhamos que começar de algum jeito, não imaginei esse, mas agora já foi. - sorriu.

– Ok.

Retomei minha concentração nas roupas.

Passei cabide por cabide observando melhor cada peça, até escolher um conjunto confortável e bonito.

– Então... Richard?

– Como? - retirei o que iria vestir.

– O cara que te ligou, o nome era Richard, certo?

– Isso mesmo. - fechei o armário.

– Ah... - cruzou os braços – Ex-namorado?

Oh meu Deus!

Ela estava com ciúmes!

Era tão bom poder ter certeza disso, e o modo como disse “ex-namorado” falou por si só.

– É isso o que você acha?

– Não sei, quer dizer, não seria a primeira vez que você esconde algo assim. O que ele é? Médico? Empresário? Ah não, já sei! Advogado!

– O que te faz pensar isso?

– Seu histórico. Ele quase grita que tem um fraco por pessoas que lidam com a lei.

Decidi entrar no jogo.

– É eu tenho mesmo... - vesti a calça – Afinal, não resisti a você.

Dito isso ela se calou por alguns instantes, o tempo para que eu colocasse minha blusa.

– Maura...

– Ele não é um ex-namorado.

– Não?

– Não. É o presidente de um grupo de estudos com o qual eu me envolvi, e uma pesquisa muito detalhada foi feita e ele prometeu que me ligaria quando os resultados esperados fossem obtidos.

– Por isso aquele desespero todo?

– Eu realmente desejava muito ficar sabendo, desculpe não te explicar no momento mas não podia correr o risco dele desligar.

– Por quê não?

– Porque como disse esperei semanas por essa ligação. - parei em frente à penteadeira e coloquei os brincos – Richard tem uma agenda muito atarefada, não podia me dar ao luxo de perder o pequeno espaço que ele abriu para mim.

– Entendi... É que eu pensei que Maura Isles não precisava implorar por esse tipo de coisa.

Virei para ela.

– Eu não implorei, mas sou humana Jane. Nem sempre consigo tudo o que quero na hora que quero.

– Oh, só um segundo, preciso me adaptar a essa nova informação! - colocou a mão no coração e fingiu estar passando mal.

– Você não consegue perder a piada não é?

– Não mesmo.

Nós rimos.

– E o como vai o nosso jantar?

– Mais alguns minutinhos e tudo fica pronto.

– Está bem, vamos lá.

Saímos as duas do quarto.

Ao chegar na cozinha Jane percebeu que sua noção de tempo estava errada, pois tanto o molho quanto a massa estavam prontos.

Ela desligou o fogo e eu distribuí os talheres, pratos e taças na mesa.

Então a vi experimentando o molho.

– Posso provar? - perguntei.

– Não, só quando for realmente comer.

– Por quê isso?

– Porque essa é minha obra prima, não posso simplesmente deixar que a prove, tem todo um sistema.

– Sistema? - me aproximei do balcão.

– Mas é claro, você disse pra eu refazer o molho, e eu refiz, mas não só isso. Também acrescentei alguns segredinhos.

– Quais?

– Segredos são segredos. A gente não conta.

– Tudo bem, pode pelo menos me dizer com quem aprendeu?

– Com a minha mãe. - misturou o molho com a massa.

Trouxe para a mesa.

Nós nos sentamos, consegui convencer Jane a tomar vinho no lugar da cerveja, servimos nossos pratos e desfrutamos o jantar.

Ao terminar eu servi mais uma taça de vinho para nós duas.

– Eu não sabia que suas expressões faciais eram tão adoráveis quando você está com ciúmes. - comentei.

– Ciúmes?

– Sim.

– E quando teve a chance de perceber isso?

–Hoje mesmo quando você mencionou o Richard, e seus músculos faciais enrijeceram, sua voz se tornou mais grossa e seu tom indicou dificuldade para expressar a frustração.

Ela sorriu.

– Quem disse que eu estava com ciúmes?

– Eu estudei muito, principalmente a reação dos seres humanos quando se deparam com determinadas situações, então fica mais fácil identificar o que você sente ou pensa.

– Deixa ver se eu entendi... Quer dizer que eu nunca vou conseguir passar despercebida por você?

– Não sou um detector, apenas me esforço.

– O tempo todo?

Peguei minha taça.

– Sempre que eu sei que vai valer à pena. - tomei um gole e coloquei a taça de volta sobre a mesa.

Jane afastou repentinamente a cadeira e passou as mãos no cabelo.

– Eu preciso de um banho.

– Como?

– Eu falei que preciso de um banho. - levantou.

– Por quê? Está se sentindo bem?

– Sim, eu só estou cansada e toda essa história de cozinhar...

– Oh, tudo bem. Você sabe onde tudo fica, só não tenho certeza se há algo pra você vestir. - levantei também.

– Não se preocupe, sempre carrego algumas roupas no carro. - sorriu – Nunca se sabe o que pode acontecer.

Assenti com a cabeça e a vi passar por mim saindo rapidamente.

Mas o que foi aquilo?

Só tive tempo de recolher alguns pratos e ela voltou, com a mesma pressa com que saiu.

Antes de perdê-la de vista consegui avisar.

– Sabe como regular a água não é? - perguntei.

Ela voltou um pouco.

– Sei, mas acho prefiro fria mesmo.

Sem mais palavras, ela apenas entrou no corredor e sumiu da minha vista.

Decidi pedir mais detalhes sobre a brusca mudança de comportamento depois.

Comecei a recolher as coisas da mesa.

Passaram-se 15 minutos e eu estava terminando de arrumar a bagunça sobre a pia, quando ouvi passo atrás de mim.

Me virei ainda com a torneira ligada e a vi de banho tomado, com os cabelos molhados e vestida com outras roupas.

– Se sente melhor? - perguntei.

– Sim, eu só estava com calor, só isso. - se aproximou um pouco – Você não devia ter limpado tudo sozinha, por quê não me esperou voltar?

– Porque você é minha convidada e eu já te fiz cozinhar, então o mínimo que podia fazer era... - virei para fechar a torneira mas esbarrei com a mão no lugar errado e a água molhou boa parte da minha blusa – Eu não acredito nisso! - fechei rapidamente a torneira.

Jane ri.

– Parece que hoje não é mesmo seu dia, primeiro o idiota do Buckmann surta pra cima de você, depois o negócio com o molho e agora...

– Agora molho minha blusa... - virei para que ela possa olhar melhor o estrago.

– Que é... Branca. - o sorriso desapareceu do rosto dela.

– Isso é um problema?

– Não necessariamente, mas de todas as inúmeras blusas que você tem, escolheu justo essa cor que... - fechou os olhos e suspirou.

Então eu olhei para o meu corpo e entendi o que ela quis dizer.

Devido a cor, a blusa ficou transparente, fazendo meu sutiã aparecer nitidamente.

Eu precisava pensar rápido, aquilo a estava deixando nervosa.

– Eu posso tirar...

– Não! Acredite, só pioraria as coisas.

– Jane...

– Você faz isso de propósito?

– O que?

– Isso... Ficar me provocando.

– Eu não estava fazendo isso.

Estava?

Será que deu certo?

– Está brincando comigo? Conhece muito bem o tipo de corpo que tem e a reação que ele pode causar numa pessoa e ainda vem dizer que não queria me provocar?

– Eu me cuido, faço exercícios e tenho uma alimentação adequada, portanto sei que estou em boa forma, mas posso dizer o mesmo de você.

– Sim, mas você não teve que me ver nua, eu não troquei de roupa na sua frente e nesse momento minha roupa está seca.

– Eu...

– E o que foi aquilo com a taça de vinho?

– A taça? - ela assentiu – O que tem ela?

– Não a taça em si Maura, mas o jeito com que você a pegou, e bebeu o vinho olhando pra mim.

– O que há de errado nisso?

– Faz alguma ideia do quanto foi... Sexy? - quase sussurrou a última palavra.

– Mas aquilo... Não foi a minha intenção, eu sempre fui assim.

– É, mas as coisas mudaram, esqueceu? Antes eu conseguia ver você agir desse jeito e ficar bem com isso porque éramos apenas boas amigas, mas agora a minha vontade é...

– É o que?

– Você sabe.

Eu me aproximei.

Estávamos a poucos centímetros de distância.

Eu não queria fazer nada de que ela pudesse se arrepender depois, também tinha um pouco de medo do passo seguinte. Mas tê-la ali tão perto de mim não me ajudou em nada a manter uma linha coerente de pensamento.

Só precisava de um mísero sinal e estaria entregue, mas Jane tinha que querer me receber.

– Não, não sei e detesto dar palpites, então diga!

Nossos olhos se encontram por vários segundos.

Meu coração acelerou, eu não tinha nada daquilo em mente, nunca quis criar aquela série de situações, mas se elas vieram e causaram aquela reação em Jane, e eu não seria louca de romper com tudo.

– Vem cá!

Quando me dei conta nossos corpos já estavam colados e em seguida os lábios juntos, em uma maravilhosa e constante dança prazerosa.

Jane ainda tinha medo, eu sabia disso, mas ao envolver os braços na minha cintura eu parei de me preocupar.

Ela tinha começado com aquilo, ela tinha iniciado o contato, eu não pararia com ele por nada nesse mundo.

Seus lábios desceram pelo meu pescoço e eu podia sentir seus cabelos molhados encostando no meu rosto.

Desceu a mão pelas minhas costas até chegar ao meu bumbum, onde parou e liberou um leve aperto, fazendo um tremor delicioso percorrer meu corpo.

Sim, eu sabia onde aquilo iria dar.

O que se seguiu foram uma sequência de passos atrapalhados e com pressa de duas pessoas cheias de desejo, incapazes de manter as mãos longe uma da outra.

Chegamos ao meu quarto e entramos ainda aos beijos, Jane parou por um momento e olhou para mim para depois fechar a porta com o pé, assim me dando a confirmação de que aquela seria uma longa e inesquecível noite.


Continua...



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Notas finais do capítulo

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