Um Sonho Inesperado escrita por Miss Swen


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Não darei muitas prévias nem explicações, vou deixar que analisem esse capítulo e digam o que pensam.
Mas eu definitivamente amei escrever isso!
Enjoy!



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Eu estava irritada, realmente muito irritada.

Como foi que as coisas fugiram do meu controle daquele jeito?

Aquele cara, o Buckmann... Eu sabia que algo nele me incomodava, mas pensei que fosse só a pose de sabe tudo e ar de superioridade, mas quando começou a demonstrar seu interesse por Maura tudo ficou ainda pior.

A voz dele me irritava, o cabelo dele me irritava, o modo como pronunciava o próprio nome ao se apresentar para alguém era capaz de me dar náuseas.

Eu logo vi que a presença dele não me agradaria no momento em que cumprimentou todos formalmente, mas quando chegou em Maura a coisa mudou de rumo.

Um beijo na mão? Isso era realmente necessário?

Claro que não, ele estava jogando charme.

Eu já tinha visto muitos caras como ele, sabia detectar logo quando tinham segundas intenções, e tudo em Buckmann gritava quais eram as dele.

Ao longo daquele dia tudo só piorou, a cena no necrotério foi apenas o começo, mas um péssimo, diga-se de passagem.

Estávamos os três diante do corpo da vítima e ele só olhava para Maura, até mesmo quando eu estava falando.

Era tão... Tão... Idiota.

Eu quis fazer uma simples piada, um comentário na verdade, mas ele não entrou no clima e ainda soltou um elogio disfarçado para ela.

Eu não sei se toda a raiva que senti naquele momento foi transmitida pelo meu olhar, porque logo Maura nos interrompeu e fez voltar ao trabalho.

Depois disso tive que aguenta-lo fazendo comentários sobre o ótimo trabalho dela e o quanto ela era meticulosa.

Elogios e mais elogios... Sim, eu sabia que eram verdade, ela realmente era tudo aquilo que ele disse, mas as palavras tinham um efeito cortante sobre mim quando ditas por ele.

Ciúme Jane?

Sério?

Você não costumava sentir ciúmes nem dos seus antigos namorados, então por quê ficou tão possessiva com alguém que ainda não fazia ideia dos seus sentimentos?

Talvez fosse porque ela e eu já vínhamos caminhando na linda da amizade há alguns anos e isso nos tornou muito próximas, talvez a nossa ligação só fez com que tudo se tornasse ainda mais forte.

Talvez, talvez e mais talvez... Eu estava tão cansada de tentar adivinhar, queria tanto ter certeza.

Eu estava ciente de que não fiz o menor esforço para disfarçar minha ira, já que na cena na lanchonete discuti com Maura como se fossemos um casal.

Sim, um casal. Era tão bom quando essa palavra não me assustava mais como antes.

Mas eu ainda tinha que falar com a minha mãe, precisava fazer tudo do jeito certo, sem mentiras, sem segredos e apenas a verdade, por mais difícil que ela fosse.

Eu liguei para ela para avisar que precisávamos conversar, mas sua voz estava péssima e ela logo me contou que havia pegado um resfriado, eu achei melhor esperar até que ela estivesse bem para conhecer as novidades.

Para ser sincera era bom ter um pouco mais de tempo para selecionar direito minhas palavras.

Depois de dizer como me sentia eu iria encontrar uma maneira de falar com Maura também, eu iria ajeitar tudo.

Só que a chegada daquele advogado imbecil estragou tudo.

Quando Frankie me disse que Buckmann a tinha convidado para jantar eu fiquei furiosa, e quando soube que ela prometeu pensar minha raiva só aumentou. Tentei convencê-la da melhor maneira que pude a não aceitar, mas não deu certo.

Não sei nem ao menos descrever o que senti quando Frost contou animadamente que ela tinha ligado para Buckmann para dizer sim ao convite dele.

Depois do que eu disse? Como ela pôde?

Eu fiz essas perguntas mas nada de concreto foi dito, apenas uma frase que mencionou sua última tentativa amorosa, mas quando questionei quem era, ela não me respondeu e foi embora.

Droga!

Saí da sala de Maura o mais rápido que pude, não me preocupei em fechar a porta, sabia que um dos assistentes fariam isso.

Entrei no elevador e voltei para o bullpen.

Tinha que me manter ocupada, caso contrário jogaria todos os meus planos pelos ares e diria de uma vez como tudo aquilo me magoava.

Quem sabe esse fosse o certo a se fazer desde o início.

Quando cheguei perto da minha mesa reparei algo de diferente no olhar de Frost, ele parecia tão nervoso e até mesmo... Envergonhado. Mas por quê?

Me preparei para perguntar o que tinha acontecido e o motivo dele me olhar assim, mas ouvi alguém me chamar:

– Jane! - era Frankie, que fez sinal com a cabeça para que eu me aproximasse.

– O que foi? - perguntei ao chegar perto dele, mas nenhuma resposta, somente o segui até o corredor – Frankie, o que foi? - repeti.

– Certamente você vai querer me matar por isso, mas eu tive que fazer.

– Fazer o que?

– Eu contei ao Frost sobre você e Maura.

– Você o que? - quase um grito.

– Eu tive que contar.

– Por quê?

– Como por quê? Ele ficava comentando direto sobre o quão bacana o Buckmann é dando dicas pra ele falar com a Maura, e eu vi o quanto tudo isso te irritava.

– Mesmo assim, eu nem sei direito o que fazer ainda e você já sai falando pra todo mundo.

– Eu não falei pra todo mundo, ele foi a primeira pessoa e a última, porque eu sei que é um assunto seu e não quero me meter, mas também não podia mais ficar vendo ele dar tantas mancadas sem saber do que estava acontecendo.

Pensei por um momento.

– Ok... E como ele reagiu?

– Ficou um pouco surpreso, mas depois mudou pra culpado.

– Culpado?

– É, ele não gosta de saber que o encontro entre a Maura e o Buckmann existe porque ele ajudou.

– Não é culpa do Frost, é minha e já está mais do que na hora de aceitar isso.

– Você continua muito confusa não é?

– Não tanto quanto antes, mas sim.

– E o que vai fazer?

– Sobre o que?

– Maura e esse cara...

– Não sei, quer dizer eu não acho que tenho o direito de interferir, ela nem sabe como eu me sinto.

– Será?

– O que quer dizer?

– Maura é inteligente, viu como você tem estado diferente e eu duvido muito que ela nem ao menos suspeite.

– Você acha?

Maura sabia?

Suspeitava?

Isso mudava muitas coisas.

– Acho, mas é a sua opinião que importa.

– Sim... Mas mudando de assunto, o que exatamente você disse ao Frost?

– Só o que ele precisava saber, nada demais. Falei que você descobriu novos sentimentos e que era difícil ver a Maura ser cortejada por outra pessoa.

– Cortejada? - sorri.

– Desculpe, foi o melhor que eu consegui.

– Certo, eu vou falar com ele. Deve estar pensando que quero matá-lo.

– É. - Frankie riu, e se afastou.

Voltei para minha mesa.

– Jane... Quero que você saiba...

– Está tudo bem.

– Mesmo? Você não ficou com raiva?

– Não por muito tempo, e além do mais você não tinha como saber.

– É, mas mesmo assim, eu sinto muito.

– Eu sei. - sentei na cadeira.

Não fiquei lá por muito mais tempo, somente até terminar minha última tarefa e fui para casa.

Não tive fome, só estava cansada.

No dia seguinte fiz tudo da mesma maneira, me arrumei e fui trabalhar.

Dei de frente com vários obstáculos sobre o caso, e como se não pudesse ficar pior, Buckmann chegou com um sorriso de orelha a orelha.

– Hey pessoal, bom dia!

– Bom dia. - Korsak respondeu.

Frost e eu apenas acenamos com a cabeça.

– Novidades? - perguntou.

Seja profissional Jane, mantenha o controle e não dê um soco nele.

Eu podia fazer isso, ou ao menos tentaria.

– Não, estamos num beco sem saída aqui.

– Oh, isso é ruim.

– Jura? - sorri do jeito mais falso possível.

– Alguém está de mau humor.

– E alguém está tentando fazer graça.

– O que? Não posso estar feliz? Hey Frost, já contou a ela sobre Maura e eu?

– Ah... Bem, sim. - Frost gaguejou e olhou para mim.

– É, ele falou algo a respeito.

– Eu acho estranho que ela não tenha falado diretamente com você, me disseram que eram amigas.

– E somos.

– Então por quê teve que descobrir através do seu parceiro?

Chega!

Me levantei mas Frost e Korsak me seguraram a tempo de não enfiar minha mão na cara daquele idiota.

– Você tem sorte Buckmann, muita sorte.

– E o que te faz pensar assim?

– Que alguém como Maura, que poderia encontrar uma pessoa mil vezes melhor, tenha te dado alguma esperança.

Passei por ele e esbarrei em seu ombro violentamente de propósito.

Eu quase tinha partido para os finalmentes, quase tinha feito algo que me arrumaria graves problemas depois.

Para minha alegria e segurança do meu emprego, Korsak e Frost serviram como espécies de intermediários ao longo do dia, sempre que discutíamos algo sobre o caso, Korsak falava comigo e Frost com Buckmann, pois ambos sabiam muito bem o que aconteceria se aquele cara me dirigisse uma simples palavra.

Eu não havia visto Maura o dia inteiro.

Coincidência, talvez.

Podia até ser melhor assim, pelo menos por enquanto.

A noite já começava a surgir e eu desci para pegar um café.

Me aproximei da maquina e segurei o copo enquanto o liquido quente descia.

Ouvi saltos, parecia loucura mas eu conheci o ritmo com que eles faziam barulho, aqueles passos não me eram estranhos.

Assim que terminei de pegar o café me virei e vi Maura em pé em frente ao balcão, fazendo seu pedido.

Criei coragem e cheguei perto dela.

– Oi. - falei timidamente.

– Olá. - respondeu.

– Eu não te vi o dia todo, tudo bem com você?

– Nós só não nos vimos porque eu não tinha nenhuma novidade, mas sim, estou bem. E você?

– Também estou.

Alguns segundos de silêncio e ela bateu as unhas no balcão.

– Já sabe pra onde o Buckmann vai te levar?

Se virou para me olhar, nossos olhos se encontraram mas ela logo fitou o vazio.

– Ainda não.

– Será que ele pretende fazer uma surpresa?

– Eu não sei.

– Espero que o lugar seja agradável.

Não, na verdade eu queria que esse lugar nem existisse. Queria que nada daquilo estivesse acontecendo.

– Eu também.

– Maura eu detesto que fique esse clima entre a gente.

– E como você acha que eu me sinto Jane? Só que nada disso pode mudar enquanto você não resolver o que precisa.

– E o que seria isso exatamente?

– Fale com a sua mãe.

– Eu ia, mas ela estava doente e preferi esperar.

– Sim, mas eu a vi hoje mais cedo e ela não apresentava mais nenhum sinal do vírus da gripe. Eu a considero perfeitamente capaz de manter um diálogo com você ou qualquer outra pessoa.

– Tem certeza?

– Absoluta.

– Então por quê ela não veio trabalhar?

– Não perguntei.

Minha mãe estava melhor, isso significava que a hora da nossa conversa havia finalmente chegado.

Fugir já não era uma opção.

– Certo, eu vou falar com ela.

– Que bom.

O pedido de Maura chegou, ela o pegou, sorriu para mim e saiu.

Quando foi que o sorriso dela se tornou tão encorajador para mim?

Mandei uma mensagem para Frost dizendo que ia sair para resolver algumas coisas, peguei meu carro e dirigi até a casa de Maura.

Estacionei e desci.

Nunca foi tão difícil bater naquela porta.

Com um certo sacrifício eu consegui.

Alguns segundos e minha mãe apareceu do outro lado, a expressão surpresa por me ver ali.

– Jane? O que faz aqui? - abriu caminho para mim.

Eu entrei.

– Vim te ver.

– Você está bem?

– O que? Não posso me preocupar com a minha própria mãe?

– Pode, só que isso raramente acontece. - andou até o balcão da cozinha onde pegou um produto de limpeza e começou a limpá-lo.

– Sem drama. - me aproximei – Por quê está fazendo faxina? Maura tem alguém pra isso.

– Sim, eu sei. Mas não custa nada ajudar.

– Tudo bem, e como se sente?

– Bem melhor na verdade. O remédio fez efeito.

– Isso é ótimo. - apoiei os cotovelos no balcão e respirei fundo.

Como aquilo iria terminar?

– O que você tem? - ela perguntou ao parar o que estava fazendo.

– Nada... Só estou cansada.

Belo começo Jane!

Sem rodeios, você consegue.

– Eu te conheço, tem algo errado.

– Eu não diria errado, mas sim confuso.

– E o que é?

– Mãe... - fechei os olhos e coloquei as mãos no rosto.

– Acho que é mais grave do eu que pensava... Venha aqui. - pegou minha mão e nós andamos até o sofá.

Sentei e ela fez o mesmo ao meu lado.

– É complicado.

– Mas você quer me dizer, certo?

– Eu preciso.

– Então diga, estou ouvindo.

– Não faço a menor ideia de como você reagirá a isso, porque eu mesma quando me dei conta fiquei apavorada e fiz uma série de besteiras.

– Tem alguma coisa a ver com o seu trabalho?

– Não.

– Oh, é sua vida pessoal então?

– É.

– Muito bem, pode falar.

– Promete que não vai me interromper?

– Jane...

– Prometa mãe, porque pra mim já é difícil demais criar coragem de vir até aqui, e se você romper a minha linha de pensamento eu sei que não vou conseguir terminar o que comecei.

Acho que ela entendeu que eu estava falando sério, pois mudou de expressão e garantiu.

– Eu prometo.

– Ok... - me ajeitei no sofá, mas não consegui olhar para ela, então passei a fitar a mesinha de centro ao falar – Eu estou apaixonada por uma pessoa.

– Oh, e por quê esse drama todo querida? Essa é uma coisa ótima, você não devia estar assim.

– Só que não é tão simples.

– Como não? Estar apaixonada é uma coisa maravilhosa, ainda mais depois de como as coisas deram errado com Casey, eu estava torcendo tanto pra que você encontrasse uma nova pessoa, sabe, eu sempre quis te ver casada e feliz, mas tudo bem se o casamento não estiver nos seus planos ainda, porque seja como for eu quero que saiba que eu...

– É uma mulher! - exclamei.

Não foi fácil interromper minha mãe daquele modo, mas ao perceber o rumo que aquela frase estava tomando eu tive que fazer algo, então quanto antes acabasse com aquela tortura melhor seria para todo mundo.

– O que? - não era um tom de acusação, apenas curiosidade, como a de quem não tinha ouvido direito.

Eu abaixei a cabeça e passei a esfregar a cicatriz na minha mão direita.

– A pessoa de que eu falei é uma mulher mãe, eu estou apaixonada por uma mulher. - fechei os olhos, eu não podia encara-la, eu tinha tanto medo.

– Oh... - apenas isso.

Espera, o que?

Peguei um pouco de coragem que eu ainda não sabia que tinha e levantei a cabeça.

Eu esperava encontrar a fúria, o desprezo, tudo, menos o que eu encontrei.

Ela estava tão calma.

Será que isso era bom?

– Mãe? - chamei com cautela – Você... Está bem?

– Sim.

Como assim sim?

– Não quer pular no meu pescoço, não vai me dar sermão, ou dizer que isso é horrível e que eu estou ficando maluca?

– Por quê eu faria isso?

– Porque você é a minha mãe e é o que sempre faz quando está brava comigo?

– Mas eu não estou brava.

– Certo, quem é você e o que fez com a minha mãe?

– Jane!

Mas o que estava acontecendo ali?

Aquilo era tranquilo demais para ser verdade.

– Ok! Se não está com raiva, está o que então?

– Surpresa, mas não muito.

– Não muito? Como assim? Já esperava por isso?

– Não exatamente, mas se for parar pra pensar você sempre caminhou em direção a isso.

Sim, isso era completamente diferente do que eu achei que seria.

– Ao que? Gostar de alguém do mesmo sexo? - ela não respondeu – Hey! Sempre pensou que eu fosse assim?

– Não foi isso o que eu disse.

– Então é melhor dizer logo de uma vez. Vai, pode falar, diga que isso é terrível, que estou te decepcionando e que é totalmente o oposto do que você sonhou pra mim. Sinta-se à vontade.

– Eu não vou falar nada disso.

– Por quê?

– Porque não é como eu me sinto.

– E como é então?

– Jane, você é minha filha e eu acompanho a evolução da sua vida amorosa desde que passou a ter uma. É claro que muitas vezes tenho que forçar a barra pra que me conte as coisas, mas ainda assim eu consigo me manter um pouco informada.

– E...?

– E que eu sei como a maioria dos seus relacionamentos não dá certo...

– Mãe!

– O que? Você queria que eu falasse e é o que estou fazendo.

– Tem razão.

– Enfim, o que eu quero dizer é que se você teve que passa por todas essas tentativas pra poder chegar em uma que dê certo, então eu não me importo com como ela vai ser.

– Está ciente que nesse caso o problema não é bem como ela vai ser, e sim com quem não é?

– Claro.

– E não se incomoda?

– Não... Quer dizer, talvez demore um pouco até eu me acostumar, mas não passa disso.

Oh meu Deus!

Tão fácil assim?

De todas as reações essa foi uma que não passou pela minha cabeça.

– Isso é estranho.

– Achou que eu fosse te repudiar? - confirmei com a cabeça – Eu nunca faria isso.

– Bom, é que você sempre acreditou na instituição da família e do casamento...

– E ainda acredito. Mas isso não me dá o direito de determinar como você deve viver a sua vida e por quem deve se apaixonar.

– Certo, é realmente estranho. Sabe, eu vim preparada pra tudo, pra uma guerra literalmente.

– Eu não sou esse monstro Jane! E além do mais me considero uma mulher muito moderna e com a mente bastante aberta.

– E quando foi que isso aconteceu?

– Saberia se me deixasse participar mais da sua vida ao invés de esconder as coisas de mim.

– Eu sei, sinto muito.

– Você sabe que eu tenho que te abraçar agora não sabe?

– E eu tenho outra escolha?

Ela negou com a cabeça e se aproximou de mim, me puxando para um abraço apertado.

Em outra ocasião eu teria reclamado, dito que precisava respirar e me afastado, mas decidi abrir uma exceção.

Afinal, fugir um pouco do planejado não seria tão ruim, já que nada parecia mesmo estar acontecendo como eu pensei que aconteceria. O mínimo que podia fazer era ceder ao momento, pelo menos por alguns segundos.

O tempo estava se esgotando e eu já me preparava para me esquivar e fingir irritação.

– Já falou com a Maura? - perguntou ainda me abraçando.

Ouvir o nome dela me fez ficar nervosa de repente.

Me afastei o mais rápido que pude.

– Ainda não, quer dizer, ela sabe mas não sabe quem é.

– Por quê não disse a ela?

– Porque eu ainda não estava pronta.

– Jane, não pode mentir para sua melhor amiga assim. - me preparei para assentir e dizer algo mas minha mãe completou – Ainda mais quando ela é a principal envolvida nisso tudo.

O que aquilo significava?

Onde ela queria chegar?

A olhei e vi um sorriso aberto e sincero, mas também com uma pitada de provocação.

– Como assim principal?

– Eu não sou burra Jane, sei muito bem de quem se trata.

– Sabe? - ela assentiu – Então quem é?

Eu precisava ter certeza de estarmos falando sobre a mesma coisa.

Não podia arriscar dizer logo tudo de uma vez e acabar arruinando o que podia ser um simples mal entendido.

– A única pessoa do sexo feminino com quem você passa tempo suficiente pra desenvolver um sentimento como esse. - intensificou o olhar e disse com uma naturalidade assustadora – Maura!

O que?

Mas como?

– Eu... - não negue Jane, ela já sabe mesmo – Como soube?

– Eu já disse, ela é a sua única e melhor amiga, vocês duas passam a maior parte do tempo juntas então fica mais fácil presumir.

– Eu não acredito, faz alguma ideia de como eu me senti quando me deparei com isso? De como... De como eu tentei fugir desse sentimento?

– Deveria ter falado com alguém.

– Eu contei ao Frankie, ou melhor, ele descobriu e eu só confirmei.

– Então o problema era mesmo comigo não é?

– Eu tive medo mãe.

– Mas agora, o que você vai fazer?

– Como assim?

– Pretende conversar com ela, certo? - mas eu não respondi – Jane!

– O que? Eu não sei. Tudo está tão diferente, o plano era dizer a verdade e elaborar toda uma série de motivos pelos quais você deveria entender como eu me sinto, pra só depois eu me preocupar com a Maura.

– Sim, mas já sabe que eu não sou mais um problema, então qual é o próximo passo? - perguntou animadamente.

– É impressão minha ou você está feliz?

– O que acontece se eu disser que sim?

– Bom, eu acharia tudo ainda mais estranho.

– Ok, esqueça a minha reação, esqueça o que eu penso. Se concentre em você e no que está sentindo e saberá o que fazer.

– Está mesmo me dando conselhos?

– É errado?

– Não, só incomum, já que eu não tenho mais 16 anos. - sorri.

– Se eu tiver que te impedir de fazer uma burrada, eu vou, não importa quantos anos tenha.

– Já vi que não tem outro jeito.

Pegou o telefone e o entregou para mim.

– Ligue pra ela.

– Não posso.

– Por quê?

– Porque nesse exato momento ela deve estar com o nosso consultor temporário, Dr. Christopher Buckmann em algum restaurante cheio de frescura da cidade.

– Um encontro? - eu assenti – Ok, então terá que ser rápida.

– Mãe!

– O que? Não tem tempo pra pensar, em vez de ligar você tem que ir até lá.

– Mas eu nem sei onde é.

– Você é uma detetive, descubra.

– Isso é sério?

– Muito.

– Mas o que eu digo?

– Pense nisso depois, agora se concentre em chegar até ela.

– Mas...

– Confie em mim.

– Sim, mas e se...

Então ela levantou rapidamente, e me puxou pela mão.

– Chega de ‘e se’ por hoje. - colocou a mão nas minhas costas e começou a me empurrar em direção à porta.

– Está me expulsando? - perguntei ao chegar na entrada da casa.

– Você não me deu outra alternativa.

– Sério?

– Até demais. - eu saí e me virei para olha-la, que continuou – Vá e faça o que tem que fazer, se preocupe com o resto depois. Boa noite. - fechou a porta.

Confuso demais, inesperado demais, tudo foi demais.

A conversa com minha mãe fugiu de todos os padrões que eu achei que iria seguir.

Ela não me odiou, não me repudiou e não quis me matar.

Eu estava confusamente feliz.

“... Faça o que tem que fazer...”.

Isso Jane, seja quem você sempre foi.

Aja primeiro e pense depois.

Peguei meu celular e liguei para Frost, alguns segundos e ele atendeu.

– Hey Frost, preciso que procure algo pra mim... Não, não é nada sobre o caso, só uma coisa que eu tenho que saber. - falei andando em direção ao carro.

***********************************************************************************

Olhei em meu relógio, já eram quase 20:00 hrs, Frost havia rastreado o paradeiro de Buckmann a pedido meu, usando o número do celular dele que possuía um GPS.

Eu estava dirigindo rumo ao tal restaurante no qual ele se encontrava.

Em momentos como aquele eu simplesmente amava a tecnologia e o tipo de poder que ela nos dá quando precisamos.

O fato de Frost não ter feito perguntas e prometido discrição a respeito do que eu tinha pedido me deixou mais tranquila, ninguém precisava saber como eu consegui encontrar Buckmann. Mas eu tinha que fazer, e ele não tinha dito a ninguém o nome do restaurante para onde levaria Maura, então dei meu jeito de descobrir.

Estacionei meu carro ao chegar na rua certa, vi o nome do lugar escrito em um grande letreiro: “Una Bella Donna”.

Um ponto a menos para ele, eu conhecia Maura, ela até podia apreciar comida italiana, mas a francesa era sua favorita.

Me aproximei do luxuoso restaurante mas o segurança não me deixou entrar a menos que eu tivesse uma reserva, pois estavam lotados. Mostrei meu distintivo mas não surtiu efeito, ele disse que eu só passaria por ele se tivesse um mandado.

Me segurei para não dizer umas poucas e boas, e logo me lembrei que tinha outros planos, e eles não incluíam discutir com um homem como aquele.

Dei alguns passos e fui em direção a lateral do lugar, uma bela e grande vidraça cobria toda a extensão permitindo plena visão de boa parte das pessoas que estavam lá dentro.

Não foi difícil ver Maura e Buckmann, já que estavam logo de frente para onde eu estava olhando.

Maura parecia incomodada, pouco à vontade. Era tão bom ver que ela não se sentia bem com ele, talvez eu só precisasse chamar a atenção dela, talvez tudo terminasse bem, ela não gostava daquele idiota.

Mas minhas esperanças foram interrompidas por uma imagem que fez meu coração disparar e trouxe um aperto ao meu peito que eu não acreditava ser possível até aquele momento.

Ele se inclinou pouco a pouco até ela, seus lábios quase se tocando, eu pensei que não aconteceria, que ela impediria e me deixei acreditar e animar por aquilo. Mas nada disso aconteceu.

Ela não o afastou, ficou parada e aceitou a aproximação e o beijo em seguida.

Eu sempre odiei expressões românticas e melancólicas na qual a pessoa apaixonada descreve como se sentiu ao ver quem amava nos braços de outro, mas não pude evitar usar as mesmas palavras.

Tudo era tão doloroso, o ar parecia se tornar pesado, meus joelhos fraquejaram e um gosto amargo me subiu até a boca.

Era terrível, torturante e desesperador.

Eu estava com raiva, queria acabar com Buckmann usando minhas próprias mãos. Mas não podia lutar por alguém que não me pertencia, eu tinha que ir embora.

De repente eles se separam e eu não sei ao certo quanto tempo aquele maldito beijo havia durado, só sei que do nada os olhos de Maura encontraram os meus, demonstrando surpresa e choque com a minha presença.

Eu não conseguia ficar ali, não conseguia.

Me virei e comecei a andar na direção oposta, eu precisava voltar ao meu carro, eu tinha que entender tudo, minha cabeça estava uma bagunça e meu coração doía muito.

Passei pelo segurança e avistei meu carro no fim da rua.

Aguente firme Jane, só mais alguns metros.

Então aquela voz que nunca gritava a não ser que fosse realmente necessário, aquela mesma voz com a qual eu já estava acostumada, chamou o meu nome.

– Jane!

Eu não devia parar, não era certo, eu não sabia o que fazer depois do que vi.

Então por quê eu parei?

Lentamente virei para vê-la caminhando na minha direção.

Não mantenha contato visual e tudo ficará bem.

– O que está fazendo aqui?

– Ah... Nada... Eu só queria falar com você, mas não é importante.

– Algo sobre o caso?

– Não.

– Então o que foi? - contrariei minha ideia inicial e olhei para ela – Você está chorando?

– Não. - tentei, embora soubesse que não daria certo.

– O que aconteceu?

Uma irritação tomou conta de mim.

– Nada Maura, eu já disse! Só vim até aqui pra falar uma coisa mas eu não queria atrapalhar.

– Atrapalhar o que?

– Vi você e aquele idiota, e sabe disso.

– Jane...

Eu não sabia mais o que fazer, estava tão cansada de lidar com isso sozinha.

Falar podia ser melhor, mesmo que não mudasse muito as coisas.

– Não, nem tente. Eu estou tão cansada e depois de tudo pelo que eu passei a última coisa que eu precisava era ver aquele cara com as mãos em cima de você!

– Ele não...

– Não o que? Hã? Eu vi vocês dois.

– E o que quer que eu diga?

– Nada... Quer saber? Você não tem que dizer nada porque você não me deve nada, nunca deveu. Eu que fui burra de achar que um dia...

Mas não terminei.

– Um dia o que? Diga! - agora ela parecia com raiva.

– Esquece...

– Não eu não vou esquecer! Não depois do jeito que você me olhou através daquela vidraça, não depois do que eu vi nos seus olhos.

Nos meus olhos?

– Eu não sei aonde quer chegar com isso, mas seja aonde for...

– Tem certeza que não sabe?

– Maura, eu só quero ir pra casa está bem?

– Vai fugir?

– Como é?

– Você me ouviu! Eu perguntei se vai fugir.

– Maura...

– Sim, porque isso é tudo o que você tem feito nos últimos dias, fugir!

– Você não faz ideia do que está falando! Nem sequer imagina o que eu tenho passado!

– Isso porque me excluiu da sua vida, fazendo com que eu sempre fosse a última a saber.

– Você não entende...

– Quem disse isso? O que te faz achar que eu seja tão ingênua a ponto de não perceber esse tipo de coisa?

– Sabe mesmo do que eu estou falando?

– Me diga o que é e então eu vou saber se estou certa ou não.

– Eu não tenho que dizer nada. - um trovão rompeu no céu e eu olhei pra cima, depois voltei para ela – E é melhor você voltar lá pra dentro, seu namorado está te esperando.

Eu dei as costas para ela e comecei a andar, senti um pingo de chuva cair no braço.

Era só o que me faltava, pegar chuva pra terminar de ferrar com a minha noite.

Então senti uma mão me puxando para trás, era Maura.

Ela me segurou e fez com que virasse para ela, tudo aconteceu tão rápido e eu não tive tempo para protestar.

Logo estávamos frente a frente, e com uma proximidade perigosa para alguém que queria manter uma linha fixa de pensamento.

Sem palavras, apenas atitude.

Ela se aproximou e eu permaneci intacta.

Nossos lábios se tocaram e eu estranhei num primeiro momento, para em seguida relaxar e retribuir ao toque.

A mão dela soltou do meu braço e passou pelas minhas costas, terminando de selar nossos corpos.

Foi instinto, natural.

Eu envolvi minhas mãos na cintura dela e deixei acontecer.

A pele dela era macia, os lábios deliciosos, mil vezes melhor do que no meu sonho, e isso porque era real. Eu não queria parar, e já que ela tinha começado com aquilo, logo presumi que partilhávamos o mesmo desejo.

Eu mordisquei o lábio inferior dela repetidamente para continuar mantendo o ritmo, Maura correspondia e me dominava de um jeito que eu não sabia que ela poderia, ao mesmo tempo em que se entregava completamente a mim.

E a chuva caiu, aumentou sua intensidade e raios e trovões romperam o céu, clichê eu sei, mas eu não me importava se aquilo parecia ou não com uma cena de filme, só não queria que acabasse.

Os pingos constantes e cada vez mais fortes molhavam nossos rostos mas nenhuma de nós se preocupou com isso.

E de repente a chuva parecia não ser tão ruim assim.


Continua...



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Notas finais do capítulo

Reviews?? Sim, eu sei que você quer ;)



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