Um mês depois

                Em pouco tempo muita coisa havia mudado de uma forma inesperada. Era incrível como eu olhava para o espelho e me via radiante, feliz, de um jeito que eu não ficava fazia tempo.

                Um dia desses acordei com uma vontade de me sentir diferente e horas depois eu estava sentada numa cadeira de salão de beleza, com as pontas de meus cabelos azuis refletindo no espelho a minha frente.

                Pedi para que Quinn me buscasse e mesmo com sua curiosidade e insistência para saber o que eu havia feito, a avisei que só saberia quando me visse. E assim foi feito. A esperei fora do salão e quando a vi, seus olhos estavam brilhando. Ela grudou seus lábios em minha bochecha e em seguida sussurrou: “Linda” , em meu ouvido.

                Quinn me deixou em casa, depois de uma sessão de beijos em seu carro. Meus pais estavam fazendo o almoço quando entrei, então me direcionei até a cozinha.

Flashback on

                “Estrelinha, o quê você fez com o seu cabelo?!” Disse Leroy, deixando cair no chão a faca que usava para cortar algumas cenouras.

                “Não está lindo?” Perguntei, percebendo um sorriso encorajador vindo de Hiram.

                “Eu gostei.” Hiram respondeu, deixando Leroy ainda mais boquiaberto.

Flashback off

                As semanas se passavam aos poucos e a única coisa que não mudava era meu gosto musical. O que meio estranho, porém, compreensível.

                Minhas sapatilhas foram trocadas por coturnos, meus vestidos foram substituídos por calças jeans e blusas com decotes (ou as de bandas que eu pegava de Quinn). Eu me sentia mais confiante assim.

                Todos no McKinley me olhavam sempre que eu passava pelos corredores e eu estava gostando daquilo. Pessoas que me ignoravam, agora me elogiavam. Como Santana... Mas eu tive que rir mesmo quando Puck sugeriu que “déssemos uns amassos”, porque de acordo a ele eu estava “muito gostosa”.

                Por outro lado, Quinn não riu tanto quando eu quando contei a ela. Era fofo vê-la com ciúmes, mesmo tentando esconder arduamente.

***

                Era terça-feira e eu estava usando a varsity, que Finn havia me emprestado no dia anterior, fazendo meu caminho até a sala do Glee Club. Parei em meu armário só pra deixar meu livro de biologia lá dentro. Quando o fechei, vi Quinn vindo em minha direção, até que Finn apareceu em minha frente. Me estiquei para conseguir vê-la novamente, e lá estava o desapontamento estampado em seu rosto.

                “Rach, você está... deslumbrante!” Uau, Finn andou lendo o dicionário! Não vi  o sorriso orgulhoso, que eu sabia que estava em seu rosto, pois Santana e Brittany passaram ao nosso lado nos apressando para irmos para o Glee Club.

                “Vamos?” Perguntei, dando alguns passos a frente.

                “Hoje não dá... Tenho que ir ajudar minha mãe-“ Ele parou de falar, confuso, como se houvesse esquecido o que tinha de fazer. “Diga ao Mr. Shue que sinto muito por não ter ido.”

                Sussurrei um “ok”, e como eu já estava meio distante, Finn só acenou para mim.

                Quando cheguei na sala, logo procurei por Quinn. A expressão de decepção ainda estava lá, mas mesmo assim, ela sorriu para mim me fazendo corar como de costume.

                “Bom, faltam menos de dois meses para as Nacionais. Acho que todos já sabem disso, como também sabem que seria ótimo se ganhássemos...” Mr. Shue começou a falar, enquanto eu me sentava ao lado de Kurt e o cumprimentava. “Alguém tem alguma ideia de apresentação?” Ele, enfim, perguntou. E pela primeira vez, eu não queria dar nenhuma sugestão.

                “Nós podíamos cantar Who You Are da Jessie J no número de abertura...” Ouvi Blaine dizer e achei uma boa ideia, assim como o Mr. Shue.

                “Ou Supersonic do Oasis.” Puck sugeriu, fazendo Santana reclamar. Logo começou um alvoroço entre todos eles.

                “Eu gostei da ideia do Blaine para a abertura e eu acho que o solo da Rachel podia ser Spectrum do Florence and The Machine.” Quinn falou, fazendo todos se calarem. Eu a encarei mas me limitei em contradizê-la. “Eu já a ouvi cantando essa música e, acreditem em mim, fica fantástica na voz dela.”

***

                O sinal havia tocado, deixei a sala um pouco tonta pois não paravam de falar sobre nossas chances de ganhar com uma música como aquela.

                Quinn me seguiu até o estacionamento, calma e pronta para me conversar àquilo. Ela abriu a porta de seu carro para que eu entrasse e entrou em seguida, me observando.

                “Spectrum? Sério?” Soltei uma risada boba. Ela assentiu.

                “Hora de sair da zona de conforto, princesa.” Quinn estava concentrada na estrada agora. Mal sabia ela que eu já havia saído da minha zona de conforto há muito tempo. Então por quê não Spectrum?!

                “Só porque você disse que fica fantástica na minha voz.” Ela sorriu e parou o carro em frente a minha casa.

                A abracei forte, encaixando meu rosto em seu ombro, inalando seu cheiro o máximo que eu conseguia. Passei a ponta da língua em seu pescoço, até chegar a sua mandíbula. Ela estremeceu e me puxou pelo cabelo, logo abocanhando meus lábios com necessidade.

                Ouvi um tilintar no vidro, mas continuamos a nos beijar. O barulho começou a ficar mais forte. Abri meus olhos para poder enxergar a janela atrás de Quinn. E lá estava meu papai, nos olhando através do vidro escuro.