Todos aparentemente já sabiam de minha decisão.

"Onde está Jake?" perguntei. Edward apontou na direção correta. Ele estava de pé, ao fundo da sala, olhando pelo vidro das portas em direção ao riacho, que eu, com meus olhos humanos, não podia ver, apenas ouvir seu som calmante.

Fui até ele. Ele ouviu meus passos e não se virou. Apenas sussurrou e, se eu não estivesse chegando perto o bastante, não conseguiria ouvi-lo.

"Você tomou sua decisão." ele disse. Não era uma pergunta, não era uma acusação. Era um lamento. E a tristeza que ouvi de sua voz foi mais do que eu podia suportar.

"Podemos conversar lá fora?" pedi.

Ele não respondeu. Apenas virou-se e se encaminhou para fora da sala, indo direto para os fundos da casa. Olhei para Edward e ele assentiu à minha pergunta silenciosa. Jacob queria conversar em particular também.

Eu o segui. Ele não voltou-se durante todo o caminho, que ia até o riacho e depois seguia pela margem, em direção ao leste, na mata fechada. Ele não parou até que tivesse certeza de não sermos ouvidos, nem vozes nem pensamentos.

Então, olhou para mim. E seu olhar me acertou em cheio, como uma bola de baseball bem em meu estômago. Fiquei sem ar.

"Por quê? Por que tomou essa decisão? Nós poderíamos... nós poderíamos encontrar um meio, um jeito, sei lá, a gente poderia fugir..."

"Eu não poderia fugir." minha voz foi um sussurro. "Os muros... me impedem... eu não poderia fugir..." minha voz sumiu no final. Mas ele ouviu, eu tinha certeza.

Ele venceu a distância entre nós em apenas dois passos e me abraçou. Fui tomada de surpresa ante aquele abraço quente, no meio de tanto frio. Me deixei aquecer em seus braços, sentindo seu maravilhoso perfume.

"Oh, Jacob eu te amo tanto!" eu disse entre lágrimas.

Ele me beijou. E eu deixei. Isso não seria tão ruim, afinal, em poucos minutos ele esqueceria tudo. E eu já tinha permitido que isso acontecesse, no passado...

"Não vai adiantar se eu pedir pra você repensar sua decisão, não é?"

"Não" eu falei, convicta. "Vou fazer o que tem que ser feito."

A dor passou novamente por seu rosto.

"Jake, vai ficar tudo bem. Você vai ter uma linda garota para cuidar. Ela é amável, adorável, linda, meiga, alegre," eu não percebi mas soluçava agora. Ele me abraçou para me impedir de continuar falando.

"Você me conhece melhor que ninguém, Lisa." ele falou. "Você conhece meus pensamentos, minhas vontades, meu jeito. Você leu tudo isso." ele ainda parecia confuso quanto ao fato de ser um personagem e eu uma leitora invadindo sua história. "Você sabe que meu instinto é impedir você, lutar por você até o fim, não sabe?"

Eu assenti com a cabeça. Para falar a verdade, eu não tinha muita certeza de que não queria que ele o fizesse.

"Então vai logo. Faz o que tem que fazer. Antes que eu te impeça."

Olhei para ele e engoli o nó em minha garganta. Não adiantou muito, minha voz falhou em duas palavras. "Você vai ficar bem." Eu tentei parecer segura. Mas era a mais pura verdade.

Ele me queimou com seus olhos escuros como ébano. Sim, ele ficaria bem. Eu também. Eu me forçarei a ficar bem, custe o que custar.

Agarrei o camafeu com toda a força. Abracei para sentir a quentura de sua pele a última vez.

"Eu te amo." ouvi ele me dizer, antes de desaparecer.

"Eu também te amo, Jacob Black" eu respondi, mas já estava diante dos livros de Mary Poppins.