More Than Words escrita por DezzaRc


Capítulo 23
More Than Words


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, obrigada a todos que acompanharam ♥



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Já fazia quase uma hora que eu estava no apartamento de Edward, e devo dizer, não estávamos indo tão bem quanto eu esperava, não por ele ser um péssimo professor, ao contrário, fazia isso perfeitamente assim como eu me lembrava no segundo ano, quando me ensinava matemática. O problema era eu. A matéria já era complicada, somada com minha concentração zero devido a sua presença tornava-se algo praticamente impossível.

Edward largou sua grafite na mesa, bufando, levantando-se da cadeira em seguida.

— Bella, se você não quer aprender é só falar! — Sua voz demonstrava toda a aspereza ao qual se encontrava o seu humor.

— Eu estou tentando, só que não consigo aprender essa droga! — exaltei-me, batendo minha mão com fúria no tampo de madeira da sua mesa.

Mordi os lábios, envergonhada com minha atitude, e evitei olhá-lo nos olhos. Sorte que estávamos sozinhos.

— Vamos dar uma pausa. Tá com fome?

Neguei com a cabeça, sentindo aquele velho embrulho no estômago por sua presença. Eu odiava o seu efeito desconcertante sobre mim. Assisti ele caminhar a passos largos até aonde eu supus ser a cozinha, e explorei distraidamente a sala com os olhos. Não era tão grande como eu imaginava, havia um sofá de camurça bege de três lugares e ao seu lado uma poltrona; uma TV plana enorme pregada à parede de textura, que possuía um tom vermelho escarlate, e alguns centímetros abaixo, um armário moderno com portas de correr. Para completar, um lustre luxuoso pendurado no teto.

Voltei minha atenção à guitarra preta apoiada no braço do sofá, o que me fez recordar rapidamente uma informação que Edward havia me dado uma vez. Não demorou muito para ele voltar com um pacote de biscoito recheado nas mãos, e jogá-lo sobre a mesa.

— Você ainda tem a sala de música ou foi apenas uma historinha para me impressionar? — indaguei maliciosa.

Era a primeira vez que eu o provocava desde que chegamos aqui.

Edward riu.

— É lá em cima, mas costumo dividi-lo com minha sala de estudo, pelo menos até eu conseguir minha bateria. — Ele pegou um biscoito do pacote e me ofereceu. Recusei.

— Você estava tocando? — perguntei, indicando com a cabeça sua guitarra sobre o sofá.

— Gosto de dedilhar algumas notas antes de ir para a faculdade.

Ele levantou novamente e foi até o sofá, trazendo a guitarra até mim, apoiando-a no assento da cadeira ao meu lado. Em seguida, foi até o outro lado do sofá e pegou uma caixa preta de som, o que eu presumi ser o amplificador.

— Você nunca escutou uma música de minha banda, né? — perguntou-me, ligando o amplificador em uma tomada perto de nós, e logo depois conectando o aparelho na guitarra.

Eu tinha escutado a versão instrumental do primeiro single deles anos atrás, depois não tive mais interesse em voltar. Não pelo som ser ruim, era perfeito, quando ouvi eu jurava ser alguma música do System of a down de tão bom.

— Não — respondi, não querendo ter que explicar minhas histórias antigas de investigá-lo.

— Essa é a mais recente.

Ele pegou a guitarra da cadeira, sentando-se em seguida, apoiando o instrumento no colo; testou algumas notas. Apenas me resumi a observá-lo, Edward era mesmo bom naquilo. Enquanto ele tinha o hobby da música, eu tinha o da escrita.

Alguns segundos depois e uma leve melodia tomou conta do ambiente, parecia com algumas notas de Californication do Red Hot Chili Peppers com Lithium, do Nirvana. Edward não cantava, apenas tocava a música, hora ou outra sussurrando alguns trechos. Eu não podia negar, ele não tinha o mesmo talento que tocava cantando.

— Legal a melodia — elogiei-o sinceramente, assim que ele terminou. — Já criaram quantas músicas?

— Não chegou a 20 — respondeu, agora tocando algo mais rápido. — Essa eu criei quase todo o ritmo, meu amigo colocou a letra depois.

A próxima canção que se seguiu era realmente a cara dele, tão louca e confusa quanto o dono. Não tive como não sorrir, eu tinha amado o ritmo e foi inevitável não comparar com a queda que eu tinha pelo seu criador. Edward entendeu o sorriso como um elogio, e então retribuiu de forma leve, parecia estar bem confortável com minha presença em sua casa.

Quando ele terminou sua segunda canção, acordes de Misery Bussiness inundaram a sala, e eu não consegui segurar o riso.

— Nossa, você ainda lembra dessa! — exclamei, recordando-me de quando ele tocava para mim no ensino médio.

— Ela me concedeu um troféu, não dá para esquecer... — brincou, enquanto eu acompanhava a música com a letra.

Eu tinha que admitir, meu talento para canto era tão bom quanto o de Edward. Em outras palavras, nenhum!

Alguns minutos depois de Smell Like Teen Spirit, Leave out the rest e Love Story, obriguei-me a interrompê-lo.

— Devíamos estar estudando ângulos.

Ele deu de ombros.

— Você está muito dispersa, podemos tentar de novo.

Soltei um suspiro de desgosto. Nosso momento relax estava tão bom...

— Toca só mais uma e voltamos — sugeri e ele riu. — Me surpreenda! — pedi-lhe, divertida.

Ele pensou por alguns segundos e esboçou o que me pareceu ser um sorriso cheio de más intenções e começou a dedilhar as notas, ainda incertas para os meus ouvidos. Seus dedos da mão direita se focaram nas cordas centras da caixa de som, enquanto os da esquerda desceram para o meio do braço da guitarra. Quando, enfim, seus dedos direito começaram a dedilhar entre a terceira e quarta casa, e logo depois seu punho bater de leve contra elas, dei-me conta do que ele planejava tocar.

Prendi a respiração, surpresa, e meus olhos começaram a lacrimejar imediatamente. Minha sorte era que Edward estava concentrado demais nas notas e não me fitava. Eu poderia ter imaginado aquela situação mil e uma vezes em minha mente, mas nunca chegaria a pensar que algum dia esse momento fosse existir.

As notas adentravam meus ouvidos em uma doce carícia e meus olhos já haviam virado um rio de lágrimas. Deixei uma escapulir por acidente e tratei logo de enxugá-la. Quando sua voz preencheu o ambiente, senti que aquela situação era extremamente certa, e tudo o que passamos nos levaria a isso de um jeito, ou de outro.

Saying I love you... Is not the words I want to hear from you…

Edward Cullen estava tocando More Than Words para mim, e nesse exato instante, seus olhos captaram os meus lacrimosos, foi inevitável deixar algumas lágrimas rolarem por minha face; nenhum dos dois ousou dizer nada e a canção continuou.

How easy it would be to show me how you feel…

E na minha parte favorita da música foi impossível segurar meu impulso de cantar junto com ele.

Then you wouldn't have to say that you love me… Cause I'd already know.

Continuei escutando aquela música que já me fez chorar várias vezes sozinha com as lembranças, e tentando convencer a mim mesma que tudo não passava de um sonho — ou uma cena imaginada em minha mente. Eu devia estar parecendo uma bobona em sua frente, e pensando nisso, comecei a me preocupar com meu surto. Porque só eu sabia que essa música era nossa, pra Edward, eu era a louca que estava chorando por uma música qualquer. Ai. Meu. Deus. Será que dava tempo de eu correr para a porta, descer pelas escadas de emergência, e pedir minha transferência da UCC para o outro lado do mundo antes que ele terminasse de tocar?

Ok. Respira fundo. Últimas notas... e mais uma, e mais uma e... É agora.

— Eu sei que canto bem, mas não era pra tanto...

Obrigada, Senhor!

— Quem disse que eu estava emocionada com você tocando? — Funguei, enxugando meu rosto com as costas da mão. — Essa música é uma das minhas preferidas.

— Oh, que bonitinha! — ele zombou, fingindo limpar uma lágrima. — Agora já deu, né? Você pode estar curtindo minha presença, mas eu não estou curtindo a sua.

Fitei-o, incrédula, e virei meu corpo para frente, concentrando-me nos livros. Apesar de ter realmente me magoado com suas palavras, era melhor do que ser bombardeada com perguntas das quais eu sabia as respostas, mas ele seria a última pessoa do universo ao qual eu iria compartilhá-las. Afinal, ele era a resposta.

Escutei sua risada baixa, e depois de colocar os instrumentos no sofá, voltou a me ensinar — ou tentar. Eu realmente me esforcei mais dessa vez, tentei bloquear sua imagem de minha mente e pensar que quem estava ali era qualquer outro cara, menos Edward. Até que deu certo. Eu não tinha ficado expert no assunto, mas o suficiente para não zerar eu tinha absorvido.

Era quase seis horas quando resolvi ir. Apesar de ter ganhando certa liberdade de tráfego, meu pai ainda ficava me marcando e eu não podia bobear com ele. Juntei minhas coisas e o idiota me acompanhou até a porta — pelo menos isso.

— Você vai vir amanhã? — ele perguntou, quando já estávamos na portaria do prédio.

— Acho que você já me ensinou tudo.

Ele olhou para o chão e ponderou algo em sua mente.

— Se você ainda tiver dúvidas... Podemos repassar um dia antes.

Sambei por dentro. Ele estava me convidando pra voltar a sua casa!

— Vou ver, Diego também se ofereceu pra me ajudar e...

— Tá traindo o Dean? — interrompeu-me, sarcástico.

Bufei. Ele ainda lembrava dessa figura? Oh, céus!

— Não, Edward, não estou traindo ninguém, porque não namoro nenhum dos dois!

Ele me olhou de cima abaixo, com aquela expressão cínica. Revirei os olhos. Era minha deixa para cair fora. Eu apenas iria me virar e dizer adeus, ou abraçá-lo igual o rodízio naquele dia? Ah... aquele abraço. Tão perfeito. Eu queria repetir. Muito. Vamos estudar minhas possibilidades, o máximo que eu podia levar era um coice dele que, em outras palavras, seria um empurrão. Acho que eu podia viver com um empurrão. Né?

— Tchau, Edward — acenei, saindo dali sem dizer nada. E nem fazer nada.

Como eu era babaca!

***

Eu tinha acabado de chegar na UCC e estava caminhando pelo enorme estacionamento na frente do prédio central. Havia uma pilha de livros na mão que eu deveria devolver a bibliotecária hoje, e iria fazer isso depois da aula. Olhei de um lado a outro e atravessei a pista, dirigindo-me para o passeio, quando um otário veio com tudo pra cima de mim com o carro, e no susto, os livros caíram de minha mão. Levantei o rosto pra ver quem era o defunto e balancei a cabeça negativamente várias vezes, não me importando de deixar minha tralha no chão e marchar para o banco do motorista.

Parei ao lado do vidro escuro e bati na janela para que Edward o abaixasse. Quando o fez, vi que o demente estava rindo que nem uma hiena no banco, tanto é que se contorcia segurando a barriga na maior graça. Fiquei com mais raiva ainda, se isso era possível, e agarrei a gola da sua camisa pólo, puxando-o para mim.

— Você vai sair daí agora e catar meus livros no chão.

— E quem vai me obrigar, você? — rebateu irônico.

— Desce daí ou seu carro vai sofrer.

Ele me olhou desconfiado, mas nada fez. Soltei seu colarinho e olhei para o meu dedo, feliz por ter vindo com aquele anel. Girei-o em meu dedo, de modo que a pedra pontuda ficasse para cima e mostrei a ele maliciosamente, antes de encostá-lo na lataria da porta e arranhar um pouquinho. Assim que ele ouviu o barulho, desligou o carro rapidamente, furioso, e me afastei de lá, antes que ele metesse a porta em minha barriga. Comecei a rir, agora sim as coisas estavam boas.

— Sua imbecil! Você é louca, é? — gritou, passando o dedo no risco mínimo.

— Pega meus livros agora!

— Não vou pegar nada, vou é passar por cima!

— Faça isso e leve seu carro para a sala de aula, ou você o encontrará com uma bela surpresa.

— Você não faria isso — disse, com aquela sua voz irritante.

— Experimenta pra ver. — Cruzei os braços, desafiando-o.

Continuamos naquela briga de olhares por alguns segundos até ele sair de perto de mim praguejando e catando meus livros no chão. Mordi os lábios para não rir muito e fui até ele, vendo-o depositar um por um em cima do capô do Amarok. Empilhei-os novamente em meus braços, sorrindo presunçosa, e fui para a calçada.

— Ah, e bom-dia, Edward! — cumprimentei de deboche e ele me mandou o dedo do meio, entrando no carro.

É, eu tinha ganhado meu dia.

***

— Me devolve, Edward! — gritei, puxando minha régua de sua mão. Mas que praga!

— Ai, vocês estão insuportáveis hoje! — Ingrid murmurou, saindo da mesa ao meu lado.

— Vocês vírgula, Edward! Cresce, garoto — falei, olhando-o do meu outro lado.

Não me pergunte por que sentávamos os três juntos na aula de desenho gráfico.

Cresce, garoto — imitou-me mais uma vez naquele dia e respirei fundo. — Delete mais uma vez meu projeto e você vai ver.

Ingrid voltou com alguns papéis e nos fitou, até soltar uma de suas bombas. Acho que aquela aprendeu com Nessie.

— À tarde de vocês foi boa ontem? Vi os dois saírem juntinhos dali, hein, até parecia um casal feliz!

Franzi o nariz e Edward riu sem graça.

— Essa bebê chorona se desmanchou em lágrimas na minha mesa.

Dei-lhe um tapa no braço.

— Vai dizer que foi mentira?

— O que aconteceu? — Ingrid perguntou, preocupada.

— Não foi nada, Di — tentei consertar a situação, mas Edward colocou mais lenha na fogueira.

— Nada... Nada... Ela ficou emocionada em como uma pessoa pode ser tão lindo, gostoso e talentoso como eu.

Pff! Por favor, né? E quem seria esse ser? Já sei que o Robert é isso tudo, não precisa me relembrar!

— Não me compare com aquele viadinho!

— Você quem pediu...

— Gente, parem com isso! O tempo tá acabando e nem decidimos qual vai ser o tamanho da cozinha! — Ingrid se intrometeu, mas seu olhar dizia tudo. Teríamos uma boa conversa depois.

Paramos com as conversas e terminamos a planta simples de uma casa. Depois dessa aula só fui encontrá-los no intervalo novamente. Edward tinha sentado longe de mim, graças a Deus, não aguentava mais seu agouro por hoje. Alice veio com o papo do luau de novo, e a galera disse que iria. O evento seria no domingo. Marcamos de nos encontrar lá.

A semana logo se passou sem grandes emoções. Não voltei à casa de Edward, depois daquele dia, suas brincadeiras idiotas tinham se intensificado, e eu não entendia bulhufas. Fiz o teste na sexta com um terço na mão. Literalmente. Tudo o que eu tinha aprendido com aquele ser tinha caído, e um pouco mais também, mas suspirei de alívio ao ver que consegui responder um pouco a mais que a metade. Não iria cair dessa vez. Fiquei alguns minutos matutando na última questão — consequentemente a que valia mais —, quando Edward levantou da cadeira atrás de mim, e ao passar por meu lado, jogou um pedacinho de papel amassado na minha mesa discretamente, indo entregar a prova.

Fitei aquilo surpresa, e olhei-o sair, sem virar para trás. Abri com cuidado para não ser pega e festejei ao ver a última questão toda respondida ali. Um sorriso bobo brotou em minha face e anotei rapidamente a conta, dando fim à prova do crime depois. Terminei e tratei de sair logo da sala. Por que Edward me confundia tanto? Bem, amigos poderiam fazer aquilo também... mas eu simplesmente não conseguia enxergar suas ações nesse quadro.

Encontrei-o alguns metros fora da sala, escorado em uma das pilastras com o celular na mão. Não contive o impulso e andei rápido até ele, um sorriso idiota brincando no meu rosto, e sem pensar duas vezes, joguei-me em cima dele em um abraço urso.

— Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada! — repeti-lhe isso várias vezes, não só pela questão final, mas por ele ter passado aquela tarde me ensinando.

Demorou alguns segundos até ele se recompor e passar o braço levemente em meu entorno, descansado as mãos na base de minha coluna. Apertei-lhe mais um momento contra mim, não querendo sair dali nunca mais. Para o meu espanto, ele enterrou o rosto no meu pescoço e depositou um beijo casto em minha pele, que se arrepiou de imediato, e sussurrou:

— Não há de quê.

— Hmmmmmmmmm!

Soltei-me dele rapidamente, fitando o casal que se aproximava de nós.

— A pegação tá boa aí, hein? Não deveriam estar na aula, bonitinhos?

Corei e fuzilei Alice e seu namoradinho.

— E você, gatinha, tá fazendo o quê por aqui? — Edward brincou, falando com o Jasper.

— Alice, mostra pra ele quem é a gatinha aqui — provocou, passando o braço no ombro da minha melhor amiga.

— Não sei o que você viu nessa bichinha, Alice, sou mais eu — gabou-se, passando a mão no peito.

— Está mesmo aprovado, Bella? — Jasper continuou, dessa vez me olhando.

Três pares de olhos esperavam ansiosos por minha resposta e eu ainda estava parada me perguntando de onde aquele povo havia brotado.

— Não sei, ainda não experimentei.

— Hmmmmm... Te intimou, Edward, se eu fosse você provava pra ela agora.

— Sai pra lá, cara, não quero pegar a síndrome do brilhinho, não!

Olhei-o, consternada, e ataquei seu cabelo, puxando-o com toda força que consegui. Ele agarrou meu pulso e tentou tirá-lo e dei-lhe um beliscão com minha outra mão.

— Me larga, sua louca!

— Fecha os olhos, amor, isso é pornografia explícita! — Jasper recomendou a minha amiga. Agora sei porque era o melhor amigo desse otário aqui, em nível de idiotice, não sei quem superava.

Larguei Edward lá e limpei minha mão na blusa, fitando-o com nojo.

— Vieram fazer o quê aqui? — perguntei, olhando minha amiga.

— Vai ter uma palestra da área de humanas agora e o campus de medicina foi liberado mais cedo.

— Por causa da palestra? — perguntei confusa.

— Não, é uma reunião lá dos professores, não sei direito o motivo. Vou ir mais cedo hoje.

— E vocês saíram da aula pra namorar, foi? — Jasper perguntou em um tom sério, mas não aguentou e começou a rir.

— Foi teste.

Fitei meu relógio de pulso e vi que ainda tinha alguns minutos livres.

— Preciso falar com você, Alice.

Ela entendeu tudo.

— Vamos lá na cantina.

Deixamos os garotos lá — depois de o Jasper ter feito uma ceninha melosa — e fomos ao refeitório. Contei para ela como foi minha tarde na casa do Edward, e como fiquei quando ele tocou More Than Words para mim.

— Acho que você devia ter aberto o jogo nessa hora pra ele, ao invés de provocar mais uma briguinha boba.

— E ele passar o resto do ano me infernizando com isso? Não mesmo!

Ela ficou um tempo em silêncio e depois me olhou, indecisa.

— Olha, Jasper me disse uma coisa ontem à noite sobre o Edward...

— O quê? — perguntei-a, interessada.

— Eu não devia te contar, foi um segredo, mas você é minha melhor amiga, não posso te esconder isso.

— E o que é?

— Edward tá ficando com uma garota do curso de veterinário.

Minha expressão desmoronou tão rapidamente que senti como se tivesse levado um soco na cara. Desviei meus olhos dos seus, magoada demais com aquilo. Como assim ele estava ficando com uma menina? Edward me amava! Ou apenas eu achava isso.

— Bella...

— Não. Eu tô bem.

— Você tá quase chorando.

— Você queria o quê? — exaltei-me. — Que eu sorrisse ao descobrir que o cara que amo há três, quatro anos, está ficando com alguém que não é eu? Eu sabia que isso ia acontecer alguma hora!

As lágrimas agora já rolavam por minha face sem nenhum esforço de minha parte. Alice saiu de sua cadeira e sentou-se ao meu lado, abraçando-me. Deitei o rosto em seu ombro, ainda chorando que nem uma garotinha de 5 anos, sem parar um só segundo. Como aquilo doía.

— E-E-Ele não d-d-d-disse nada sobre Edward e... e-e-eu?

— Jasper nunca fala sobre isso comigo. Bella, eu até poderia lhe dar a esperança de que talvez ele esteja ficando com essa garota porque não tem coragem de chegar em você, mas não consigo. Meu único conselho é esquecê-lo, Edward nunca te fez bem e você sabe disso.

— Isso não é fácil... — murmurei, já me acalmando.

— Aproveita o luau no domingo e fica com alguém. Só é difícil se você não tentar.

— Eu vou tentar...

***

Por volta das sete saímos de casa para o luau. Tive que prometer mil e uma coisas para meu pai me deixar ir, dar-lhe a garantia de no mínimo cinco carros para voltar, e que antes das duas já estaria em casa. Ah, e claro, não voltaria a repetir esse tipo de passeio tão cedo. É, justo.

Jasper levou Alice e eu. A coisa ia ser maior do que eu esperava, e muitas pessoas pretendiam acampar lá. O que não era o nosso caso. Depois de muito rodar, Jasper conseguiu uma vaguinha para estacionar e descemos, tentando localizar um grupo conhecido. Por mais que eu me obrigasse a não saber, Edward já estava aqui. Minha praga para que ele tivesse tido algum mal estar não tinha dado certo, para o meu azar. Eu precisaria atuar, mais uma vez.

A praia era alguns quilômetros da capital. Estava lotada e pelo visto iriam arrecadar muita grana essa noite. Alice ligou para alguns de nossos amigos, tentando localizá-los, e eu apenas fiquei de pé, observando aquelas caras desconhecidas. Tinha muito garoto bonito de um lado a outro, mas eu não me via ficando com qualquer um. Isso seria difícil.

— Yana disse que estavam próximo a barraca do churros — Alice disse, referindo-se a sua amiga do curso.

— Têm muitas aqui... — Jasper comentou.

— Ela disse que é a única entre uma barraca de bijuteria e outra de crepe.

— Você disse onde estávamos pra sabermos a direção? — perguntei.

— Ela disse pra seguirmos a direita.

Começamos a andar, desviando daquele mar de gente, até que minutos depois, avistamo-los. Abraços para lá, beijos para cá, engatamos em uma conversa animada. Fui sentar perto de Nessie e Lauren em uma das cangas estendidas no chão.

— Edward perguntou se você vinha — Nessie comentou, assim que sentei.

Meu coração disparou.

— Espero que você tenha negado — respondi ácida.

— Eu disse que não sabia. Ele vai te ver, Bella, não adianta.

— Tem milhares de pessoas aqui, um pouco difícil.

— Ele faz parte do nosso grupo, e você também. Ele vai te ver — ela insistiu.

Bufei. Ela tinha razão.

— Vou ignorá-lo apenas.

— Bella, não é defendendo o Edward, mas ele não sabe que você é a fim dele, e ele não vai ficar a vida toda esperando que você o diga — Lauren disse. Seus argumentos estavam ficando cada vez melhores.

— É, ou você diz algo a ele, ou segue em frente também. Dos dois, você consegue ser ainda mais infantil — Nessie me atacou, e eu fiquei sem palavras com sua sinceridade.

— Agora é tarde.

Ela soltou um muxoxo e não disse mais nada.

O som de pagode encheu o ambiente. Tentei, em vão, ignorar aquele ritmo horrível, mas era impossível. Ótimo. Levantei da canga sem dizer nada e fui comprar algo para beber. Eu estava me sentindo um fiasco para todos essa noite. Alice tinha me largado por Jasper. Lauren e Nessie não aguentavam mais olhar para minha cara rabugenta. Ingrid não estava por aqui, mas se tivesse, estaria igual às outras duas. Em hipótese alguma eu iria me embebedar, não era tão imbecil àquele ponto. Então, sem muito que fazer, fui tentar dar chance a alguém. Nunca tinha sido boa nesse lance de chegar em uma pessoa, mas ok.

Comprei uma Coca em lata e comecei a andar pela praia, tentando achar meu alvo. Aquilo estava enchendo ainda mais a cada minuto, e eu tinha que ser cuidadosa para não me perder. Fiquei presa no meio de uma rodinha de pessoas, e quando fui tentar passar entre duas que estavam de costas, acabei tropeçando em uma garrafa na areia e caindo com tudo em cima de um garoto. Ele se virou automaticamente, assustado, e praguejei mentalmente ao ver quem era. Por que tanta sorte? Por quê?

— Tinha que ser a vampirinha.

Já ia dando as costas e saindo, quando senti sua mão quente segurar meu cotovelo.

— Me deixa em paz, Edward, até aqui não!

— Urgh... ela tá irritadinha! — brincou, colocando as duas mãos para cima em rendição. Não ri.

— Tchau — tentei novamente, mas mais uma vez, fui impedida.

— Toma uma cerveja, vampirinha, ou você é muito bebê pra isso?

Respirei bem fundo, tentando não sair do controle. Ele está apenas te provocando, Bella. Saia daí imediatamente.

— Não preciso desse troço pra me divertir, gosto de fazer as coisas bem lúcida.

— Ui, é a garota responsável!

Olhei-o bem fundo.

— Você tá bêbado?

— Acabei de pegar essa — ele disse, mostrando a latinha. — Não faz nem dez minutos que cheguei.

— Se você já é insuportável normalmente, imagine bêbado — murmurei, virando-me para sair de vez dali. Parei de supetão ao quase me bater com o Diego. Ele sorriu ao me ver.

— Olá, Bella! Já estava me perguntando se você viria... que milagre seu pai deixou? — Ele me abraçou e eu retribuí.

— É, tive que abrir mão de muita coisa pra estar aqui. — E tô me arrependendo, acrescentei mentalmente.

— Só vai ficar na Coca? — indagou, olhando para minha latinha.

— É, talvez pegue uma ice, ou algo assim.

— Você não disse que preferia fazer as coisas lúcida? — Edward jogou em minha cara, interrompendo-nos.

Ignorei-o. Diego o cumprimentou, mas ele nem deu bola.

— Que tal darmos uma volta, Bella? Tem uns caras fodas aqui no violão, queria te apresentar um amigo meu.

— Bella prefere que eu toque pra ela, até chorou essa semana de emoção.

Fitei-o, com raiva. Por que ele estava agindo assim?

— Edward, não sei se percebeu, mas essa é uma conversa paralela. Ninguém te chamou aqui.

Ele deu um gole em sua cerveja e disse:

— Não preciso de convite.

Diego e eu trocamos um olhar.

— Vamos sair daqui — falei, já indo me acomodar ao seu lado, mas Edward me enlaçou pela cintura, firmando-me ali.

— Você disse que iria beber comigo.

Ele, com certeza, estava bêbado!

— Edward, eu não disse nada, sai do meu pé!

Tentei me soltar de seu aperto, mas estava difícil.

— Larga ela, cara, você não tá bem — Diego se intrometeu e esse foi o estopim para Edward.

Ele largou a lata, que caiu em um baque mudo no chão, quase derrubando a bebida em meu pé. Edward avançou em cima do Diego, empurrando seu ombro de leve, mas isso foi o suficiente para o meu amigo se enfurecer com sua atitude e empurrá-lo com mais força. Em poucos segundos os dois já estavam aos murros, e eu gritava, não conseguindo contê-los. Como aquilo tinha começado mesmo?

Filho da puta, não se meta entre mim e minha namorada! — Edward resmungava, dando um soco no meio do estômago do Diego, que se curvou, surpreso.

— Pare com isso, Edward, pare!

Logo uma grande roda se formou entre nós e vários “briga, briga, briga” tomaram conta da situação. Vi de longe o namorado de Nessie correr até nós, assim como Jasper. Cada um agarrou um, e foi assim que o impasse foi resolvido. Edward ainda se debatia nos braços do amigo e Diego estava tão machucado que mal se aguentava em pé. Ai, meu Deus, o que Edward tinha feito?

Corri para ajudar meu amigo, mas Edward segurou minha cintura brutalmente.

— Você vem comigo — sussurrou em meu ouvido e sem me dar opção, arrastou-me de lá.

Já estávamos no calçadão da praia — menos cheio que na areia — quando Edward, enfim, me soltou. Dei vários passos para longe dele e o fitei, não reconhecendo aquele cara. Ele está bêbado, murmurei para mim mesma.

— Por que você é tão imbecil assim? — atirei, vendo-o limpar o sangue que saía de seu supercílio. Eu não estava com nem um pouco de pena do seu estado.

— Eu? Imbecil? Você que vive se atirando pra esse cara!

Soltei uma risada sarcástica.

— Mas essa agora. O que tem? Dean vai pagar de corno? Ele vai ficar com ciúmes? — ironizei, fazendo a piada por ele mesmo.

Para minha eterna surpresa, Edward respondeu algo que eu não esperaria em um milhão de anos:

— Não, eu fico.

Fitei-o, meus olhos já enchendo de lágrima. Eu estava emotiva demais essa semana. Eu sabia que ele falava a verdade, pois sua expressão era ridiculamente de abandono.

— Por que você faz essas coisas comigo? — lamuriei tão baixo que poderia ser confundido com um sussurro.

Ele deu um passo em minha direção e eu não me movi um centímetro. Seus dedos tocaram levemente minha bochecha, e só naquele momento percebi que tinha deixado as lágrimas caírem.

— Me desculpe, Bella — lamentou-se, ainda acariciando meu rosto.

— Pelo o quê? — perguntei, confusa com suas palavras.

— Por te amar tanto e ser um idiota por não conseguir admitir isso.

Eu até poderia estar surpresa por ele confessar aquilo em voz alta, mas não era algo que eu não esperava ouvir algum dia, mesmo por todos os acontecimentos improváveis que nos rondavam. Aquelas palavras eram tão familiares em minha mente, e ouvi-las de sua boca agora só me fez pensar que eu tinha tomado as decisões certas. Decisões que me levariam até aquele momento que, por mais que nós tivéssemos tropeçado, no último degrau estaríamos juntos.

— Você conseguiu — brinquei, sorrindo em meio a lágrimas não mais de tristeza.

— Você é a próxima — incentivou, puxando-me pela cintura, para que nossos corpos estivessem unidos. Apoiei minha mão em seu peito musculoso.

— E quem vai me obrigar, você?

— Uhum... — murmurou, sua testa junto a minha.

— Como?

Ele sorriu.

— Com muitos beijos...

E então, seus lábios tocaram levemente os meus entreabertos, suas mãos deslizaram do meu rosto para a minha nuca. Um arrepio gostoso tomou conta do meu corpo, e por alguns segundos, eu não soube como agir, minha mente estava enevoada com tantos sentimentos simultâneos. Ele desencostou os lábios dos meus e depois os tocou mais uma vez, uma mão descendo para a base da minha coluna — provavelmente seu lugar favorito —, puxando-me para mais perto ainda do seu corpo. Consegui acordar do transe e enfiei meus dedos em seus cabelos macios que eu tanto amava, recebendo um leve gemido de sua parte. Aquilo era tão, tão, tão bom!

Eu até poderia dizer que estava tendo uma chuva de fogos de artifício no céu ou um coro de “aleluia” ao nosso redor, mas seria tudo babaquice da minha fértil imaginação.

Edward começou a alisar minhas costas, assim como fez no dia em que nos abraçamos no rodízio, e tocou sua língua no meu lábio inferior, pedindo passagem para aprofundar o beijo, e eu prontamente concedi. Tudo aquilo era novo para mim, e eu me sentia como se estivesse dentro de um sonho. Na verdade, eu estava em um sonho. Separamo-nos um tempo depois sem ar, mas Edward não me largou, distribuiu vários beijos por minha mandíbula, intensificando seu abraço.

— Diga... — murmurou na pele do meu pescoço.

— Uh-uh.

— Diga... — repetiu, passando o nariz um pouco abaixo do meu lóbulo, e aquilo me arrepiou, o que me fez soltar um risinho.

Segurei seu rosto entre minhas mãos, fitando-lhe diretamente, sem desviar meus olhos dos seus um segundo sequer, e enfim tomei coragem pra dizer:

— Eu te amo, Edward, te amo muito, muito, muito, há muito tempo, e espero que esse muito dure mais um tempão.

Ele riu.

— Eu disse que você era a garota das letras, criou até um trava língua pra se declarar pra mim. — Dei-lhe um tapa de leve, feliz demais para me importar com suas piadas costumeiras. — Eu também te amo, sua insuportável. Muito. E há muito tempo. Mas isso não importa mais, agora será apenas eu e você, sempre.

— Sempre — repeti.

Nossos lábios se juntaram mais uma vez e não se desgrudaram pelo resto da noite.

Eu podia me lembrar perfeitamente à primeira vez que meus olhos se encontraram com os seus, da repudia inicial e de como aprendi a amá-lo a cada dia. De todas as brigas e dos momentos em que ele me deixara triste. Das coisas lindas que me disse e a esperança que me mantinha todos os dias para nunca desistir.

Aquela frase nunca me pareceu tão certa, agora eu podia explicar perfeitamente o porquê dela estar na lista das minhas preferidas: “Se você ama alguém, deixe-o livre. Se ele voltar, é seu. Se não, nunca foi.”

Edward voltara para minha vida. E se dependesse de mim, não sairia tão cedo.

F I M


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Notas finais do capítulo

YAAAAAAAAAY, terminei õ Que emoção, mais uma história finalizada, espero completar esse ciclo por muitas e muitas vezes...
Obrigadaaaaaaa a todas que me acompanharam nesse tempo de MTW, principalmente aos que comentaram (claro, sempre, always), e aos que não comentaram, só lamento, perdeu a oportunidade de falar com uma pessoa muito legal como eu (cof, cof!).
Enfim, brincadeiras a parte, espero que tenha agradado a todos. Terminei assim tão rápido porque não tinha mais o que contar sobre eles, eu queria ter parado na história real, mas muitos queriam um final feliz, então... aí está. Pensei até em fazer um epílogo, mas realmente não tô no clima. Então, despeçam-se de MTW agora.
Ainda estou por aqui pelo Nyah (com duas histórias em andamento e várias outras finalizadas), espero ver vocês por aí. Para não perder o costume, que tal seguir o tumblr do meu livro gatito? ;D http://oenigmadosschneider.tumblr.com/
Beijo, meus amores, e realmente, dando um ponto final aqui, estarei dando outro na minha relação real com Edward. Seguindo em frente porque atrás vem gente (sqn). BAAAAAAAAAAAY!!!