A Mortal, Filha De Dois Deuses. escrita por Amortecência


Capítulo 7
Assalto Ao Olimpo.




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Após o almoço, Quíron reuniu um conselho de guerra na arena de esgrima. Iríamos discutir a profecia e a minha missão.

– Bem, muitos de vocês estão se perguntando por quê estão aqui – começou ele. – Ontem a noite, quatros horas da manhã para ser mais exato, eu recebi uma “visitinha” da Rachel – nesse ponto Rachel, que estava ao meu lado, corou. – Se é que eu posso dizer que era ela, não é? Ela estava em transe, e me deu um “presentinho” nada bom.

Dizendo isso ele começou a recitar a profecia, e a contar que meus pais haviam sumido – nesse momento as lágrimas começaram a surgir, mas eu me forcei a ficar calma –, contou também que agora ele teria que preparar uma missão comigo como capitã para resgata–los.

– E, segundo a profecia, Helena só vai poder escolher um acompanhante, porque você vai encontrar outro no caminho – terminou Quíron.

– Mayana Brin – disse sem nem pensar.

Ela se levantou e caminhou até onde eu estava.

– Mas, Helena, Mayana acabou de chegar aqui. Ela mal tem treinamento e você pode por a vida dela em risco – advertiu-me Quíron. – E, esse outro companheiro que você vai encontrar... Ele provavelmente também não saberá lutar, se ele está sozinho esse tempo todo...

– Mayana é muito poderosa, você não viu o que ela fez no museu, Quíron! E além do mais ela é minha melhor amiga. Eu não vou deixar ela aqui... Quer dizer, você quer ir não é, Mayana?

– Óbvio! Eu jamais deixaria você sair pelo mundo enquanto é caçada por monstros para encontrar seus pais sem mim! Eu vou mesmo que Quíron não permita! – replicou ela, decidida. Eu nunca a vi falar daquele modo. Exceto quando ela se recusou a fazer dupla com Taisa ao invés de mim.

Quíron soltou um suspiro.

– O.K., está decidido. Vocês partirão amanhã de manhã. Enquanto isso, é bom vocês treinarem e arrumarem suas coisas para a viagem – terminou Quíron, vencido.

Eu e Mayana fomos juntar nossas coisas. Algumas filhas de Afrodite queriam nos emprestar duas mochilas, o que eu achei gentil, mas uma era rosa-pink e a outra laranja fluorescente. Então fomos até a loja do acampamento e compramos “O MAIS NOVO LANÇAMENTO: MOCHILAS MÁGICAS QUE SE CAMUFLAM ONDE QUER QUE VOCÊ ESTEJA, COMO CAMALEÕES”. Parecia uma boa opção para uma missão.

Seguimos para o chalé de Hécate. Por fora era feito por pedras escuras com escritas mágicas por toda parte. Por dentro magicamente ele parecia ser bem maior, grande o suficiente para que cada filho de Hécate tivesse seu próprio armário, mesa e uma cama de solteiro. No teto havia um grande lustre enfeitado com caveiras, caldeirões e todas as coisas de um bruxo, que iluminava o espaço com uma luz bruxuleante. Em uma parede, se recostava uma estante grande o suficiente para que os filhos de Hécate guardassem seus itens mágicos. De algum modo, mesmo sendo sombrio, o chalé era aconchegante, como se recebesse bem as pessoas.

Percebi que cada lugar estava enfeitado de uma maneira diferente. Fui diretamente para o lugar com pôsteres de rock, um Ipod, uma T.V., uma estante de livros e roupas de cama pretas. Com certeza era o “cantinho” de Mayana.

– Cada vez que alguém novo entra no chalé ele amplia por dentro, dando espaço a uma cama, mesa e armário decorados do modo que a pessoa gosta – informou-me ela, sorrindo. – Também aparece os seus pertences mais importantes, como meus livros, minhas roupas e meu Ipod.

– Uau – limitei-me a dizer.

Aquilo era muito legal, ter sempre o que precisa da melhor forma. Imaginei como seria o meu. Provavelmente idêntico ao de Mayana. Novamente me senti deslocada, como se não houvesse um lugar do qual eu pertencesse. Um lugar que fosse meu “cantinho”, decorado do jeito que eu gosto. Pegamos as mochilas e colocamos lá dentro roupas – algumas a mais para mim, já que eu não tinha nenhuma –, lanternas e pilhas, ambrósia, néctar, um pouco de comida, dinheiro mortal e um saquinho de dracmas.

Observei os olhos castanho-esverdeados de Mayana, eram lindos. Começavam em um tom castanho e ia ficando verde. Seu rosto era pálido, emoldurado por cabelos encaracolados de cor louro escuro, quase castanhos. Ela era tão bonita. Sempre quis ser como ela.

– O que foi? – ela perguntou, enquanto acrescentava alguns itens mágicos à mochila. Sempre sabia quando algo me afligia, quase como se pressentisse. – São seus pais? Vai ficar tudo bem, Helena. Nós vamos conseguir.

– Eu sei, é só que... Eu sinto como se eu não pertencesse de verdade a esse lugar. Quer dizer, eu cresci aqui, mas antes eu só era filha de dois semideuses, não havia recebido nenhum poder. E agora, eu não tenho lugar algum para ficar. Não tenho um lugar certo como você, aqui no chalé com seus irmãos – desabafei.

– Helena, você pertence a qualquer lugar. Você pode ser o que você quiser. É exatamente pelo fato de você não se encaixar em nenhum lugar de verdade, que você se encaixa. Entendeu?

Eu não respondi, mas eu entendia sim... Mayana sempre sabia o que dizer. Mas, eu não acreditava que o que ela dizia agora podia ser verdadeiro. Ela estava, por acaso, insinuando que, por eu ser “filha de dois deuses”, eu poderia me instalar tanto no chalé de Poseidon como no de Atena? Bem, pode ser, mas eu não me sentia assim.

Saímos do chalé Hécate e fomos para o de Poseidon. Mas praticamente não demoramos, pois tudo o que eu tinha de pegar era minha bolsa de couro, com algumas dracmas, ambrósia, néctar, a adaga e outras coisas. Passei tudo para a mochila. Em seguida fomos novamente para a lojinha, comprar algumas coisas para mim. Só agora eu percebia que havia vindo apenas com a roupa do corpo. Compramos mais ambrósia e néctar, um cantil onde colocamos água, mais comida e mais algumas roupas para mim, só por precaução.

– E agora? – perguntou-me Mayana.

– Hum... Ah! Por Zeus! Esquecemos uma coisa importantíssima! – gritei e saí correndo.

– Mas, o quê...? – foi o que Mayana conseguiu responder antes de eu arrasta-la.

Paramos em frente ao arsenal de armas.

– Nós nos esquecemos de escolher uma arma para você – disse. – Ou você já escolheu?

– Ah... É isso. Hã, não, eu não escolhi...

– Então vamos lá.

Ela parecia apreensiva, mas me seguiu.

Mayana sempre foi muito pacifica. Exceto nos momentos de pura raiva – quando ela queria me defender de algo, por exemplo –, ela sempre fora a calma em pessoa. Ela não se irrita facilmente, é organizada e tem tudo sobre ordem, sempre. Acho que eu entendo um pouco o fato de ela não ficar muito confortável em um local que está rodeada por armas.

Já eu sou o oposto disso – acho que é exatamente o motivo de ela ser minha melhor amiga, ela me completa, ela tem as virtudes que preciso e vice-e-versa. Sou extremamente “esquentadinha”, como meu pai diz. Não tenho paciência. E, você pode ter certeza, se você mexer com alguém que eu amo, você está frito. E é isso que vai acontecer com Éris, ela vai ser destruída. Como eu sempre digo, você pode fazer o que quiser comigo, mas não mexa com alguém que eu amo.

Mayana entrou no recinto. Ela parecia hipnotizada, mas não como eu. Eu adorava ir àquele lugar, ver tantas armas letais e bonitas ao mesmo tempo. Mas o olhar de Mayana era horrorizado. Como se tivesse o próprio Tífon na frente.

– Ora Mayana, faça-me o favor. Até parece que você está vendo meu tio Nico, filho de Hades. Vamos, escolha logo uma. Eu vou te ajudar. Qual seu estilo de luta? Você gosta de agir de longe ou de perto?

– L-luta? Helena, eu nunca lutei. Como eu vou saber meu estilo de luta?

– Verdade. Bem, então vai ser só o teu sexto sentido mesmo. Dizem que os filhos de Hécate têm um ótimo sexto sentido. Vamos, feche os olhos e caminhe para onde você acha que deve ir. Deixe teus poderes te guiarem.

Ela fechou os olhos e ficou assim por alguns segundos. Quando eu começava a achar que estava mesmo dando certo ela abriu novamente.

– Me sinto uma idiota. – disse ela soltando um suspiro.

– E eu me sinto furiosa! Se você não fizer isso eu vou ter que escolher para você, e não garanto nada! – rebati.

– Ora, eu não posso simplesmente ficar sem armas. Afinal, eu já tenho meus poderes. E eu sou pacifista Helena, você sabe que eu...

– Eu não sei de nada – interrompi. – Só o que sei é que você tem que escolher uma arma. Amanhã nós vamos sair do Acampamento em uma missão. Não vai haver mais barreiras mágicas para nos proteger. Vamos estar nós por nós mesmos. Apenas. E, se você acha que aquela ker, as górgonas ou todos os outros monstros iriam te livrar só porquê você é “pacifista”, por favor, não se engane.

Ela pareceu tomar consciência da gravidade do que eu dizia, pois fechou os olhos de novo e, depois de mais alguns segundos, começou a vagar até a outra extremidade do arsenal. Parou em frente à uma prateleira cheia de adagas e se virou para mim.

– Há algo aqui – anunciou ela.

– Tudo bem. Então pegue.

Ela estendeu a mão em direção a uma das adagas, ainda de olhos fechados. Acontece que ela ia pegar na parte afiada, não fosse por eu ter pego no lugar dela. Ela abriu os olhos na mesma hora. Ao olhar minha mão, seus olhos se arregalaram e a cor fugiu de seu rosto. Segui seu olhar e vi o que a fez passar mão. Ao pegar a adaga fiz um corte imenso e fundo em minha mão. E estava sangrando muito, muito mesmo.

– Hã, eu cuido disso depois. Tome a adaga – ao entrega-la, percebi que estava limpa, o que achei muito estranho.

– Não está doendo. Oh, meu Deus... Quer dizer, meus deuses. Como foi que você fez isso Helena?

– Você ia fazer o mesmo que eu se eu não tivesse impedido. Mas eu posso curar isso rapidinho. Primeiro a arma – disse, em um tom imperativo.

Ela pegou a adaga e examinou-a.

– É essa!

– O.K., então vamos ao...

Mas minhas palavras morreram aí. Fui interrompida por um galope e Quíron entrou.

– Olá meninas, vejo que Mayana está escolhendo a arma, já que Helena já tem a dela, não é?

– Sim, Quíron – respondi, escondendo minha mão. – A Mayana pode ficar com essa adaga?

Mayana levantou a adaga para ele e ele assentiu.

– Bem, menina. Vocês terão treino de arco e flecha daqui a trinta minutos e logo depois de espada e voo com pégasos. Sugiro que se apressem – e dizendo isso saiu.

– Vamos para o lago então – respondi.

Seguimos para o lago de canoagem e eu molhei minha mão lá, que começou a se curar. Ela arregalou ainda mais os olhos e abriu a boca como se quisesse falar, mas as palavras não saíssem.

– Como eu sou neta de Poseidon e herdei o poder dele a água me cura e me dá forças, se acostume. – Fui logo explicando.

Depois disso seguimos para o treino. Mayana, mesmo nunca tendo lutado, se saiu muito bem. Ótima. Ela conseguia atacar bem de espada. Até conseguiu me vencer uma vez. Pelo jeito, é melhor mesmo para ela a proximidade do que o contrário, pois nas aulas de arco e flecha ela não foi tão boa assim. Parece que ela não tem uma mira muito boa. O oposto de mim. Usei meu próprio arco e aljava – que apareceram em minhas costas no momento em que pisei na arena – e todos os elogiaram.

Depois disso, tivemos aula de voo com pégasos. Eu já estava acostumada, mas Mayana ainda tinha um pouco de receio. Acho que depois de relaxar um pouco ela começou a se divertir.

Finalmente, fomos nos arrumar para o jantar. Depois do jantar, Quíron deu alguns avisos:

– Amanhã vamos ter captura da bandeira e depois de amanhã corrida de bigas. Estejam preparados.

Eu e Mayana resolvemos não participar da fogueira, pois já estava ficando tarde e tínhamos que dormir. No outro dia iríamos acordar muito cedo. Gritei “boa noite” enquanto ela se encaminhava para seu chalé e eu ia para o de Poseidon.

Deitei-me no beliche e encarei a parte de baixo da outra cama. Apesar de amanhã eu estar indo para uma missão suicida sem os meus pais, hoje foi um dia legal e proveitoso. Vi Grover, Juníper e Thalia; passei um tempão com Mayana; treinei muito; e ainda recebi os presentes de Ártemis. Estava feliz. Continuei encarando o teto, sem pensar em nada concreto. Apenas um monte de coisas aleatórias que surgiam e iam muito rapidamente, até que adormeci.

Em meu sonho, eu estava em um lugar que eu já havia ido, mas ainda era um bebê. De qualquer modo, reconheci na hora. O Olimpo. Estava no palácio dos deuses, e, sentado em seu trono, estava Zeus. Tudo estava tranquilo apenas o som dos cantos dos pássaros e o farfalhar das folhas. Mas o rosto do deus era aflito. Talvez ele soubesse sobre meu pai e Éris.

Estava quase relaxando com a tranquilidade do local quando um triplo grito cortou o ar e reverberou nas paredes. Três mulheres. Saindo correndo de portas diferentes atrás dos tronos – que eu nem sabia que existia –, Hera, Afrodite e Atena encararam umas as outras e depois a Zeus.

– Por todos os deuses! Que gritaria é essa?! O que houve? – esbravejou ele.

– Roubaram minha lança! – gritou Atena.

– E meu cinto! – completou Afrodite.

– E pior ainda – disse Hera –, meu cetro!

– Ora, vocês já procuraram direito. Vai que está debaixo de toda a sua maquiagem, Afrodite – sugeriu Zeus.

– Primeiro: eu não uso maquiagem. E segundo: eu já procurei no Olimpo inteiro e não está em lugar nenhum – rebateu ela.

– Eu também não encontrei – falou Hera.

– Pai, alguém roubou nossos símbolos! Há algo errado acontecendo.

Uma ruga de preocupação se alojou na testa dele.

Em um canto, fora da visão de todos, uma mulher muito bonita de cabelos pretos e olhar azul gélido, sumiu como névoa.



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