A Mortal, Filha De Dois Deuses. escrita por Amortecência


Capítulo 1
Meu Futuro Presente De Aniversário.




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Mais um dia chato, em uma escola normal chata. Mas, hoje está acontecendo algo ainda pior: temos um passeio boboca pelo Museu Metropolitano da Arte em NY, vamos ver estátuas gregas e romanas.

Não que eu não goste da Grécia ou da Roma. Na verdade eu adoro. Não, é mais que adorar, eu amo – a Grécia mais que a Roma. Isso é um sentimento mútuo para pessoas assim como eu... Acontece que eu já sei de tudo que os meus professores vão falar. E pior, algumas das coisas que eles falam estão erradas, e isso me deixa terrivelmente irritada. E se tento corrigir eles dizem que se eu ficar contando “mentiras” de novo, eles vão tirar pontos de minha média.

Como eu sei de que tudo isso está errado? Bem, isso faz parte do que eu sou.

Olá meu nome é Helena, tenho 16 anos e sou filha de dois semideuses: Percy Jackson e Annabeth Chase. Você deve estar se perguntando “Semideuses? Mas que diabos é isto?” Bem, eu posso explicar, mas não te garanto nada. Minha TDAH não ajuda muito nesse tipo de coisa. Semideuses são pessoas metade humanas, metade deusas – dã. Eu não sei se você acredita nessas coisas, mas os deuses gregos ainda vivem e governam. E, às vezes, eles se enjoam de ficar lá, sentados naquele imenso trono real no Olimpo, e descem para dar uma voltinha aqui na Terra. O problema é que esses deuses tem o coração fraco e se apaixonam facilmente, podendo gerar fil­hos com humanos. Esses filhos são os semideuses. E, só para constar, TDAH e disle­xia são alguns dos sinais de que você é um semideus. Mas, isso não se aplica a mim.

Já eu não sou uma semideusa, porque minha mãe e meu pai não são deuses. Mas são meios-sangues. Segundo a tradição a maioria dos filhos entre dois seres desse “tipo” – ou seja, semideuses –, não resultam em muita coisa. Na maioria das vezes são apenas mortais sem nenhum poder, que não herdam nada de seus ancestrais di­vinos. Mas há uma rara minoria – rara mesmo, até porque os filhos de semideuses são raros, assim como os próprios semideuses – que herda algo de um de seus “avós”.

Bem, eu não herdei nada. Até agora, pelo menos, nenhum sinal. E isso me frustra muito. Eu também quero ter a chance de ser uma heroína...

Meu pai e minha mãe são algo que eu chamo de “compulsivos por normali­dade”. Só porque passaram a vida inteira lutando contra monstros, titãs, gigantes e deuses do mal, agora querem viver como se tudo aquilo não passasse de um pesa­delo e se lembrar apenas da glória. Eles também são superprotetores. Acham que eu iria viver cercada por monstros. Pura bobagem! Eu sou tão humana quanto Mayana, minha melhor amiga, sentada do meu lado nesse instante.

O fato é: existe uma espécie de cidade para semideuses e seus descendentes. E lá eu não precisaria mentir sobre quem eu sou, sobre quem meus pais são. Melhor ainda: não precisaria mentir que meus avós haviam morrido – isso é impossível. E eu frequentaria uma escola apropriada para pessoas com TDAH e dislexia, e aprende­ria coisas realmente interessantes.

Mas, como sempre, meus pais não querem isso para mim. Eles querem que eu viva a vida como uma mortal comum, fingido que meus avós não são Atena e Po­seidon. E isso é difícil. Por mais que eu mesma não seja nada “especial”, que não passe de uma esquisitona que arruma muita encrenca na escola, eu não consigo evi­tar. Na verdade, é exatamente por esse motivo que às vezes eu arrumo encrenca. Quando alguém me irrita, eu o fico encarando, perguntando a mim mesma mental­mente “Quem ele acha que é? Quem ele acha que a família dele é? Ela está tentando morrer, me enfrentando desse jeito?”. Meu pai diz que às vezes eu pareço com Thalia Grace, uma amiga da família. Thalia se juntou as Caçadoras aos quinze anos, ou seja, até hoje tem essa aparência. Ele diz que eu me pareço com ela porque sou... Como ele diz mesmo? Autossuficiente demais, acho. Quer dizer orgulhosa.

Nós avançávamos por ruas lotadas de prédios, uma selva de pedras. O ônibus cheirava a suor, porque estava muito calor e já fazia um bom tempo que estávamos andando. Mayana dormia ao meu lado. Me perdi novamente em pensamentos, res­mungando para mim mesma, como meu pai podia conseguir ser normal daquele modo? Como se não tivesse derrotado Cronos e outras coisas malignas com as pró­prias mãos.

Depois de um tempo pensando sobre isso e arquitetando vários planos para fazer meu pai mudar de ideia, me dei conta que estávamos parando. Já havíamos chegado. Chacoalhei Mayana, dizendo para ela acordar. Mas que droga, ela não acordava de jeito nenhum. Dorminhoca.

– Mayana, acorda! Acorda! Quase todo mundo já desceu! Acorda logo caramba!

– Hum? Hein? Quem? Quando? Onde?

– Agente ta descendo! Levanta!

– Descendo? Descendo pra onde?

– Ah, levanta logo! – disse pegando no seu braço e dando um puxão, fazendo-a se levantar.

Saímos do ônibus e fomos em direção do museu. A Sra. Comini falava sobre as obras de arte, contando suas histórias, a quem pertenceu, e tal... Mas eu nem prestava atenção. Estava muito envolta em pensamentos, muito distraída. Até mesmo para responder Mayana.

Até o momento em que vi, sobre uma redoma de vidro, um arco e uma aljava de flechas. Eram lindas, o arco era de ouro com desenhos de flores em relevo e uma parte coberta por couro para colocar a mão, a linha era tão fina que quase não se podia ver, a não ser por um cintilar prateado – me perguntei se aquilo não arrebentaria se eu usasse. A aljava também era do mesmo modo: dourada com desenho em relevo de flores entrelaçadas e uma faixa de couro para apoiar no corpo. Já as flechas... As flechas eram perfeitas. Por mais estranho que fosse, eu achei elas a parte mais bonita, não sei bem o porquê. Talvez fosse a cor estranha, mesclada de dourado, bronze e prata do “corpo”. Talvez, fosse apenas a penugem branca cintilante na parte de traz, eu podia jurar que era pelo de unicórnio – não duvide do que estou falando, já vi um. Ou talvez fosse a ponta afiadíssima e prata, ou a incrível leveza que possuía e era visível. Acho que na verdade era tudo isso junto.

Bem, de qualquer modo, eu juro, nunca quis tanto algo em minha vida. Eu sentia como se aquilo estivesse me puxando, me arrastando para ele. Parecia que ele estava sussurrando para mim “Venha, eu sou seu. Me pegue, me leve embora com você. Eu pertenço a você desde o dia em que fui criado, há muito, muito tempo.” Quando me dei conta, já estava ao lado da redoma, admirando a obra mais bonita de todo o museu.

– Helena? Algum problema? – falou a Sra. Comini, tirando-me de meus devaneios.

– É. Algum problema? Você está com uma cara de retardada pior do que normalmente. Precisa ir a enfermaria? – disse Taisa Aguiar. Várias risadas ecoaram pela sala, mas Mayana parecia a ponto de dar um chute nela. Decidi ignorar, ela pagaria depois.

Taisa era filha de um empresário muito importante: Luís Aguiar. Só por isso ela ficava se gabando toda, como se fosse a maior benção que o mundo já havia recebido. Ora, ora, ela e sua família nem ao menos estariam vivos se não fosse pelo meu pai, ai eu queria ver ela se gabar lá no mundo inferior. Mas, agora o arco era mais importante.

– Hã... Sim, está tudo bem sim. Eu queria, hum... Eu queria saber que arco é esse. – disse, percebendo que todos olhavam para mim e Mayana estava tentando segurar o riso. Eu devia estar com uma cara estranha, como uma louca olhando seu vicio.

– Oh, querida! Me desculpe, mas a escola não nos autoriza a falar sobre armas – revirei os olhos, como meu pai, Percy Jackson, que tem uma caneta que vira espada, pode me por em uma escola dessas. – E eu também não sei muito sobre esse arco, só sei que foi de uma das Caçadoras de Ártemis. Porque meu benzinho?

Meu benzinho? Meu benzinho? Isso é sério? Pelo amor dos deuses né?

– Hã, não, nada, eu só achei bonito – bonito, lindo, maravilhoso, perfeito. Meu.

– Ah... Bem, vamos continuar nossa visita.

E assim continuamos, eu relutante em deixar o lugar abençoado onde estava redoma com o arco e aljava com flechas de alguma das Caçadoras de Ártemis. Só consegui sair dali porque prometi a mim mesma que, quando chegasse em casa, iria na mesma hora tentar falar com Thalia ou alguém que me ajudasse com isso. Mal sabia eu que não chegaria em casa...



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Notas finais do capítulo

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