Death Note: Ressurreição escrita por Goldfield
A marola da revolução morre na praia do marasmo
E eu ainda espero a ressurreição
Eu ainda aguardo, aguardo a cada manhã
Pois sem a Justiça, com ela morta
Quem me protegerá nas noites mais frias?
Pois só a Justiça trará meu futuro
Sem que eu me renda às maçãs verdes
A Justiça não me trairá
E eu ainda espero a ressurreição
Porque a Justiça não pode morrer
E é nisso que irei acreditar
Pois ela mais uma vez se fará sentir
Abalará o mundo como nunca abalou
A Justiça ressuscitará
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Capítulo IX
“Perda”
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Paule, como sempre, acenava ansiosa enquanto chamava pela amiga. Esta se aproximou com o semblante fechado, mochila às costas e abraçando os demais livros junto ao peito. Assim que chegou perto da outra jovem, saudou-a de forma seca e um pouco ríspida:
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Irritada com o comportamento desesperado de Delacroix, embora não demonstrasse isso diretamente, Clare acompanhou-a pelos corredores da universidade até a sala de aula. Ao entrarem, o professor já se encontrava de pé atrás de sua mesa, no entanto os outros alunos também acabavam de chegar e ele aguardava todos se acomodarem para poder dar início à avaliação. Justine e Paule se dirigiram até seus assentos de costume, sob os olhares de soslaio de alguns desafetos, e pouco depois a turma já estava presente e sentada em sua totalidade. Pasquale abriu sua bolsa, retirou dela uma pilha de papéis, pigarreou por um instante e então iniciou a explicação de como seria a prova:
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Coçou uma das bochechas antes de prosseguir:
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Justine franziu as sobrancelhas. Ela sabia muito bem em que ponto aquela fala do docente chegaria...
Maldito inimigo da justiça!
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Clare sentiu um leve calafrio diante de tal fala, porém logo recuperou o ar sério e frio.
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Ninguém se manifestou, e assim o professor passou a distribuir os papéis em branco a partir da primeira bancada de alunos. Já começavam a fazer a avaliação assim que as recebiam, e Justine, com um olhar um tanto perdido, pensava nas intenções de Pasquale ao preparar aquele tema. Era claro que desejava mais uma vez explicitar sua discordância em relação a Kira, sua teimosia em dizer que a justiça divina não era legítima. E o pior era que desejava que toda a classe estivesse de acordo com seu errôneo ponto de vista! A loira ficava até tentada a escrever o nome do educador no Death Note, porém não podia de forma alguma levar isso a cabo se quisesse continuar acima de suspeitas. Ela quebraria todos os argumentos dele através da prova, era o meio que possuía para isso...
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A órfã foi arrancada de sua distração pela figura de Pasquale, que, sem que houvesse percebido, já subira até ali e agora se encontrava de pé ao seu lado, olhar fixo em si enquanto lhe estendia uma das folhas. Justine a apanhou com a cara fechada e, usando a caneta-tinteiro, pôs-se logo a escrever, acabando por não notar que o professor seguiu em frente com um discreto sorriso em seu semblante. Não podia negar que o jeito desafiador daquela jovem o agradava e muito...
Quem é contrário à Kira se torna um criminoso do tipo mais vil, pois não deseja que o mundo seja limpo do mal... Ainda engolirá essas suas palavras uma a uma, Pasquale!
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A porta foi aberta lentamente, rangendo num som quase surdo.
O capitão Matsuda adentrou o apartamento com os raios solares da manhã iluminando a sala de estar, retirando o casaco e os sapatos antes de prosseguir pelo ambiente do qual já estava com saudades. Perdera o costume de trabalhar todo o tempo em algum caso, e talvez demorasse um pouco até se readaptar à rotina de permanecer vários dias na companhia apenas de “L” e os demais membros da equipe de investigação.
Ouviu outros passos no recinto, o pensamento na pessoa que certamente os dera fazendo seu coração palpitar feliz. Logo ela apareceu, lívida, graciosa, linda como sempre fora e sempre seria. As olheiras na face e os cabelos desalinhados denunciavam, no entanto, a preocupação que a vinha assolando recentemente. Touta sentiu-se por um momento culpado por aquela triste situação, mas ao mesmo tempo sabia que não poderia fugir ao seu dever, por mais que este exigisse de si e a esposa sacrifícios.
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Antes que terminasse de falar, Sayu correu em sua direção e o abraçou com força, suas mãos tateando as costas do amado como se quisessem se certificar de que ele estava mesmo ali junto dela, de que era real e não um devaneio de sua mente tão sofrida. Recostou a cabeça junto ao tórax de Matsuda, ouvindo seu coração bater agora reconfortado por todo aquele carinho sincero e intenso. Em seguida ergueu a face e beijou-o demoradamente, saboreando cada segundo, cada mínima parcela de instante. Cada momento que passavam na companhia um do outro nunca fora tão valorizado por ambos.
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Ter filhos... Algo que vinham planejando desde que se casaram e que ainda não haviam conseguido realizar. Como ela queria isso... Tentou confiar na promessa do marido, acalmar seu espírito diante de tão convictas afirmações, mas não conseguia... Não deixava de pensar que um risco soturno os rondava, ameaçando a felicidade pela qual lutavam – e pior ainda – suas próprias vidas.
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E trocaram mais um breve beijo enquanto deixavam o cômodo, agarrando-se àqueles breves, porém valiosos, momentos de calmaria.
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Um quarto fechado, a luz matinal também banhando em claridade seus tons cinzas e sombrios.
Num dos cantos do recinto vê-se a sempre macabra figura alada, sua silhueta se assemelhando a algum emblema de mau-agouro, uma estátua demoníaca. Imóvel, silenciosa, apenas analisando minuciosamente o presente. Sobre a cama de lençol desarrumado, a mulher de aspecto triste se encontra sentada, também parada, as duas mãos unidas junto ao ventre como se sentisse frio... ou fosse afligida por algo. Até que indaga:
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E, cabisbaixa, tentou somar forças para o que teria de empreender em breve. Cerrou os punhos num gesto de desafio. Depois de tantas derrotas, finalmente chegaria a hora de reagir. Mesmo com uma perda que não poderia evitar... Ela venceria no final.
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Fim de tarde.
Justine e Paule retornavam da universidade pelas ruas de Montparnasse. Não haviam trocado quaisquer falas durante todo o trajeto, Delacroix percebendo que a melhor amiga estava ainda mais introspectiva do que costumava ser, e isso começava a preocupá-la. Resolveu quebrar o gelo:
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Metros depois já se viram diante do sobrado onde a órfã morava, Paule se despedindo num aceno que Justine nem sequer notou. Apenas subiu pelos degraus diante da porta, cruzou-a e ganhou o vestíbulo da casa. Seu atual motivo de viver a aguardava no andar superior, a missão que se dispusera a cumprir e que lhe vinha sendo a única coisa para a qual tinha real ânimo. Se ao menos fosse possível abandonar os estudos e aquela insossa vida de fachada... poderia se dedicar em tempo integral ao Death Note.
Passou pela sala de estar, o avô sentado diante da televisão. Nela, um jornalista dava as últimas notícias. A garota já ia seguir caminho até seu quarto, quando François a deteve:
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Ela bufou contrariada, mas aproximou-se do senhor. Este, apontando para o aparelho ligado, disse num tom de certa revolta:
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Justine sabia muito bem a que o avô se referia. Maio de 1968. Ele, na época estudante da Sorbonne, havia participado do movimento que sacudira Paris e toda a França. Derrubar os antigos valores, lutar por uma sociedade igualitária... Quartier Latin... A repressão... Ele se lembrava nitidamente de tudo, daquela época distante em que acreditava que valia a pena batalhar por aquilo que achava justo. No entanto se acomodara, e todo esse ímpeto se fora... A neta, talvez, conseguisse resgatar um pouco desse seu espírito guerreiro. Sorriu ao pensar nisso.
Quando deu por si, a moça já percorria os degraus da escada.
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E, com um ar sereno, François desligou a TV.
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Death Note – Histórico:
Existem também indícios da presença de Death Notes na Europa medieval, Japão feudal, Rússia czarista e Alemanha nazista, entre outros locais e períodos. As circunstâncias envolvendo seus usos, no entanto, permanecem um mistério.
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Justine destrancou a fechadura e atravessou a porta do quarto.
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O Shinigami estava acomodado na cadeira diante da escrivaninha, sua atenção se alternando entre a televisão e o computador como vinha sendo durante os últimos dias. A estudante atirou a mochila e os livros sobre a cama, enfiou um dos braços no interior da primeira e retirou dela o Death Note quase de forma maquinal. Rindo, o deus da morte cedeu seu lugar à aliada e esta abriu o caderno sobre o móvel, tendo numa das mãos a caneta-tinteiro já preparada para registrar em suas páginas os nomes dos meliantes que para ela mereciam deixar de existir.
Verificou o arquivo de texto no PC. Quinze novos criminosos. Os meios de comunicação ao redor do mundo pareciam estar restringindo a divulgação deles devido aos atos de Kira, porém mesmo assim ainda era um número satisfatório. Somado à quantidade de nomes que já possuía, Clare tinha quem punir por no mínimo mais duas semanas!
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Enquanto examinava as informações sobre os bandidos e suas fotos, a jovem acabou notando algo mais na escrivaninha. A alcance de sua mão havia uma folha de papel aparentemente em branco. Apanhando-a, descobriu que em seu verso estava desenhado um rosto a lápis, os traços bastante reais e detalhados. Só então Masuku lembrou-se de avisar:
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Justine arrastou o cursor pela tela até o último nome da lista, ficando surpresa com o que viu.
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Num misto de choque e determinação, Clare olhou de novo para o desenho, memorizando o semblante jovial e até um tanto inocente retratado pelo deus da morte, e tratou de elaborar seu óbito através do Death Note. A primeira vítima daquela noite.
Masuku, por sua vez, deu um riso seco, debochado... doentio.
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Japão.
No centro de operações de “L”, mais precisamente na sala em que passavam a maior parte do tempo trabalhando nas investigações, todos os voluntários da força-tarefa encontravam-se sentados atrás de suas mesas aguardando o início da importante reunião convocada pelo detetive. Este foi o último a adentrar o recinto, como sempre descalço e com suas roupas brancas, mas nunca estivera tão abatido e exausto quanto aparentava estar. Sob os olhares assustados dos policiais, principalmente Matsuda, que nunca pensara que chegaria a ver o obstinado Near daquela maneira, ele se dirigiu em silêncio até seu assento, no qual se alojou em sua posição peculiar, e passou vários segundos ainda calado, fitando o chão, antes de finalmente erguer os olhos irritados e dizer:
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Era isso? O grupo todo já sabia. Eles haviam inclusive se oferecido para tomar parte naquele caso sabendo que poderiam sair dele sem vida. Aceitaram abrir mão até disso em nome da justiça, o que já fora salientado diversas vezes. Por que agora “L” voltava a afirmar tal coisa, ainda mais de uma forma que parecia ser a primeira vez? Seria a fadiga?
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Nisso, Near estremeceu, como se acometido de alguma dor ou algo que o fazia sofrer. Seu abatimento era terrível, a preocupação em relação à sua pessoa agora dominando todos na sala. Aquele caso parecia exigir mais dele do que qualquer outro ali, e um crescente terror, uma verdadeira fobia em relação ao que ocorria, parecia cada vez mais corroer a postura antes tão séria e inabalável do detetive. Acabou por abrir uma gaveta de sua mesa e de dentro dela apanhou um baralho. Depositando as cartas em cima do móvel, começou, com as mãos bastante trêmulas, a montar um pequeno castelo com elas, a tarefa destinada a reduzir sua tensão, mas provocando um efeito quase contrário em si e nos outros que presenciavam aquele seu triste estado.
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E, abrindo o volume, leu em voz alta a instrução em particular visível na parte de trás da capa:
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Uma frase sem dúvida de impacto, um tanto aterradora, era preciso admitir. Existindo um artefato como aquele capaz de matar praticamente por mágica, até aos céticos ficava mais crível haver mesmo Céu e Inferno. Porém que conclusão o detetive poderia ter tirado a partir disso?
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Conforme expunha seus pensamentos, Near continuava erguendo seu castelo de cartas, os dedos ainda muito trêmulos e gotas de suor lhe escorrendo pela face. Sua própria hipótese parecia aterrorizá-lo. Os policiais cogitaram até interromper a reunião pelo bem dele, mas tinham de saber. Agora não havia mais como voltar atrás.
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A afirmação veio de forma direta e rápida, afetando a todos. Os semblantes assumiram tons atônitos, incrédulos. Matsuda pareceu o mais consternado, sua pele ficando pálida e seu corpo passando a também tremer. Dentre todos, era o que mais sabia que aquela teoria fazia todo o sentido. E justamente por isso era tão mórbida e perturbadora.
Raito... Você? Será mesmo?
Foi nesse momento que todos se assustaram quando a porta da sala se abriu. Era apenas a gentil senhora Akaike que, carregando uma bandeja, trazia uma refeição para “L”. Esta consistia em dois sanduíches com recheio de salame, tomates e alface, uma azeitona fincada em cima de cada um por meio de um palito. Acompanhada pelos olhares dos presentes, a idosa caminhou até a mesa de Near e depositou em cima dela o que trazia, o grupo ficando ligeiramente aliviado por ao menos ter a visão de uma figura serena como a da japonesa após uma revelação tão bombástica. Em seguida ela se retirou, e o detetive, depois de abocanhar um pedaço de um dos lanches, prosseguiu em sua fala:
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O marido de Sayu compreendia muito bem. Temia apenas que tal informação chegasse de alguma forma ao conhecimento da esposa, as conseqüências podendo ser catastróficas. Porém, se o nome do antigo Kira fosse mesmo divulgado apenas entre eles, não haveria grande risco de isso ocorrer. Além do mais, como bem dissera “L”, era um dado necessário para o fechamento do caso.
Ainda muito afetado pelo que sentia no momento, seu corpo transparecendo medo como nunca o fizera, Near mordeu de novo o sanduíche, sua língua tragando também a azeitona com o palito, para em seguida, muito nervoso, dizer enquanto mastigava:
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Não completou a sentença. Um som engasgado veio de sua boca, um ruído molhado, abafado. Manteve os lábios abertos pelos segundos seguintes, nenhuma palavra, porém, sendo pronunciada... Apenas o mesmo barulho se repetiu, acompanhado agora de tossidas.
Todos perceberam de imediato o que acontecia bem diante de seus olhos. Adams, ao fundo do recinto, foi o primeiro a se levantar, correndo na direção de “L”. Desesperado, abraçou o detetive pelas costas, seus braços comprimindo seu tórax, enquanto tentava a qualquer custo socorrê-lo. Pressionou o peito dele uma vez, duas vezes. Mas ele apenas tornava a tossir de forma cada vez mais seca.
Vários dos outros policiais também se ergueram de suas cadeiras e chegaram perto de Near, todavia Ernest os deteve exclamando:
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Nenhum deles jamais presenciara cena tão angustiante. Com a traquéia obstruída, incapaz assim de respirar, “L” debatia-se lutando por sua vida, seu rosto ganhando uma coloração vermelho-azulada. E, conforme sentia a doce certeza da existência aos poucos deixar seu corpo, seu coração preparando-se para parar de bater, foi tomado de uma imensa vergonha por ter falhado. Acabara derrotado pelo novo Kira sem nem ao menos ter uma suspeita de quem fosse. No entanto possuía pleno conhecimento das circunstâncias de seu fim e com isso, ao menos para si, sua teoria ficava comprovada. Infelizmente não poderia mais expressá-la verbalmente aos aliados. Engasgando de novo ao mesmo tempo em que o fiel agente Adams tornava a golpear seus pulmões em vão, percebeu pela primeira vez que “L” era a letra inicial da palavra “líder”. Tarefa na qual fracassara. Teriam de continuar sem ele.
Todos assistiam desesperados àquela provável exibição macabra dos poderes de Kira, quando Near finalmente desfaleceu, seu tronco se soltando sozinho dos braços de Adams enquanto se esparramava no assento, olhos arregalados. A língua se contorceu dentro da boca ainda aberta e, num último movimento, a azeitona e o palito, embebidos em saliva, voaram sobre o móvel, quicando em uma das beiradas e acabando ambos por rolarem junto ao chão. Em seguida o corpo já sem vida do detetive inclinou-se para frente... chocando-se pesadamente com a superfície da mesa, a cabeça voltada para a direita, os olhos mantidos bem abertos e as pupilas dilatadas, um filete de sangue serpenteando por seu queixo...
A agente Krammer gritou de horror. Os demais permaneceram estáticos, incapazes de executarem qualquer ação. Simplesmente não esperavam por isso. Apesar de igualmente estarrecido, Matsuda, encarando o cadáver do jovem de cabelos brancos, conseguiu ouvir um som distinto, vindo do lado de fora. Pela ausência de reação por parte dos colegas, rapidamente concluiu que era o único capaz de notá-lo. Tratava-se de uma risada.
Dominado pela fúria, o capitão sacou sua arma e se dirigiu imediatamente para o exterior da casa, passos rápidos e mira pronta para dar cabo de qualquer um. Rompeu pela saída gritando descontrolado, um legítimo brado de guerra, a gargalhada tornando-se mais e mais próxima, adquirindo aspecto fantasmagórico quando unida ao gelado vento noturno. Até que, perto de uma árvore, visualizou um par de asas batendo rumo ao céu, seu dono sendo-lhe inconfundível... A face alva, os globos oculares únicos, os trajes... E, conforme se distanciava do chão, sua imagem confundindo-se junto à grande lua avermelhada no horizonte, Touta pronunciou num murmúrio o nome da criatura, uma latente dúvida ainda estalando em seu cérebro tão perturbado:
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Metros acima, o Shinigami, mordiscando uma maçã verde e admirando o belo Monte Fuji, afirmou ainda em tom de riso:
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Aguardando a Justiça
Eu quero quebrar com o marasmo deste mundo
Com a inércia das pessoas
Com a preguiça das maçãs verdes
Eu me tornarei luz
O sol da humanidade cega e tola
Eu me tornarei luz
E irei guilhotinar os maus
Eu posso conduzir a Justiça em minhas mãos, eu sei
Eu sei que posso trazer a luz a este mundo
Eu sei que posso amadurecer estas maçãs
Eu sei que posso fazer a ressurreição
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Prévia:
É em meio ao luto que surge a reflexão...
Você ainda se lembra de como viemos parar aqui? Temos muita coisa para contar...
Será o tédio o verdadeiro motor da História?
Próximo capítulo: Passado
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