Death Note: Ressurreição escrita por Goldfield
A marola da revolução morre na praia do marasmo
E eu ainda espero a ressurreição
Eu ainda aguardo, aguardo a cada manhã
Pois sem a Justiça, com ela morta
Quem me protegerá nas noites mais frias?
Pois só a Justiça trará meu futuro
Sem que eu me renda às maçãs verdes
A Justiça não me trairá
E eu ainda espero a ressurreição
Porque a Justiça não pode morrer
E é nisso que irei acreditar
Pois ela mais uma vez se fará sentir
Abalará o mundo como nunca abalou
A Justiça ressuscitará
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Capítulo IV
“Ímpeto”
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Clare caminhou bem lentamente até sua cama, temendo de alguma forma uma reação da entidade mística caso realizasse movimentos bruscos, e sentou-se nela sem tirar os olhos da fantástica figura. Esta, por sua vez, virou-se no ar para acompanhar a moça, fitando-a com um quê muito forte de curiosidade. Parecia ter um fascínio misterioso por todas as ações dela.
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O Shinigami não conseguiu se controlar diante de tais pensamentos e explodiu numa gargalhada irônica, o incômodo som desta parecendo ecoar por todos os cantos do quarto e oprimindo ainda mais a confusa mente de Justine. Ela por um momento teve medo de que o visitante pudesse ser ouvido por seu avô no andar de baixo e pelos vizinhos, porém lembrou-se logo das regras do Death Note e de como deixavam entender que isso felizmente não era possível. Se estivessem mesmo corretas, apenas ela era capaz de ver e escutar o deus da morte.
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Concluindo pela expressão atônita da estudante que ela ainda não havia compreendido o questionamento, ele explicou:
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A luz do entendimento começou a dominar o rosto de Clare enquanto ela rebatia:
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O Shinigami voou para aproximar-se da cadeira de rodinhas e se sentou nela de frente para Justine, suas grandes asas resvalando na escrivaninha e no monitor do computador atrás de si. A garota, não desejando ter sua atenção desviada por nada naquele momento, pegou o controle remoto da TV e desligou-a justo quando o jornalista do noticiário ia informar algum fato envolvendo um criminoso morto no Japão. Com as mãos nos joelhos e expressão fixa, Masuku resolveu continuar esclarecendo aos poucos as dúvidas da universitária:
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Justine entendeu tudo. Fora incumbida de uma importante missão, um propósito que poucos indivíduos seriam capazes de cumprir. Aquele Shinigami trouxera mais um Death Note para o Mundo Humano com o intuito de que alguém o encontrasse e o utilizasse para limpar o planeta do mal. Ela fora a escolhida do destino, e felizmente se julgava apta o bastante para levar a cabo a tarefa. O susto inicial em relação ao caderno, a ojeriza a ele, eram rapidamente substituídos por um inabalável ímpeto de punir quem merecia, trazer a verdadeira justiça de volta à sociedade. O poder divino estava agora em suas mãos, e não podia de forma alguma recusá-lo.
A primeira reação visível da moça ao término da fala de Masuku, porém, foi um suspiro de sofrimento, como se algo que a incomodara houvesse passado por sua cabeça. Isso não ficou despercebido ao deus da morte, que imediatamente perguntou:
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Calado, o Shinigami viu Justine se levantar da cama e andar determinada até a gaveta da escrivaninha. Abriu-a e apanhou o Death Note. Folheando-o, tornou a sentar-se em cima do lençol e logo se deteve na primeira página, onde o nome de Eliah Bantu estava bem visível no topo. A noite aos poucos se impunha, o céu de Paris se enegrecendo e o quarto permanecendo iluminado graças à luz dos postes diante do sobrado.
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Em seguida Justine abraçou com força o caderno, comprimindo-o junto ao peito como se quisesse evitar que nunca ninguém o tirasse de si. Ele seria seu instrumento para a justiça, a concórdia, o equilíbrio. Chave para o sábio julgamento de Deus que agiria entre os homens a partir dela. E, observando a cena, Masuku não conteve um imenso e doentio sorriso...
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O refúgio de “L”. Princípio de manhã.
Near ainda se encontrava sentado do mesmo modo diante do notebook, talvez nem houvesse abandonado essa posição nas últimas vinte e quatro horas, mas não demonstrava quaisquer traços de fadiga. Seus olhos continuavam focados na tela do computador, com várias janelas abertas exibindo notícias nas mais variadas línguas e meios simultaneamente. A diferença era que agora todas aparentavam ter um assunto em comum, o nome “Eliah Bantu” sendo repetido no mínimo uma vez a cada dez segundos em meio ao emaranhado de falas e sons. E, enrolando os cabelos brancos com os dedos, o detetive permanecia atento a qualquer nova informação que fosse veiculada.
Até que o agente do FBI Ernest Adams adentrou o lugar, seus costumeiros passos longe de desconcentrar Near. Este inquiriu, como sempre sem virar-se na direção do aliado:
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Ficou em silêncio durante vários instantes, refletindo, recapitulando fatos antigos rapidamente numa linha do tempo à qual desejara nunca mais recorrer. Lutando muito contra o intenso medo que o vinha atormentando desde a morte de Sanbashi, percebeu que teria de reunir o máximo de forças e mentes para encarar aquele novo e difícil embate. Tudo se repetia, e ele esperava ter fibra para conseguir vencer mais uma vez. E planejava ir até o fim, por mais desgastante que fosse.
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Dizendo isso, Near voltou-se para Ernest e encarou-o profundamente, a mão direita ainda torcendo uma mecha de sua cabeleira alva. E, num tom que unia respeito e sinceridade, falou de forma clara:
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Death Note – Como usar:
7 – O proprietário do caderno pode reconhecer a imagem e a voz do proprietário original dele, um deus da morte.
8 – O humano que usar este caderno não poderá ir nem para o Céu e nem para o Inferno.
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Já passara da hora em que Justine costumava comer em companhia do avô François quando ela finalmente desceu pelas escadas da casa, dirigindo-se até a modesta sala de jantar.
O idoso se encontrava sentado à mesa diante de um prato contendo apenas restos de comida e um copo de vinho já vazio. Recebeu a neta com um sorriso sereno enquanto ela se sentava de frente para si, tendo às costas um armário contendo algumas bonitas peças de louça. A travessa contendo uma sopa de legumes quase fria ali estava apenas aguardando a estudante chegar para saciar sua fome. Havia também alguns pães como acompanhamento e a garrafa contendo a bebida alcoólica cheia até a metade. Um pouquinho de vinho todo dia era ótimo para o coração, segundo dizia o avô.
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Cheio de orgulho, François pegou a louça que sujara e dirigiu-se para a pequena cozinha anexa à sala. Lavou os utensílios na pia assoviando feliz, enxugou as mãos e logo depois tornou a passar por Justine enquanto ela colocava um pouco de vinho em seu copo, dizendo:
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O idoso se retirou calmamente, seus passos nos degraus rumo ao andar superior logo sendo ouvidos e em seguida a porta de seu quarto sendo fechada. Justine mergulhou a colher no prato de sopa, soprou-a de leve e levou-a até a boca, o gosto da cenoura e da beterraba restituindo suas energias. Só então ergueu os olhos, visualizando Masuku sentado na mesma cadeira antes ocupada pelo avô, observando-a com as duas mãos segurando o queixo, cotovelos sobre a mesa.
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Era incrível como Justine acabara de tomar contato com tudo aquilo e agia com extrema naturalidade e segurança, parecendo preparada para qualquer contratempo que surgisse e aparentemente já sendo dona de todas as soluções. Masuku se entretinha como nunca devido a tal comportamento, pensando se ela manteria essa firmeza quando as coisas viessem a se complicar.
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A estudante tomou mais alguns goles da sopa e molhou a boca com o vinho, a bebida fazendo-a se sentir ainda mais viva e pronta para sua missão. Depois tornou a fitar Masuku e resolveu esclarecer uma questão que vinha transitando em sua mente desde a primeira aparição deste:
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O Shinigami ergueu um dos braços e olhou quase por reflexo para o suporte de elásticos em sua cintura onde estava o outro Death Note. Justine já o havia percebido. A garota era mesmo bem esperta, e isso só tornava o trabalho de Masuku mais interessante!
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A criatura riu seco e replicou:
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Notando pela primeira vez desde o encontro no quarto o sinistro brilho vermelho nos olhos do deus da morte, Justine deu um pequeno resmungo e voltou de novo sua atenção para a sopa.
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Subúrbios de Tóquio. Oito da manhã.
Algumas viaturas da polícia com as sirenes ligadas encontravam-se diante de um condomínio de seis andares cuja aparência externa com certeza levaria a crer que estava abandonado. No entanto, em alguns de seus apartamentos operava uma quadrilha que distribuía cocaína para toda a região. Assim que as autoridades confirmaram a realização da atividade ilícita no local, uma ação para encerrá-la foi orquestrada quase imediatamente.
Naquele instante os oficiais saíam do interior do prédio levando os criminosos detidos até os carros, com as mãos algemadas e as faces cobertas por capacetes negros, ficando assim indistinguíveis. Uma das precauções adotadas devido ao possível ressurgimento de Kira.
A mídia como de costume estava no lugar noticiando as prisões, apesar de em pequeno número. O capitão Matsuda observava os repórteres e as câmeras com certo receio, porém sabia que aqueles bandidos estavam presumivelmente protegidos. Ainda perturbava seus pensamentos a idéia do temível “serial killer” ter realmente voltado, e desde o infarto de Sanbashi vivia numa amarga expectativa em relação a um fato novo que viesse confirmar ou não a suspeita. E quando o policial Hideo Hoshi aproximou-se do superior trazendo-lhe o celular que utilizava para entrar em contato com “L”, Touta concluiu que a espera havia chegado ao fim.
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Levou então o aparelho ao ouvido, seu coração saltitando no peito como uma presa acuada. Conforme ouviu as sérias palavras do detetive, uma sensação pior do que todo o conjunto de outras que lhe vinham acometendo durante os últimos dias fez com que sua pele empalidecesse. Um pavor tão grande o atingiu que teve a repentina vontade de atirar longe o celular e sair correndo dali para algum local em que estivesse seguro e distante de tudo aquilo. Mas será que sua consciência permitiria que existisse refúgio assim sobre a Terra?
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Logo depois desligou o telefone e olhou para o céu cinzento tendo a certeza de que sua paz de espírito fora extinguida por tempo indeterminado.
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A noite avançava em Paris.
O quarto de Justine era mais uma vez iluminado somente pela luz exterior, dotando o ambiente de inegável caráter lúgubre. A moça vestia agora um pijama de moletom composto por blusa e calça beges, tendo os cabelos loiros soltos e os pés cobertos por meias brancas e surrados chinelos azuis. Sentada na cadeira diante da escrivaninha em cima da qual folheava de novo o Death Note, Masuku zanzava à sua volta em aparente inquietude. Ele aguardava uma nova manifestação da universitária, algum parecer ou pergunta. Foi depois de vários minutos de silêncio que ela tornou a falar:
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Uma expressão de surpresa brotou no rosto do deus da morte, e também tinha um quê de outro sentimento inesperado da parte dele... Talvez fosse ofensa. De qualquer forma, Clare não notou isso por estar de costas, e logo o semblante retangular do ser místico voltou a assumir um ar de curiosidade, ao mesmo tempo em que indagava:
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Em seguida fechou o caderno, olhando fixamente para sua capa preta com a inscrição em letras brancas. Ela cumpriria seu objetivo evitando quaisquer erros. Não queria alcançar notoriedade ou seguidores, já que o bem que fazia era destinado à humanidade e não a si mesma. Seria uma agente silenciosa do julgamento divino num mundo corrompido, e não deixaria sob hipótese alguma de abraçar esse ímpeto.
Construiria uma nova era... que estava prestes a começar.
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Aguardando a Justiça
Eu quero quebrar com o marasmo deste mundo
Com a inércia das pessoas
Com a preguiça das maçãs verdes
Eu me tornarei luz
O sol da humanidade cega e tola
Eu me tornarei luz
E irei guilhotinar os maus
Eu posso conduzir a Justiça em minhas mãos, eu sei
Eu sei que posso trazer a luz a este mundo
Eu sei que posso amadurecer estas maçãs
Eu sei que posso fazer a ressurreição
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Prévia:
Mas... como? Kira executou um criminoso no Japão? Mas eu não escrevi o nome de ninguém no caderno antes de Bantu!
Droga! Esse fato serviu para colocar as autoridades em alerta. Eles já estão prontos para combater um novo Kira antes mesmo de ele propriamente se manifestar.
Um extremo cuidado deve agora medir todas as minhas ações.
Próximo capítulo: Cautela
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