Death Note: Ressurreição escrita por Goldfield
Crise no sistema democrático
Onde está a justiça?
Crise no sistema democrático
Onde está a justiça?
Assassinos à solta depois de julgados
Quem punirá seus crimes?
Assassinos à solta depois de julgados
Quem punirá seus crimes?
Hey, hey, francesinha
Seja o juiz, seja o Kira!
Hey, hey, francesinha
Seja o juiz, seja o Kira!
Porque em terra de justiça cega
Quem tem um caderno é rei!
Porque em terra de justiça cega
Quem tem um caderno é rei!
Hey, hey, francesinha
Seja o juiz, seja o Kira!
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Capítulo XI
“Reinício”
Japão, manhã.
Os raios solares matinais iluminavam o interior do centro de operações do novo Caso Kira, contrastando com o ar fúnebre ali predominante. Haviam se passado três ou quatro dias desde a morte de “L”, sendo que nem os próprios integrantes da força-tarefa, atordoados pelo ocorrido, conseguiriam afirmar com certeza quanto tempo se passara. Mal haviam dormido até então. Até a serena senhora Akaike, afetada pelos soturnos acontecimentos, abandonara temporariamente o refúgio, a sala onde acontecera o óbito tendo assim permanecido intocada desde a noite do mesmo, as cartas de baralho que antes compuseram o último castelo erguido pelo detetive em vida esparramadas pelo chão após seu cadáver ter tombado sobre a mesa. Elas simbolizavam o atual estado da investigação, que igualmente desmoronara com a morte de seu líder.
No centro do recinto, sozinho e imóvel, o capitão Matsuda contemplava calado aquele miserável cenário. O corpo de Near fora removido dali poucas horas depois de seu provável assassinato, o agente Adams tendo se encarregado de um sepultamento digno. Aliás, apesar de todos os membros da equipe terem permanecido no mínimo nos arredores da estância, Ernest era o único que parecia realmente ter deixado o local, pois não era visto há dias. Estaria tomando os devidos cuidados para que a morte de “L” não fosse descoberta e providências com o intuito de logo alguém substituí-lo? Era bem possível.
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A fala viera de Hoshi, que acabara de adentrar o lugar à procura de seu superior. Sua aparência denotava a mesma fadiga que vinha se abatendo sobre todos, agora maior do que nunca. Num gesto de empatia, colocou uma das mãos em cima do ombro direito de Touta enquanto afirmava:
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Não passava pela cabeça de Matsuda, porém, a mais remota possibilidade de abandonar o caso. A questão era que, sem Near, ele agora era o único ali que tomara parte na caçada ao antigo Kira e, conseqüentemente, sabia bem mais do que todos. O que deveria fazer em relação às informações que trazia em sua mente? Guardá-las para si e compartilhá-las com os colegas somente se necessário ou já revelá-las em sua totalidade a eles? Deveria falar a respeito de Raito? E quanto a Sayu? E se ela descobrisse a verdade?
Apesar de ainda trabalhar com vários outros policiais, o capitão sentia-se naquele momento imensamente solitário.
Foi quando, como que sensibilizados por seu mal-estar, os demais voluntários da força-tarefa ganharam o interior da sala em silêncio, dispondo-se de pé, vários deles cabisbaixos, em diferentes pontos desta. Touta encarou aqueles que mantinham as faces erguidas com certa consternação. Finalmente chegara o momento de decidirem o que fazer. Já haviam adiado demais aquela reunião, e enquanto isso Kira seguia fazendo vítimas ao redor do mundo.
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Ficava claro que o inglês temia mais por sua vida do que qualquer outra coisa. Entretanto era sua decisão, e cabia aos companheiros respeitá-la. Ele limpou rapidamente sua mesa, armazenando todos os papéis que lhe diziam respeito dentro de uma pasta, e em seguida dirigiu-se até a saída. Antes, no entanto, num ato simbólico, retirou de um bolso o distintivo falso que protegeria sua identidade durante aquele caso, atirando-o em uma lixeira próxima à porta. Não mais precisaria dele.
O silêncio tornou a dominar o lugar, desconfortável, até que alguém deu um passo à frente. Zheng Wu Liu.
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Zheng Wu se retirou com os olhos mirados no chão, passos lentos e tristes. Depositou seu distintivo falso sobre a beirada de uma mesa e cruzou a porta de saída sem pronunciar mais qualquer palavra.
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Felizmente ninguém mais se manifestou. Os rostos cheios de desesperança evitavam fitar uns aos outros, suas pupilas achando mais seguro se perderem pelos detalhes do assoalho e dos móveis. Nisso, Matsuda deteve a visão em uma das cartas espalhadas pela sala, aquela que justamente possuía a figura de um coringa. Imaginou que, se no lugar de seu cetro espalhafatoso, a gravura portasse uma foice, poderia muito bem representar Kira. E para eles, naqueles dias difíceis, Kira agia justamente como um coringa, zombando de seus esforços e surpreendendo-os justo quando estavam mais despreparados.
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Muito pelo contrário. O marido de Sayu tomara coragem e julgara aquele ser o melhor momento... Revelaria a todos eles o que sabia.
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Paris, noite.
Terminando de jantar na companhia do senhor François, Justine soltou o garfo e a taça ainda contendo um restinho de vinho, empurrou o prato vazio levemente com os dedos e levantou-se da cadeira. O idoso então recolheu a louça e os talheres da mesa para lavá-los e, dirigindo-se até a cozinha, percebeu que a neta já deixava a sala de jantar rumo às escadas.
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Conforme seus pés calçando botas venciam os degraus rumo ao quarto, Clare se reprovava mais uma vez por ter se atrasado no caminho de volta para casa aquela tarde. Como planejara voltar de ônibus, permanecera mais tempo na biblioteca da universidade pesquisando livros, porém acabara perdendo o transporte devido a míseros dois minutos. Isso a obrigou a voltar caminhando até Montparnasse, consumindo no mínimo quarenta minutos de seu precioso tempo no processo. Chegara ao lar já na hora do jantar e, como sempre passava tal momento junto do avô, só agora se via livre para subir ao quarto e usar o Death Note a partir dos registros de Masuku.
Destrancou a porta e entrou no cômodo. A lâmpada no teto estava acesa e os aparelhos eletrônicos, como de costume, ligados. O Shinigami, sentado diante do PC, terminava de colar a foto encontrada na Internet de um último criminoso no arquivo de texto que servia de guia a Justine. Logo depois falou à estudante:
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A loira atirou suas coisas sobre a cama, abriu a mochila e apanhou o caderno. Rindo, o deus da morte cedeu seu lugar a ela voando até a janela. Pousou diante da mesma e pôs-se a contemplar a vista, com a Torre Eiffel projetando o famoso holofote em seu topo ao redor de si, sobre os telhados e ruas da cidade. Folheando o Death Note e examinando os dados coletados por Masuku, a jovem percebeu que ele lhe havia fornecido dezessete novos registros, não fugindo à média diária. Nunca faltavam criminosos para Clare punir, sem contar que muitas vezes ela conseguia dar cabo de vários de uma só vez, como no caso do mafioso estadunidense Ângelo Bertolucci, quando conseguira eliminar num acidente de carro tanto ele quanto seu motorista e seu guarda-costas, ambos libertados da prisão devido à influência do bandido sem que houvessem cumprido nem um terço de suas penas. A justiça divina era mesmo implacável.
Alternando os olhos entre a tela do computador e as páginas do caderno, executando por meio deste os primeiros indivíduos que achava merecedores de uma morte inesperada e cruel, algo na TV ligada atraiu a atenção de Justine. Àquela hora era transmitido um noticiário noturno, e as palavras do apresentador fizeram com que a moça voltasse sua cabeça para poder entender melhor o que era veiculado:
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Mesmo com o término da notícia, Justine permaneceu com a visão fixa no televisor por mais alguns bons instantes. Masuku havia se virado na direção da loira e tomara conhecimento tanto do maníaco quanto da reação dela diante disso. Sem nem ao menos piscar, ela parecia atônita, afetada, desprovida da capacidade de efetuar qualquer reação. Por fim girou na cadeira e, tornando a focar-se no Death Note, disse em voz um pouco baixa:
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O deus da morte então compreendeu o possível plano de Justine, arregalando os olhos. Seria ela realmente capaz de encarar tamanho risco para fazer justiça? Parecia evidente que sim. Apesar de todas as demonstrações já dadas pela garota relativas a cumprir seu propósito, Masuku continuava involuntariamente subestimando-a. Mas tinha de se esforçar para não mais fazer isso. Ela era simplesmente... perfeita!
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E, sorrindo, o Shinigami percebeu que pela primeira vez os olhos de Clare compartilhavam do mesmo brilho vermelho dos seus...
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É manhã, mas a luz solar mal penetra no quarto através das persianas fechadas. Num dos cantos, como sempre, a figura alada permanece de pé, imóvel como uma gárgula removida do telhado de alguma catedral e ali colocada para servir de sinistra decoração. Sobre a cama, a mulher, sentada, fala em voz baixa com alguém através de seu celular. Concluída a conversa, ela se despede num discreto “Sayonara”, virando-se na direção do ser misterioso. Ela encara aqueles olhos que mesmo não sendo mais humanos ainda tanto a atraíam e, depois de respirar fundo, diz sem pestanejar:
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A criatura nas sombras se limita a assentir movendo ligeiramente a cabeça.
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Death Note – Histórico:
No final do ano de 2003 d.C., um Death Note foi encontrado pelo estudante colegial japonês Raito Yagami. Após testar o poder do caderno, ele resolveu utilizá-lo para eliminar todos os criminosos de alta periculosidade do planeta, almejando se tornar “Deus do Novo Mundo” com a criação de uma nova sociedade, no seu ponto de vista, ideal.
No entanto, as autoridades mundiais, desejosas de capturarem e punirem o responsável pelos assassinatos em série de meliantes, logo alcunhado de “Kira”, recorreram àquele considerado o maior detetive vivo: “L”.
Teve início então um intrincado embate entre “Kira” e “L”, um duelo de mentes geniais como nunca houvera até então sobre a face da Terra.
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Matsuda terminou sua exposição quase sem fôlego. Fora uma fala extensa, sendo que os colegas não o haviam interrompido para fazer perguntas, certamente preferindo deixar todas para o final. No entanto, conforme revelara o que sabia, pudera notar as mudanças nas expressões faciais de todos. Transitavam entre surpresa, inconformismo, compreensão e até mesmo raiva. Esta última era mais explícita em Dennegan, que foi o primeiro a tomar a palavra:
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Os semblantes relaxaram. Agora compreendiam melhor os motivos do capitão para ter mantido seus segredos guardados, mesmo isso atrapalhando as investigações. Dentre todos ali, Hoshi era certamente o mais espantado. Trabalhava junto com Matsuda já há algum tempo e nunca suspeitara que ele estivera envolvido no Caso Kira. Como uma pessoa que lhe era tão próxima de repente se assemelhava a um completo desconhecido?
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Os demais lançaram um olhar reprovador na direção do jovem policial, já que seu comentário havia sido um tanto desnecessário. Touta não pôde deixar de se lembrar de quando fora um rapaz igualmente espontâneo e ingênuo durante a caçada ao primeiro Kira, e agora testemunhava a situação se repetir com seu comandado. Era quase certo, porém, que aquele desgastante caso o amadureceria assim como amadurecera a si próprio no passado.
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Matsuda estava um pouco trêmulo, apesar de ninguém perceber. Será que Raito voltara mesmo como um deus da morte? Céus, aquilo era horrível! De modo repentino testemunhou em sua mente a cena de Sayu reencontrando o maligno irmão com a aparência deformada pela transformação num Shinigami. Nem mesmo Touta desejava ver de novo o rapaz no qual confiara tanto e que o decepcionara, ainda mais de maneira tão grotesca! Foi um pouco pela vontade de afastar essa possibilidade que acabou dizendo:
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A última afirmação viera por parte de uma voz conhecida por todos, apesar de até então não se encontrar presente. Voltaram-se na direção da porta e, surpresos, viram o agente Ernest Adams ganhar a sala com sua maleta cinza – o notebook com o qual já estavam familiarizados – numa das mãos. Caminhou em silêncio até uma mesa vaga, a mesma ocupada antes por Bakerton, e em cima dela colocou o computador, abrindo-o diante dos policiais. O aparelho foi ligado rapidamente e logo apareceu no monitor a imagem de uma letra estilizada na cor preta com um fundo branco. Todavia, o caractere não mais era um “L”, e sim um outro componente do alfabeto...
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“R”? Que tipo de brincadeira seria aquela? A voz proveniente das caixas de som do laptop era propositalmente distorcida para que não pudesse ser identificada, assim não sendo possível saber se pertencia a um homem ou uma mulher, a alguém jovem ou velho. Confusos e intrigados, os voluntários fixaram suas visões na tela ao mesmo tempo em que ouviam a misteriosa comunicação.
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Ernest, no entanto, permaneceu impassível, como se nem houvesse escutado a indagação da mulher.
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Depois de uma breve pausa, a misteriosa pessoa perguntou através do notebook:
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Todos trocaram olhares de dúvida, inclusive Matsuda, pego igualmente desprevenido pelo surgimento do incógnito “R”. Coube a este esclarecer seu ponto de vista por meio de um exemplo:
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Ninguém respondeu. Mesmo alguns ali conhecendo tal nome, estavam nervosos demais naquele momento para se lembrarem do que exatamente se tratava.
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“R” fez mais uma pausa e prosseguiu:
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Apesar do receio quanto à parte de violarem leis em seu trabalho, os investigadores sentiram-se bastante revigorados com tais instruções. Sim, eles se tornariam Intocáveis. Não falhariam, não desistiriam. Seriam o flagelo de Kira.
Agora sim, sob os auspícios de “R”, poderiam seguir em frente.
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O inconformismo me domina
A indignação me impele
Este mundo está caótico
O mal domina livremente
Liguei hoje a TV
Mais um maníaco solto
Pena das vítimas que fará
Raiva do sistema que o favoreceu
Madame Guilhotina, faça justiça!
Reestruture este mundo de ponta-cabeça
Puna quem mereça, Madame Guilhotina
Sua justa lâmina está sedenta!
Madame Guilhotina, você me ouve?
Meu clamor impele seu mecanismo
Puna a todos, Madame Guilhotina!
O mundo lhe está pedindo socorro
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Prévia:
Preciso eliminar esse pervertido que mata mulheres...
Não tenho medo de usar a mim mesma como isca.
Acha-se tão poderoso, não é mesmo, Maníaco do Louvre? Será que sobrevive ao caderno da morte?
Próximo capítulo: Alvo
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