A Fabulosa Mooresville escrita por Luma


Capítulo 2
Capítulo 2 - Árvores e Laranjas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo refeito.



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O forte vento da estrada batia em meu rosto, o deixando gelado. Meus cabelos às vezes tampavam minha visão e eu não fazia a mínima questão de tira-los de lá. Seria mesmo bom se eu não visse nada. Ver estava me enjoando. Apenas árvores e mais árvores.

Mary, que estava dirigindo, não tirava os olhos da estrada. Parecia estar imersa em pensamentos, de modo que conversar comigo se tornava impossível. Não posso culpa-la, também não conseguiria abrir a boca. Parecia um insulto a aquele lugar. Deveríamos contemplar caladas sua magnitude.

O carro virou numa rua muito parecida com as outras, repleta de árvores. Esta era inclinada, estávamos subindo uma colina. Encostei minhas costas no banco de couro, soltando o ar pela boca. Mais árvores. Como se fosse para me contradizer, uma grande e bonita casa apareceu, se impondo entre o verde. Andamos mais um pouco e outra apareceu. Não era parecida com a outra, porém era tão grande e espaçosa.

A rua era sem saída e parava abruptamente. Mary foi forçada a diminuir a velocidade muito bruscamente, fazendo o chiado dos pneus raspando no asfalto ecoar pela floresta.

Encarei Mary ao mesmo tempo em que ela virou a cabeça para mim. A rua acabava, pois havia um terreno e uma casa bem ali. Era bem maior e imponente do que as outras que nós vimos, porém parecia abandonada.

–É aqui? – Perguntei para Mary que ainda estava com a respiração alterada, com a mão na maçaneta decidindo se saia ou não.

–Se essa é a última casa da rua Hamilton, é aqui. –Ela falou e destrancou as nossas portas, em seguida abrindo a dela. Hesitei, mas também abri a minha. O ar de fora invadiu o carro, me fazendo sorrir. Cheirava a laranja, o que imediatamente me fez sorrir. Aquilo me deu coragem para sai do carro.

Desequilibrei-me quando meus pés encostaram-se ao chão. Estava sentada ha tantas horas que foi difícil me manter em pé. O céu já estava escurecendo, deixando a casa na minha frente com ar de história de terror. Agucei meus ouvidos tentando detectar algo que não fosse os sons da floresta. Nada. Era tudo incrivelmente silencioso. Tão diferente com o que eu estava acostumada.

Abri a mala do carro, tirando todo seu conteúdo distraidamente. Eu também havia levado muita bagagem, não poderia culpar Mary. Segui o caminho de pedras que ia da caçada até a casa. As pedras se soltavam e eu podia ver alguns bichos saindo de seus não tão poucos buracos. Parei quando tive a total visão da casa que seria minha moradia daqui para frente.

A casa era cinza e a pintura estava descascando e desbotando. As janelas, algumas só armações de madeira escura sem conter o vidro, estavam empoeiradas. Não era difícil perceber que era muito antiga, provavelmente a mais antiga da cidade. Vi Mary arregalar os olhos, tinha percebido o quanto de trabalho nós teríamos para arruma-la.

Subimos os degraus da varanda que se estendia por todo comprimento da casa. Mary fez uma cara de nojo enquanto pisava nas folhas que estavam claramente em decomposição. Desviando dos montes mais podres, consegui chegar até a porta e apertei a campainha. O pequeno círculo soltou um barulho abafado e depois parou. Que ótimo, não estava funcionando.

Bati levemente na porta, mas não houve resposta. Tentei mais uma vez e mais uma vez ninguém veio atende-la. Optei por socá-la. A porta reclamou rangendo, mas ninguém veio abrir a porta. Olhei para a Mary que gritava batendo na própia perna. Se ninguém de dentro da casa ouviu os gritos, das duas uma, ou era surdo ou não havia ninguém em casa. Virei de novo e procurei nos bolsos a chave da casa.

Abri a porta e entrei cautelosamente, não havia luzes acesas. Os móveis eram clássicos e muito velhos. À minha frente havia uma escada que era bifurcada no inicio, e no meio havia uma porta de madeira escura. Coloquei minhas malas do lado da porta e adentrei ainda mais a casa.

–Tem alguém em casa? –Perguntei alto. Um vulto passou por mim e me fez pular pra trás soltando um grito, mas acabei percebendo que era apenas Mary que ainda fazia escândalo por causa do inseto.

–Você está maluca? –Mary parou de se contorcer e me olhou assustada. –Nós estamos em um lugar digno de filme de terror e você me vem com uma dessas? –Eu ri, mas vi que ela estava falando sério. A casa era mesmo de dar calafrios.


Nesse momento, um barulho de porta se fechando ecoou atrás de nós. Virei-me lentamente, com muito medo do que eu poderia encontrar. Um senhor idoso, de cabelos totalmente brancos na altura do ombro surgiu. Ele era alto e caminhava lentamente, claramente seu tronco era menor que suas pernas, mas não havia sinal de problemas com sua estrutura. Era muito bonito. Ele lembrava tanto o meu pai.


–Vocês chegaram, finalmente. Seu pai me mandou um daqueles...Como se chama? Ah, E-mails. A Suzy lá da cafeteria fez o favor de mostrá-lo para mim. Ele me disse que você viria com uma amiga hoje, mas não me disse que horas chegariam. –Sua voz tinha um sotaque feio e puxado. Essa mesma voz me fez me lembrar de quando eu era pequena e vinha pra cá, ele só estava aqui uma das vezes. –Você cresceu, Sofia. E não parece nada com as mulheres da família. –Ele deu um sorriso doce que eu correspondi. Mary que estava atrás de mim olhava para meu avô impressionada.

–Olá, meu nome é Mary Küster. –Ela se pronunciou estendendo a mão. Ele a examinou rapidamente, balançando levemente a cabeça quando viu o tamanho do short que ela usava. Eu avisei para ela vir o mais composta possível, aqui não era uma cidade grande e as pessoas não estão acostumadas a ver grandes pedaços de pele expostas.

–Nicolau Ducce. É um prazer conhece-la. –Ele cobriu a pequena mão dela com a enorme mão dele, balançando-a delicadamente. –Onde estão as malas de vocês? –Eu apontei para o lado da porta e a Mary saiu para pegar as suas que deixou jogadas no lado de fora. –Bem, vocês podem escolher o quarto de vocês no segundo andar. O meu quarto fica aqui em baixo. Não vão ao terceiro andar, além dele estar fechado a mais de vinte anos deve estar cheio de poeira e morcegos. –Ele sorriu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, deixando-a de fora. A orelha tinha um formato estranho, era grande e pontiaguda. Parecia uma orelha de elfo. –Vou me retirar, estou esperando vocês desde cedo. –Ele deu uma risada e se virou para ir embora.

–Vovô, pelo o que eu me lembro a casa tinha vista pro mar. –Falei antes que ele sumisse pra dentro do quarto. Ele me olhou com o cenho franzido.

–Nós estamos em Mooresville, não tem mar aqui. Só tem mar há uns oitocentos quilômetros a oeste. –Ele deu uma risadinha e entrou pela metade no quarto. –Mas nós temos um lago bem grande. Não se deixe levar pelas suas lembranças de infância, Sofia. Sua avó gostava de inventar histórias para você. –Então ele sumiu para dentro do quarto, fechando a porta. Olhei para Mary que estava me olhando significativamente.

–O que foi? –Ela começou a fazer movimentos com as mãos.Ficava passando-as nas orelhas sem parar. –Tá, eu sei que a orelha dele é estranha. –Ela riu junto comigo e nós começamos a levar nossas malas para o andar de cima.


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