Premonição 5: Água Negra escrita por Lerd


Capítulo 6
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Notas iniciais do capítulo

Capítulo 6 postado! Cheio de ação e descoberta de segredos. Espero que gostem! :D



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            O carro seguia com uma velocidade mais baixa do que Emily gostaria, mas a garota não teria coragem de importunar Leon com isso.

            — Você tem certeza de que está bem? — O egípcio perguntou.

            A garota ficou tentada a não responder. É claro que eu não estou bem. Aquela criança teve a cabeça esmagada na nossa frente... E tudo por causa da visão que eu tive. Oh, Deus!

            Ao invés disso, ela disse:

            — Estou sim.

            Leon então meneou a cabeça e voltou sua atenção para a pista. Comentou:

            — O que faremos com a Rebecca agora? Ela não está em condições de ouvir nada do que temos a dizer. Pra ser sincero... Eu acho que ela nem ao menos se importa com mais nada. O filho dela morreu.

            Emily sabia que o rapaz tinha razão, mas uma parte de si insistia que ela precisava avisar Rebecca. Só assim conseguiria dormir uma noite tranquila de sono... Com sorte, é claro. Nos últimos dias não estava conseguindo descansar nem ao menos quatro horas por noite. Com a morte de Pete as coisas só tendiam a piorar. Emily tinha certeza de que sonharia muitas vezes, e ainda mais, com a morte do garoto.

            — Eu sei, e eu concordo com você. Mas nós precisamos avisá-la, mesmo assim. É o nosso deve. É o... Meu dever.

            Leon não disse nada por alguns segundos, mas então falou:

            — Você está certa. Amanhã nós vamos até a casa dela, o Mikey conseguiu o endereço hoje. Emily... — E o garoto olhou para ela, aqueles olhos brilhantes e fascinantes de encontro com os dela. — Você acha que a Rebecca vai ficar bem por essa noite?

            Eu não tenho a mínima ideia.

            — Eu acho que sim. Houve um intervalo entre a morte de Jade e a morte de Pete. Eu acho que Rebecca está segura por essa noite.

            O rapaz aceitou aquela resposta e os dois não falaram nada até o fim do percurso. Mikey e Krista ligaram para ela, duas vezes cada, e Emily contou o que havia acontecido, sem muitos detalhes. Mikey pareceu triste, e Krista ficou horrorizada.

            E eles nem ao menos viram como foi...

x-x-x-x-x

            Emily acordou indisposta, como na maior parte dos dias desde a morte de Jade. Ela precisava trabalhar naquele dia, mas havia conversado com uma colega de trabalho para que a substituísse. Desde que ganhara a vaga jamais havia faltado, então tinha certo crédito. Mesmo assim, não gostava daquilo. Não gostava de estar sacrificando sua carreira, uma falta de cada vez. Isso vai acabar logo, e eu vou poder voltar à minha vida normal. À minha carreira, ao meu namorado.

            — Bom dia, Ems. — Francis disse ao vê-la.

            O rapaz estava sentado à mesa sozinho. Usava uma camisa branca abotoada até o colarinho, e um cardigan verde que Emily ainda não tinha visto. Ele tomava seu café da manhã lendo um jornal, e não parecia muito deprimido ou abatido.

            — O Johnny não tá em casa?

            Francis meneou a cabeça negativamente:

            — Ele disse que ia pro trabalho mais cedo. Eu achei estranho, mas não tive coragem de dizer nada.

            Ele está agindo como o Mikey, Emily percebeu. Mascarando as emoções e escondendo sua tristeza através do trabalho. Homens... A garota não podia deixar de se indagar se Leon reagiria da mesma maneira.

            O telefone então tocou, e Emily se prontificou em atender. Francis perguntou à prima:

            — Quem é?

            Emily ficou feliz ao ouvir a voz de Krista do outro lado da linha.

            — Claro, ao meio-dia na estação de metrô. Certo. Você já avisou o Mikey e o Leon? — Pausa. — Ótimo. Nos vemos lá.

            Francis estava inquieto:

            — Quem era?

            — A Krista. Nós vamos encontrar com a Rebecca na casa dela hoje.

            — E ela sabe disso?

            — Não. — Emily disse pesarosa. — Mas é preciso. Nós precisamos ajudá-la.

            Francis nada disse por vários segundos. Então tomou coragem:

            — Vocês se importariam se eu... Digamos... Não fosse?

            Aquilo surpreendeu Emily. Francis geralmente era o mais prestativo deles. Ele deve ser estar com medo de ver algo como o que eu vi ontem. Não posso culpá-lo, eu não desejaria aquilo para ninguém.

            — Claro que não. É uma situação delicada mesmo e...

            — Não. — Francis disse, de súbito. — Eu vou.

            Emily não entendeu a indecisão do rapaz, mas concordou. Ele está com medo, mas sente que precisa ser corajoso. Pelo menos dessa vez...

            — Então nós saímos daqui a pouco.

            O rapaz assentiu com a cabeça e delicadamente levantou-se da mesa, se apoiando em suas muletas. Retirou o prato que havia utilizado e seguiu até a cozinha. Emily nada disse. Sentou-se e começou a se servir. Levou um susto quando viu a primeira página do jornal que Francis lia anteriormente.

            Acidente com porta automática em shopping center mata garoto de seis anos.

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            Ted saíra. Ele estava lidando com todas as coisas referentes ao velório e ao enterro de Pete. Rebecca não conseguiria lidar com aquilo. Na verdade ela não conseguiria lidar com coisa alguma. A mulher sentia que toda a sua força vital havia se esvaído, havia sido sugada de si junto com a vida de Pete. Seu filho. O primeiro, o único, a sua razão de viver. Ela lutara por tanto tempo para tê-lo, e agora ele não estava mais ali. Havia sido tirado dela de maneira brutal.

            Por fim, de nada adiantara a garota no cais tê-los salvado. Rebecca preferia jamais ter saído do Rainha Fohtaed. Preferia ter morrido junto com Pete, reconfortando-o. Quem sabe do outro lado os dois não pudessem seguir seu caminho juntos? Parecia justo. Meu bebê, meu pequeno bebê... Ele ficou tão assustado, ele sofreu tanto...

            Rebecca daria qualquer coisa ao seu alcance para poder ter trocado de lugar com Pete quando o acidente aconteceu. De bom grado daria sua vida para poder salvar a do filho. Sentiria sua dor. Eu estaria preparada, eu aceitaria o meu destino. Mas meu pobre bebê, ele não sabia... Ele era tão pequeno, e frágil, e ele teve tanto medo...

            A mulher levantou-se da cama sentindo o peso do mundo em suas costas. Arrastou os pés até a cozinha. O lugar estava escuro, apesar de ainda ser de manhã; as cortinas estavam fechadas, e havia apenas uma luz iluminando o cômodo. Ela provinha de uma lâmpada de lava vermelha e laranja, que estava colocada ao lado do fogão.

            Rebecca encheu uma chaleira de água e pôs o objeto no fogão. Deixaria que a água fervesse enquanto voltava para seu quarto. Ao virar-se, derrubou a lâmpada de lava em cima do fogão, ao lado da chaleira. A mulher não percebeu seu movimento, e arrastou os pés de volta para sua cela fria e solitária.

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            Emily e Francis foram os primeiros a chegar à estação de metrô.

            — Nenhum sinal deles. — A garota comentou. O primo olhou em seu relógio e confirmou que eles haviam chego cedo demais.

            A estação do metrô estava praticamente vazia. Havia apenas algumas pessoas circulando por ali, homens engravatados e mulheres com sacolas, em sua maioria. Havia também alguns velhos de mãos dadas e poucas crianças.

            O telefone de Emily então tocou. Era Mikey.

            — Alô amor, onde você está?

            — Oi princesa. Eu e a Krista já estamos chegando. O Leon já deve estar aí, dá uma procurada por ele. O cara não entende muito bem de metrôs, acho que ele nunca andou em um.

            Emily sorriu e desligou o celular. Olhou para todos os lados e encontrou o egípcio confuso olhando de um lado para o outro há alguns metros, certamente procurando-os.

            — Ei! — Ela chamou, e o rapaz ouviu. Correu na direção dela e cumprimentou-a. Deu um aperto na mão de Francis e os três ficaram em silêncio por vários minutos, até a chegada de Krista e Mikey.

            O metrô chegou exatamente após a chegada dos dois últimos. O veículo estava bastante vazio, e apenas os cinco embarcaram naquela estação. Leon estava um pouco entusiasmado com a perspectiva de andar em um metrô pela primeira vez, Emily percebeu, mas ele se conteve. Com certeza não queria soar infantil e inapropriado. Eles tinham coisas sérias com as quais lidarem.

            Francis, Krista e Leon sentaram-se em um banco coletivo, e Emily e Mikey ficaram em pé ao lado deles, abraçados. Quando o veículo pôs-se em movimento, Mikey pigarreou e disse:

            — Eu me lembrei de uma coisa hoje e preciso contar pra vocês.

            Todos ficaram apreensivos, e o rapaz começou:

            — Há mais ou menos um ano atrás aconteceu uma coisa estranha comigo e com o Jay. Eu nem sei se tem algo a ver com a lista e tudo mais, mas é uma coisa que eu nunca consegui tirar da cabeça. — Tomou uma pausa, e continuou: — Nós tínhamos uma amiga, uma garota da época que frequentávamos a igreja, chamada Cassie. Ela foi... Uma das sobreviventes daquele Massacre da Babilônia, sabem?

            Emily sentiu-se arrepiada.

            — Você conheceu uma das sobreviventes do Massacre? — Francis perguntou. — Ela foi uma das que escapou quando a garota teve a visão?

            Mikey assentiu com a cabeça e continuou:

            — Mas não é esse o ponto. O negócio é que ela morreu alguns dias depois. Eu e o Jay fomos até o velório dela. Bom, é aí que vem a parte sinistra: naquela tarde nós estávamos de folga e iríamos ficar em casa, provavelmente dormindo. Não ficamos, pois fomos ao velório. Quando chegamos em casa descobrimos que o gás tinha vazado e... Nosso cachorro morreu asfixiado.

            Ninguém precisava explicar o significado daquelas palavras, mas Krista fez isso mesmo assim:

            — Se vocês tivessem ficado... Teriam morrido também. — Ela externou o pensamento de todos. — Comigo aconteceu uma coisa parecida.

            Todos esperaram para que a garota contasse.

            — Também aconteceu há mais ou menos um ano atrás. Eu ia saltar de bungee jump, sabe como é, naquela época eu estava namorando o babaca do Giancarlo, e queria impressioná-lo. Eu ia pegar uma lancha que me levaria até o lugar, mas a lancha nunca saiu do cais. O motivo foi porque uma garota morreu com a cabeça esmagada pelo teto retrátil de um iate ou algo assim. Vários policiais e bombeiros apareceram... Foi o maior fuzuê.

            Francis então perguntou:

            — Esse salto que você ia fazer era patrocinado por aquela marca de cosméticos? Avallon, eu acho.

            — Sim, era. — Krista disse. — Como você sabe?

            — Saiu nos jornais que uma garota morreu nesse dia. A corda dela arrebentou.

            Krista deu um gritinho. Era pra ter sido ela, Emily não deixou de pensar. Foi quando a própria Emily teve um estalo:

            — Agora que vocês comentaram... Eu acho que aconteceu comigo e com o Johnny também. Eu nunca pensei nas coisas dessa forma, mas agora com tudo isso acontecendo... — E apertou a mão de Mikey com firmeza. — Eu e o Jo estávamos indo até um show, de trem. Lembro que na época nós ficamos muito frustrados porque perdemos o concerto por causa de um acidente, um garoto pulou na frente de um dos trens e a gente acabou não indo. Algumas pessoas morreram naquele dia, quando uma parte da estrutura do show desmoronou. Acho que devemos nossa vida a esse garoto suicida...  

            — O Bimbo! — Francis disse, num rompante. — A garota que sobreviveu ao Massacre da Babilônia salvou o Ajay e o Mikey. A tal garota do iate... O nome dela era Nikki Kechter, eu li. Só pode ser ela. Tem que ser ela. Ela também foi uma das sobreviventes do Massacre. E esse rapaz da linha do trem... É o Bobby, Bimbo, sei lá... É isso!

            — Se isso que você está dizendo é verdade, nós... Estamos vivos porque essas pessoas ficaram vivas? Se ninguém tivesse previsto o acidente com o Trem 081 ou o Massacre da Babilônia, nós... Estaríamos mortos? — Emily falou, sentindo o peso de suas palavras. — Não teria ninguém para morrer na linha de trem, ou no iate, ou o velório da garota... Ninguém que nos fizesse perder os compromissos que acabariam por nos matar.

            Mikey ponderou:

            — Se isso é verdade, então também aconteceu com você, Leon, e com você, Francis. — O rapaz apontou para os dois. — Qual a história de vocês?

            Leon meneou a cabeça negativamente:

            — Eu não me lembro de nada tão óbvio assim. Pode ter acontecido comigo, mas eu não sei dizer.

            — E você, Francis? — Krista perguntou delicadamente.

            O rapaz engoliu em seco. Parecia extremamente desconfortável com aquilo.

            — Vocês devem se perguntar por que eu sei tanto sobre a lista, não é? — E olhou para todos. — É por causa de um garoto. Eu nunca o conheci, mas ele me ajudou como ninguém mais. Aconteceu um pouco depois do meu acidente. — E ele apontou para as muletas. — Eu estava inconsolável, e busquei apoio em grupos de ajuda na internet. Encontrei um blog escrito por um garoto cego chamado Lubo DePooter. Meses depois eu fui ler que ele havia sido um dos sobreviventes do Trem 081... O que me importa, hoje, é que eu devo minha vida a ele. Eu... — A voz do rapaz começava a ficar embargada. Krista tocou na mão dele, de leve. — Pensei em suicídio. E acho que teria realmente chego às vias de fato se não fossem as palavras desse Lubo. Eu nunca o conheci, mas ele salvou a minha vida.

            Então é isso. Nós não devíamos estar aqui, nós devíamos estar mortos. A morte só está aparando as arestas, consertando o que a visão dessas outras pessoas estragou. Os planos...

x-x-x-x-x

            Quando a chaleira apitou, Rebecca levantou-se da cama.

            Entrou na cozinha e pôs-se a abrir o armário debaixo da pia, procurando uma xícara. Não percebeu a lâmpada de lava no fogão. O objeto estava vermelho, e dentro o líquido parecia ferver.

            A oriental levantou-se e quando se aproximou do fogão, só teve tempo de soltar um arfar interrompido. A pressão dentro do abajur se tornou insuportável.

            A lâmpada de lava explodiu com força, e estilhaços, água fervente e cera quente voaram por todos os lados. Rebecca foi atingida no rosto por vários fragmentos. Cera atingiu seu rosto, queimando-o, água foi espirrada em todo seu corpo, e vários pedaços de caco de vidro perfuraram seu peito com força.

            Rebecca gritou o mais alto que pôde.

            Tentou caminhar, sentindo o sangue escorrendo de seu peito. Ela abaixou a cabeça e viu pedaços grandes de vidro cravados em sua carne. O rosto ardia, e a mulher começou a arrancar a cera que secou do rosto. Quando puxou o primeiro pedaço, sentiu uma dor lancinante. Pele veio junto, e a bochecha de Rebecca começou a sangrar de maneira violenta. O líquido vermelho e viscoso jorrava impiedosamente.

            Ela então caiu, sentada, ao lado da escada.

            Suspirou, sentindo dores em todo seu corpo. Ouviu um chiado, e então viu o fogo consumir toda a cozinha.

            Essa foi a última coisa que Rebecca viu, e logo em seguida o calor e as chamas tomaram conta dela, queimando seus braços, suas pernas, seu rosto, até seus olhos. A mulher desejou que a dor parasse, mas ela só parou quando a carne da oriental fazia bolhas que estouravam e seus olhos estavam brancos e vazavam.

            E então Rebecca deu seu último e sôfrego suspiro.

x-x-x-x-x

            O metrô parou.

            Emily foi a primeira a sair, ao lado de Krista, de mãos dadas. Francis veio em seguida, caminhando com dificuldade com as suas muletas. E então Leon. Mikey foi o último. Ele estava lutando com o zíper de sua jaqueta, que parecia ter emperrado.

            — Que porcaria. — Reclamou.

            As garotas disseram que iriam ao banheiro, e saíram. O metrô saiu em seguida, seguindo para a próxima estação. Naquela, não havia ninguém. Nem uma única alma viva, além dos três rapazes. A voz deles fazia eco.

            — Mikey, eu não acho prudente você ficar mexendo com esse zíper aí onde está. — Francis disse.

            — E por quê?

            — Lembra da sua foto? “Train”, dizia ela. Trem.

            O rapaz não deu o braço a torcer:

            — Trem, não metrô.

            — A mecânica é a mesma.

            Mikey suspirou.

            — Eu agradeço a preocupação, mas eu estou bem. A Rebecca é a próxima, não eu. Eu vou ficar bem.

            Leon ouvia os dois sem saber se deveria dizer algo. Sem Emily ali, ele sentia-se sozinho. Não conhecia Mikey, e com Francis tinha uma relação tênue de quase amizade. Nenhum deles eram seus amigos de verdade. Só Emily era, e quando ela não estava por perto o rapaz sentia-se deslocado, como se não fizesse parte daquele mundo.

            — Mas que desgraça de zíper! — Mikey reclamou mais uma vez.

            E então se distraiu, escorregou e caiu.

            Francis gritou, e então se ouviu o baque. Mikey caiu direto na linha de trem, dois metros abaixo. A queda não fora o suficiente para machucá-lo seriamente, mas a maneira como ele caíra fizera com que o rapaz torcesse a perna.

            — Aaaaaaaah! — Ele gritou.

            Mikey avaliou suas pernas e não foi preciso mais do que alguns segundos para perceber: ele havia quebrado uma delas. A dor era forte, e o rapaz sentiu-se como se estivesse ardendo em chamas. Tentou tocar a perna, e a dor foi mais forte.

            — Mikey, você está bem?! — Leon perguntou, descendo até os trilhos do metrô.

            O outro rapaz não respondeu, apenas arfou de dor.

            — Você precisa subir. Vem, me dá o braço.

            Mikey deixou que Leon tentasse levantá-lo, e apoiou-se em sua perna não quebrada. Não adiantou. Ele sentiu uma onda de dor invadir seu ser, e caiu no mesmo segundo. Lágrimas pareciam querer sair de seus olhos, mas ele não as deixou. Não choraria. Não na frente de Leon.

            — Oh, não. Merda. — Francis falou.

            E então os dois rapazes viram.

            Ao longe, há vários metros, uma luz.          

            O metrô vinha silencioso, apenas iluminando o túnel escuro. O pavor nos olhos de Mikey tornou-se evidente, e Leon parecia compartilhar o sentimento. Merda, merda, merda, o trem.

            — Vocês precisam sair daí. Agora! — Francis gritou.

            Leon não deu ouvido a ele. Começou a levantar Mikey com a maior rapidez que podia. Forçou-se a segurar todo o peso do rapaz, mas mesmo assim o outro caiu mais uma vez. Francis estava desesperado, movendo as mãos ansiosamente.

            — Ele está mais próximo. Merda, ele está chegando!

            O egípcio então teve uma ideia. Abaixou-se e ergueu Mikey, segurando-o no colo. O outro rapaz agarrou-se ao pescoço de Leon com força, percebendo que ele era sua última esperança. Não é hora de ser orgulhoso.

            — Você consegue puxar ele, Francis? — Leon perguntou.

            O outro rapaz assentiu.

            O trem estava há cerca de dez metros.

            — Se prepara.

            Oito.

            — Vamos lá, Mikey! Força!

            Seis.

            — Puxa!

            Quatro.

            — Está doendo!

            Dois.

            — Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!

            E então Leon pulou para a estação, e Francis puxou o corpo de Mikey no último segundo. O rapaz sentiu o vento da passagem do metrô em suas pernas, o coração palpitando com força. Não conseguiu dizer nada ou mexer sequer um músculo. A dor em suas pernas subitamente parou, sendo substituída por uma adrenalina que jamais havia sentido em toda a sua vida.

            Krista e Emily já estavam ali, olhando para os três em choque.

            A loira soltou um gritinho e correu até perto do namorado.

            — Oh, meu Deus! Mikey, você...

            O rapaz completou:

            — Eu quase morri. Sua lista, ela...

            E não conseguiu dizer mais nada. Sua visão foi ficando turva, e então ele desmaiou.

x-x-x-x-x

            — Não pode ser. — Krista disse. — O Mikey não era o próximo. A Rebecca era.

            Leon e Francis nada disseram. Emily estava no hospital com o namorado. Os três foram instruídos a continuarem com a sua missão original, que era a de alertar Rebecca. Nós não podemos mais, Francis tinha certeza. Se a morte tentou levar Mikey, é porque a mulher já está morta. Isso ou a lista de Emily é falha. Se essa segunda opção for verdade nós estamos ferrados.

            Há alguns quarteirões da casa de Rebecca, o grupo percebeu a balburdia.

            Havia vários caminhões de bombeiros estacionados, e pessoas fora de suas casas. Grupos reuniam-se na rua, enquanto eram repelidos por policiais que tentavam botar ordem nas coisas.

            — Não pode ser... — Krista falou.

            Leon correu até onde a multidão estava mais aglomerada, deixando os outros dois para trás. Conseguiu chegar em frente à uma casa parcialmente em chamas, enquanto os bombeiros tentavam conter o fogo com mangueiras que soltavam água. Conseguiu ver vagamente o número da residência.

            180.

            Era a casa de Rebecca. Ela estava morta.


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Notas finais do capítulo

Bom, that's it XD Considerações finais: Johnny esteve ausente desse cap. mas não desanimem. Ele vai ter um papel CRUCIAL nos próximos dois capítulos. Um papel de importância vital pra trama, já adianto.
E a outra consideração é sobre a morte da Rebecca. Ela foi baseada numa morte real, aqui: http://www.youtube.com/watch?v=oG1g49rJtYw
Espero que tenham gostado! Cap. 7 sai em breve!



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