O Retorno de Kira escrita por Perola, Hunter-nin


Capítulo 8
Facetas


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem por não ter postado ontem, como o prometido.
Mas acho que gostarão de saber que a segunda autora da fic está de volta o/



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Facetas

(By Pérola e x Hunter-Nin)

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Yukiko brincava com Akane em seu colo enquanto os amigos de seu pai combinavam alguns últimos assuntos do serviço. Em poucos minutos, Linda retirava o bebê de seus braços, se despedia, bem como os outros visitantes, e ia embora. A loira mirou aos dois homens presentes na sala. Near voltava a construir seu castelo de dominós, dessa vez, entretanto, estava mais concentrado em acompanhar os movimentos da garota, e Matsuda bocejava evidenciando o cansaço que a manhã lhe causara.

- Então, como foi no serviço? – Ele perguntou para a filha sorrindo. Não importava o que acontecesse, nada era capaz de derrubar o bom-humor do moreno.

- Foi tranqüilo. Acho que o Senhor Toshio se esqueceu de que sou baixinha. Já perdi a conta de quantas vezes ele me pediu ou entregou coisas para arquivar sempre nas caixas mais altas. E quando pedi para mudá-las de lugar, facilitando o acesso, ele fez um discurso imenso sobre como a organização é a chave para o sucesso do trabalho da policia e que se eu mexesse uma caixa poderia arruinar todo o trabalho deles... Ele falou horrores pai. Cheguei a ficar tonta e só conseguia pensar na bagunça que aquilo era antes de eu arrumar. – Yukiko falava e gesticulava rapidamente.

Near, que já tinha abandonado seu passatempo, observava chocado a garota. – “Para onde foi a adolescente calma e de língua afiada que conheci? O que essa tagarela fez com a minha suspeita número 1?” – Refletia enquanto a jovem ainda discursava sobre a pequena manhã no serviço e aproveitava para emendar detalhes da semana. Matsuda aproveitava o animo para se inteirar das atividades da filha, visto que o tempo dos dois juntos reduzirá consideravelmente. - “Se esta é a verdadeira Yukiko, será mais fácil do que pensei desmascará-la, contudo também reduzem as chances dela ser D-Kira.”

- Near? – O detetive, percebendo que era chamado para participar da conversa, erguia o rosto em direção a garota. – Você está bem?

- Estou ótimo, por quê? – Ele estava desconfiado. A loura nunca lhe dirigiu a palavra com tanta neutralidade.

- Você aparentava estar tão distante. Estava visitando Andrômeda? – Perguntou risonha.

- Não pergunte! – Matsuda interferiu antes que Near pudesse responder. – Qualquer pergunta que ela faça envolvendo astronomia, somente concorde. A menos, é claro, que queira ouvi-la falar o resto do dia.

- Papai! – Yukiko mirava espantada o moreno.

- Que foi? Vai negar que não se empolga quando começa a falar de estrelas e galáxias? – Perguntou abraçando a filha pelos ombros. A mais nova somente baixou o rosto reconhecendo a derrota.

Near analisava cada traço de expressão na mulher e não encontrava evidências de que ela estivesse fingindo. A constatação o preocupava, afinal, se ela fosse D-Kira, seria muito cedo para já tentar despistá-lo.

- Mudando totalmente de assunto, querida. Acho que está na hora de mandar lavar o seu urso. É bom guardar o seu diário em outro lugar temporariamente. – Comentou com a loira.

- Ok. Vou colocá-lo na gaveta da escrivaninha.

- Certo. – Concordava o moreno.

Near, que após recolher as peças do jogo de dominó voltava para seu quarto a fim de pensar na estratégia que usaria para se aproximar de Yukiko, se surpreendia com a conversa dos dois. A garota logo o alcançou na escada enquanto o outro assistia a um filme qualquer na televisão.

- Que tipo de garota conta para o próprio pai onde esconde o diário? – A família despertava a curiosidade do detetive e ele não conseguia impedir suas perguntas.

- O tipo que é filha de um policial. – Ela respondeu atrás do homem nos últimos degraus.

Near não estava disposto a tentar entender o motivo que o levou a segui-la até o quarto da mesma ao invés de parar no seu.

- Meu pai é muito ciumento comigo e pode até te matar se achar que você entrou no meu quarto com segundas intenções. – Explicou risonha. – Então, para ele se manter mais calmo eu disse que ele pode revistar o meu quarto à vontade e, para que eu não perca minha completa privacidade, ele nunca olharia no ursinho que minha mãe comprou para mim antes de morrer. – Narrava enquanto se sentava na cama sobre uma das pernas e deixava a outra caída. O penteado firme no lugar, porém, por ter secado ao sol, apresentava alguns cachos nas pontas.

- Você confia nele tanto assim?

- Ele é meu pai e minha única família. Se eu não confiar nele, em quem poderei confiar? – Pergunto inocente deitando o rosto no próprio ombro. Alguns fios que caíram por sobre os olhos e os lábios rosados faziam-na aparentar uma simples e inofensiva criança em busca de carinho.

A face doce, angelical e desprotegia mexia com o detetive. Ele se recusava a vê-la como uma criança carente e lutava para não se sentar ao lado dela e garantir-lhe que poderia confiar nele também. Até porque ele deseja a prisão de D-Kira e ninguém o convenceria de que essa garotinha inocente não seja a criminosa que buscava.

- Meu pai nunca quebrou uma promessa, então não tenho o porquê duvidar dele. – Comentou pegando o urso no colo e abrindo o fecho que ele possuía nas costas. Após afastar o tecido que guardava o acolchoado da pelúcia, Yukiko abriu uma pequena caixinha interna de onde tirou um pequeno caderno. O montante de folhas intercaladas com as originais revelava a idade do objeto que aparentava ainda ser novo.

- Pelo visto, você gosta de escrever, hein? “O que ainda estou fazendo neste quarto se nem mesmo estou olhando para ele?” – Perguntava-se confuso.

- Escrever é minha paixão, mas já faz um tempinho que não o atualizo. – Respondeu sem desviar os olhos do objeto.

Near a observou depositar o diário na cama e abraçar o velho urso. A saudade que ela sentia da mãe era inegável. A carência, o abandono, a inocência... – “CHEGA! Ela é D-Kira! Não se esqueça disso Near. Você é o sucessor de L e não cairá nessa armadilha. Primeiro uma jovem feliz e tagarela e agora isso. Muito bem pensado Yukiko, mas você está tentando manipular o homem errado. Eu nunca cairei nesse truque barato.”

- Hey, Yukik... Near?

Matsuda parou surpreso por encontrar o detetive de pé no meio do quarto de sua filha e a mirando intensamente. Confuso, era impossível dizer qual a sensação que se sobressaia. O ciúme por ver um homem, bem mais velho que sua filha por sinal, no quarto da mesma. Medo que sua pequena descobrisse a verdade sobre o detetive. Ou raiva por vê-lo invadir a privacidade de sua Yukiko, sendo que, como pai, somente ele tem esse direito. Fúria pela possibilidade do outro duvidar da loira. Entre mais algumas sem explicações lógicas, mas que também envolviam os termos homem, quarto e filha.

- O que está fazendo aqui Near? – Perguntou tentando se controlar.

- Apenas conversando. – Respondeu sem nunca desviar os olhos da garota que mirava o recém chegado.

- Está tudo bem papai?

- Acho que sim... – A incerteza na voz era mais nítida do que a luz do sol invadindo o quarto da jovem. – Vim buscar o urso. Preciso ir até a delegacia devolver alguns documentos e aproveito para deixá-lo na lavanderia. – Comentava tentando sorrir, contudo falhando, sinceramente para a loira.

- Então, aqui está ele papai. – Respondeu a jovem esticando o braço com o urso.

Matsuda nada comentou, somente pegou o bichinho e se preparava para sair do quarto enquanto a filha largava o diário na primeira gaveta da escrivaninha ainda sob o olhar analítico do detetive, que até então se mantinha quieto.

- Você não quer vir Near? – O ciúme começava a nublar a mente do moreno que se recusava a sair de casa e deixar o outro no quarto de sua pequena.

- Não, ficarei para ler um pouco. – Falou sem alterar a expressão ou se intimidar com a mudança no anfitrião.

- E você Yukiko? Quer acompanhar o papai?

- Desculpe-me, mas prefiro ir até a academia. Quero nadar um pouquinho. – Falou pegando uma mochila de dentro do armário. – Volto em três horas, tudo bem?

- Claro que sim. – Respondeu animado. – Eu voltarei antes de você e faz tempo que você não vai a uma aula de natação. Isso é maravilhoso. Você é uma ótima nadadora e é sempre bom praticar...

- Certo papai. Já entendi. – Interrompeu o moreno.

Os três saiam do quarto sem pressa, Yukiko descia as escadas e andava até o ponto de ônibus. Matsuda seguia em direção oposta rumo o serviço, enquanto Near ficava sozinho em casa.

Dez minutos após ver a jovem subir na condução, ele calmamente levantou e foi até o quarto dela a procura de algo que a culpasse. Somente sem a presença da loira é que notou o tom predominantemente rosa do aposento.

- “Isso não é cara dela... Provavelmente o Matsuda é que deve ter escolhido tudo... Não sei como ela agüenta tanto sufoco...” – Pensava enquanto analisava com cuidado cada móvel. Gavetas eram revistadas minuciosamente. Cadernos folheados em busca de qualquer pista. Tudo muito bem revirado e nada encontrado.

Near, estava há 5 minutos parado de frente para a gaveta de lingeries de Yukiko, constrangido. Recriminava-se por não analisar o local em busca do Death Note ao mesmo tempo em que se repreendia por pensar em buscar na dita gaveta. Desistindo e não acreditando na decisão tomada, resolveu olhar na escrivaninha onde sabia estar o diário da loira.

Várias revistadas descansavam abaixo do caderno de segredos da garota, as quais ele resolveu folhear antes de invadir por completo a privacidade da jovem. Foi um choque descobrir que não passavam de revistas femininas, com testes feitos, fofocas sobre celebridades e um coração desenhado a caneta vermelha sobre a imagem do ator americano Brad Pit.

- “Uma adolescente como todas as outras...” – Refletiu pensando se realmente era necessário ler aquele diário. Preferia acreditar que os motivos que o levaram a descobrir os segredos do caderno em mãos eram puramente investigatórios e não tinham nenhuma relação com sua curiosidade.

A cada linha lida mais acreditava que estava sendo enganado. Era impossível acreditar que a Yukiko que conhecia escrevera aquelas palavras. Paixões não correspondidas, o primeiro beijo, notas, brigas com amigas, um namoro de poucos meses escondido... A jovem que escreveu sua história naquelas páginas e a garota que investigava não podiam ser a mesma pessoa. Descrente, largou o diário no exato lugar em que o achara e voltou ao próprio quarto pouco antes de Matsuda chegar.

oOo

Braçadas vigorosas colidiam contra a água dando impulso e velocidade ao corpo de Yukiko. O maio preto contrastando com a pele clara e o cabelo loiro oculto pela touca negra. Ao alcançar a borda da piscina e erguer a cabeça da água não pode evitar o sorriso ao perceber que Raiya havia retornado.

- Vai me dizer que já está cansada, Yukiko? – O instrutor perguntou arqueando uma sobrancelha ao perceber que a garota parara de nadar.

- Não, mas prometi chegar cedo em casa. – Alegou saindo da piscina. – Até outro dia.

- Espero te ver com mais freqüência após as provas.

- Pode ter certeza que sim.

No banheiro, a loira era a única presente e, durante o banho, aproveitou para interrogar o Shinigami que a espera desconfortável pelo ambiente.

- Então? Vai me dizer o que aconteceu?

- Sabe que odeio ser feito de bode expiatório.

- Sim, eu sei. Mas me conta vai. O que aconteceu depois que sai de casa? – O som do chuveiro não disfarçava a falsa inocência que ela tentava expressar.

Raiya suspirou desanimado e resolveu contar o que a jovem deseja saber. – Como você suspeitava, Near entrou em seu quarto e olhou em todos os cantos, com exceção da gaveta de suas roupas de baixo.

- E o que mais?

- Ele leu o diário e folheou as revistas.

- Aquele diário não foi fácil de ser montado em tão pouco tempo, mas sabia que seria uma boa idéia.

- Sua colega já deve ter dado falta das revistas. Pretende devolvê-las?

- Depois que me livrar desse problema.

A água foi desligada e a loira surgia molhada, enrolada em uma toalha e esfregando o cabelo com outra. Raiya virou-se de costa constrangido pela imagem.

- Não imaginei que shinigamis sentissem vergonha. – Ela comentou verdadeiramente curiosa.

- Também nunca vi um ficar tão constrangido assim. E você não sabe o show que está perdendo. – Ryuuku comentou rindo para logo depois fugir da foice que Raiya carregava consigo. A fúria nos negros olhos intrigava o outro. – “Que interessante. Então você sente Raiya? Sente que algo está errado? Ou será que você já descobriu?” – Ria com a perspectiva de muito divertimento com a história do “amigo”.

- Suponho que esse outro Shinigami tenha falado alguma besteira. Nunca te vi tão nervoso. Ta tudo bem Raiya? – Yukiko perguntou impressionada pela agressividade demonstrada.

Raiya somente bufou irritado e virou-se de costas novamente, esperando pacientemente que a garota terminasse de se vestir.

Após se secar, Yukiko enrolou a toalha novamente no corpo e se aproximou da mochila, guardando a roupa molhada em uma sacola e retirando peças secas, além do Death Note que escondera mais cedo no local.

- Ele só pode estar sonhando se acha que conseguira pegar meu Death Note. – Yukiko sussurrou sorrindo.

- Você tem somente uma hora antes do combinado para chegar em casa. – Raiya a alertou.

- Eu sei. Temos bastante trabalho então. – Concluiu vestindo-se rapidamente e aproveitando o tempo restando para escrever alguns nomes no caderno da morte com horários diversos.

- Seria mais simples fazer o acordo pelos olhos. – Raiya ressaltou. – Você poderia agendar a morte desse detetive e não teria de se preocupar em ser descoberta.

- Eu já falei que tenho muita coisa para fazer e não é reduzindo meu tempo de vida que conseguirei. Por mais que queira conhecer meus pais de verdade, não pretendo adiantar o encontro.

- Como quiser. – No fundo Raiya se sentia aliviado pela decisão tomada, embora não soubesse distinguir o motivo.

oOo

Near, preferindo descartar tudo o que vira no quarto de Yukiko, continuava a observar cada passo da garota. A semana inteira, entretanto, ela continuava a confundi-lo. Se horas ela era uma adolescente como qualquer outra, convicta sobre o que queria da vida, em outras não passava de uma criança carente de amor, principalmente o materno. O sucessor de L tinha certeza de que ela era sua culpada e de que tudo fazia parte de um plano falho para perturbá-lo. A jovem tagarela não escondia à atenta, observadora e analítica D-Kira.

- Ela está escondendo alguma coisa. Eu sei disso. – Sussurrava para si mesmo no escuro de seu quarto.

Uma sombra passando pela janela o alertou. O cabelo comprido delatou o dono da silhueta e, sem desperdiçar a oportunidade de pegá-la em flagrante, Near abriu a janela repentinamente. Antes, contudo, que pudesse interrogá-la sobre para onde ia, congelou com a imagem que avistara.

Yukiko parara no exato local em que estava. As sandálias de salto alto nas mãos, o vestido preto de finas alças e que não ultrapassava o joelho delineava as belas curvas ficando solto somente após a cintura, o cabelo ondulado solto e caindo por sobre o ombro. A boca vermelha se abrirá varias vezes para tentar se justificar, porém palavra alguma fora pronunciada. O movimento e o batom chamativo prenderam a atenção do detetive.

- Near, por favor, não conte ao meu pai. – Ela pediu em pânico.

- E o que eu não deveria contar a ele? – O homem ficou aliviado ao perceber que sua voz saíra firme.

- É só uma festa na casa de um colega e é aqui pertinho. Eu prometo que volto cedo. Só não conta para ele, por favor! – Ela implorava.

- Pode ser perigoso sair sozinha. – Preocupou-se para logo depois se arrepender.

- Não há problemas. – Ela afirmou sorridente e, logo em seguida, puxava a barra do vestido até a coxa e exibindo uma pequena arma de choque presa por uma fivela também preta. Habilmente ela retirou o aparelho e o mostrou para Near que lutava contra o rubor. – Papai me deu isso quando eu tinha 12 anos e está bem carregado.

O homem permanecerá quieto e imóvel fazendo a jovem acreditar que ele ainda não estava convencido de sua proteção.

- Não se preocupe que ninguém a achará aqui.

Nenhuma resposta novamente. Yukiko se preocupava com a expressão de Near.

- Ah! Também tenho spray de pimenta. – Contou retirando o minúsculo tudo de dentro do sutiã. – Não tem muito, mas é o bastante para que eu consiga me afastar. Além é claro das aulas de defesa pessoal que tenho desde os seis anos.

Near tinha os olhos congelados no pequeno pedaço de lingerie ainda exposta. Preta como o resto da roupa e uma pequena renda. O cérebro dele o estava traindo.

- Você jura que não conta para meu pai? – Pediu uma última vez.

- Com uma condição. – Surpreendeu-se ao perceber que a voz continuava firme. – Você deve estar de volta antes das três.

- Combinado. – Aceitou sorridente. A arma de choque logo voltou para o seu lugar bem como o spray. – Não dá para vê-lo, não é? – Pergunto referindo-se a última arma enquanto apontava para os próprios seios.

- “Vou mandar prender essa menina por assédio sexual.” Tem uma parte que dá para ver sim. – Respondeu constrangido para se arrepender novamente. A garota apertava os seios na sua frente para tentar esconder o pequeno spray e mantê-lo ao acesso de suas mãos, tendo sucesso alguns minutos depois. – “Vou acrescentar atentado violento ao pudor na acusação. Garota sem vergonha. Então era isso que você escondia?”

- Prontinho. Ninguém o verá aqui. – Comentou alegre e beijou-lhe o rosto antes de descer por uma árvore que tinha perto da janela do quarto do detetive. – Até mais tarde Near.

A habilidade com a qual escapava o fazia pensar em quantas vezes antes ela teria repetido o ato. Tendo a certeza de que não conseguiria dormir, Near deitou-se na cama e ficou mirando o teto, repreendendo-se por olhar para sua suspeita número um como uma mulher.

oOo

Yukiko ria alto enquanto descia pela rua escura. Os perigos da cidade noturna não a assustavam desde que adquirira o Death Note. A gargalhada descontrolada chamava a atenção e ela não se importava com o fato.

- Não sei por que rir desse jeito. Você está sozinha, em uma rua escura e deserta, usando um vestido provocante...

- E tenho você do meu lado. – Completou a frase do Shinigami. – Não estou com medo deles. Mesmo que você não me salvasse, o que é o mais provável de acontecer, tenho a arma mais poderosa de todas. – Alegou tocando no pingente de ouro em forma de coração. – Além do mais, como não rir da expressão do Near? Nunca pensei que fosse tão fácil fazê-lo cair na minha armadilha.

A festa em si não poderia ter sido mais entediante ao ver de Yukiko, entretanto, seu bom humor a fez relaxar e aproveitar o pequeno passatempo. Odiava lugares pequenos com mais pessoas do que o limite comportado, porém, naquela noite, somente dançou sem se importar com o resto. O único que lhe dominava a mente era o detetive que estava em sua casa.

oOo

Domingo, sete da manhã e a casa em pleno movimento. Near simplesmente não acreditava que conseguira suportar uma semana naquela casa. Cansado pela noite mal dormida – culpa da garota que começava a confundi-la – descia as escadas bocejando.

- Puxa, que cara hein?! Não dormiu bem?

Ele olhou a loira em pé a sua frente que não demonstrava nenhum sinal de cansaço. Ficou acordado até as 4 da manhã e ela não dera sinal de vida. Como poderia estar tão disposta?

- Que horas você chegou? – Perguntou baixo.

- Duas horas depois do combinado. Desculpa o atraso. – Respondeu sorrindo travessa.

Ele somente fez uma careta. O sono diminuía sua atividade cerebral e, conseqüentemente, não conseguia pensar em nenhuma resposta.

- Vamos acordando Near. O domingo recém começou e temos muito trabalho.

O detetive lembrava-se de ter combinado com o grupo que investigava o caso D-Kira uma reunião logo cedo. Se sentado à mesa, bebeu duas xícaras de café forte para se preparar para o longo dia. O café transcorreu com calma até o momento em que o moreno se retirou para tomar banho.

- Você parece muito cansado. Não acha melhor adiar esse compromisso?

- Nunca faltei a um compromisso e não será hoje a primeira vez.

- Tem certeza? Parece até que foi você quem esteve fora à noite toda. Não quero nem ver como vôce estaria se tivesse ido junto.

- Estaria muito bem. Por quê?

- Não sei não... Se a idade já reclama numa noite calma, fico imaginando numa festa.

- Menina... Tem muito a aprender ainda. Espere e verá. Irei junto à próxima.

- Essa não. Terei de sair logo no começo da festa rebocando um vovô sonolento.

- Mais provável que eu tenha de carregar uma criança dorminhoca.

O silêncio se instalou enquanto os dois se miravam intensamente. Logo que o moreno chegou, ambos desviaram o rosto e disfarçaram a situação. Em pouco tempo, os dois homens saiam da casa e deixavam a garota sozinha.

oOo

Yukiko sentava-se em sua cama e fazia algumas alterações no ursinho que fora presente de sua mãe. Agora que Near já investigara seu quarto, podia procurar um lugar seguro para guardar seu Death Note. Ryuuku, curioso como sempre, sentava-se bem perto e analisava cada ação da garota.

- Definitivamente, eu prefiro o Raiya. – Alegou a jovem largando o material e repetindo o mesmo dito logo que viu Ryuuku pela primeira vez.

- Assim você me magoa. – Respondeu fingindo-se de ofendido enquanto o outro nada demonstrava.

- Mas o que eu posso fazer? O Raiya é mais bonito, mais sério, mais objetivo, menos esquisito e menos chato. – Listava a garota.

- Credo. Que Shinigami perfeito você é Raiya. Por que mesmo eu te deixei me ver? – Questiona o ato de tocar na garota com seu Death Note na noite anterior enquanto voltavam para casa.

- Para ficar me incomodando com a sua presença? – Ela sugeriu como resposta.

- Na verdade foi você quem pediu. – Raiya respondeu.

- Isso não vem ao caso.

- Viu só Yukiko. Pediu, agora agüenta. É melhor aproveitar. Não é todo mundo que tem dois shinigamis auxiliando no uso de um Death Note.

- Oh! Como sou feliz e sortuda. – Yukiko comentava irônica. – Ryuuku, dá para maneirar nessas maçãs? Meu pai vai estranhar e não quero ser delatada por um Shinigami guloso.

- Ele não vai suspeitar de nada. – O negro Shinigami alegava devorando mais uma das frutas vermelhas.

- Ele vai me causar vários problemas, estou sentindo isso. – Pensou em voz alta enquanto terminava de arrumar o novo esconderijo de seu Death Note e de seu diário de mortes.

oOo

Matsuda dirigia para casa descontente com o resultado da reunião. Near, no banco do passageiro, olhava pela janela distraído. O moreno simplesmente se enfurecera quando soube que o detetive escolhera sua casa por suspeitar de Yukiko. Ele só não sabia se estava com mais raiva de ter cada passo de sua filha investigado ou do plano traçado e aceito por todos os outros.

A felicidade que sentira logo que ouvira Near dizer que a probabilidade de Yukiko ser D-Kira reduziram consideravelmente após suas conversas com a loira foi indescritível. Contudo, ouvir que ele a usaria para ingressar no grupo de colegas de aula para procurar o verdadeiro assassino não o agradara.

- Ainda não acho que Kira esteja no grupo de amigos da minha Yukiko.

- Já lhe explicamos Matsuda. Os assassinatos começaram juntamente com o estágio dela. Além do mais, é para a segurança dela também.

- Como assim?

- Se D-Kira for um dos colegas dela, provavelmente a esta usando para conseguir informações de casos que não são noticiados na mídia e, se ela suspeitar, pode querer apagá-la antes que cheguemos a ele. Ainda há a possibilidade de D-Kira ser um parente de um dos colegas dela que, talvez, tenha ligação com a polícia e saiba a verdade sobre a paternidade dela e queira incriminá-la como vingança.

Matsuda abaixou a cabeça. Por mais que quisesse convencer a todos de que Yukiko era sua filha e não de Raito, sabia que não conseguiria. Alguns envolvidos no caso Kira original ainda guardavam rancor e, realmente, podiam tentar algo contra sua pequena. Por mais que não gostasse da situação, teria de concordar com o plano.

- E eu só vou acompanhá-la em uma festa, nada mais.

- Ta bom, mas nada de álcool para ela e nem cigarros ou qualquer outro tipo de droga. Ah! E tome muito cuidado para que nenhum aproveitador se aproxime dela. E não a perca de vista.

- Não sou babá de uma quase mulher adulta.

- Mas é a minha Yukiko e se algo acontecer? Ela só vai estar lá para nos ajudar.

- Matsuda, você precisa entender que ela está crescendo e já é capaz de agir por si só. Você a ensinou muito bem a distinguir o certo do errado, agora só falta saber se ela aprendeu a lição.

O moreno suspirou alto e apreensivo enquanto estacionava o carro na garagem. O sol se pondo o lembrava da desgastante reunião. Animado por rever seu bebê, entrava sorridente em casa e, antes de qualquer coisa, gritava apavorado.

Yukiko desceu as escadas correndo e assustada. Nunca ouvira seu pai gritar com tanto pânico. Ao chegar à cozinha, o encontrou congelado mirando o cesto de maçãs. Near tentava convencê-lo a falar o porquê do susto, mas o homem só se mexeu ao avistar a filha.

- Minha querida, você teve alguma visita hoje?

- Não, por quê?

As lágrimas tomaram conta dos olhos do policial que, gaguejante, revelou a razão de sua tristeza. – Você nunca comeu mais do que três maçãs por dia.

- E? – Perguntaram Yukiko e Near ao mesmo tempo ainda mais confusos.

- De ontem à noite até agora já foram mais de 40. – Respondeu soluçando.

A garota o olhava apreensiva e Near a fitou surpreso, porém logo voltou seu olhar ao moreno quando ouviu a voz do mesmo novamente.

- Isso pode significar uma única coisa. – Falou colocando as mãos fortes nos ombros da filha e olhando fixamente nos castanhos olhos.

- Ops. Ele era um dos caras que estava atrás do Raito. Será que ele se lembra de mim? – Ryuuku comentou e recebeu um olhar nada amigável de Raiya e de Yukiko.

- Olha, pai. Eu posso explicar. Eram as melhores das intenções e...

- Você está grávida! – Ele a interrompia.

- Como é que é? – Perguntava incrédula.

- Quem é o desgraçado? Ele vai pagar caro por ter abusado da minha menina. Escolheu a garota errada. – Alegava com o rosto molhado pelas lágrimas, a expressão raivosa, guardando um par de algemas no bolso e verificando as balas na arma.

- Pai! Eu não estou grávida! – Tentava a todo custo convencê-lo de que falava a verdade.

- Matsuda, não acha que está pegando um pouco pesado?

- Minha filha ainda é muito nova para já estar esperando um bebê. Ela nem começou a faculdade de física. Como posso estar pegando leve se um idiota engravidou minha filhinha? Isso é sedução de menores. Ele pode se considerar preso! – Respondeu aos gritos.

- Quer me escutar, papai?

- Ele vai ver só. Eu vou acabar com a raça dele! – Gritava enquanto saia com o carro furiosamente.

- Acha melhor irmos atrás dele? – Near perguntou preocupado.

- Não. – A falta de interesse dela o impressionou, afinal era o pai dela. – Ele nem mesmo sabe o nome de quem ele tanto odeia agora. Daqui a pouco ele percebe que não sabe quem está perseguindo e volta para casa. Melhor se preparar.

- Por quê?

- Ele quer um nome e se você estiver aqui embaixo ele pode colocá-lo no papel de responsável pela minha inexistente gravidez. Não sei se percebeu, mas meu pai é um pouco ciumento.

- Mal da para notar.


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Notas finais do capítulo

Bem... por hoje é só pessoal XD
até o próximo cap n.n
11 de Julho.
Somente no Fanfiction e, agora também, no Nyah.
O Retorno de Kira
Capítulo 8:
“INOCÊNCIA”



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