O Retorno de Kira escrita por Perola, Hunter-nin


Capítulo 18
Fearless




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Fearless

(By Pérola e x Hunter-Nin)

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E não sei por que, mas quero dançar com você

Em uma tempestade no meu melhor vestido

Sem medo

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Neve. Há quanto tempo não via neve? Os pequenos flocos brancos flutuavam levemente até alcançar o chão ou qualquer outra superfície. A alva chuva não seria capaz de colorir a cidade, contudo o espetáculo era amplamente apreciado pela adolescente da janela de seu quarto. No colo, um raro livro de Byron de 1842 e com desenhos da época à ponta de lápis. Lembrava-se de quando o vira na livraria e comentara sobre a obra com Near. No mesmo instante o detetive lhe presenteara e alegara que com a ajuda do livro o francês dela talvez melhorasse um pouco.

O som perto de si a despertou e ela se aproximou de Akane, que já começava a fugir do Moisés. Sorrindo para a pequena, a pegou no colo e voltou para perto da janela, mostrando à garotinha a brancura que reinava na manhã de Natal.

- É bonito, não acha Akane?

A criança tocou no vidro e logo afastou as mãozinhas devido o frio que sentiu, contudo não demorou a se apoiar novamente na janela, admirada com a cena. Tão curiosa quanto a adolescente que lhe proporcionava apoio, a loirinha mirava fascinada a neve para em seguida voltar os olhos verdes para a mais velha em um pedido mudo.

- Vamos então. – Yukiko completou levantando-se e levando a criança consigo. O caro presente ficou esquecido sobre a cama.

As duas riam tranquilamente enquanto desciam as escadas. Apesar dos sorrisos, quem conhecesse a mais velha seria capaz de perceber a magoa que insistia em não ir embora. Alcançando os últimos degraus, foram abordadas por Matsuda que notara a sutil mudança que sua filha tentava esconder.

- Aonde você vai? Temos trabalho a fazer.

- Near não lhe contou papai?

- O que ele devia me contar?

- Estou fora da equipe. – A garota completou sentando-se no degrau de saída da casa e deixando o bebê sentado ao seu lado, enquanto calçava as botas pretas.

- Como assim fora? Por quê? – Matsuda olhava atordoado da garota para o detetive no corredor que analisava a loira seriamente.

- Concordamos que eu não ajudaria muito nos avanços das pesquisas agora que a faculdade vai começar. E como seria muito difícil para mim largar um caso pela metade, eu não pegaria nada desse novo Kira.

- Eu não gosto quando você mente para mim Yukiko. – Matsuda disse sério e surpreendendo a todos que dificilmente o viam com tal expressão.

A garota deu um sorriso triste e olhou para o padrasto nos olhos, sem medo. Sabia que não conseguiria enganá-lo e nem ao menos queria, contudo preocupá-lo também não estava na lista.

- Foi só uma pequena discussão e acho que não estou pronta para trabalhar com alguém que tem aversão a minha pessoa.

- Aversão? Mas vocês não...

- Não se preocupe papai. Eu só vou levar Akane para brincar na neve, isso se Linda permitir.

- Só cuidado para que ela não fique molhada. – A mãe pediu, concedendo a permissão.

- Pode ficar tranqüila que cuidarei bem dela. – A loira disse após colocar novamente o sapato no bebê e pegá-la no colo.

- Eu sei que vai.

- Até mais tarde. – Yukiko completou saindo da casa.

- O que aconteceu ontem à noite? – Matsuda questionou para o detetive assim que a adolescente não pudesse mais ouvir.

Near mirou o anfitrião e percebeu que não escaparia com qualquer resposta. Linda, mais atrás de Matsuda, dizia claramente com o olhar que ele deveria enfrentar o mais velho em busca da aprovação para o que sentia. Grande engano. Como dizer a um pai ciumento que sua preciosa filha quase se envolveu com um homem tão mais velho? Entretanto ele sabia que não poderia ficar quieto por muito segundos a mais. Touta queria uma resposta e o mínimo que ele poderia fazer em troca de tudo o que o outro fazia para si era ser o mais sincero possível.

- Eu falei que não precisava de uma criança me distraindo.

- E como ela o distrairia? – Mogi perguntou curioso.

Aizawa já tinha quase certeza do que acontecia, por mais que não fosse capaz de acreditar nas próprias conclusões. Era certo que não gostava da garota e que ainda desconfiava dela, entretanto não era cego e sabia que a filha de Matsuda era muito bonita, além da inteligência aguçada e da língua afiada quando queria. Não era para menos também. A mãe era uma modelo famosa e a garota era incrivelmente parecida fisicamente com a mesma. Contudo, imaginar que Near sucumbiria ao charme juvenil era demais para si.

- Não sei se sabem, mas a filha de Matsuda tem o potencial de falar um número de besteiras considerável em um tempo incrivelmente curto.

- Mas tirá-la das investigações... – Touta ainda reclamava, apesar de reconhecer a verdade que o outro dizia.

- Não fui eu que a tirei. Ela saiu por livre e espontânea vontade alegando que não queria nos atrasar.

- Se foi uma escolha dela, não há nada que possamos fazer. Vamos Matsuda, precisamos nos concentrar em A-Kira. – Ide completou, chamando todos de volta para o trabalho.

- Falando nisso, por que mudou o nome dele Near? – Linda perguntou na esperança de levar alguma razão a Near.

- Ambitious-Kira. Obviamente esse Kira não é o mesmo de antes, além de ser alguém terrivelmente cobiçoso. Então achei melhor trocar o nome.

A policial suspirou pesadamente. O olhar do amigo lhe dizia claramente que ele não mudaria de idéia.

oOo

Yukiko observava a criança brincando na neve em seu vestido de inverno. Os passos ainda um pouco inseguros e a vontade de correr levavam a garotinha ao chão diversas vezes. A adolescente ergueu-se acreditando que a pequena iria chorar depois da última queda. Surpresa, viu Akane apoiar as mãos no chão e empinar o bumbum enquanto tentava recuperar o equilíbrio.  A distância que a mais velha venceria em apenas três passos requereu muitos mais dos pequenos pezinhos.  Frente a frente, a jovem ajoelhou-se para ficar na mesma altura da outra e limpar as mãozinhas sujas de terra que eram erguidas em sua direção.

- Prontinho. – Falou alto, ganhando um sorriso da outra.

Apesar de pequena, Akane já demonstrava toda sua vaidade. Novamente no colo feminino, ela passava os dedinhos sobre a roupa, claramente arrumando-a.

- Você vai ser muito orgulhosa quando crescer se continuar assim. – Yukiko afirmou fingindo-se de séria e sendo completamente ignorada pela pequena. – Amanhã vamos alimentar esse pequeno monstrinho consumidor que tem dentro de você.

O branco que se intensificava sobre a praça começava a incomodá-la e essa sensação a perturbava muito mais. A adolescente não conseguia deixar de se repreender por permitir ao detetive magoá-la. Se ele não se permitia viver um pouco fora das regras, não seria ela a persegui-lo para convencê-lo do contrário. Entretanto, a sensação de que ainda não podia se afastar dele somava-se ao peculiar caleidoscópio.

Olhando para o céu de onde os brancos flocos ainda caiam, ela lembrou-se de algo que sabia ter esquecido. A memória mostrava-se intacta, contudo ela sentia que estava incompleta e tinha certeza de que Near era a resposta para essas dúvidas.

- De quem será que eu me esqueci Akane? – A loira perguntou para o bebê que a mirava curiosa.

Yukiko tocou o rosto sem saber o motivo e manteve a mão sobre a bochecha por alguns segundos. Nesse rápido momento ela decidiu que não importava como ou o quanto insano isso pareceria, ela descobriria a verdadeira história, o motivo por se aproximar tão rapidamente de L.

oOo

Raiya observava o novo dono do Death Note escrever um nome após o outro. Os cabelos loiros desalinhados, o belo rosto coberto pelo suor e as olheiras terrivelmente visíveis indicavam que ele não estava acostumado a rotina que o próprio estabelecera.

- Você bem que podia parar de me olhar e escrever alguns nomes também. Estamos juntos nessa, que tal ajudar um amigo?

- Não sou seu amigo, não estou do seu lado, não gosto de você e já fiz minha parte ao dizer que 100 mortos por dia seria desgastante demais.

- Se me detesta tanto assim, por que me entregou o caderno?

- Eu não o escolhi e só o manterei vivo enquanto for útil.

Toshio riu debochadamente antes de alegar que Raiya parecia o cãozinho do antigo Kira.

- O que esse Kira tem de tão especial Shinigami? – Perante o silencio do Deus da Morte, ele prosseguiu sem medo. – Devia ser uma mulher muito gostosa para dominá-lo assim. Me conta, você dormiu com ela? Ela era boa de cama?

Raiya não foi capaz de se manter indiferente perante tanta audácia. Furioso e dominado pela raiva ele ergueu o policial pelo pescoço, forçando-o a ficar em pé e com o rosto perto do seu.

- Fique calmo Shinigami. Sua dona ainda não mandou me matar.

Mesmo que suas mãos formigassem para que ele concluísse o que começou, Raiya soltou o policial. Yukiko ainda não havia recuperado o caderno e ela precisa de mais tempo até ser totalmente inocentada perante Near, período em que tanto ele quanto o Death Note deveriam permanecer longe. No entanto, quando a viu mais cedo passeando com Akane, não resistiu em tocar-lhe o rosto. Ficou surpreso ao ver a mão dela segurando a sua, por mais que ela não o visse, e sentiu-se impelido a acelerar os acontecimentos. Fora necessária muita força de vontade para se afastar da garota.

- Quando você cumprir o seu objetivo, eu não serei piedoso.

Toshio riu perante a ameaça do outro.

- Isso se ela quiser que você me mate. Quem sabe eu não conquisto sua garota? Depois de um trato bem dado, quero ver se ela vai se interessar por um fantasma.

- Eu o mato antes que toque nela.

- Veremos Shingami.

Raiya deixava Toshio sozinho com o Death Note para evitar qualquer ação precipitada. O humano atrevido conseguia tirá-lo do sério sem muito esforço. O Deus da Morte nunca pensou que fosse sentir saudades dos flertes entre Yukiko e Near. Todavia, qualquer relacionamento que surgisse entre eles, aconteceria pelo sucesso da garota em envolver o detetive. Por outro lado, imaginar sua criança nos braços do policial era repugnante para seus olhos acostumados a cenas macabras.

- Vai estourar os dedos se apertar essa foice com mais força.

- O que você quer Ryuuku? – O outro perguntou sem esconder o mau humor.

- Não costumo ser tão gentil, mas, antes que você surte, vou lembrá-lo que estamos falando de Yukiko. Mesmo sem saber absolutamente nada sobre nós, ou sobre qualquer coisa que ela tenha feito usando um Death Note, ela ainda vai ser a Yukiko.

- Ela nunca permitiria a alguém como Toshio tocá-la. – Raiya completou mais calmo.

Ryuuku estava certo. A garota era a verdadeira Kira, o cérebro que desafiou L, filha do homem que primeiro usou um Death Note com o objetivo de limpar o mundo. O Shinigami respirou mais calmo após refletir um pouco. Sua garotinha estava a salvo.

- Se bem que seria interessante...

Ryuuku não terminou de falar que Raiya já tentava acertá-lo com sua foice. Sem sucesso, a lâmina cortou a cabeça de um policial que cruzava o corredor. O homem caiu morto no chão sem nenhum ferimento, causando pânico entre todos os presentes. Em pouco tempo um legista diagnosticaria um aneurisma. Uma morte natural que em pouco tempo seria esquecida.

- Que coisa feia Raiya. A Yukiko não vai gostar de saber que você matou um inocente de graça.

Akio saiu de sua sala logo que o movimento se intensificou. Analisando o olhar do Shinigami que lhe entregara o Death Note e o corpo caído no chão, ele logo chegou a conclusão de que nada poderia ser feito pelo antigo companheiro. Aproveitando que ninguém havia percebido sua presença, Toshio voltou para sua sala e guardou o Death Note, respirou profundamente e saiu apressada de sua sala, representado surpresa e preocupação pelas condições do policial morto.

oOo

A manhã chegava ao fim e Yukiko finalmente retornava para casa com Akane dormindo em seu ombro devido à exaustão. O polegar na boca, um pé do sapatinho na mão da adolescente, o bracinho caído ao lado do corpo, bem como as perninhas que não ultrapassavam a barriga da mais velha demonstravam totais conforto e entrega.

Linda, que já se preocupava com a demora das duas, ergueu-se rapidamente. Mogi achou o comportamento da policial muito parecido com o de Matsuda. Este, contudo, permaneceu na sala, observando discretamente as reações de Near. O detetive, sempre atento, já percebera as intenções do anfitrião e convencia qualquer um de sua neutralidade. Todavia seria pedir demais para seu autocontrole, ou para o de Touta, permanecer inatingível pela visão das garotas quando elas adentraram a sala.

- Bom dia. – A adolescente cumprimentou a todos ao chegar à sala.

A resposta veio automática de todos os presentes, exceto de Near e Matsuda que continuavam a mirá-la. Os movimentos cuidadosos para que o bebê não acordasse e a semelhança entre as duas instigava a imaginação dos dois. Matsuda ainda não se esquecera do que Aizawa havia dito em seu aniversário e ainda imaginava o dia em que alguém fosse roubar sua garotinha de si. Ver sua filha com um bebê parecido com a mesma nos braços e explicando-se para Linda o motivo da demora enquanto gesticulava com o sapatinho na mão fazia-o crer que o dia fatídico estava mais perto do que o imaginado, além de ter a certeza de que, se dependesse dele, nunca seria avô, pois mataria o primeiro que ousasse tocar na jovem.

Já Near recordava-se da conversa que tivera com Linda na noite anterior e na qual ela alegara que ele deveria dar uma chance aos dois. A amiga chegou ao ponto de falar séria da absurda possibilidade de ele se tornar pai. Contudo, a visão a sua frente o fazia cogitar a hipótese como não mais tão absurda assim. O destino provocava-o. Essa era a única explicação que ele encontrava pelo súbito desejo de quebrar as regras.

- A julgar pela Akane, vocês se divertiram hoje não é? – Mogi perguntou se aproximando e tocando no bebê que abriu os olhos sonolentos para mirá-lo.

Ainda cansada, a pequena levantou o outro bracinho e segurou a roupa de Yukiko na altura do pescoço com força enquanto apoiava o queixo no ombro. Os olhos verdes se focaram em Near que não desprendia sua visão da cena. Quase encantado, nunca pensou que a adolescente ficaria tão bonita em um quadro materno. Cogitava dizer-lhe seus pensamentos quando foi focalizado pela pequena loirinha. A intensidade do olhar infantil, por alguma razão, lembrou-lhe de sua promessa a garota e da situação de ambos. Preferindo ignorar qualquer sensação nova e assustado com o próprio coração, voltou a concentrar-se no caso de A-Kira.

- Quais são seus planos para hoje minha filha?

- Não há muito a se fazer na cidade papai. Então, só vou colocar Akane na cama, almoçar e vou para o trabalho.

- No Natal? O senhor Toshio não lhe deu o dia de descanso? – Ide perguntou curioso.

- Deu sim. Mas com vocês ocupados no caso e Akane que vai dormir a tarde toda, não me resta muita coisa para fazer. Combinei com a Naomi de visitá-la só no final da tarde, então tenho algumas horas vagas.

- Desculpe estragar o nosso Natal Yukiko. – Matsuda pedia cabisbaixo.

- Você não tem culpa de nada papai. Depois de derrotarem Kira, tudo voltará ao normal, não é?

- Eu espero que sim minha filha.

- Então só temos de ter paciência.

A garota completou já saindo da loja com o bebê nos braços. Linda a acompanhou até uma parte do trajeto, contudo retornou para a cozinha a fim de preparar uma mamadeira para Akane que em breve despertaria com fome.

Enquanto Yukiko suspirava determinada a descobrir a origem das estranhas sensações de que se esquecera de algo e Toshio se afundava na ganância de obter status graças ao novo poder obtido, Near lutava para tentar voltar a ser o mesmo e apagar qualquer efeito causado pela adolescente em seu método de pensar com medo de que não conseguisse.

 


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Notas finais do capítulo

Bem. Até que não estou muito atrasada hoje. E preciso dizer que gostei desse cap. Estou recuperando o foco da fic não acham? Então... O que acharam? Consegui capturar um pouquinho mais dos nossos amados shinigamis? Bem... to tentando criar uma nota decente aqui e não tá saindo nada... x.x Acho que me desacostumei a não fazer isso sob pressão XD Então vamos às reviews e, falando nelas, fiquei super feliz por saber que não perdi minhas amadas leitoras *-* Obrigadão gente por entenderem a demora e por deixarem mais uma valiosa review. Adoro vocês *-*
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12 de Dezembro.
Somente no Fanfiction e no Nyah
O Retorno de Kira
Capítulo 18:
“Fadado”



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