POV Percy.

—Eu te odeio, Percy Jackson. — A voz ecoa na minha mente e levo alguns segundos para processar a informação. Estou prestes a dizer que não acredito, quando Annabeth pisca com o olho direito.

Uma piscada. É tudo o que eu preciso para finalmente entender.

— Eu te odeio, Percy, e nada do que você disser vai mudar isso. — Eu sei que as palavras são falsas.

— Por que você está dizendo isso? — Pergunto. De alguma forma, sei que ela tem um plano. Lembro as palavras do presidente dizendo que ela deu a ideia de esperar que nós viéssemos.

— Porque eu gosto de viver e para isso preciso ficar longe de você. — Ela carrega as palavras de nojo, mas eu entendo. O presidente está controlando-a de alguma forma e se ela ficar perto de mim, pode morrer.

Eu a empurro para o lado me levantando rapidamente.

— Então tudo bem, Annabeth. Fique longe de mim, também não a quero por perto.

Ela esboça um sorriso antes de voltar à expressão de nojo. Ela se levanta, batendo o pó das roupas.

—Percy...? — Thalia começa, confusa.

— Deixe, Thalia. Se ficar longe de nós é o que ela quer, vamos ficar. — eu digo com o máximo de intensidade na voz. Thalia não parece entender, mas não faz objeções.

Annabeth se aproxima do presidente e fica arás dele, colocando as mãos em seus ombros.

— Chame os guardas, senhor Presidente. — Annabeth diz. Eu a olho confuso, mas ela não retribui o olhar. Seus olhos parecem fixos nas mãos do presidente.

Snow levanta a mão esquerda.

— Não ouse fazer isto. — Thalia aponta a arma para sua cabeça. — Annabeth, fique longe dele.

— Você não me dá ordens, Thalia. — Ela retruca e então sussurra algo em seu ouvido. Como estou próximo a ela, eu consigo escutar.

— Use a mão direita, eles não verão. — Quando meus olhos se desviam para a mão direita do presidente eu finalmente entendo o que Annabeth está fazendo. O presidente está com a mão em cima de um botão, que suponho que controle Annabeth para o caso dela se rebelar. Annabeth está tentando tirar a mão de perto do botão e falou aquilo propositalmente alto para eu ouvir.

— Thalia, não desvie a arma da mão esquerda do presidente. Você também Gale. E Paula, não tire seus olhos da porta. Se alguém aparecer, atire. — Eu digo. Eles assentem em silêncio e fazem o que peço.

Posso ver a indecisão nos olhos do presidente. Ele sabe que o único modo de sair vivo é usando a mão direita, totalmente livre. Mas ele precisa arriscar perder o controle de Annabeth. Ela também parece entender seu conflito.

— Viu como foi bom esperar? Temos eles em nossas mãos. Eles nunca escaparão. Chame os guardas e eu mesmo me encarregarei da execução deles. — Ela fala com tanta convicção na voz que se eu não soubesse o que realmente pretende, acreditaria. O que é o caso de Thalia.

— Você não sabe o que está fazendo, Annabeth.

— Ah, eu sei. Pode ter certeza de que sei. — Ela encara Thalia, que finalmente parece entender. Seus olhos se desviam dela para mim e de mim para a mão direita do presidente. Felizmente, ela é suficientemente esperta para não deixar transparecer nada. Continua apontando a arma para a mão esquerda do presidente.

— Gale. Prenda-o. Ele terá um julgamento e será executado. — Ela diz. Gale se aproxima para obedecer e finalmente o presidente parece tomar uma decisão.

Ele move a mão direita em direção a uma alavanca, mas é impedido tão rápido que só percebo o que acontece momentos depois. Annabeth segura seu braço e bate sua cabeça contra a mesa, imobilizando-o.

— Seu velho idiota, achou mesmo que eu trairia meus amigos? — Ela resmunga, com nojo. — Prenda-o, você. — Ela aponta para Gale, que tira algemas do além de prende as mãos do presidente nas costas, enquanto ele parece recobrar a consciência. Annabeth aperta um botão em uma espécie de telefone que dá um bipe e começa a falar.

— Temos os prisioneiros, está tudo sobre controle. Mande tropas para a área leste. Os amigos deles estão vindo por lá. O presidente está interrogando eles nesse momento, não queremos ser incomodados. — E desliga. — Pronto. Vocês estão com algum aerodeslizador aqui? Como nós vamos dominar o local? Espero realmente que vocês não vieram em uma missão suicida sem soldados ou planos.

— Precisamos contatar Coin. — Eu digo para Thalia, que assente e tira seu comunicador do cinto.

— Ei. Aqui é a soldado Thalia. Temos o presidente Snow preso. Precisamos de reforços para tomar a cidade. Onde vocês estão? — Pausa. — O QUÊ? — ela grita, parecendo irritada. — E que Hades ela está fazendo no Distrito 2? Mande-a para cá agora! E Peeta também! Não me importa, traga o Distrito 2 inteiro se for preciso. Eu quero todos aqui!

Ela desliga e se vira para mim.

— Mandaram Katniss para o Distrito 2.

— O que? — esbravejo.

— Eles fizeram filmagens para chamar as pessoas para o nosso lado. Finnick e Peeta estão com elas e vão ser mandados para cá. Clarisse e Paula, vão atrás de Annie. Não chamem atenção.

— Ela está no segundo andar, porta número dezessete. E tenham cuidado com ela, está muito perturbada. — Annabeth diz. As duas garotas assentem e saem da sala com cuidado.

— Como... — o presidente começa a dizer — como você ainda está do lado deles? — Pergunta para Annabeth, que dá um tapa em seu rosto.

— Você vai pagar velho idiota. E você já sabia que eu nunca acreditaria em você, por isso me controlava. — Ela aponta o braço para ele. — Percy, pode pegar minha adaga naquele baú? — Pede. Eu assinto e vou até o canto da sala onde está o tal baú. Dentro dele estão uma espada da arena, a adaga de Annabeth e seu boné dos Yankees.

— Não sabia que você tinha trazido isso. — Pego o boné depois de dar a adaga para ela.

— Tenho meus meios — resmunga. Ela pega a adaga e faz um corte em seu braço.

— Annabeth...? — Thalia começa, mas Annabeth não dá ouvidos. Ela perfura a carne e tira um dispositivo de lá, jogando-o com sangue e tudo na cara do presidente.

— Ninguém, — ela cuspe as palavras — nem Ulisses, me controla. Você vai pagar. Gale, jogue-o no canto da sala e não tire os olhos dele. — o garoto obedece sem dizer nada. Posso ver o medo nos olhos dele, mas não posso culpá-lo. Annabeth está assustadora.

O comunicador de Thalia começa a apitar e ela se vira para atender. Eu me viro para Annabeth, que finalmente se dá a chance de chorar. Vejo as lágrimas escorrerem pela sua face quando ela corre para me abraçar. Eu a beijo e, quando ela se afasta, começo a dizer.

— Eu estava com medo de te perder.

— Eu também. Eles colocaram imagens na minha mente, mas eu não acreditei. Eu te amo. Por favor, me perdoe pelo o que eu disse.

— Eu sei que é mentira. Sempre soube. Também amo você. — Ela sorri.

— Nisso eu acredito. — E me beija novamente, mas somos interrompidos com o barulho da porta. Paula entra, seguida por uma Clarisse carregando uma garota, que suponho ser Annie Cresta.

— Ela está desmaiada. Um cara nos viu e chamou reforços. Eu o matei, mas não a tempo. Temos a vantagem de estarem longe, mas não demorarão a chegar. — Clarisse diz em um fôlego só.

— Vocês nunca vencerão. — Snow diz, para ser chutado por Gale.

— Cale a boca.

— Eu vou matar cada um de vocês, cada pessoa que vocês amam... — Gale dá um chute mais forte, e dessa fez o cara desmaia.

— Eles já estão aqui. — Thalia diz finalmente. — Estão na área oeste, como eu instruí. Vão invadir ao meu sinal.

— Os mandem entrarem pelos fundos. — Annabeth começa a dizer com sua voz-filha-de-Atena-estrategista-em-batalha — Clarisse, leve Annie e a deixe com alguém. Volte rápido. Paula, você dá cobertura para ela. — Elas assentem e saem da sala mais uma vez. — Thalia, mande alguém vir para cá cuidar do presidente. Precisamos do Gale para a batalha. Quando souberem que o presidente está preso, terão de se render. Percy, quem é Coin?

— Presidente do Distrito 13. — respondo.

— Suponho que ela será a nova presidente.

— Acho que sim.

— Bom, nós não temos muito que fazer. Temos o presidente. Quando temos o líder, temos o exercito. Só precisamos conseguir arrumar um jeito de falar com todos... — Ela faz uma cara pensativa e exclama — Já sei! Eu quero Jake Mason e os Stoll aqui. Agora. — Thalia dá as ordens pelo comunicador, quando a porta é aberta repentinamente. Thalia joga a arma para mim sem pensar e eu a aponto para a porta. Quem entra é Coin.

— Então é verdade. Vocês o têm. Bom, seus serviços não são mais necessários.

— O que? — Esbravejo. Coin olha para mim confusa.

— Não preciso mais de você.

— Você não pode simplesmente me dispensar. — Eu digo. Annabeth empunha a adaga.

— Filha de Afrodite. — ela resmunga. Coin vira sua atenção para ela.

— Certamente algumas pessoas terão de ser punidas. Você estava ajudado o Snow, não estava?

Annabeth parece desconcertada.

— Ela estava fingindo! Ela está do nosso lado e é graças a ela que temos o presidente.

— Vocês não tem o presidente. Eu sou a presidente agora. E vocês tem que me obedecer. Prendam-nos! — Ela grita. Dezenas de homem entram na sala empunhando armas e apontando para nós. Os dois primeiros vão direto para o Snow e o tiram da sala. Eu, Annabeth, Thalia e Gale recuamos. Somos quatro, com duas armas e uma adaga, contra dezenas de soldados treinados.

— Para trás. — Aponto a arma. Coin ri.

— Sua coragem é louvável, Percy Jackson. Mas você não está lutando contra monstros e o seu querido papai não vai te ajudar agora.

— Você está errada em uma coisa: você é um monstro. — Ela me fita furiosa.

— Já cansei de você, Perseu Jackson. Prendam eles. E os desarmem.

Eu consigo atirar em dois soldados quando sou finalmente desarmado e imobilizado. Annabeth consegue guardar a adaga antes de ser presa. Nós dois sabemos que Coin pode ser ferida por armas divinas e muitos dos seus soldados também. Quando estamos todos presos, Coin já saiu da sala. Somos levados para dois quartos do segundo andar. Eu e Gale somos jogados em um e Annabeth e Thalia em outro.

— Nós vamos conseguir sair. Eu prometo. — Digo para elas antes de ser empurrados Também presos lá, estão os gêmeos Stoll, Jake Mason, Will Solace, Nico e Chris.

— Vocês também? — Jake pergunta. — Fomos enganados. Lou, Johanna e Sunny também foram presas.

— Me soltem seus babacas! Eu vou fazer picadinho de cada um de vocês!

—Clarisse! — Chris grita se aproximando da porta.

— Não se preocupe, Chris. Eu vou tirar todo mundo daqui e matar cada um desses idiotas asquerosos. — Ela grita de volta.

— E eu vou ajudar! Vocês são uns energúmenos, otários! Não percebem o que ela está fazendo com vocês?! Ela está manipulando a mente de vocês! Usando as conversas dela para usar vocês para ter poder. Ela só quer poder. Poderia eliminar cada um assim que quisesse. Mas vocês não prestam mesmo, seus otários sem... — Paula é finalmente calada.

— Paula! — Clarisse grita. Nós não conseguimos ouvir mais nada, pois a porta é fechada com elas dentro do outro quarto.

— Tem isolamento acústico. — Jake explica. — Não podemos nos comunicar.

— Vocês falaram de Lou, Johanna e Sunny. Onde está Katie? — Pergunto. Eles abaixam o rosto e eu entendo rapidamente. Fico sem palavras. — Como...?

— Ela foi a última a ser presa e tentou lutar. Morreu na hora e jogaram seu corpo do aerodeslizador. —Travis diz, com ódio. — Eu decorei os rostos dos caras que fizeram isso. Eu vou matá-los. Eles vão pagar.

— Eu tenho Contracorrente, eles...? — Aponto para a porta.

— Mortais. — Nico diz, pela primeira vez. — Coin se certificou disso. Ela sabe que você não poderia ficar sem a espada.

— Ela sabe muito sobre nós. — Connor resmunga.

— Demais pro meu gosto. Quando eu descobrir quem escreveu aqueles malditos livros... — Travis não termina e deixa a ameaça no ar.

Nós ficamos em silêncio, sem saber o que fazer. A sala não tem janelas e está totalmente vazia, sem nada com que possamos usar. Depois de alguns minutos, ouço a voz de Annabeth.

— Percy! — Ela é tão fraca e parece tão longe, que suspeito estar delirando. Mas Nico parece escutar também.

— Ouviram isso?

— O quê?

— Annabeth!

— Cabeça de Algas, seu idiota. Me responde. — Ouço a voz dela novamente. Parece vir do canto da sala. Corro até lá.

— É, certamente é Annabeth.

— Annabeth? — Pergunto. Quando ela retorna a falar, sua voz está mais perto.

— É uma brecha na instalação. Eles sempre deixam brechas.

— E é por isso que eu amo você. — Digo.

— Discutam a relação depois! — Ouço a voz de Clarisse.

— Eu tenho um plano. — Annabeth diz.

— Nunca fiquei tão feliz em ouvir a voz de uma garota. — Gale diz às minhas costas.

— O plano é o seguinte:... — Ela começa a falar, mas é interrompida por um barulho na nossa porta. Viramos simultaneamente, para encontrar uma Katniss esbaforida com um sorriso.

— Como se sentem sendo salvos por uma mortal?! Eu me sinto ótima salvando um bando de filhos de deuses!

— Definitivamente, eu nunca fiquei tão feliz em ouvir a voz de uma garota.