- O que foi aquilo? - sussurrei para Ciel, dando passos hesitantes em direção a casa em ruínas.

- Ei - ele disse, chegando ao meu lado rapidamente e segurando meu braço, fazendo-me parar - Acha mesmo que é uma boa ideia entrarmos ali?

Seu olhar mostrava preocupação e desconfiança, denunciando sua lembrança de minha ultima decisão, que levara-me a quase ser morta por uma garotinha sanguinária.

- Não - eu disse, suspirando.

- É melhor nos afastarmos daqui e continuarmos a caminho de seu grupo - ele disse, relembrando nosso antigo objetivo - Seja lá o que estiver ali, se quiser nos fazer mal, irá aparecer mais cedo ou mais tarde.

Assenti, olhando novamente para a janela quebrada, os cacos pontiagudos projetando-se como dedos frios e a cortina em farrapos  balançando levemente com a brisa que entrava pela passagem.

- Vamos embora - Ciel disse, odiei o tom autoritário em sua voz e, em um impulso de irritação, corri para dentro da casa que ele pretendia se afastar.

- Emily! - disse ele, tentando me impedir, porém eu já havia passado pela antiga porta que agora era só alguns pedaços de madeira podre e me dirigia a sala onde haviamos visto nosso pequeno observador.

- O que pensa que está fazendo? - ele perguntou, irritado, chegando a passagem da sala em que eu havia entrado.

Olhei ao meu redor. Um carpete puído cobria o chão que estávamos, sendo coberto por uma grossa camada de poeira cinzenta que se separava de sua superfície com meus passos, espalhando-se pelo aposento. Livros destroçados e páginas borradas espalhavam-se pelo chão, algumas movimentando-se timidamente com o vento que se atrevia a entrar, o papel de parede de um amarelo claro estava rasgado em vários cantos, muitos desses estragos fazendo caminhos que pareciam serem originados por garras afiadas, que denunciavam o tom róseo da tintura das paredes. Riscos escarlates pintavam toda a região, borrando toda a devastação que já havia sido feita, escorrendo seu tom rubro em linhas até chegar ao chão.

Em um canto do quarto a confusão de sangue na parede era ainda maior, toda a bagunça rodeando o corpo desfigurado de um homem que jazia sentado ali. Seu rosto estava abaixado, chegando a encostar o queixo no peito sangrento, sua camiseta que antes fora de um tom claro de azul agora era vermelha, encharcada de seus ferimentos, os braços pendiam pesadamente ao lado do corpo, sua mãos viradas para cima como se fosse um último pedido de misericórdia.

Cheguei perto do homem, ignorando os apelos nervosos de Ciel para que eu me afastasse, e agachei ao seu lado. Peguei seu queixo, enquanto meu coração palpitava alto, ecoando em meus ouvidos, e ergui seu rosto em minha direção, reconhecendo-o no mesmo momento.

A partir daquele instante, percebi que todos os nossos planos estavam arruinados.