Lágrimas de Sol escrita por Anastacia B, Kah Correia


Capítulo 5
Capítulo 5 - A Nova Chef


Notas iniciais do capítulo

Oieeeee leitoras!!!!
Estou sumida eu sei, mas estou de volta e dessa vez, vamos terminar a fic :)
Queria agradecer a todos os comentários!
Beijos a todas e boa leitura!
Pleaseee, não sejam leitoras fantasmas! =)



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Eu mal havia tocado na comida. Por algum motivo mesquinho ou absurdamente infantil, eu apenas observava o tamborilar dos meus dedos desajeitados, por cima da mesa de madeira, do refeitório. Já havia se passado mais de meia hora, e eu continuava apenas encarando meu prato. O brócolis parecia não ter gosto algum, assim como o frango com molho.

Não que a comida do internato fosse totalmente sem gosto ou ruim. Na verdade, eu havia me alimentado bem, desde que havia chego ali. O problema, era que especificamente hoje, eu iria me encontrar com Dimitri, que havia prometido me ajudar. Toda minha confusão mental e um pouco de receio, acabaram por interromper de vez o fluxo do meu apetite.

-Está sem fome? – Marion, uma das enfermeiras, parou próximo de mim na mesa.

-Na verdade eu comi alguns biscoitos de chocolate a pouco – Menti, torcendo para que ela não insistisse.

-Vocês adoram comer porcarias – Marion resmungou descontente. – Depois reclamam que estão com dores abdominais e que não conseguem se alimentar direito, durante as refeições.

Apenas assenti, agradecendo mentalmente por ela ter engolido a resposta.

-Está bem. Deixe comigo que hoje te livro da bronca da diretora, mas amanhã, terá que comer regularmente e pedirei as outras enfermeiras, para lhe cortarem o chocolate – Marion então sorriu, e eu pude notar o pequeno par de rugas, se formando no canto de seus olhos. Marion seguramente já passava dos quarenta e tantos anos.

-Obrigada – Limpei rapidamente meus lábios com o guardanapos e me levantei, para levar a bandeja ao balcão.

Assim que consegui me livrar dos olhares das outras enfermeiras, após similar bocejos incansáveis, segui sem rumo para fora do refeitório. Eu não sabia ou melhor, não fazia ideia de onde eu iria me encontrar com Dimitri. Embora ainda não fosse inverno, a temperatura estava hoje relativamente baixa e os pátios consequentemente, vazios a essa hora da noite. Já se passavam das oito horas e muitos pacientes, já seguiam para os seus respectivos quartos.

Com um olhar mais atento, pude perceber através de uma pequena janela, que a luz do consultório de Dimitri, estava acessa. Era uma fraca luz, como uma lamparina ou algum possível abajur. Aproximei-me com cuidado, sentindo as folhas secas se quebrarem, embaixo de minhas sapatilhas.  Dei a volta para me aproximar da porta, e percebi que ela estava um pouco aberta. Ouvi Dimitri murmurar algo de dentro da sala, como se estivesse bastante entretido em algo, ou apenas fazendo uma leitura em voz alta. Para não interrompe-lo em seu momento particular, abri com cuidado um pouco mais a fresa, tomando cuidado ao entrar pela porta.

Bastante diferente dos seus dias convencionais ali, Dimitri estava em uma postura relaxada, enquanto parecia ler um artigo, ou algo assim. O até hoje cedo habitual jaleco branco, estava aposentado nesse momento, dando lugar a um suéter marrom escuro, jeans azul e um par de  tênis.  Mas, não era exatamente isso a parte que mais me impressionava. Seu cabelo castanho escuro, parecia mais macio do que o habitual, conforme a fraca luz tocava suas mechas. Apertei minhas mãos, me sentindo estúpida, quando uma ânsia quase que voraz, me fez querer deslizar cada dedo meu, pelos fios macios do cabelo dele. Automaticamente mordi meus lábios em protesto, pelo pensamento.

Um som desajeitado escapou pelos meus lábios, fazendo com que Dimitri levantasse seu olhar para mim. Prendi a respiração, quando sua expressão mudou rapidamente de surpresa, para sorridente.

-Boa noite Rose – Dimitri se ajeitou na cadeira, me pedindo para que entrasse.

-Boa noite – Respondi desajeitadamente, pelos meus pensamentos inapropriados de segundos atrás.

-Vejo que me encontrou, antes que eu tivesse o prazer de procura-la – Dimitri então aumentou um pouco mais seu sorriso, me forçando a desviar o olhar.

-Eu estava apenas caminhando – Respondi vagamente, enquanto me sentava de frente a ele. Houve uma longa pausa e eu senti os olhos de Dimitri em mim, enquanto parecia pensar sobre alguma coisa.

-Acho que esse consultório não é mais apropriado a esse horário – Dimitri então se levantou, fazendo uma leve careta. – Vamos caminhar um pouco.

Sem responder, apenas me levantei, enquanto o observava pegar um molho de chaves e seu aparelho móvel, para em seguida coloca-los no bolso de sua jeans. Assim que terminou, me guiou até a porta e logo a fechou, atrás de nós.

-Está frio hoje – Seguimos lado a lado, pelo pátio principal. O lugar estava vazio e com poucas luzes o iluminando. Dimitri tinha suas duas mãos nos bolsos e eu, tentava manter o mesmo reflexo, enquanto meu estomago se apertava. Talvez realmente eu não devesse ter ignorado o jantar afinal.

-É verdade – Respondi vagamente segundos antes de Dimitri, se sentar em um dos bancos de madeira, mais distantes do pátio. Atrás de nós, estavam localizadas algumas salas fechadas, usadas para recreações em geral. As luzes do refeitório, ainda estavam queimando a todo vapor, mas de longe se podia ver que a maioria dos pacientes e enfermeiras, estava saindo aos poucos.

-Agora que já estamos sentados, já pode começar a me contar como veio parar aqui. – Dimitri então me olhou e eu não consegui desviar meu olhar, da sua direção. Ele ainda tinha a postura relaxada.

-Minha história não é das melhores – Desviei o olhar, abraçando minhas pernas em cima do banco. –Meus pais estão mortos, tenho tios e primos que me odeiam. Minha carreira está arruinada como Chef e eu não consigo sequer por um momento, parar de pensar na minha casa na minha avó.

-Aquela que vive na Romênia? – Dimitri então me pegou desprevenida.

-Se lembra disso? – Franzi o cenho. Havíamos conversado antes sobre minha insônia e também sobre minha avó, mas mesmo assim, eu achei que ele não tivesse dado tanta importância a aquilo.

-É claro que me lembro – Dimitri quase parecia ofendido. – Como também me lembro de que estudou gastronomia e sabe fazer tortas deliciosas de maça.

Não consegui reprimir uma risada gutural.

-Nunca comeu do que cozinho, como pode saber? – Ergui uma sobrancelha desafiadora para ele.

-Podemos resolver isso de um jeito mais simples, do que pensa – A forma como ele me olhava, me fazia perguntar o que ele parecia estar tramando.

-O que quer dizer? – Perguntei enquanto tirava uma mecha dos meus olhos.

-Quero dizer que providenciei algumas coisas para te ajudar aqui. – Dimitri parecia tanto feliz com si mesmo, quanto um pouco encabulado. – Já autorizei sua ficha no departamento e poderá dar aulas de culinária aqui, caso seja do seu interesse é claro.

-O que? – Prendi minha respiração, fazendo com que o som saísse quase esganado.

-Eu tenho te acompanhado desde a entrada aqui e também nos últimos meses, desde que nos conhecemos. Está mais do que certo de que suas limitações, estão interferindo diretamente em sua rotina e também possivelmente no seu sono.

-Está querendo dizer que estou Okay? Que posso sair? – Me senti idiota por perguntar, mas eu precisava saber a resposta.

-Isso é algo maior Rose, mas conversei com Carlo e estamos otimistas com o seu caso. – Dimitri se virou para mim no banco, me fazendo piscar mais vezes, do que necessário. – Entrei com um pedido de liberação e por enquanto, consegui as aulas de culinária e também, alguns utensílios não inflamáveis e perigosos, para você manusear.

-Não posso fazer nada, sem fogão ou um micro-ondas – Franzi o cenho.

-Acha que não pensei nisso? – Dimitri sorriu torto. - Por isso, vamos entrar em um acordo de horários entre mim e você, para que eu possa supervisionar de perto as suas aulas praticas.

Abri meus olhos tão abertos, que eu tive a certeza de que isso, não havia passado despercebido.

-Não gostou da ideia? – Dimitri juntou suas sobrancelhas de uma maneira bastante engraçada. – Se não gostou, eu posso... – Antes que ele continuasse, por impulso puro, levei minhas duas mãos de encontro as suas, em seu colo.

-Eu aceito – Respondi determinada.

Durante uma batida de coração, os olhos de Dimitri pareceram desfocados, mas ele logo se recompôs.

-Fico feliz que tenha aceitado. – Ele sorriu um pouco e eu concordei com a cabeça.

-Eu não faço ideia de se isso irá dar certou ou não, mas eu preciso tentar – Me surpreendi um pouco, quando seus dedos quentes, se apertaram um pouco mais nos meus.

-Vai dar certo sim Rose – Seus olhos ainda eram gentis nos meus e eu me permiti sorrir de verdade.


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