Lágrimas de Sol escrita por Anastacia B, Kah Correia


Capítulo 3
Capítulo 3 - Conversa


Notas iniciais do capítulo

Bom dia gente!
Me desculpem pela demora, mas eu estive viajando :)
Segue mais um capítulo e espero que gostem!
Beijinhos e boa semana :)



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-Posso entrar? – Perguntei, antes de colocar todo o meu corpo, para dentro do pequeno quarto.

-Claro – Rose sorriu fracamente, mas logo desviou o olhar. Ela agora, estava sentada em uma maca do ambulatório, com suas duas pernas balançando livremente, esperando por atendimento médico. Segundo a enfermeira de plantão, Rose estava com problemas para dormir e me chamou, para tentar ajuda-la.

-Então quer dizer que não tem sono? – Me aproximei com calma dela, enquanto ajeitava meu jaleco. Como não tive nenhum paciente no intervalo de mais de duas horas, acabei dormindo um pouco, na mesa do escritório.

-Nenhum – Ela me olhou e novamente desviou o olhar. – Já tomei dois calmantes, mas eu não consigo pregar os olhos por mais, de uma hora. – Ela franziu o cenho.

-Posso te examinar? – Perguntei, enquanto me aproximava dela. Quando ela sinalizou em concordância, puxei meu estetoscópio para escutar as batidas do seu coração e me certificar, que tudo estava correndo bem. Analisei seus olhos e boca, mas nenhum sinal de algo errado.

-Isso sempre acontece com você? – Perguntei a ela, que estava tentando prender seus cabelos novamente em um elástico. Sua roupa agora, era algo parecido com um pijama. Ela vestia um short azul, uma camiseta sem mangas branca e uma blusa preta por cima.

-Às vezes – Ela respondeu vagamente, observando a janela da sala.

-Há quanto tempo esta aqui, Rose? – Me distanciei um pouco dela, para que alcançasse a mesa.

-Já faz dois meses e meio – Ela me fitou cansada – Posso descer daqui? – Rose perguntou esperançosa.

-Claro – Fiz gesto com a mão, para que ela descesse da maca. – Sente-se aqui por favor. – Apontei para a cadeira em frente a mim.

-Faz tempo que eu não durmo direito, mas ultimamente, está ficando pior. – Rose mordeu o lábio, como se se desculpando por ter me feito estar ali.

-Recebeu alguma visita recentemente? Seus pais? Irmãos? – Ergui um pouco meus olhos, enquanto puxava da primeira gaveta, uma folha de papel branca.

-Meus pais estão mortos e eu duvido muito, que meus tios levantem seus traseiros, para me fazer uma visita aqui. – Finalmente levantei meu rosto e vi que Rose, sorria tristemente, como se lembrando de algo amargo. –Eles só se importam com eles mesmos e receber uma notícia de que eu tenha morrido, pode parecer mais tentador, do que você pode imaginar. – Rose me fitou por um longo minuto. Não desviei o olhar.

-Acha que eles não gostam de você? – Me senti curioso o suficiente, para prorrogar esse assunto. Pausei uma mão em cima do papel, enquanto com a outra, segurava a caneta.

-Eu tenho certeza disso. – Rose encarou a janela da sala e logo, soltou um longo suspiro.

-E isso influencia você. – Continuei. Aquilo não era uma pergunta e ela sabia disso, pois voltou a passar seus olhos atentos sob mim.

-Na verdade hoje, não me importo tanto assim. Eu vivo bem aqui. – Ela mexeu com suas mãos e eu vi pontos arroxeados nelas. - É claro que não é nada exatamente, da forma que eu um dia pensei sequer... – Rose suspirou fortemente. – Mas eu estou respirando não é? – Novamente o sorriso triste. – Isso já deve bastar de alguma coisa.

-Respirar não é a mesma coisa que viver e você, deveria saber disso – Disse fitando suas mãos roxas. Quando ela percebeu meu olhar, afundou as duas, entre suas pernas para cobri-las.

-Eu acho que estou ficando com sono. – Rose começou a olhar impacientemente, para os lados. – Está funcionando enfim, essa conversa.

-Não acredito em você. – Sorri afável. – Mas não vou te medicar mais. – A encarei pensando por um momento, na má sorte da moça de olhos escuros. Além de perder os pais, estava bastante claro, que ela não era bem vinda, para o resto dos familiares. Rose me olhou confusa. Provavelmente ela esperava, que seu problema fosse resolvido com algum calmante ou algo parecido.

Peguei meu pedaço de papel e escrevi seu nome.

-Me fale sobre o que gosta de fazer. – Pausei a caneta azul na mesa e a encarei.

-Eu... – Rose parecia ainda mais confusa. –Eu não sei o que responder.

-Perguntei sobre o que gosta de fazer. – Dei de ombros, tentando fazer daquela conversa, algo mais natural. – Eu sei que você pinta quadros. Bastante bonitos aproposito. – Sorri e ela, pareceu um pouco satisfeita.

-Eu meio que não tenho muitas opções aqui. – Ela deu de ombros, tornando sua aparência ainda mais infantil. – Na verdade, eu era quase formada em gastronomia, mas interrompi tudo, quando tive que vir para cá.

-Fazia faculdade? Que interessante – Novamente me perguntei, como ela havia acabado aqui. É claro que fazer uma análise assim a olho nu, não era realmente inteligente. Mas algo me dizia, que existia muito mais ali.

-Eu gosto de cozinhar – Foi a primeira vez que a vi realmente sorrindo. Era um meio sorriso é claro. Algo como uma tentativa, para quem não sabia o que estava fazendo direito. –Eu cozinharia se pudesse é claro.

-Sabe fazer tortas? Sabe que eu não gosto muito de doces, mas de onde eu vim, as tortas eram magníficas – Sorri.

-Tortas de maça servem?  - Rose mordeu o lábio. Ela parecia mais relaxada do que o habitual. – São as melhores do mundo. Mas eu não aprendi isso na faculdade – Ela sorriu um pouco mais, pensativamente. – Aprendi com a minha avó materna.

-E onde está sua avó? – Perguntei e seu sorriso morreu.

-Eu não sei. – Rose fechou os olhos com força, tentando controlar algum sentimento dentro de si. – Da última vez que eu a vi, ela ainda morava na Romênia.

-Faz quanto tempo isso? – Me curvei um pouco mais na mesa. Lamentei mentalmente, por ter feito seu sorriso, morrer.

-Mais de dois anos. – Rose suspirou pesadamente. – Eu iria visita-la antes de tudo acontecer.

-Ela não pode vir aqui? – Arrisquei, tentando ajuda-la. Rose riu amargamente.

-Eu acho que isso não vai acontecer. – Ela novamente fitou meus olhos e logo se levantou. – Se não se importa, eu gostaria de ir me deitar. – Rose desviou o olhar do meu.

-Já tem sono? – Me levantei também.

-Não mas, não é algo com que contar carneirinhos não resolva. – Ela piscou para mim e logo eu a vi partir. 


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