Nem sei por quanto tempo encarei o celular, até que finalmente tive coragem de discar os números de Dimitri. O papel estava amassado e quase ilegível quando o peguei, graças às grossas gotas de chuva, que atravessaram o pesado casaco que eu vestia.

-Alô? – Uma voz rouca atendeu ao segundo toque, me fazendo prender a respiração. Passei minhas mãos suas pela calça jeans.

-Dimitri? – Arrisquei abrindo um olho, me sentindo desencorajada com aquilo.

-Rose? – Ele ignorou minha pergunta, fazendo sua própria.

-Sim sou eu – Disse depois que recuperei minha voz. - Se concentre em não gaguejar – Repetia a mim mesma. – Estou ligando para confirmar o jantar de hoje. – Passei meu olhar rapidamente pela sala, me certificando que tudo estava no lugar certo. Eu não teria espaço para uma faxina agora.

-Rose, eu não quero que se sinta na obrigação. – Dimitri falou do outro lado da linha. A notar sua voz, suspeitei severamente que ele estava corado com sua declaração desconfortável.

-Está tudo bem com isso. – Tentei o encorajar, quando eu mesma não estava o fazendo bem. – O jantar estará pronto às oito horas. Moro na Parvell Street 1874.

Houve uma longa pausa, até que Dimitri voltasse a falar. Provavelmente, ele estava pensando se deveria aceitar aquilo ou não. Mais uma vez, eu me senti pequena diante daquela situação maluca. Dimitri está casado. Você está sendo estúpida – Minha cabeça repetia sem cessar.

-Estarei ai as oito então. – Ele disse por fim, me fazendo soltar um longo suspiro em alívio, enquanto tentava empurrar meus medos para longe de mim. Já era hora de começar a preparar o jantar.

==X==

O cheiro da torta de carne, denunciava que finalmente ela estava pronta. Desliguei o forno e logo voltei minha atenção ao ravióli de queijo ao molho funghi.  Com um dedo de leve sobre a superfície da forma de vidro, o provei pela última vez antes de deixa-lo pronto para servir.

-Está no ponto. – Deduzi sorridente, observando minha obra prima.

Com um olhar ao relógio da cozinha, percebi que faltavam apenas dez minutos, para que Dimitri e Lissa chegassem. Com um gesto rápido, tirei meu avental e segui para meu quarto para me trocar. O vestido de lã grafite claro de gola alta, estava em cima da cama, me poupando do trabalho de procura-lo no armário. Calcei meu par de meias calças pretas e meu sapato Dumond Cahsmere, preto de salto alto .  Enquanto afivelava os sapatos, recordei mentalmente, que precisava retirar minha torta sorvete do refrigerador, antes que ela tivesse um fim, como pedra de gelo.

Soltei o elástico do meu cabelo, somente para prendê-lo novamente em um coque solto, usando minha presilha prateada com cristais.  Usei alguma maquiagem como rímel e blush e notei por último meu visual no espelho. Mal tive tempo de analisa-lo com cuidado, quando a campainha soou. Max começou a latir.

-Só um momento – Pedi próximo da porta, indo em direção à cozinha para retirar minha torta do freezer. – Max sai da porta – Pedi, gesticulando com uma mão, para que ele fosse para sua cama. Sem gostar muito, meu Golden baixou as orelhas pontudas e foi deitar. Respirei fundo e abri a porta.

A sensação que eu tive de gritar, ultrapassava qualquer vontade anterior que eu já tive. Dimitri estava absurdamente lindo. Ele vestia calça jeans escura, uma camisa branca a notar pelo colarinho exposto e por cima, uma jaqueta de couro preta fechada. Seu cabelo castanho estava molhado e ele cheirava a perfume de longe. Sua expressão era tensa embora ele se esforçasse para sorrir quando me viu.

-Oi Rose. – Ele disse, me fazendo lembrar que eu precisava tomar a iniciativa e convida-lo. Lancei um breve olhar a suas mãos próximas do corpo e eu vi uma sacola marrom.

-Pode entrar por favor – Sai para que ele passasse. – Pode ficar a vontade. Irei só pegar os pratos e verificar a torta.

Rapidamente desinformei a torta gelada e cobri com um pouco de groselha com algumas especiarias. Em seguida, a levei a geladeira.

-Está com um cheiro bom – Eu quase saltei do lugar, quando percebi a voz de Dimitri próximo demais. Fechei a porta da geladeira e meus olhos cruzaram com os dele. Ele estava apoiado de um lado da porta com Max em seus pés lhe trazendo a galinha que eu havia comprado. Sua expressão agora era um pouco mais relaxada.

-Me admira que ele ainda não tenha devorado isso – Ergui uma sobrancelha para Max, que latiu, reconhecendo minha voz.

-Seu cachorro é uma graça. – Dimitri afagou a cabeça de Max. – Você sabe que estou participando de um pesquisa, onde se envolve experiências entre pessoas e animais.

-É mesmo? Que tipo de pesquisa? – Perguntei, enquanto pegava os pratos do armário.

-Estamos trabalhando com a possibilidade de que animais domésticos, melhoram a qualidade de vida de pessoas que sofrem de stress e outros tipos de transtornos psicológicos. – Dimitri se aproximou para me ajudar a carregar os pratos.

-Eu acredito honestamente nisso – Peguei três copos de cristal e o segui para a sala de estar. – Max tem sido um companheiro pra mim. Principalmente depois de tudo o que aconteceu.

-Eles são companheiros mesmo – Dimitri voltou a sorrir. Dessa vez, de forma mais aberta. Não consegui manter meu coração calado por muito tempo. –Faz tempo que tem ele?

-Faz vários meses já – Comecei a voltar à cozinha e Dimitri me seguiu.

-Se está empenhado em me ajudar, leve isso – Entreguei a Dimitri alguns talheres, enquanto eu retirava a torta de carne do forno e a colocava em outro recipiente cristalino, já em fatias. Quando Dimitri voltou à cozinha já lhe entreguei a torta, enquanto lançava um olhar aborrecido ao relógio da cozinha. Lissa estava atrasada e eu achava seriamente que isso, era esperado.

-Está tudo bem? – Dimitri percebendo meu desconto, resolveu perguntar.

-Na verdade minha amiga está atrasada com o vinho. – Menti, tentando soar menos desesperada.

-Eu trouxe vinho – Dimitri disse para o meu espanto. Ele havia se adiantado. –Se não se importar é claro.

-Ah que bom. De qualquer forma vou ligar para ela – Fui em direção da sala, ignorando seus olhos em mim quando quase nos esbarramos. Dimitri sentou no sofá para me aguardar. Junto dele ficou Max para lhe afagasse a cabeça peluda.

Disquei o número de Lissa e aguardei até que a caixa postal fosse ativada. Quando encerrei a ligação, notei um símbolo no visor do celular. Eu havia recebido um recado de voz. Apertei a tecla para ouvi-lo.

-Olá Rose. Eu sei que deve estar querendo me matar agora, mas felizmente para vocês dois, eu não vou ir ao jantar. Chris me convidou para um jantar a luz de velas com ele, e você sabe que não resisto a uma noite romântica (Risos). De qualquer forma aproveite com o médico e depois me mande os detalhes. Amo-te.

Fechei meu aparelho prateado não tendo espaço para muitas reações. Como era previsto por alguma parte racional de minha mente, Lissa não viria ao jantar.

-Minha amiga não vai poder vir – Disse para Dimitri, tentando desesperadamente soar desinteressada.

-Ah que pena – Dimitri parecia desapontado. Ele provavelmente estava tendo a mesma ideia que eu. Um escudo no meio de nós e daquela situação constrangedora. – Mas podemos jantar. Trouxe vinho. – Dimitri então pegou de dentro de sua sacola marrom, uma garrafa de vinho.

-Está certo. – Comentei observando a mesa para ver se tudo estava Okay. – Sente-se que vou buscar os guardanapos. – Gesticulei para a mesa.