Natasha felizmente não havia ficado muito mais do que uma semana, quando resolveu visitar Dimitri, mas mesmo assim, vestígios de sua última visita ainda estavam em minha mente. Pelo que eu havia entendido através de conversas paralelas entre os empregados do hospital, era que Natasha havia vindo para mostrar os preparativos finais de seu casamento com Dimitri. Um ultimato, por assim dizer. As enfermeiras ainda comentavam que ele estava com os dias contados ali. Que quando todos menos esperassem, Dimitri iria morar com Natasha em Nova York. Minha Nova York.

Abri meus olhos com dificuldade, por mal ter pregado os olhos, na noite anterior. Desde que decidi por evitar Dimitri, eu passava grande parte do meu tempo comendo ou mestrando aulas de culinária e entre uma atividade ou outra, ficava lendo pilhas e mais pilhas de livros, sobre algum romance ou aventura inusitada. Tudo contrastando o suficiente com minha situação atual.

Apertei o botão do despertador sem muito entusiasmo, enquanto sentava na cama, para me espreguiçar. Lancei um olhar rápido para a janela no canto esquerdo, satisfeita com alguns raios de sol, que entravam pela janela. Soltei um longo suspiro e logo comecei a me preparar para correr. Rapidamente coloquei meu moletom, amarrei meu cabelo e parti para fora do dormitório.

Quando estava prestes a subir as escadas para tomar uma ducha rápida, meu nome sendo pronunciado me chamou a atenção, me fazendo virar para trás. Era Carlo, o amigo de Dimitri. Passei rapidamente a toalha de rosto em minha testa e sorri para ele.

–Aconteceu alguma coisa? – Perguntei, observando sua expressão cautelosa.

–Na verdade eu preciso de uma ajuda rápida com minha irmã – Ele comentou um pouco sem graça, enquanto mexia nervosamente em seus cabelos acobreados.

–Ela está bem? – Perguntei me lembrando do rosto em formato de coração de sua irmã. Era uma pena vê-la tão confusa assim para a sua idade.

–Na verdade ela está um pouco agitada e chamou por você – Carlo então pareceu um tanto encabulado. Seu rosto tomando uma leve tonalidade escarlate. Resolvi ignorar isso, me recordando que ontem, Mia havia sido convidada para participar de uma de minhas aulas de culinária. Embora ela ainda tivesse certos momentos de pânico, Mia nos últimos meses, havia respondido muito bem aos tratamentos do irmão mais velho. Mesmo não o conhecendo tão bem, Carlo parecia um homem decente e bastante apaixonado por sua irmã e profissão. Assim como Dimitri.

Mechi desconfortavelmente minha cabeça, tentando manter mais uma vez, meus pensamentos bem longe de Dimitri.

–Está tudo bem Rose? – Quando Carlo me perguntou aquilo, me toquei que talvez, eu não tivesse no final das contas, sido tão sutil quanto planejava. Corei automaticamente.

–Estou só pensando bobagem – Respondi rápido demais e logo um curto sorriso, cruzou os lábios de Carlo. Ignorei isso. –Enfim, vou tomar um banho e sigo para encontra-la. Onde ela está? – Perguntei tentando disfarçar meu incomodo.

–Receio que ela não pode esperar – Carlo então pareceu mais nervoso do que o habitual, me deixando ainda mais curiosa sobre aquilo. Seus lábios logo se tornaram um fino traço e ele começara a suar um pouco também.

–Bom... Se ela não pode esperar, vamos – Ergui minhas duas mãos instintivamente em sinal de rendição, enquanto o via parecer relaxar um pouco.

Atravessamos o pátio dos dormitórios e começamos a seguir para o outro lado do internato, onde algumas salas de reuniões e artes, dominavam grande parte do lugar. Desde que foi comprovado uma grande melhora no humor e resposta dos pacientes há atividades ligadas à arte e culinária, a diretoria havia implantado além de minhas aulas sempre supervisionadas é claro, algumas aulas de pintura com tintas e lápis de cera. Mia nos últimos meses, estava participando de aulas com cera e parecia estar se adaptando muito bem. Foi em uma dessas aulas, que nos aproximamos de certa forma. Dimitri estava ocupado com Natasha e as conversas ocasionais, me deixando sem muitas opções.

Carlo de repente parou abruptamente, me obrigando a parar ao lado dele. O lancei um olhar inquisidor, enquanto o observava encarar a porta, buscando por algumas palavras. Cada vez mais, aquilo parecia estranho.

–Eu preciso atender um paciente, mas pode ir encontra-la. Mia está aqui dentro e hoje parece não estar com muito bom humor - Ele riu sem graça, me deixando um tanto confusa.

–Está bem obrigada – Assinalei com a mão direita, enquanto o via partir quase correndo. –Que homem estranho – Murmurei para mim mesma, enquanto girava a maçaneta da porta do salão.

–Surpresa! – Um grito em uníssono soou no escuro improvisado, me fazendo congelar no lugar em espanto. A luz foi acessa e meus olhos passaram pela decoração do salão. Três das minhas enfermeiras favoritas, Mia segurando um enorme bolo de chocolate e mais algumas colegas do internato, que acompanhavam minhas aulas de culinária, cantavam alegremente parabéns para você. Mal tive tempo de processar aquilo direito, quando minha visão capturou algo ainda mais constrangedor. Dimitri meu médico, estava segurando um enorme buque de rosas vermelhas enquanto sorria para mim. Ele deu alguns passos a frente dos outros, me permitindo ver uma caixa de chocolates em sua outra mão.

Instintivamente abri minha boca em um grande ó, enquanto a música era finalizada. Eu não acreditava que aquilo, estava realmente acontecendo.

–Meu Deus – Foi a única coisa que consegui dizer, observando as pessoas ao meu redor. Dimitri se aproveitou do meu momento complexo, se aproximando ainda mais, para me entregar os presentes.

–Esse é um pequeno símbolo do quão importante você é para nós – Dimitri disse, olhando rapidamente ao redor. – Feliz Aniversário Rose – E tão quão fácil foi pegar o buque e os chocolates, com a mesma facilidade, Dimitri me abraçou. Minha primeira intuição foi repeli-lo, mas vendo através dele, notei os olhos esperançosos e inocentes das outras pessoas, me permitindo então, corresponder ao seu abraço. Aquilo não demorou mais do que uma batida de coração, mas havia sido o suficiente para mim. Meu coração disparou com a adrenalina correndo em minhas veias. Fechei meus olhos por um segundo, me permitindo sentir aquilo. Uma sensação indescritível eu diria. Não só pelo abraço apaixonante e inusitado de Dimitri, mas sim, pela sensação acolhedora e de conforto que todos expeliam ao redor. Eu nem me lembrava de quando havia me sentido assim na vida. Quando abri meus olhos novamente, me distanciei de Dimitri, sorrindo silenciosamente em agradecimento, pois não precisávamos de palavras. Ele assinalou em concordância, correspondendo ao meu sorriso.

–Hey eu também quero um abraço – Mia puxou minha blusa, me fazendo virar em sua direção.

–Estou suada – Enruguei o nariz, recebendo seu abraço tímido.

–Eu percebi – Ela comentou contente, me fazendo rir com ela.

Aos poucos fui cumprimentando e agradecendo a todos pela presença e surpresa que haviam feito. O bolo foi cortado e enquanto comiam todos se dispersaram, me deixando desfavorecida mente próxima de Dimitri. Notando minha posição desfavorável, comecei a juntar meus presentes, mas Dimitri foi mais rápido, me parando bem na entrada do salão.

–Gostou das flores? – Ele me perguntou sorrindo timidamente.

–Adorei obrigada – Respondi prontamente, tentando desviar de quaisquer assuntos.

–Rose eu precisava conversar com você – Ele comentou olhando dentro de meus olhos.

–Dimitri eu... – Desviei o olhar tentando evitar aquele momento constrangedor. Eu não queria conversar sobre aquilo agora. Sobre o quão estúpida e ingênua eu havia sido.

–Rose eu só queria dizer que consegui a autorização para te liberar daqui. – Ele disse me interrompendo.

–O que? O que você disse? – Sem perceber, soltei a caixa de chocolates no chão, fazendo um grande eco.

–Eu consegui a autorização para você ir embora. Pode partir quando quiser – As palavras eram maravilhosas e ainda mais, por saírem no momento mais oportuno para mim. Eu havia conseguido minha liberdade. Sem pensar em mais nada para me preocupar, pulei nos braços de Dimitri, o abraçando com força.

–Obrigada! Obrigada! – Eu falava sem parar, não me importando com os olhares dos outros próximos de nós. Dimitri me distanciou um pouco, para poder olhar em meus olhos. Ao contrário da alegria de segundos atrás, ele agora parecia um pouco apreensivo, mas mesmo assim, era controlado sobre seus sentimentos. –Obrigada mesmo. – Soei estúpida, incapaz de continuar um diálogo depois dos recentes acontecimentos. Uma sensação estranha como um nó no estomago, se formava dentro de mim, conforme observava seus olhos refletindo nos meus.

–Bom eu acho que isso é um Adeus – Ele interrompeu meu silêncio, rindo nervosamente. Ainda estávamos abraçados.

–Eu acho que sim – Respondi lutando contra meus sentimentos conflituosos.

E então meu sorriso morreu, dando espaço a saudade, conforme eu me distanciava dele e partia para meu dormitório recolher minhas coisas para ir embora.