A chuva começou a cair forte e a galera do acampamento foi pra dentro das barracas, como Cézar havia mandado. Ju estava aos prantos, queria saber como estavam passando Lia e Dinho, se estavam bem, confortáveis. Robson e Cézar estavam cada vez mais tensos, sabiam que era inútil sair por aí com uma chuvarada dessas, mas os alunos precisavam ser encontrados, mesmo assim os dois continuaram a esperar a chuva acalmar-se um pouco.

Na floresta, Lia e Dinho haviam encontrado uma pequena gruta formada por grandes pedras, os dois não hesitaram em ir para o local, mas já estavam completamente molhados. Lia estava com muito frio e os trovões faziam cada vez mais Dinho sentir a insegurança e medo no olhar dela.

— Você tá bem? - Ele perguntou, voltando para dentro da gruta, já que estava vendo se a chuva ia parar logo, pelo visto não. Ele sentou em frente à menina, que estava encolhida brincando com uma pedrinha.

— Eu tô morrendo de frio. - Lia respondeu, tensa.

— Quem diria hein, Lia? nós dois perdidos na floresta sem poder sair pra procurar ajuda. - Dinho riu, e Lia acompanhou, sem jeito.

— Eu poderia me perder com qualquer pessoa menos com você... - Ela falou.

— Essa chuva não vai parar tão em seguida.. - Dinho mudou de assunto.

— Acho que eu te devo um pedido de desculpas e um obrigado também. Você me salvou duas vezes, obrigada. - Lia confessou, Dinho fingiu uma expressão chocada, mas logo soltou um sorriso enorme.

— A marrenta tá me agradecendo? - Ele brincou, ela revirou os olhos. Lia começou a tossir e Dinho se preocupou. - Caramba, você tá completamente molhada... - Ele disse, chegando mais perto dela.

— Tô bem. - Ela disfarçou. A chuva parecia diminuir lá fora, mas os trovões ainda estavam soando forte. Mais chuva vinha por aí.

— Eu tenho que buscar ajuda, você vai pegar uma infecção ou uma doença grave daqui a pouco. - Ele disse e quando ia se levantar, ela segurou sua mão, ele estranhou mas recuou.

— Não me deixa sozinha aqui. - Ela disse, baixinho. Ele suspirou, e sentou ao lado da garota que sorriu.

— Você nunca vai estar sozinha.. não enquanto eu estiver aqui. - Ele disse, carinhoso.

— Detesto isso!

— Isso o quê? - Dinho perguntou, curioso.

— Essa melação! só tô com medo de ficar sozinha, não precisa ficar falando coisinha "fofa". - Ela revirou os olhos. Dinho soltou uma gargalhada.

— Eu sabia que a Marrenta ainda dominava você. A Lia fofa só aparece quando quer ou ela vem involuntariamente? - O menino disse, sorrindo.

— Quando ela quer. - Lia respondeu.

— Faz ela aparecer então, eu gosto dela. - Dinho respirou fundo ao sentir o canto dos pássaros soar, a água não caia mais com tanta intensidade.

— Eu não. Ela já se machucou muito por ser tão "fofa".

— Porque você esconde tanto os sentimentos? - Ele abordou, curioso.

— Qual é! Não vai querer falar disso agora né? - Ela disfarçou constrangida, não gostava de falar sobre os seus sentimentos, achava chato e no fundo ela gostava de escondê-los.

— Tem algum assunto mais interessante?

— Acho que agora que a chuva parou a gente tem que ir procurar o acampamento. - Lia falou convicta, Dinho suspirou.

— Lia.. A Ju é sua melhor amiga, correto?

— Hãnm, sim?

— Ela gosta de aventura desde pequena? - Ele sorriu, mexendo numa pedrinha.

— A Ju?! - Lia riu - Ela sempre foi patrici... - A garota foi terminar mas deu-se conta de que estava dando um furo. - Não!! a Ju sempre gostou de aventura..

— Ahn? - Dinho desconfiou, e arqueeou a sobrancelha.

— Ué, eu disse que ela sempre foi aventureira. - Lia levantou, e foi ver se o tempo lá fora estava melhorzinho. Dinho levantou e parou atrás dela.

— Às vezes eu acho que ela finge só pra ficar comigo, ela não age como alguém que gosta de acampar.. é cheia de frescurinha.

— É.. A Juliana é meio bipolar. Então, acho que a gente já pode ir, né? - A menina virou-se para o lado do garoto, ficando cara-a-cara com ele.

— Porque fica mudando de assunto? - Ele perguntou, ela engoliu seco.

— Porque eu não quero ficar discutindo SUA relação com a Ju! - Ela respondeu, com uma cara óbvia.

— Tá com ciúmes?

— Hahahahahahahahahahaha! Essa foi boa, Adriano! Eu com ciúmes de você? nem morta! - Ela disse irônica, colocando as mãos na cintura. Ele riu.

— Não.. eu disse ciúmes da sua amiga. - Dinho consertou, risonho.

— Ahhh! Não, claro que não. - Ela disse sem jeito e ele sorriu.

— Se você sentisse ciúmes de mim seria um pouco estranho.

— Um pouco? Seria o fim do mundo. - A menina disse. Os dois continuavam a se encarar frente-a-frente.

— Quando a gente ficou eu senti um pouquinho de ciúmes de você com uns meninos lá.. - Ele confessou e Lia caiu na gargalhada.

— Qual é, Dinho! Viajou! - Ela ignorou a pontinha de felicidade que cutucou seu coração.

— É, eu sei. Eu precisava muito tirar uma dúvida, mas eu tenho medo das consequências.

— Ué, não é você que é aventureiro? Vai sem medo. - Incentivou Lia, mal sabia ela o que ele queria na verdade. Dinho puxou a menina pela cintura, e colou seus lábios nos dela. Para a surpresa de Dinho Lia recebeu o beijo, suas línguas travavam uma batalha sem vencedores, quando Lia retomou a sanidade e se afastou do menino, assustada.

— Você tá maluco? - Ela disse, sem forças pra poder gritar.

— Você.. você aceitou o beijo. - Ele disse.

— Eu sou a melhor amiga da sua namorada. Eu esperava isso de você, afinal, você é um galinha! Mas com qualquer menina por aí, não comigo! Eu sou a LIA MARTINS, a MELHOR AMIGA da JULIANA entendeu?! Seu idiota! - Lia parecia estar realmente furiosa, Dinho se surpreendeu.

— Espera, você não pode colocar a culpa em mim! Eu te beijei, mas você recebeu o beijo numa boa! - Retrucou o garoto.

— Você vai acabar estragando minha amizade com a Ju, você não entende? Que droga! Me deixa em paz! - Lia agora deixava algumas lágrimas percorrerem seu rosto, Dinho sentiu o arrependimento bater e quando foi pedir desculpas notou que Lia já estava correndo pra fora da pequena gruta, ela corria tão rápido por aquela floresta e Dinho que corria atrás mal conseguia acompanhá-la. Depois de uns 10 minutos correndo Lia conseguiu encontrar o acompamento, Dinho vinha logo atrás, quando a galera do acampamento viu os dois chegando correram sem pensar duas vezes.

— Oh Meu Deus! Você tá bem? - Ju abraçou a amiga, que tinha chorado o caminho inteiro.

— Sim, Ju! Eu tô bem, vai falar com seu namorado. - Lia sorriu, e Ju olhou desconfiada mas assim fez, correu em direção à Dinho.

(...)

Cézar havia reunido todos os alunos no acampamento para informar eles iriam voltar para a civilização, tudo por causa da irresponsabilidade de Fatinha. Lia e Dinho mal se olhavam e a galera notava o clima chato entre eles, Ju também notou e ficou toda chatinha perto do namorado. Fatinha não dispensou os comentários maldosos mas foi cortada por Robson que estava em cima dela, pra não aprontar mais. Os alunos depois de terem desmontado o acampamento, estavam esperando ansiosos o ônibus que chegou alguns minutinhos depois. Todos estavam entrando no automovel logo depois de terem guardado as malas, e já estavam quase na metade do caminho quando o ônibus atolou.

— Muita calma nessa hora, meus amores! Todos desçam do ônibus e vamos empurrar o bichinho. - Robson falou brincalhão, todo mundo desceu do ônibus, era puro barro da chuva e o negócio estava feio. Todos se posicionaram para empurrar o automóvel, menos Ju e algumas outras garotas fresquinhas que disseram que não iriam se sujar.

— 1..2..3! VAI! - O motorista acelerou e o barro saltou todo pro lado da Juliana, que ficou completamente lambusada. Todos riram, menos Lia que parecia prever o que vinha por aí.

— DROGA, DROGA, DROGA! - Ju esbravejou.

— Jujuba, é só um pouquinho de barro! - Dinho arqueeou a sobrancelha.

— O problema, Dinho, é que eu odeio isso! eu odeio barro, eu odeio acampamentos, eu odeio aventura!! Eu não sou "aventureira". - Ela gritou, Dinho ficou chocado.

— Todo mundo já sabia, vai dizer que você não se ligou que a patricinha tava falsificando uma "aventureira"? Pagou de otário, irmão! - Orelha disse, filmando tudo. Lia se meteu na confusão.

— Juliana! O que você tá fazendo? - Ela perguntou, discretamente.

—Não dá, Lia! Não consigo mais.. - Ju falou chorosa.

— Não acredito, você sabia de tudo Lia? Você ajudou ela?! Quer saber vocês duas merecem mesmo serem amigas "pra sempre" suas falsas! - Dinho disse.

— Chega de discutir relação por aqui, o ônibus desatolou todos pra dentro! Dona Juliana, assim que chegar em casa você limpa isso aí e tá tudo certo, sem drama! Vamos lá! - Robson disse e todos entraram no ônibus, contrariados. Juliana sentou ao lado de Morgana. Dinho ao lado de Orelha e Lia ao lado de Gil.