Lia estava indo pra casa quando Fatinha foi ao encontro dela e continuou andando ao seu lado.

— Pensou melhor sobre o que eu disse? - Fatinha perguntou andando normalmente pela calçada.

— Eu não vou usar ninguém pra sair bem nessa história. - Lia disse ríspida.

— Então.. você tá afim dele né?

— Hãnm?

— Do Dinho, você tá afim dele! - Ela afirmou como se tivesse toda a certeza do mundo, Lia revirou os olhos não suportando mais tal assunto e atravessou a rua deixando Fatinha novamente sozinha. A garota estava indo pra casa normalmente entre pensamentos quando ouviu uma voz bem conhecida chamar por ela.

— Dinho? - Ela perguntou confusa vendo ele retomar o folêgo que havia perdido no caminho percorrido.

— Tem outro?

— Se tivesse seria o fim, se um já é difícil aturar, imagina dois?! - Ela respondeu com o mesmo tom de irônia, Dinho riu e os dois voltaram a caminhar normalmente.

Enquanto isso em casa Marcela estava ainda chocada por descobrir que Gil era o grafiteiro, a mãe tinha descobrido mexendo nas coisas do menino por um acaso e visto os desenhos iguais os do colégio.

— Porque você fez isso, meu filho? - Ela passou a mão pela cabeça que estava latejando de dor.

— É meu jeito de me expressar, você não entende?! - Gil não se conteu e gritou.

— Tem tanto jeito de se expressar, Gil! Porque logo grafitando sua escola?! - Ela gritou mais alto.

— VOCÊ NUNCA VAI ME ENTENDER! - Ele berrou e saiu praticamente correndo pra dentro de seu quarto. Marcela não evitou as lágrimas e se jogou no sofá, sem saída.

Lia estava se despedindo de Dinho que havia à levado até a porta do prédio.

— Ér, então é isso.. - Ele disse, sem jeito.

— Sim.. - Ela sorriu e viu Ju chegando e dando um bom dia ao porteiro logo saindo praticamente correndo também. Lia suspirou e Dinho também, mas entendeu o sinal que Lia havia feito e foi embora, a roqueira correu atrás da amiga.

— Juliana!

— O que você quer? - Ju disse sem se virar, provavelmente estava chorando.

— Que você pare com isso, eu sinto sua falta, você é minha amiga poxa! - Lia confessou tristonha, Ju fechou os olhos com força e virou-se para Lia.

— Você sabia que eu amava ele... - Ela tentou falar mas Lia interrompeu.

— Eu fiz de tudo pra não te machucar!

— Mas machucou, e muito! - Juliana quase gritou, Lia respirou fundo e relutou para não correr ao encontro da amiga e pedir pra ela parar de bobagem, porque ela a amava.

— Não precisa ser agora ou daqui dois dias, mas um dia você vai me desculpar? - Lia estava segurando as lágrimas com a voz fraca que praticamente nem saia de sua boca, Ju percebeu.

— Eu não sei se eu consigo. - Confessou a it-girl.

— Eu espero que consiga. - Lia suspirou e saiu, deixando Ju sozinha entre lágrimas no corredor do prédio.

"E eu estou morrendo de vontade de saber...

Isso mata você, como está me matando?

E eu não sei o que dizer,

Desde a virada do destino

Quando tudo quebrou

E a história de nós se parece muito com uma tragédia agora." *

Lia chegou em casa chorando e para sua sorte não tinha ninguém na sala a roqueira entrou no quarto correndo e se jogou na cama entre lágrimas, ela estava se fingindo de forte por muito tempo, era hora de desabar. Ela ficou chorando por um tempo quando finalmente se sentiu mais leve e levantou, firme.Ela tomou um banho e resolveu ir tocar com a sua banda virtual.

Gil estava no quarto desenhando, ou rabiscando. Ele estava completamente furioso e triste, um turbilhão de sentimentos lhe incomodando e torturando, o garoto cada vez mais sentia o coração implorar para não doer tanto, mas ele não podia fazer nada além de simplesmente desenhar, desenhar, desenhar.

Juliana também chorava impulsivamente, a garota mal podia ouvir sua respiração em meio à tantos soluços e cada vez que ela lembrava das brigas que teve com a amiga chorava ainda mais. Ela queria poder dizer pra Lia que estava com saudade, que queria perdoá-la, mas o orgulho e a mágoa falavam mais alto, ela continuava se sentindo traída, por tanto tempo ela cobiçou Dinho, tanto tempo analisando seus gostos, seus gestos, suas manias pra isso acontecer, pra ele escolher sua amiga, aliás, sua melhor amiga.

NO DIA SEGUINTE...

Gil acordou com os pequenos raios do sol invadindo sua janela o garoto se remexeu na cama incomodo e sentiu alguém bater forte na porta. Ele levantou de má vontade e abriu.

— Hoje você não escapa de ir à escola, mocinho... Bom, vou ter de ter colocar frente-à-frente com o Mathias. - Marcela disse, encostando-se na porta.

— Vai me entregar? Que mãe, hein. - Ele se sentou na cama irritado.

— Vou apenas fazer meu dever, e vai ser melhor, meu filho.. Desculpa. - Ela disse, chegando perto do filho e o abraçando de lado, Gil negou o abraço e pediu pra ela se retirar do quarto, Marcela assentiu contra vontade.

Gil se arrumou rápido e mastigou algo rapidamente logo saindo praticamente correndo pra escola, o garoto mal chegou e já foi mandado pra diretoria com a mãe.

— Então Marcela, a aula já foi começar, acho que se o Gil tem que falar alguma coisa que seja depois.. - Mathias adverteu, sinceramente.

— É importante... - Ela disse, deixando o diretor confuso e preocupado.

— Mathias... Hum, eu sou o grafiteiro, fui eu que pintei os muros da escola.. - Gil disse rápido sem dar espaço entre as palavras e deixando a frase um pouco sem sentido, mas Mathias entendeu perfeitamente, o diretor ficou chocado.

(...)

Era intervalo e todos os alunos do Quadrante estavam conversando sobre o grafiteiro que no caso, era Gil.

— Uau, quer dizer que o Gil era o grafiteiro? - Rafa perguntou.

— É o que todo mundo tá falando, né? - Rita disse, Ju assentiu meio distraída.

— Ah, eu achei os desenhos tão lindos,sentimentais. - Morgana disse encantada fazendo os amigos rirem baixinho. Lia estava conversando com um menino de outro ano quando viu Gil sozinho numa mesa a garota não hesitou em ir acompanhá-lo.

— Hey. - Saudou ela sentando na cadeira ao lado dele.

— Oi. - Ele disse meio chateado.

— Tá tudo bem, Gil?

— Na medida do possível, né? Fui suspenso e to ferrado. - Ele sorriu, mas era um sorriso triste, desanimado.

— Eu não sei o que te dizer.. Só posso falar que vou estar aqui pro que você precisar, ok? - Ela abraçou o garoto que não negou o abraço, os dois ficaram abraçados por alguns segundos e Gil se sentia confortável ali, junto dela. Dinho observava tudo de longe completamente cheio de ciúmes, Orelha percebeu.

— Hey, tudo bem? - O nerd perguntou um pouco irônico, Dinho não pensou nem um pouco e logo assentiu para não passar pistas do sentimento indesejado para o amigo. Fatinha estava aos beijos com um menino mais velho quando o telefone tocou e interrompeu seu momento "quente". Ela atendeu meio incomodada ao ver o número.

— Ah, você volta hoje? Que legal! Estou muito ansiosa... - A loira disse, desconfiada depois de algum tempo no telefone ela desligou.

— Quem era princesa? porque ficou com essa carinha toda incomodada? - Pilha disse assim que saiu do banheiro.

— Ninguém do teu interesse, intrometido! - Ela disse ríspida, Pilha apenas franziu o cenho curioso e desconfiado. O sinal bateu e os alunos do Quadrante foram todos para suas aulas. Todos esperavam a professora Isabela quando quem entrou na sala foi Mathias com um homem gordinho e engraçado.

— Primeiramente, bom dia. Então, vou apresentá-los o novo educador vocacional do colégio Quadrante, Alexandre Ferreira. - Mathias apresentou, o homem parecia mais confuso que todos os alunos e apenas assentia com um sorriso esquisito no rosto.

*: Trecho da música The Story Of Us do álbum Speak Now- Taylor Swift.