Into Your Arms escrita por AnaSabel


Capítulo 14
Capítulo 13




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– Você vai ir comigo? – perguntou tia Rose enquanto terminávamos de tomar o café da manhã. Ovos com bacon. Meu preferido. Talvez os tivesse preparados para tentar animar meu dia. Hoje fazia cinco meses desde a morte de meus pais. Desde o ocorrido, eu havia ido poucas vezes ao cemitério, mas desta vez eu me obrigara a ir.

– Sim. – respondi com um sussurro, temendo por minha voz sair fraca.

Ela suspirou e me observou. Seus olhos demonstravam pena, mas essa era a última coisa que eu queria dela. E de qualquer outra pessoa.

Arrastei a cadeira e deixei meu prato sujo sobre a pia. Subi os degraus da escada de dois em dois e entrei em meu quarto, fechando a porta atrás de mim. Depois de tomar banho, vesti uma calça jeans e sobre a camiseta, um cardigan azul-claro. Desfiz o coque frouxo, deixando o cabelo loiro cair em ondas por meus ombros.

Entramos no carro e tia Rose me entregou duas rosas. Os botões eram perfeitamente brancos e lembrei-me de como minha mãe as amava. Não importava a cor. Para ela todas tinham um significado e cada uma, era única.

Eu odiava cemitérios. Odiava o modo como o vento soprava em meu rosto. Odiava também escutá-lo sussurrando em meu ouvido assustadoramente. Odiava o estalo de meus pés pisando sobre as folhas secas do outono. Odiava a grama perfeitamente verde, como se não sustentasse nada em seu interior. Odiava olhar para cada nome nas lápides e odiava principalmente o nome de meus pais numa delas.

Pensei em voltar para casa, porém não o fiz. Minha tia fez sua oração silenciosamente e com os olhos marejados de lágrimas, ela saiu.

Meus joelhos cederam na grama úmida e sentei sobre minhas pernas.

– Eu sei que vocês preferiam as vermelhas, mas... – suspirei, lembrando que estava falando sozinha e como aquilo deveria parecer estranho.

– Eu desisto. – sussurrei com a voz fraca. – Eu não deveria estar aqui. Deveria estar com vocês. Deveria ter partido, assim como vocês fizeram. Vocês me deixaram sozinha. E não consigo. Não consigo fazer isso. Não consigo superar, e nem quero. – um soluço arranhou minha garganta e percebi minha calça manchada pelas lágrimas que escorriam de meus olhos. – Não aguento terem partido. Não aguento mais me sentir assim. – mordi o lábio, tentando conter os soluços e senti o gosto de ferro do meu sangue inundar minha boca. - Tenho medo de a qualquer momento tudo desmoronar. E honestamente, não sei se vou suportar.

Vazia, era assim que eu me sentia. A dor lacerante que sempre esteve presente era mais forte e dolorosa agora – quase como se milhares de facas estivessem me apunhalando. Tentei afastar esses pensamentos.

– Andrew tem me ajudado, mas há algo que não está certo sobre ele. Algo que desconheço, mas sei que tem. – soltei uma risada melancólica pensando em como me sentia confusa. – Eu queria ter a coragem de interrogá-lo, fazê-lo dizer tudo, mas e se isso acabar arruinando tudo que tenho com ele? Andrew é quem me mantém com os pés no chão, não posso perdê-lo também.

Fechei os olhos, imaginando uma vida sem Andrew. Parecia quase torturante. Eu passara tanto tempo com ele, que mal conseguia lembrar como tudo havia sido antes de conhecê-lo. Eu realmente tentei, porém eram imagens pálidas e fracas, como se fossem de outra época.

– E para melhorar tudo, agora eu tenho um perseguidor. - apertei o caule das flores que ainda segurava em minhas mãos e as joguei contra a lápide, fazendo algumas pétalas se estilhaçarem. As lágrimas me assaltaram novamente, porém de raiva. - Se eu pudesse matá-lo, juro que o faria. Pelo menos assim estaria em segurança. Tudo seria tão mais fácil.

Fiquei em silêncio, apenas escutando minha respiração, enquanto as lágrimas caíam sem piedade. Estava na hora de eu ir embora. O pouco que tinha ficado já havia causando um dano bem grave. Tentei consertar o máximo que pude as duas rosas, e as coloquei deitadas sobre a grama úmida.

Levantei-me e varri a calça jeans com a mão, tirando os vestígios de grama. Em algumas partes ela estava mais escura devido às manchas de água da terra e de minhas lágrimas. Tentei secar um pouco meu rosto, porém não adiantou muito. As pessoas passavam por mim e me olhavam curiosas, talvez pensando: por que essa idiota está chorando tanto? Abaixei os olhos e escondi o rosto entre os cabelos. Mas eu não ligava para os outros, e deixei que pensassem qualquer coisa sobre mim. Eu só queria uma pessoa agora, e ele não estava aqui. Porém tia Rose estava, e era suficientemente bom.

Entrei no bistrô e ela estava de pé, olhando para mim, me esperando. Seus olhos lembravam os de minha mãe, a forma como me olhou acolhedoramente. E isso me fez chorar ainda mais. Tia Rose caminhou até mim e me envolveu com os braços, beijando minha cabeça.

– Sinto muito, meu anjo. – ela sussurrou.

Afastei-me dela e assenti. Minha tia passou o polegar na minha bochecha, e seu dedo ficou sujo de rímel e lágrimas.

– Vamos para casa. – disse.

Ela pegou minha mão e a apertou, sorrindo levemente, porém tinha o mesmo ar melancólico que eu. Engoli o nó que apertava minha garganta. Fomos para o carro em silêncio, e me concentrei apenas em inspirar e expirar.

Abri a porta do carro e cai sentada no banco quase sem forças, e fechei-a bruscamente. Além da tristeza, aquele pedaço de gelo afundado no meu peito, também havia a raiva frustrante, uma labareda ardente incômoda, deixando meus nervos tensos e me fazendo querer gritar. Mas a raiva e a tristeza caíam em formas de lágrimas salgadas e pesadas, deixando um rastro negro em minhas faces.

Tia Rose sentou-se ao meu lado com cuidado, engatou a chave na ignição, mas não ligou o carro. Ela ficou olhando para frente, talvez escolhendo as palavras. Eu não queria que ela dissesse algo. Queria mergulhar em minha própria dor.

Porém ela falou.

– Lissa, querida.

Passei as mãos pelo rosto e fitei-a. Tia Rose segurou minhas mãos.

– Você é tão jovem. – ela sussurrou, por fim. – Não deveria sofrer desse jeito.

– Eu sei disso. – resmunguei. – Não é justo.

– Eu sei, querida. E eu não posso fazer nada além de sentir muito. Não posso obrigar-lhe a não chorar, eu sei o quanto isso é difícil.

– Não espero que faça algo, tia. – murmurei.

– Vai ficar tudo bem. – ela disse de forma confortadora. – Dói agora, mas vai ficar tudo bem. A vida...

– E o amor continuam. – completei, mas novas lágrimas caíram quando perguntei. – Por quê?

Ela não respondeu, apenas me abraçou apertado; mas, dessa vez, eu queria muito saber a resposta.



Quando entrei em casa, fui direto para meu quarto, e desabei em minha cama de jeans e tudo. Não queria comer, nem conversar, apenas deixar me levar pelo sono. Mas parecia impossível, com todos aqueles sentimentos martelando dentro de mim. Me encolhi tentando evitar que o frio não passasse entre as cobertos. Implorei para que dormisse, pelo menos assim a dor sumiria por algum tempo. Em meios aos tremores que invadiam meu corpo, adormeci.



Senti a cama descer ao meu lado e a ponta de dedos gélidos roçarem minha bochecha carinhosamente. Minha nuca se arrepiou com o toque e abri os olhos lentamente. Minha visão estava turva por causa das lágrimas. Pisquei algumas vezes e a imagem de Andrew se formou em minha frente. Seus olhos eram uma mistura de sentimentos. Preocupação. Angústia. Tristeza.

– Você está bem? – ele sussurrou, enquanto seu dedo limpava o vestígio de alguma lágrima que ainda havia em meu rosto.

Balancei a cabeça negativamente, e sem pensar, me lancei a ele, o abraçando. Meus braços agarraram seu pescoço e Andrew me apertou contra o peito.

– Lissa... – ele sussurrou preocupado, quando alguns soluços assaltavam meu corpo, sem que eu pudesse evitá-los.

– Andrew, por favor, faça tudo isso ir embora.

– Lissa, olhe para mim.

Afastei-me dele e encarei o chão. Andrew pegou meu rosto entre as mãos e seus olhos me estudaram por alguns segundos. Estavam mais escuros hoje.

– Tudo vai ficar bem. – disse decidido.

– Você já me disse isso antes. – suspirei, retirando suas mãos de meu rosto. – E acho que não funcionou.

– Você não vai ficar triste para sempre. – ele sussurrou delicadamente.

– Mas eu já estou cansada de tudo isso, estou cansada de chorar.

Ele abriu um pequeno sorriso melancólico e apertou minha mão suavemente.

– Vamos, vou te levar a um lugar.

– Andrew, você sabe que não estou...

– Apenas confie em mim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e comentem por favor!



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