Um bom começo é a metade.

Aristóteles

– Capítulo Dezenove –

Nova Noite, Mesma Insônia.

Melanie se espreguiçou pela quinta vez antes de decidir se levantar, ela dormira o sábado inteiro, só levantou para tomar banho, jantar e tomar o café da manhã de domingo. Já eram quase cinco horas da tarde quando ela se arrastou para fora da cama e tomou um longo banho, colocou uma roupa confortável secou os cabelos e os prendeu em um coque mal feito.

Descendo as escadas para o salão comunal, já conseguiu ouvir a algazarra dos alunos, muitos do primeiro e segundo ano que não podiam ir a Hogsmeade ainda, e no meio da bagunça, Josh se encontrava sentado em uma mesa de canto escrevendo alguma coisa.

- Oi Josh. – disse Melanie se sentando na mesa com ele – Não foi a Hogsmeade hoje?

- Não. – respondeu ele sem parar de escrever – Fui apenas ontem.

- E como foi o seu encontro com a Potter? – perguntou curiosa.

- Divertido. – respondeu ele simplesmente.

- Joshua Hammes, não esconda nada de mim! – disse Melanie cruzando os braços e fitando o amigo a sua frente.

Josh deixou a pena descansar em cima da mesa e olhou para Melanie.

- O que quer saber?

- Fala sério Josh! – disse Melanie impaciente – Você sabe do que eu estou falando. Está na cara que a garota gosta de você e que de alguma forma ela te atrai.

- Tudo bem. – disse Josh respirando fundo – Você está certa.

- Em qual das partes?

- Nas duas. – explicou Josh – Ela confessou que gosta de mim e sim, ela me atrai.

- E então... o que rolou? – perguntou ansiosa.

- Você sabe que pra eu ficar com uma garota tem que ter muito mais do que uma simples atração física. – disse Josh enquanto Melanie fazia um careta de descontentamento. – Não me olha assim, você sabe que é verdade.

- Deve ser tão fácil gostar dela. – disse Melanie sonhadora – Ela é tão fofa e meiga que às vezes dá vontade de apertar, mas, ela me chamaria de louca.

- E por ser tão meiga e fofa que eu não quero magoá-la. – disse Josh voltando a escrever no pergaminho.

- Você é impossível, pelo menos pensa. – disse Melanie prestando atenção pela primeira vez no que Josh estava fazendo – Como consegue se concentrar com esse barulho todo?

- O trabalho de Transfiguração é fácil, não precisa de muita concentração. – disse Josh dando de ombros.

- Trabalho de Transfiguração! – disse Melanie colocando a mão na boca – Ai meu Salazar!

- Você esqueceu né? – disse Josh extremamente calmo.

- Me esqueci completamente. – disse Melanie entrando em pânico.

- É, eu já sabia. – disse Josh balançando a cabeça e enrolando o pergaminho – Toma – disse entregando o rolo pra ela – Passa pra sua letra.

- Você está me dando o seu trabalho? – perguntou Melanie descrente.

- Não. – respondeu Josh – Eu estou te dando o seu trabalho, o meu eu já fiz há quatro dias.

- Você está doente? – perguntou Melanie colocando uma das mãos na testa de Josh – Você é muito certinho pra fazer isso, normalmente você ia me dar um sermão por ter me esquecido.

- Você tem se esforçado. – disse Josh naturalmente – Temos que dar crédito a isso, mas, não se acostume você tem que aprender a não deixar tudo pra última hora.

- Era desse sermão que eu estava falando. – disse Melanie sorridente – Obrigada Josh, eu não sei o que seria de mim sem você.

- Não se esquece de passar pra sua letra, e tenta entender o que está escrito, vai que a Profª Weasley faz alguma pergunta sobre o trabalho. – disse Josh.

- Não se preocupe.

- Você já se inscreveu para o clube de duelos? – Josh perguntou se levantando e seguindo até o mural que ficava no salão da Sonserina.

- Ops! – disse Melanie sem graça – Me esqueci disso também. Ainda tem vaga? – perguntou ela lendo um aviso no mural onde tinha vários nomes escritos embaixo. – Tem um apelido pior que o outro.

- Tem vaga sim. – disse ele – Você pode se inscrever até amanhã, porque começa na terça.

- Ok. Preciso pensar em um apelido bem legal pra usar.

- Pensa em algo bem dramático. – disse Josh com um sorrisinho – Combina com você.

- Engraçadinho. – disse Melanie dando um beijo no rosto de Josh – Vou passar isso a limpo, te vejo no jantar.

- Eu te espero. – disse ele observando Melanie subir as escadas correndo – Eu sempre te espero.

***

- Não dá pra acreditar nisso! – disse uma Melanie muito furiosa correndo escada acima – Mudar o dia da aula de Adivinhação e ainda avisar em cima da hora! Eu nunca precisei de ajuda para me atrasar.

Ela terminou de subir o lance de escada já ofegante de tanto correr e abriu a porta da sala de aula.

- Legal, a professora nem está aqui! – disse ela muito vermelha pela correria.

Ela reparou que Blake já estava na sala e nesse momento toda a sua irritação se esvaiu. Ele já estava sentado no lugar habitual e sorria, um sorriso que na opinião de Melanie, era encantador, e ela sentia que podia ficar horas olhando aquele sorriso.

- Ah Blake! Você é tão engraçado! – uma voz esganiçada invadira os ouvidos de Melanie, agora ela percebera porque Blake estava sorridente.

Uma garota morena de olhos azuis da Grifinória, conversava toda empolgada com ele, e pior ela estava de pé encurvada sobre a mesinha, com um decote que Melanie sabia que foi intencionalmente aberto. Uma raiva que Melanie não sabia da onde viera a invadiu, ela queria ia até lá e puxar a garota pelos cabelos, mas, respirou fundo e se segurou, pois, ela não tinha motivo algum para fazer isso, então apenas colocou o seu melhor sorriso e caminhou decidida até lá.

- Oi Blake. – disse ela.

- Oi Mel. – disse Blake ainda muito sorridente – Essa é a Penélope.

- Catherine. – corrigiu a garota.

- Catherine, Penélope, tudo é nome. – disse Blake dando de ombros – A Mel é a minha dupla em Adivinhação.

- É eu sei. – disse Catherine mexendo nos cabelos e medindo Melanie de cima a baixo – Sortuda você.

- Acho que já está na hora de você ir se sentar. – disse Melanie girando os olhos – Como você ouviu a dupla dele já chegou e precisamos trabalhar.

- A aula ainda não começou. – disse Catherine ríspida.

- Bom dia turma. – disse a Profª Sibila entrando na sala.

- Pois eu acho que começou. – disse Melanie sarcástica.

Catherine lançou um olhar a Melanie de “estraga prazeres” e foi se sentar com a sua dupla do outro lado da sala.

- Como você es...?

- Porque não me esperou? – perguntou Melanie meio seca, se sentando em seguida.

- Foi mal. – disse Blake – Eu tava no jardim quando avisaram que a aula de Adivinhação seria hoje, então ela surgiu do nada me puxando e disse que ia me acompanhar.

- Não gosto dela. – disse Melanie cruzando os braços e Blake sorriu divertido.

- A é? E porque não?

- Porque ela é uma oferecida. – respondeu Melanie – Ela vivia se jogando pra cima do Josh ano passado.

Blake deu um sorriso e não tocou mais no assunto.

- Porque será que mudaram o dia da aula de Adivinhação? – perguntou Melanie em voz baixa, pois, a Profª Sibila já começara a falar algo sobre bolas de cristal.

- Parece que tem haver com o clube de duelos amanhã. – respondeu Blake no mesmo tom. – Para não ficar tão tarde, eles transferiram pra hoje.

A aula seguia normal, a professora distribuiu uma bola de cristal para cada dupla, a fim de que pudessem ver alguma coisa sobre o futuro.

- Passem as mãos suavemente por cima da bola e se concentrem na mensagem que ela trará. – dizia a professora com uma voz suave.

- Isso está chato. – disse Melanie aborrecida. – Eu estou tão entediada que até o meu tédio está entediado.

- Pelos menos finge que ta vendo alguma coisa. – disse Blake passando a mão na bola.

- Então faça isso por nós dois Blake. – disse Melanie suspirando – O meu nível de paciência já se esgotou e... Blake o que foi?

Blake estava incrivelmente pálido, seu corpo parecia rígido, e seus olhos estavam espantosamente mais abertos, fixando na bola de cristal a sua frente, onde Melanie pôde reparar na perfeita mistura de verde com castanho que seus olhos possuíam.

- Blake... você está bem? – perguntou ela preocupada – Blake? – Melanie tocou em sua mão que estava em cima da mesa e o garoto olhou pra ela.

- Oi. – disse ele com a voz falha.

- Você me assustou. – disse Melanie ainda aflita. – O que aconteceu?

- Nada. – respondeu Blake vacilante – Eu só me lembrei de uma coisa.

- Posso saber o que é?

- Eu prometi para o Anthony que faria um novo hino para Sonserina esse ano. – explicou ele – Me esqueci.

- Ok. – disse Melanie com um sorriso mínimo – Eu acho que também entraria em pânico, Anthony tem um gênio forte.

- É melhor eu fazer esse hino hoje. – disse Blake olhando outra vez para a bola de cristal – Tenta você outra vez.

Melanie fez uma careta e voltou a analisar a bola que brilhava alegremente a sua frente.

***

A noite veio rápido e com ela a sua melhor amiga, a insônia que não se cansava de perseguir Melanie. Por um lado era bom porque, ela passava horas conversando com Blake no salão comunal, mas, por outro lado era ruim, pois, não conseguia se concentrar nas aulas do dia seguinte.

- Então ela pulou em cima de você? – perguntou uma Melanie animada – Que fã maluca!

- As fãs trouxas são mais obcecadas do que as bruxas. – disse Blake não demonstrando a mesma animação que Melanie.

Melanie o observou por um instante e voltou a falar.

- Escuta, Blake... eu percebi que você, parece mais triste hoje.

- Não é nada...

- Pode me contar qualquer coisa Blake. – disse Melanie amigavelmente – Talvez eu possa ajudar.

Blake assentiu.

- Eu recebi cartas do meu pai hoje. – explicou Blake respirando fundo – E como sempre ele me tirou do sério.

- Vocês não se dão bem?

- A gente se odeia. – disse ele sem emoção – Dá pra acreditar que ele só mandou as cartas falando da minha detenção?

- Mas a detenção foi há séculos. – disse Melanie confusa.

- Pra você ver, ele só arranjou tempo pra brigar comigo agora. – disse Blake com um sorriso frio. – Ele não gosta da ideia de eu estudar música e querer viver disso.

- Mas você tem talento. – disse Melanie sorridente – Ele já te viu tocar?

- Já... Quando eu era criança. – ele respondeu desanimado – Depois de um tempo, quando eu disse que queria ser músico, ele se recusou a ver qualquer outra coisa.

- Sinto muito que seja assim. – disse Melanie – Eu meio que também não me dou muito bem com a minha mãe, mas... não chega a ter ódio, na verdade eu a amo, ela só podia parar de ser chata.

Blake gargalhou.

- Uma vez me disseram que quando duas pessoas não se dão, é porque são parecidas.

- Está me chamando de chata Sr. Zegers? – perguntou Melanie cruzando os braços.

- Claro que não. – respondeu Blake – Isso também vale pra mim, meu pai e eu temos o gênio meio complicado.

O silêncio outra vez, Melanie odiava quando ficavam quietos, porque era como se ela estivesse perdendo oportunidades de falar com Blake, era como se cada momento com ele fosse valioso e que seria uma grande perda desperdiçá-la com o silêncio.

- Então você gostou dela? – Melanie perguntou puxando assunto.

- Dela quem?

- Da Catherine. – disse Melanie como quem não quer nada. – Quero dizer você não se sente sozinho?

- Posso contar com meus amigos pra conversar às vezes. – disse ele –Vez ou outra a gente alivia a carência com umas tietes trouxas... Mas eu não vou mentir não. Eu sinto falta de alguém.

- E a Catherine?

- Menina fresca aquela. – disse Blake dando de ombros – Se bem que pra peguete eu nunca fui muito exigente...

- Então qualquer uma seria uma boa namorada pra você? – perguntou Melanie indignada.

- Eu não disse namorada. Eu disse peguete. – explicou Blake enquanto Melanie girava os olhos – Se eu quisesse namorar alguém teria de ser alguém bem... Bem menos fresca. – disse ele lançando um olhar rápido a Melanie que desviou um pouco corada.

- É... quando vamos ao “Alternative Soul” de novo. – Melanie perguntou mudando de assunto.

- Vou ver com os caras, ai eu te falo. – disse Blake.

- Ok. – disse Melanie se levantando – Eu vou dormir e você devia fazer o mesmo.

- Vou terminar de fazer o hino e logo vou. – disse ele dando uma piscadela para Melanie.

- Boa noite então.

- Boa noite.